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Setor Sucroenergético do Estado de São Paulo Frente à Crise Econômica
As informações colhidas e sistematizadas pelo
Instituto de Economia Agrícola (IEA), em parceria com a Coordenadoria de
Assistência Técnica Integral (CATI), apontam que a cana-de-açúcar é o principal
produto da agropecuária paulista e sua participação no Valor da Produção Agropecuária
e Florestal total do estado, em 2015, foi de 37,4% (R$23,88 bilhões)1.
A cana-de-açúcar ocupa cerca de 6,17 milhões de hectares,
distribuídos em 78,3% dos municípios do
estado. Dos 40 Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs), divisão administrativa de municípios considerada pela
Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, 20 deles
foram responsáveis por 85,0% da produção de cana-de-açúcar em 20152. A produção paulista de cana-de-açúcar representou 53,4% da
produção nacional (337,7 milhões de toneladas), 48,4% da produção de etanol (13,7
bilhões de litros) e 61,6% da produção do açúcar (21,9 bilhões de toneladas),
segundo dados da UNICA, safra 2014/153. De
acordo com o relatório mensal de acompanhamento da safra 2015/16, ainda segundo
a UNICA4, houve um incremento de 9,3% na produção paulista. Porém,
em decorrência das condições climáticas e um menor investimento na produção, em
razão da crise financeira do setor, o teor de açúcares totais recuperáveis
(ATR) foi menor em relação à safra passada. Em
2015, segundo dados do cadastro do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, 42,7% das usinas produtoras de açúcar e álcool estão no Estado
de São Paulo. Contudo, desde a crise de 2008, observa-se que o número de usinas
diminuiu 11,0% no Brasil e 20,0% no Estado de São Paulo, passando de 418 para
372, e de 199 para 159 unidades de produção, respectivamente5. No ano de
2015, em razão dos ajustes na tributação do etanol em alguns estados, a
elevação do preço da gasolina e a maior produção do renovável pela indústria,
face à demanda aquecida por etanol no mercado interno, garantiram bons
resultados, gerando maiores receitas para as unidades industriais6. Em relação à tributação, o Estado de Minas Gerais
reduziu de 19,0% para 14,0% em março de 2015, além de aumentar a alíquota do
mesmo imposto de 27,0% para 29,0% da gasolina C, enquanto São Paulo reduziu o
ICMS em 2013 de 24,0% para 12,0%. São Paulo teve um incremento no consumo de 24,8% em
2015 em relação a 2014. O volume de
etanol de 9.456 mil m3 consumidos em 2015 no estado representou
52,9% do consumido no Brasil, enquanto o consumo de 1.789 mil m3 no
Estado de Minas Gerais representou 10,0% no mesmo período7. Neste
mesmo período, houve uma queda no consumo de gasolina C de 13,0% em São Paulo e
de 13,8% em Minas Gerais. PONTOS NEGATIVOS Nos
últimos anos, o setor vem atravessando uma crise com incertezas em relação ao
preço interno dos combustíveis fósseis e da política pública para
biocombustíveis nos principais países consumidores, contribuindo para o aumento
do endividamento e das despesas financeiras. Segundo o presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, o setor também
encontrou diversos entraves para seu crescimento no ano passado, como: elevação
dos custos produtivos (impulsionada pela alta do diesel), dos preços dos
fertilizantes e dos gastos com mão de obra; e aumento dos custos financeiros,
em razão da alta da SELIC (taxa de juros básicos) e do dólar, lembrando que 42,0%
da dívida do segmento é na moeda norte-americana. O setor ainda enfrenta restrição de crédito,
fazendo com que o preço médio da safra, até o mês de setembro, fosse menor em 5,0%
em relação à safra anterior. Outro fator foi a retração da economia brasileira,
que colaborou para a queda nas vendas de veículos novos8. PONTOS
POSITIVOS No entanto,
destacam-se alguns pontos positivos no ano passado, que favoreceram o setor
sucroalcooleiro: a elevação da mistura do álcool anidro na gasolina, em todo o país,
de 25,0% para 27,0%; o retorno da Taxa de Contribuições de Intervenção no
Domínio Econômico (CIDE); o aumento temporário do Programa de Integração
Social/Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (PIS/COFINS), que
trouxe maior competitividade ao etanol; além dos leilões de energia. Vale lembrar que
as condições climáticas na safra 2015/16 favoreceram o desenvolvimento da
planta, ampliando a oferta de matéria-prima, permitindo o crescimento
expressivo da moagem. Segundo a UNICA, a safra que se encerrou em março foi
mais alcooleira, contribuindo para o abastecimento doméstico: 59,3% da
cana-de-açúcar foi destinada a produção de etanol e 40,6% a produção de açúcar9.
Outros pontos positivos
do setor, mesmo frente à crise, foram os ganhos ambientais ligados à redução da
queima para colheita, a diminuição do consumo de água para o processamento de
cana e redução das emissões de gases de efeito estufa, em razão do Protocolo
Agroambiental10. Desde o seu início,
deixou-se de emitir autorizações de queima que resultariam na emissão de mais
de 8,65 milhões de toneladas de CO2eq e mais de 52 milhões de
toneladas de poluentes atmosféricos (monóxido de carbono, material particulado
e hidrocarbonetos)11. As usinas paulistas são
produtoras e exportadoras de energia elétrica a partir da queima do bagaço da
cana. As usinas signatárias do Protocolo Agroambiental produziram, na safra
2015/16, cerca de 18.100 Gwh (unidade de consumo) de energia elétrica. A
energia que já é exportada anualmente para a rede por essas usinas, em torno de
10.170 mil Gwh, é equivalente a aproximadamente 26,0% do consumo residencial
paulista12. A capacidade instalada das usinas signatárias na
safra 2015/16 foi de 5,2 mil MW de potência, representando cerca de 37,1% da potência instalada da usina de
Itaipu (14 mil MW). Alguns pontos ainda
devem ser considerados para o desenvolvimento da bioenergia e o aumento de sua
participação na matriz energética, como: o alto custo e dificuldade de conexão
até o ponto de distribuição; a proposta de leilões dedicados a biomassa, tendo
em vista o parque industrial existente; e o aumento de tributos e encarecimento
das linhas de crédito13. Enquanto não for regulamentado o mercado de combustíveis, no qual o etanol
tenha vantagem sobre o preço da gasolina, será difícil um retorno de
investimentos em capacidade de moagem e, assim, vislumbrar como se dará a
competitividade do etanol em relação à gasolina a média e longo prazo, e o
setor recuperar a confiança para voltar a crescer. ____________________________________________________ 1SILVA, J. R. da. et al. Estimativa do valor da produção agropecuária do Estado de São Paulo de
2015: resultado final. Análises
e Indicadores do Agronegócio, São
Paulo, v. 11, n. 4, abr. 2016. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?codTexto=14041>. Acesso
em: 19 abr. 2016. 2INSTITUTO
DE ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco
de dados. São Paulo:
IEA. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/out/bancodedados.html>. Acesso em: 12 abr. 2016. 3UNIÃO
DA INDÚSTRIA DE CANA-DE-AÇÚCAR - UNICA. Banco
de dados. São Paulo:
UNICA. Disponível em: <http://www.unicadata.com.br/index.php?idioma=1>.
Acesso em: 13 abr. 2016. 4Op.
cit. nota 3. 5MINISTÉRIO DA
AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO - MAPA. Relação de instituições cadastradas no departamento de cana-de-açúcar e
agroenergia. Brasília: MAPA, 2016. Disponível em: <htpp://www.agricultura.gov.br/desenvolvimento-sustentavel/agroenergia/estatística>.
Acesso em: 18 abr. 2016. 9Op. cit. nota 3. 10Acordo voluntário
entre o governo do Estado de São Paulo, representado pelas Secretarias de
Agricultura e Abastecimento e Meio Ambiente, com a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (UNICA), assinado em
2007, e com os fornecedores representados pela Organização
de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (ORPLANA), em 2008. 11SECRETARIA DO
MEIO AMBRIENTE - SMA. Etanol verde.
São Paulo: UNICA/ORPLANA/SAA/SMA. Disponível em: <http://www.ambiente.sp.gov.br/wp-content/uploads/2016/04/Etanol-Verde-Relat%C3%B3rio-Safra-2015_2016-2.pdf>. Acesso em: 29 de abr. 2016. 12Op. cit. nota 3. 13MARINHO, A. F.
Crescimento lento. Canal Jornal da
Bioenergia, Goiânia, ano 10, p. 20-21, dez. 2015. Disponível em:
<http://www.canalbioenergia.com.br/wp-content/uploads/2015/12/CANAL-108.pdf>.
Acesso em: 5 maio 2016.
Palavras-chave: sucroenergético, crise,
ganhos ambientais.6UNIÃO DA INDÚSTRIA DE CANA-DE-AÇÚCAR - UNICA. Vendas de etanol no mês de maio batem
recorde histórico. São Paulo: Única, 2015. Disponível em:
http://www.unica.com.br/noticia/28217354920330985536/vendas-de-etanol-no-mes-de-maio-batem-recorde-historico/>. Acesso em: 25 de
abr. de 2016.
7AGÊNCIA
NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS - ANP. Banco de dados. Brasília: ANP. Disponível
em:
<http://www.anp.gov.br/?pg=69299&m=&t1=&t2=&t3=&t4=&ar=&ps=&1461669627555>.
Acesso em: 25 abr. 2016.
8SOCIEDADE
NACIONAL DE AGRICULTURA - SNA. Setor
sucroenergético teve altos e baixos, avalia André Luiz Rocha.
Rio de Janeiro: SNA, jan. 2016. Disponível em: <http://sna.agr.br/setor-sucroenergetico-teve-altos-e-baixos-em-2015-avalia-andre-luiz-rocha/>. Acesso em:
13 abr. 2016.
Data de Publicação: 11/05/2016
Autor(es):
Rejane Cecília Ramos Consulte outros textos deste autor
Katia Nachiluk (katia.nachiluk@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor