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Expansão Regional da Cultura da Soja no Brasil
Dentre os cultivos de maior expressão no Brasil, o da
soja é o que mais tem se destacado em termos de aumento de produção. Embora
caracterizada pelo padrão tecnológico avançado que proporciona ganhos em
produtividade, o crescimento da produção da oleaginosa resulta também do avanço
em área em praticamente todas as regiões do país. Outras culturas importantes
que competem em área com a soja são as de milho primeira safra, cana-de-açúcar,
feijão primeira safra e arroz. Este artigo tem
por objetivo averiguar a expansão do cultivo da soja vis–-à-vis outras culturas, por região, no Brasil. São analisados
os comportamentos das áreas colhidas de arroz, cana-de-açúcar, feijão primeira
safra e de milho primeira safra durante as temporadas 2010/11 a 2012/13,
comparativamente aos observados para o período de 2000 a 2010. Os dados
utilizados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)2.
A premissa da análise reside na expectativa de que o fortalecimento da liquidez
do grão e de seus derivados – farelo e óleo - nos mercados doméstico e
internacional, deve acirrar a expansão nas áreas de cultivo da oleaginosa. Pesquisa que avaliou a contribuição
da área e da produtividade para o aumento da produção de soja no Brasil, entre
1970 e 1985 e de 1995 a 2010, verificou que no período mais recente o aumento
da produção foi obtido predominantemente por meio da área plantada, em oposição
ao observado no período precedente, quando a produtividade foi o fator mais
importante para o aumento da oferta de soja no país. E, ainda,
foi possível observar que nas regiões Norte e Nordeste esse comportamento se
apresentou mais acentuado3. Durante o período de 2000 a 2010, a cana-de-açúcar foi a
cultura que mais cresceu em área no Brasil (7,0% a.a.), com destaque para a região
Centro-Oeste, onde a taxa alcançou 12,2% a.a. Em seguida vieram as regiões
Norte, com 8,2% a.a., e Sudeste, com 7,9% a.a. Nesse mesmo período o cultivo da
soja cresceu 5,1% a.a. no território nacional como um todo, mas foi na região
Norte onde mais avançou, à taxa de 22,4% a.a. O arroz foi a cultura que sofreu
a retração mais acentuada, de -2,3% a.a. no país. O feijão e o milho tiveram seus plantios
ampliados no Centro-Oeste com 4,1% a.a e 8,2% a.a., respectivamente (Tabela 1). Tabela 1 - Taxas Anuais de Crescimento das Áreas
Colhidas de Arroz, Cana-de-açúcar, Feijão, Milho e Soja, Regiões Geográficas do
Brasil, 2000 a 2010 (% a.a.) Região Arroz Cana-de-açúcar Feijão Milho Soja Norte -3,8 8,2 -1,2 -0,7 22,4 Nordeste -1,2 1,5 -0,8 1,9 7,1 Sudeste -8,0 7,9 -1,8 -1,3 1,9 Sul 0,8 6,8 -0,9 -1,0 3,6 Centro-Oeste -8,0 12,2 4,1 8,2 6,2 Brasil -2,3 7,0 -0,7 1,4 5,1 Fonte:
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Produção agrícola MUNICIPAL - PAM. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. BARBOSA, M. Z.; DIAS,
D. R. Biodiesel de soja: expansão agrícola para o novo mercado. Informações Econômicas, v. 41, n. 6, p.
70-83, jun. 2011. A ampliação da fronteira agrícola rumo à região
setentrional foi verificada pelo Censo Agropecuário 20064, onde se
constata que a área de lavouras5 cresceu 276% na região Norte; seguida
pelo Nordeste, com 115%; pelo Centro-Oeste, com 96%; Sudeste com 50%; e o Sul,
com 49%, no período de 1995 a 2006. No perímetro compreendido pela Amazônia Legal a área
ocupada por essas culturas saltou de 7,7 milhões de hectares em 2000 para 12,5
milhões de hectares em 20106. A produção de grãos ocorre no bioma
Cerrado, cujas condições de clima seco e topografia plana propiciam respostas
mais adequadas às tecnologias empregadas7. Na safra 2012/13 foram produzidas 81,1 milhões de soja no
Brasil, quantidade que representou aumento de 23,4% em comparação à da safra
precedente. O acréscimo pode ser visto como retomada dos níveis de produção em
virtude dos problemas climáticas que trouxeram prejuízos à colheita passada.
Por sua vez, a área colhida foi de 27,6 milhões de hectares ou 11,2% maior que
a registrada na temporada precedente. Aspecto que merece ser destacado diz respeito à magnitude
da sojicultura em relação a outros cultivos, posto que a hegemonia do cultivo
da oleaginosa é uma característica presente em quase todas as regiões do país.
No âmbito do território nacional, a área da oleaginosa (27,6 milhões de
hectares) corresponde ao triplo da ocupada pela cana-de-açúcar, a qual alcançou
9,8 milhões de hectares em 2012/13 (Figura 1).
Na região Norte, a área de soja alcançou 747,5 mil
hectares em 2012/13, com aumentos de 8,8% e de 17,1%, respectivamente, em
comparação com 2011/12 e 2010/11, tendo Tocantins, Rondônia e Pará como
principais estados produtores. O plantio do milho, segunda principal cultura,
atingiu 470,2 mil hectares na última safra, 11% menor que a anterior (Figura
2). A sojicultura foi, também, a única atividade agrícola,
dentre as selecionadas, que se expandiu continuamente no Nordeste. Na região
denominada Matopiba ou Mapitoba, compreendida por áreas de Cerrado localizadas
entre os Estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia e considerada o novo
“Eldorado” do agronegócio brasileiro em
virtude do grande potencial de crescimento, o cultivo da oleaginosa cresceu
15,6% entre 2011 e 2013 ao alcançar 2,7 milhões de hectares no último ano. Com
ocupação predominantemente no cerrado baiano, a cultura da soja ocupou 2,3
milhões de hectares em 2012/13, contra 1,7 milhão de hectares destinados ao
milho. A cana-de-açúcar é cultura importante na região, mas teve área
estabilizada em 1,2 milhão de hectares durante o período analisado (Figura
3).
