Preferência pela Liquidez Arrefece Interesse por Contratos Futuros de Café

Face a orientação do governo central em mitigar o risco inflacionário, convergindo o índice para a banda de variação estabelecida, os operadores do mercado de juros futuros da BM&F-Bovespa alavancaram suas expectativas de taxas para os contratos futuros negociados (Figura 1). Ademais, sinalizações do atual ministro da Fazenda fundamentam essa previsão, configurando situação de expectativas que se autocumprem, na medida em que os agentes econômicos, preventivamente, já majoraram seus preços, abalizando assim o acerto da decisão macroeconômica.

 

O mercado de cotações de dólar futuro, em dezembro de 2015, também exibiu significativa mudança de patamar entre primeira e segunda semanas frente as demais do mês (Figura 2). A instabilidade da economia brasileira associada a fatores de ordem internacional – desaceleração chinesa - determinam crescente preferência pela liquidez, e têm promovido conjuntamente grande procura busca pela moeda estadunidense.

 

Em Nova York, o mercado de contratos futuros de café arábica oscilou bastante, na comparação das médias semanais registradas, indicando que o efeito da preferência pela liquidez suplanta os indícios de fundamentos que poderão vigorar nesse mercado (Figura 3). Há relativo consenso entre os analistas de que os prognósticos para a produção e consumo mundiais estão ajustados. Mesmo a esperada parcial recuperação da safra brasileira (conilon capixaba enfrentou problemas com estiagem) seria insuficiente na garantia de equilíbrio entre oferta e demanda. Todavia, tal percepção é ainda incapaz de tirar o foco na procura por liquidez representada pelos mercados financeiros – juros, dólar, títulos públicos.

Tal assertiva pode ser comprovada na evolução recente dos estoques certificados pela bolsa nova-iorquina. Desde agosto de 2013, o volume apresenta tendência de queda, diminuindo de 2,79 milhões de sacas para 1,727 milhão de sacas em dezembro de 2015. Em 31/10/2011, por exemplo, os estoques certificados registravam apenas 1,267 milhão de sacas, ocasião em que as cotações romperam a barreira dos US$¢2,0/lbp2.

Em dezembro de 2015, a média dos preços recebidos pelos cafeicultores paulistas, para o tipo 6 (bebida dura), no cinturão de Franca, foi de R$471,26/sc3. Considerando a média das cotações da quinta semana de dezembro para a posição de maio de 2016 na Bolsa de Nova York – US$¢126,88 -, obtém-se, ao câmbio futuro de R$4,04/US$1,0, cotação de R$512,59/sc. Descontado diferencial médio de 15% praticado para os naturais brasileiros e acrescido o custo com o frete, constata-se que não se recomendaria ao cafeicultor contratar hedge de sua produção nessas condições pré-definidas. 

 

O mercado de futuro de robusta na Bolsa de Londres também exibiu mudança de patamar nas cotações médias semanais. Contudo, diferentemente do arábica, a tendência prevalecente foi de baixa (Figura 4). Com o final da colheita no Vietnã e embarques acima de 26 milhões de sacas, os operadores do mercado não percebem nesse produto dificuldades de abastecimento, ainda que as autoridades daquele país enfatizem que adotaram política de ordenamento dos embarques dessa origem.

 

A evolução dos contratos de compra e venda pelos perfis de investidores, em dezembro, corrobora as oscilações nas cotações mencionadas. Os agentes dos fundos e grandes investidores diminuem sua posição vendida entre as primeira e segunda e terceira semana do mês, favorecendo o avanço das cotações. Nas semanas seguintes, os agentes incrementam as vendas depreciando, consequentemente, as cotações (Tabela 1). 


Possíveis efeitos da anomalia climática do El Niño sobre a safra futura e a possibilidade concreta de se converter em La Niña, a partir do segundo trimestre de 2016, têm sido desconsiderados nos cenários de suprimento global. Essa estratégia de curto prazo pode vir a surpreender o mercado, porém, em situação que somente com desembolso maior será possível obter fluxo de produto.

 

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1O autor agradece o trabalho de sistematização do banco de dados econômicos conduzido pelo Agente de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do IEA, o analista de sistemas Paulo Sérgio Caldeira Franco. 

 

2A posição líquida dos estoques certificados em Nova York é periodicamente publicada no site da instituição. As comparações foram efetuadas com a posição no último dia de cada mês. Detalhes em: INTERCONTINENTAL EXCHANGE - ICE. Banco de dados. Europa: ICE. Disponível em: <https://www.theice.com/FuturesUSReport
Center.shtml>. Acesso em: 7 jan. 2016 

 

3INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados. São Paulo: IEA. Disponível em: <http://ciagri.
iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx>. Acesso em: 7 jan. 2016.

 

  

Palavras-chave: mercado de café, contratos futuros de café.


Data de Publicação: 12/01/2016

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor