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Produção Animal: Estado de São Paulo e Brasil, 2005 a 2014
A configuração da agropecuária brasileira e paulista
nos últimos dez anos no que tange ao abate de bovinos, aves e suínos leva a uma
digressão sobre as principais cadeias de produção de proteínas animais, pois a
participação de cada uma delas é muito relevante nos hábitos de consumo da
população. Com o foco no número total
de animais enviados para o abate em São Paulo, segundo o levantamento IBGE1,
o número de bovinos, em 2014, foi de 3,5 milhões de cabeças. O abate de aves
ficou em 604,1 milhões de cabeças e o de suínos em 1,9 milhão de cabeças
(Tabela 1). Comparando-se, grosso modo, a variação em relação a 2005, verificou-
-se que para bovinos houve uma redução em relação a 2005 de 21%. Para os suínos
e para as aves abatidas, houve um crescimento da ordem de 3,2% e 3,5%,
respectivamente, comparando-se o mesmo período no caso das aves e, no caso dos
suínos, a comparação foi entre 2006 e 2014. A variação percentual entre 2005 e 2014 sugere que
os números de produção nas três cadeias apresentam variações significativas
(Tabela 1). No caso dos bovinos, verifica-se que, do
ano de 2005 ao ano de 2014, houve uma taxa de crescimento2 anual
negativa de 2,71% e, com relação à produção paulista de aves
para corte, a taxa de crescimento anual foi também
negativa, porém, em 0,09% no mesmo período. Em sentido contrário, o rebanho paulista
de suínos apresentou uma taxa de crescimento positiva de 2,47% ao ano. A produção de bovinos para corte em São
Paulo vem, nos últimos anos, perdendo participação no volume total brasileiro,
pelo crescimento da participação de outros estados e pela concorrência com
outras atividades agropecuárias dentro do território paulista3. O rebanho paulista de suínos tem como
característica a condução, na sua maioria, por suinocultores independentes e
atomizados. Os índices de produtividade do rebanho contribuem positivamente
para os resultados da suinocultura paulista, porém, outros fatores pesam
negativamente e dificultam o crescimento da atividade. As características do
produtor paulista não se adequam ao sistema de integração utilizado em outros estados
para esta criação. Soma-se a esta dificuldade os custos maiores de mão de obra,
o maior Tabela 1 - Abate e Participação Percentual de Bovinos
de Corte, Frangos e Suínos, Estado de São Paulo e Brasil, 2005 a 2014 (1.000 cab.) Abate 2005 2006 2007 2008 2009 Bovino Brasil (a) 28.030 30.374 30.713 28.700 28.063 São Paulo (b) 4.459 4.126 4.124 3.635 3.552 a/b (%) 16 14 13 13 13 Frango Brasil (a) 3.852.492 3.931.828 4.370.086 4.875.865 4.773.641 São Paulo (b) 583.994 643.151 691.837 760.803 659.382 a/b (%) 15 16 16 16 14 Suíno Brasil (a) 23.463 25.497 26.853 28.803 30.933 São Paulo (b) 1.295 1.860 1.719 1.535 1.625 a/b (%) 6 7 6 5 5 Abate 2010 2011 2012 2013 2014 Bovino Brasil (a) 29.278 28.814 31.119 34.412 33.907 São Paulo (b) 3.533 3.270 3.348 3.549 3.524 a/b (%) 12 11 11 10 10 Frango Brasil (a) 4.988.321 5.287.703 5.243.579 5.393.754 5.495.648 São Paulo (b) 681.309 762.205 684.115 604.586 604.198 a/b (%) 14 14 13 11 11 Suíno Brasil (a) 32.511 34.873 36.006 36.286 37.118 São Paulo (b) 1.785 1.767 1.824 1.775 1.920 a/b (%) 5 5 5 5 5 Fonte: Elaborada pelo autor a partir de dados do INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Banco de dados. Rio de
Janeiro: IBGE. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/>. Acesso em:
15 out. 2015 custo com a alimentação do rebanho e o maior custo da terra que se
constituem em grandes obstáculos que a suinocultura paulista enfrenta. Em relação à evolução do número de frangos enviados
ao abate, que praticamente não se alterou nos últimos dez anos, pode-se supor
que a razão está ligada ao alojamento de aves que foi decrescente e ao volume
de carne de frango que São Paulo adquire de outros estados. Acredita-se que a
princípio o setor paulista se adaptou e atingiu seu limite de produção dentro
da previsão de produção
das empresas que detêm grande parte da oferta disponível no estado e que estão
ligadas ao sistema de integração de São Paulo ou de outros Estados, tais como
Paraná e Santa Catarina. De certa forma, o sistema de integração garante “menor
risco ao produtor” e ao segmento de abate que pode assegurar o ajuste da oferta
à demanda, decisivo neste setor4. Tão importante quanto acompanhar a
evolução da produção paulista de proteína animal é delimitar a participação do
Estado de São Paulo no total de bovinos, aves e suínos abatidos divulgados pelo
IBGE5. A
participação da produção paulista frente à produção nacional de animais para o
abate das principais cadeias é decrescente para bovinos e aves e
estável para suínos; em contrapartida, o consumo estadual de produtos cárneos é
crescente, no mínimo por contingência do crescimento populacional. Pode-se
considerar que a produção paulista de proteínas animais nos últimos dez anos
tem dificuldades para manter sua antiga participação percentual no ranking brasileiro (Tabela 1). Não ceder
espaço para outras atividades de maior rentabilidade ou enfrentar a competição
com outros estados que apresentaram um notável crescimento nesse setor parece
ser o maior desafio para cada atividade de produção animal neste momento. A produção brasileira de animais para o abate,
segundo o IBGE6, em cabeça, foi de 33,9 milhões de bovinos; 5,4
bilhões de frangos; e 37,1 milhões de suínos em 2014 (Tabela 1). Já a participação paulista no número total de bovinos enviados
para o abate em 2014 corresponde a aproximadamente 10%, segundo o IBGE7.
Cabe ressaltar que em 2005 a participação do Estado de São Paulo era de 16%
(Tabela 1). De forma semelhante, a participação de São Paulo no abate
brasileiro de frangos também caiu de 15% em 2005 para 11% em 2014. Quando se
comparam os números de suínos, verifica-se que o quadro é diferente do de
bovinos e frangos. Em 2014, a participação do Estado de São Paulo no total
brasileiro foi de 5%, enquanto em 2005 era de 6%. Sendo assim, a participação
de São Paulo no número do abate de suínos do país praticamente não se alterou. A
partir do instante em que os estados do Centro-Oeste passaram a assumir uma
posição de maior destaque na produção de proteínas animais, principalmente na criação
de bovinos, suínos e aves, foram alteradas as participações de todos os estados
produtores em relação ao total de animais abatidos no país. Grande parte desse
crescimento na produção de suínos e aves foi graças à produção dos principais
insumos (milho e soja) que cresceram em área nestes estados. Portanto, a base
da criação já estava sedimentada e os grandes grupos desse setor voltaram-se
para essa região completando o ciclo total dessas cadeias: milho, soja e suínos
e frangos. No caso de bovinos, os estados do Centro-Oeste, a partir da abertura
de novas áreas de pastagens, foram consolidando-se como grandes produtores e
hoje, junto com o desenvolvimento da indústria de abates que se instalou em
Mato Grosso, Mato Grosso de Sul e Goiás, eles são os maiores produtores de
bovinos para o abate do país. O
grande crescimento do Centro-Oeste fica em função das grandes extensões de
terras, ou seja, da disponibilidade dos principais insumos para a
bovinocultura: área de pastagem abundante e valor da terra mais vantajoso. Para
a avicultura, as economias de escala em grandes empreendimentos de criação e a
oferta abundante de milho e soja, cujo peso no custo de produção fica em torno
dos 70% considerando-se o custo da alimentação, deram ao setor a capacidade de
viabilizar suas atividades. Em contrapartida, em São Paulo, de forma
semelhante ao que acontece na população total de animais, a redução na área
disponível à criação de bovinos também explica a queda gradual na produção,
pois a demanda por área, de outras atividades, como a cana- -de-açúcar por
exemplo8, é um obstáculo ao crescimento da atividade no estado.
Lembrando que o efeito direto da valorização da terra
pode ser a mudança no processo produtivo, ou seja, da forma de criação extensiva
para a confinada ou semiconfinada. No Estado de São Paulo, essa poderia ser uma
das alternativas para manter e ou aumentar a participação da atividade no
volume de produção total do país. No
Brasil, conforme matéria divulgada a partir de entrevista com representante da
Associação Brasileira de Confinadores (ASSOCON)9, o confinamento e o
semiconfinamento representam aproximadamente 10% do volume de animais abatidos.
São Paulo seria o terceiro Estado no número de animais confinados em 2015, e a
participação destes animais no volume estadual de abate seria de
aproximadamente 16% em 2015. Outro ponto relevante a verificar na evolução do
abate de animais em São Paulo e no Brasil é o crescente embarque de proteínas
animais para o exterior, graças a oferta e a qualidade do produto brasileiro
que garantem a manutenção e a ampliação dos mercados compradores (Tabela 2). O
volume das exportações de proteínas animais dá ao Brasil resultados
extremamente significativos para
o PIB brasileiro, constituindo-se em um dos principais itens de suas
exportações. (t/ano) Ano Carne bovina Carne de frango Carne suína 2005 1.358.679 2.846.000 625.100 2006 1.610.516 2.718.000 528.200 2007 1.618.671 3.287.000 606.500 2008 1.384.274 3.646.000 529.400 2009 1.246.158 3.635.000 607.500 2010 1.248.262 3.820.000 540.400 2011 1.097.310 3.943.000 516.400 2012 1.243.610 3.918.000 581.500 2013 1.512.736 3.892.000 517.300 2014 1.565.308 4.099.000 505.000 Fonte:
Elaborada pelo autor a partir de dados da ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS
EXPORTAFORAS DE CARNE - ABIEC. Bancos de
dados. São Paulo: ABIEC. Disponível em: <http://www.abiec.com.br/texto.asp?id=31>.
Acesso em: dez. 2015; MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E
COMÉRCIO EXTERIOR. Secretaria de Comércio Exterior - MDIC/SECEX. Banco de dados. Brasília: MDIC/SECEX. Disponível em:
<http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=1161>. Acesso em: 29 dez. 2015; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
PROTEÍNA ANIMAL - ABPA. Banco de dados.
São Paulo: ABPA. Disponível em:
<http://abpa-br.com.br/setores/avicultura/publicacoes/relatorios-anuais/2015>.
Acesso em: dez. 2015. Em
resumo, a produção de bovinos e de aves nos últimos dez anos apresentaram taxa
de crescimento negativa no Estado de São Paulo, enquanto a produção de suínos
apresentou taxa de crescimento positiva. A participação da produção paulista no
número de bovinos e de aves abatidos no Brasil caiu nos dez últimos anos,
enquanto a produção de suínos manteve-se praticamente na mesma posição
percentual. Paralelo a esse comportamento, as exportações brasileiras são
crescentes e sinalizam que o país tem grande potencial para ampliar sua
participação no cenário mundial como grande fornecedor de proteínas de alta
qualidade e que reforçar a atividade no Estado de São Paulo pode significar uma
boa estratégia em termos de política agrícola. Muitas
questões surgem a partir do exercício de se observar o comportamento dos
números nestas três cadeias de produção. A importância do abastecimento de
proteína nobre à população e a saúde financeira destas atividades são questões
de grande relevância e merecem mais estudos para que se determinem as reais
causas desta queda na produção de bovinos e aves e o crescimento na produção de
suínos para o abate no Estado de São Paulo. ______________________________________ 1INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Banco de dados. Rio de
Janeiro: IBGE. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/>. Acesso em:
15 out. 2015. 2RAMANATHAN, R. Introductory
econometrics: with applications. United States of America: The Dryden
Press, 1998. 664 p. 3ANGELO, J. A. et
al. Mudanças na composição agropecuária e florestal
paulista, 1999 e 2008. Análises e
Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 5, n. 3, mar. 2010. Disponível
em: <http://www.iea.sp. 4RODRIGUES, W. O. P. et al. Evolução da avicultura de corte no
Brasil. Enciclopédia Biosfera,
Goiânia, v. 10, n. 18, p. 1666-1684, 2014. 5Op. cit. nota 1. 6Op. cit. nota 1. 7Op. cit. nota 1. 8Op.
cit. nota 3. 9GOMES,
F. Confinamento bovino deve crescer menos por custo elevado. Exame, São Paulo, 22 maio 2014.
Disponível em: <http://exame.abril.com.br/economia/noticias/confinamento-bovino-deve-crescer-menos-por-custo-elevado>.
Acesso em: 20 set. 2015. 10MINISTÉRIO DO
DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR. Secretaria de Comércio Exterior
- MDIC/SECEX. Banco
de dados. Brasília: MDIC/SECEX.
Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=1076>.
Acesso em: 29 dez. 2015. Palavras-chave: taxa de crescimento, Levantamento Subjetivo IEA/CATI, produção de
bovinos, aves e suínos, pecuária.
Tabela
2 - Exportação de
Carne Bovina, de Aves e de Suínos, Brasil, 2005 a 2014
Na pauta de exportações brasileiras, a carne
de frango ocupa a quarta posição e a carne bovina a nona no volume total
exportado pelo país de janeiro a novembro de 201510.
gov.br/ftpiea/AIA/AIA-08-2010.pdf>. Acesso em: out. 2015.
Data de Publicação: 30/03/2016
Autor(es): Carlos Roberto Ferreira Bueno Consulte outros textos deste autor