A área ocupada com soja na região Sul alcançou 10 milhões
de hectares em 2012/13 e tem o Paraná como o segundo produtor no ranking nacional. É observada disparidade
na ocupação do solo quando são cotejadas a área da oleaginosa e as de outras
culturas, posto que o milho ocupou apenas 2,4 milhões de hectares e ainda
apresentou redução em comparação com a safra anterior. O arroz, atividade
importante na agricultura gaúcha, ocupou 1,3 milhão de hectares (Figura 4). O crescimento da sojicultura no Brasil esteve vinculado a
migração de parte da produção da região Sul para os Cerrados, o que configurou
duas fases de expansão. A partir da década de 1980 o Centro-Oeste passa a despontar,
tendo como o principal polo produtor o Estado de Mato Grosso. O cultivo da soja
ocupou 13,0 milhões de hectares no Centro-Oeste, praticamente metade de toda a
área com a oleaginosa cultivada no Brasil em 2012/13. Também fica nítida a
disparidade da ocupação do solo quando se verifica que a cana-de-açúcar, segunda
principal cultura, ocupa apenas 1,6 milhão de hectares. O desenvolvimento de técnicas
agronômicas permitiu uma eficiente adaptação da soja ao Cerrado, além dos incentivos
das políticas públicas voltadas ao custeio e comercialização, fazendo com que
em pouco mais de uma década grande parte da produção brasileira se concentrasse
na região. Com defasagem de alguns anos, esse processo foi acompanhado pelo
ingresso de grandes conglomerados transnacionais na região, com investimentos
em armazenamento e em processamento8 (Figura 5). A região Sudeste é exceção ao observado nas demais partes
do país, onde a sua atividade hegemônica é a cultura da cana-de-açúcar com 6,2
milhões de hectares, contra 1,7 milhão de hectares da soja. Antes mais restrita
ao solo paulista9, 10, onde também ocupa regiões “novas”, o cultivo
da cana-de-açúcar seguiu para áreas da produção de grãos, como em Minas Gerais,
em resposta ao aumento do interesse pela produção de etanol (Figura 6).
O dinamismo da sojicultura
conduziu a averiguação sobre o dimensionamento dessa atividade em relação a
outros cultivos nas regiões do Brasil. Foi possível verificar que o cultivo da
oleaginosa se sobressai em relação a outras atividades agrícolas e também em
relação à cultura da cana-de-açúcar, à exceção do observado na região Sudeste,
onde se destaca a agroindústria sucroenergética. A elevada liquidez da oleaginosa no mercado
internacional intensificou esse movimento, haja vista o aumento na demanda pelo
grão e seus derivados, num contexto mundial de crescimento de consumo de
alimentos e de biocombustíveis, na forma do biodiesel principalmente, que tem o
óleo de soja como importante matéria-prima. Mesmo diante da expectativa
de retomada dos níveis de oferta do grão de soja no âmbito mundial na temporada
vindoura 2013/14, depois da quebra sofrida pela safra estadunidense, os agentes
do sistema agroindustrial da soja brasileira deverão garantir suas posições
nesses mercados, com reflexos diretos sobre a expansão do plantio, seja nas
áreas agrícolas mais tradicionais do Centro-Sul, seja na “fronteira” das
regiões de menores latitudes do Brasil.
1Parte do projeto SIGA 3117. 2INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA – IBGE. Levantamento
Sistemático da Produção Agrícola – LSPA, 2011-13. Rio de Janeiro: IBGE.
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: jun. 2013. 3BARBOSA, M. Z.; DIAS, D. R. Biodiesel
de soja: expansão agrícola para o novo mercado. Informações Econômicas, v. 41, n. 6, p. 70-83, jun. 2011. 4INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA – IBGE. Censo agropecuário
2006. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. 5Inclui lavouras temporárias,
permanentes, cultivo de flores, hidroponia, plasticultura, viveiros de mudas,
estufas de plantas, casas de vegetação e forrageiras para corte. Ver op. cit.
nota 4. 6INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA – IBGE. Produção agrícola
MUNICIPAL - PAM. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. 7______. Mapa da Amazônia Legal: fronteira agrícola. Rio de Janeiro: IBGE.
Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geografia/mapas_doc3.shtm>. Acesso em: ago. 2012. 8CASTRO, A. C.; FONSECA, M. G. A
dinâmica agro-industrial do Centro-Oeste. Brasília: IPEA, 1995. 220 p.
(Série IPEA, 148). 9Para mais detalhes sobre a expansão da
cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, ver CAMARGO, A. M. M. et al. Dinâmica e tendência da expansão
da cana-de-açúcar sobre as demais atividades agropecuária, Estado de São Paulo,
2001-2006. Informações Econômicas, v.
38, n. 3, p. 47-66, mar. 2008. 10SACHS, R. C. C.; MARTINS, V. A. Análise da cultura da
cana-de-açúcar por Escritório de Desenvolvimento Rural, Estado de São Paulo,
1995-2006. Informações Econômicas, São
Paulo, v. 37, n. 9, p. 41-52, set. 2007.
Palavras-chave: sojicultura, área
colhida, região, Brasil.
Data de Publicação: 23/07/2013
Autor(es):
Marisa Zeferino (marisa.zeferino@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Vagner Azarias Martins (vagnermartins@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor