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Robusta Transição
A
retomada do esforço de previsão de safra de café com utilização de método
probabilístico foi alcançada por meio de parceria multi-institucional. Acordo
técnico--financeiro de longo prazo, celebrado entre Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD), Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e Secretarias
de Agricultura estaduais (Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo,
Bahia e Rondônia), garantirá a produção dessa relevante informação. Com o
emprego da análise estatística, torna-se possível controlar os erros e vieses,
além de não ser suscetível à influência de interesses e concepções
pré-existentes. Com
três levantamentos de campo por safra cafeeira, pretende-se obter elementos que
permitam a quantificação de itens como área, produção, produtividade, estande
de cultivo, intenção de plantio, erradicação e aspectos do manejo agronômico
das lavouras. Conjuntamente, tais dados possibilitarão esboçar razoável
radiografia dinâmica de cada cinturão cafeeiro brasileiro. Este artigo analisa o Estado do Espírito Santo, que
possui dois segmentos da cafeicultura. Na porção sul, mais montanhosa e de
clima tropical de altitude, cultiva-se arábica, enquanto na parte meridional e
norte do estado, de menor altitude e mais quente, o cultivo do conilon é
majoritário. Considerando a área total (produção + formação), sua cafeicultura
é composta por 31% e 69% de lavouras de arábica e conilon, respectivamente.
Quando somadas as colheitas, posiciona-se o estado na vice-liderança no ranking nacional. Por
serem distintas as características agronômicas das espécies cafeeiras cultivadas,
existem dinâmicas particulares à sua estrutura produtiva. Neste trabalho pretende--se
verificar em que medida a substituição de cafezais com propósito de renovação
da lavoura tem ocorrido para ambos os cultivos. Por existirem regiões distintas de
área cultivada com café arábica e conilon, elaboraram-se duas amostras
independentes, de forma a serem obtidas estimativas no domínio das espécies1.
Apesar da regionalização relacionada a cada uma, foram mantidos
estabelecimentos de arábica em regiões de café conilon e vice-versa (Figuras 1
e 2). A amostra geral foi calculada em 606 estabelecimentos agropecuários,
sendo 330 e 276 para as espécies Coffea
canephora e Coffea arábica, respectivamente,
e foi aplicada em outubro e novembro de 2012.
Figura 1 – Distribuição Geográfica da Área Municipal
de Café Arábica, Estado do Espírito Santo, 2006. Fonte: Elaborada
pelos autores com base em Censo Agropecuário IBGE (2006). Figura 2 – Distribuição Geográfica da Área Municipal
de Café Conilon, Estado do Espírito Santo, 2006. Fonte: Elaborada
pelos autores com base em Censo Agropecuário IBGE (2006). As
informações foram coletadas pelos técnicos do serviço de extensão capixaba
(INCAPER), por meio de questionário estruturado em entrevista direta com o
cafeicultor ou responsável pela propriedade, e focalizam aspectos socioeconômicos
e agronômicos da área cultivada no estabelecimento. Para a inferência
estatística, utilizou-se das fórmulas usuais de amostragem probabilística
estratificada2, 3. No
levantamento realizado no estado entre outubro e novembro de 2012, apurou--se
que a área média em formação de arábica na safra 2010/11 era de 7.430 hectares,
enquanto a de conilon de 11.510 hectares. Embora exibam elevados coeficientes
de variação evidenciados pelos intervalos de confiança, na safra 2011/12
ocorreu um salto na formação de conilon (22.300 hectares), enquanto no arábica
(8.219 hectares) constatou-se relativa estabilidade (Tabela 1). Tabela 1 - Áreas em
Formação, Arábica e Conilon, Estado do Espírito Santo, Safras 2010/11 e 2011/12
(ha) Área em formação 2010/11 2011/12 Arábica Média 7.430 8.219 Intervalo de confiança 4.532-10.328 5.926-10.512 Conilon Média 11.510 22.300 Intervalo de confiança 8.897-14.123 17.372-27.228 Fonte: Dados de
pesquisa. Fator
que exige ponderação ao menor ritmo de formação de novas lavouras de arábica
consiste na verificação da densidade média de plantio. Essas novas áreas possuem
densidade média de 3.458 pl/ha, incremento de 816 pl/ha frente à média daquelas
atualmente em produção. Tal expansão na densidade média dos talhões certamente
oferecerá maiores produtividades, garantindo patamar de produção total senão
estável, crescente para o arábica. No caso do robusta, não se constata salto na
densidade de cultivo, pois a média de 2.329 pl/ha é similar ao índice
encontrado para as áreas em formação. O
cálculo de percentual da área em formação sobre a área total cultivada consiste
em outro relevante indicador. No caso do arábica, esse percentual foi de 7%
para as safras 2011/12 e 2012/13, enquanto no caso do conilon essa taxa, que
também era de 7%, eleva-se para 9%. Portanto, há mudança no ritmo de formação
de novas lavouras, com vantagem para o conilon. Tal fenômeno ocorre sob a plena
vigência de programa governamental de apoio à renovação do arábica, que
facilita crédito subvencionado para os cafeicultores renovarem suas lavouras4. Questionados
os cafeicultores sobre suas intenções de plantio (2012/13), constatou-se que a
média de área que possivelmente será cultivada com arábica foi de 3.072 hectares
(± 1.379 hectares), enquanto no conilon essa expectativa atingiu a média de
10.093 hectares (± 2.219 hectares). A decisão dos cafeicultores mais favorável
ao conilon deverá mantê-lo à frente do arábica na formação de novas áreas,
recrudescendo a tendência verificada. Os
questionários de campo permitiram que o enumerador efetuasse anotações que foram
consideradas relevantes. A sistematização dessas anotações mostrou que 2% dos
cafeicultores (intervalo de confiança de 1% a 3%) até então cadastrados na
amostragem como produtores de arábica, substituíram suas lavouras por conilon
(Tabela 2). Tabela 2 - Lavoura Atual e Substituição de Cultivo, Estado do Espírito Santo,
Safra 2012/13 (%) Principal lavoura Média Intervalo Arábica -> arábica 98 87-100 Arábica -> conilon 2 1-3 Conilon -> conilon 100 - Conilon -> arábica 0 - Fonte: Dados de
pesquisa. Relacionar
algumas dessas anotações pode melhor caracterizar o fenômeno: Pai dividiu a propriedade com o
filho que substituiu 8 hectares de arábica por conilon. Esses
depoimentos foram recolhidos nas regiões que concentram a produção do conilon.
A aqui denominada “transição robusta” é fenômeno em curso na cafeicultura
capixaba. Nos depoimentos, não houve caso de substituição do conilon por
arábica (Tabela 2). Na safra 2012/13, a pesquisa evidenciou que 10.737 hectares
de áreas em produção de conilon foram renovadas. No arábica, esse mesmo
indicador foi de 872 hectares no mesmo período. A
erradicação de lavouras é outro elemento distintivo. No caso dos cafeicultores
de arábica, esse percentual foi maior do que o encontrado entre os de conilon.
Enquanto no primeiro o índice médio foi de 24% (intervalo de 17% a 32%), no
segundo foi de 7%, (de 4% a 11%). Constatou-se
maior grau de especialização dos cafeicultores de conilon, com 93,3% deles
tendo por atividade econômica principal a produção dessa espécie. Para o arábica,
esse índice alcançou 81,8% que, tampouco, é baixo; porém evidencia, ao menos,
tênue orientação pela diversificação produtiva. A especialização produtiva,
embora seja arriscada ao empreendimento econômico, conduz necessariamente à
maior aproximação com as inovações e tecnologias, favorecendo sua mais rápida
adoção e difusão. Decisões produtivas são grandemente selecionadas
pautando-se por variáveis econômicas, não se constituindo,
a cafeicultura, numa exceção. Pilares de natureza econômica, ainda que
vinculados aos sistemas produtivos complexos, sustentam a impressão de que
desponta o cenário de “transição robusta” capixaba. Na
safra 2012/13, a produtividade média registrada para o conilon foi de 41,5 sc./há,
enquanto o arábica atingiu os 24,4 sc./ha de média. Esse distanciamento das
produtividades entre as espécies é fato conhecido. O desenvolvimento das mudas
clonais de conilon com a consolidação de sistemas produtivos desenhados para
diferentes perfis de cafeicultores propiciou o incremento desse diferencial. Em
levantamentos anteriores, constatou-se que os cafeicultores tinham percepção
bem aderente aos estudos formais quanto ao custo operacional efetivo de suas lavouras5.
O custo médio unitário obtido entre os cafeicultores de arábica resultou em
R$227,85/sc., enquanto entre aqueles dedicados ao robusta foi de R$150,16/sc.
Apuração do custo operacional efetivo para conilon em Jaguaré, Estado do
Espírito Santo (irrigado e com produtividade média de 65 sc./ha), alcançou
R$160,95/sc.6. Dado
que os custos declarados estavam relativamente alinhados com aqueles calculados
e dispondo-se dos preços recebidos igualmente declarados, pode-se estimar a
rentabilidade de ambas as explorações. O arábica auferiu sobra de R$79,22/sc.,
enquanto para o conilon esse montante foi de R$106,28/sc. Com produtividade
maior e rentabilidade superior, o apelo para o ingresso nessa “transição robusta”
torna-se irresistível. A
composição do blend mundial, que já
opera com a adoção de 50% de robustas nas ligas, e que pode ser ainda maior no
segundo maior mercado consumidor da bebida7, pode explicar, parcialmente,
a melhor rentabilidade do conilon. Analistas
de mercado conferem a passiva aceitação por parte dos consumidores de ligas com
percentuais crescentes de conilon (Brasil) e robusta (demais mercados), como
uma das causas para o êxito das transnacionais da torrefação em sua estratégia
de reestruturar esse mercado. Todavia, essa visão reduz em demasia a
complexidade do assunto. Uma das mais fortes características dos apreciadores
de café consiste na exigência e rigor com que praticam seu hábito de consumo.
Isso se comprova pelo boom global do
mercado por dose (cápsulas). O
poder concentrador representado pelas estruturas de varejo e a imposição de
suas estratégias hipercompetitivas, no qual a distribuição de alimentos a baixo
custo é sua principal bandeira, reconfigura o mercado. Sob comando dos mais
baixos preços, aspectos como qualidade, segurança sanitária e legalidade
tornam-se secundários8. A posição das torrefadoras e dos
consumidores é neutralizada diante dessa postura. O varejo tem no café torrado
e moído um ícone para os baixos preços e, em diversas promoções, participam da
gôndola somente aqueles que aderirem a essa orientação. Esse é o cerne do
perfeito encaixe (na verdade ludibriar os incautos) entre elevação do conilon/robusta
nas ligas; ou seja, as estruturas varejistas pilotando as cadeias agroalimentares
e os consumidores sem capacidade de reação diante da universalização dessa estratégia.
A hipótese de passividade dos consumidores não revela o que de fato acontece
nesse mercado e deveria ser descontinuada. A
crise financeira promoveu mudanças nos hábitos de consumo e o retorno para o
preparo da bebida no lar foi uma das mais evidentes. Nessa perspectiva, ganham
relevo os cafés solúveis devido a sua conveniência e praticidade, alinhando-se
essa tendência com a crescente demanda por esse produto entre os países
emergentes. Com demanda firme para os robustas, as expensas dos volumes de
embarques crescentes desse grão, suas cotações ainda assim exibem escalada de
preços. Tal fenômeno somente é possível mediante o tempestivo encolhimento da
participação de mercado dos arábicas. Com
tantos prós para o conilon/robusta e inúmeros, talvez, para os arábicas, que
elementos mobilizar para oxigenar/dinamizar o mercado do arábica? O
investimento em melhoria da qualidade capaz de criar especialidades e
administrado por contratos pode ser uma alternativa, assim como a exploração de
segmentos em que a qualidade continua sendo determinante9.
O
saudoso Dr Ernesto Illy enfatizava em seus pronunciamentos que a prosperidade
do mercado de café viria do máximo aproveitamento da conversão evolutiva do
nariz e da língua humanas, de estruturas de defesa em instrumentos devotados à
satisfação/prazer. Essa é a mais essencial vocação da bebida e a crença de quem
pratica o conceito da qualidade. Arábicas e robustas que congregarem a máxima
excelência na xícara permanecerão participando desse tão volátil mercado. 1FRANCISCO V. L.
F. dos S. et al. Modelo estatístico e econômico para a estimativa da safra
brasileira de café. Informações
Econômicas, São Paulo, v. 40, n. 12, p. 26-36, dez. 2010. 2KISH, L. Survey Sampling.
New York: John Wiley and
Sons, 1965. 643 p. 3 INSTITUTO
CAPIXABA DE PESQUISA, ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL – INCAPER. Café. Espírito Santo: INCAPER, 2012.
Disponível em: <http://www.incaper.es.gov.br/pedeag/setores03_04.htm>
Acesso em: 14 fev. 2012. 4VEGRO, C. L.
R.; FRANCISCO, V. L. F. dos S.; ÂNGELO, J. A. Cafeicultor: um produtor
econômico racional. Análise e
Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 5, n. 10, out. 2010. Disponível
em: <http://www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?codTexto=11990>. Acesso
em: 24 nov. 2011. 5Op. cit. nota
4. 6CONFEDERAÇÃO DA
AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL - CNA. Projeto
Campo Futuro. Disponível em:
<http://www.canaldoprodutor.com.br/sites/default/files/Rentabilidade%20da%20cafeicultura%202013.pdf>.
Acesso em: dez. 2012. 7LEME, P. H. O novo mundo do café. Cafepoint: São
Paulo. Disponível em:
<www.cafepoint.com.br/cadeia-produtiva/marketing-do-cafe/o-novo-mundo-do-cafe-82396n.aspx#comentario81756>.
Acesso em: 2013. 8O caso da
distribuição de carne de cavalo nos hipermercados ingleses denota esse tipo
atitude inescrupulosa. Matéria do Financial Times tratou do assunto e foi
compilada pelo Valor Econômico. Disponível em:
<http://www.valor.com.br/empresas/3004770/conspiracao-ou-competicao>. 9Especificamente,
o programa Nucoffee da Syngenta e o posicionamento do Café do Centro
exemplificam tais orientações. Palavras-chave:
produção de café, conilon, arábica, previsão de safras.
O cafeicultor pretende cultivar o
conilon, mas não definiu área ainda.
Produtor de leite desmotivado com
o café que ao arrendar para parceiro que substituiu a lavoura por conilon.
O cafeicultor tem muito interesse
na substituição pelo conilon pelo fato da produtividade ser maior e ter menos
demanda por mão de obra. Possui 1,0 de conilon e prepara área para plantar mais
8 mil plantas.
Possui 8.000 plantas de conilon
que vem sendo cultivadas em substituição ao arábica.
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Data de Publicação: 05/03/2013
Autor(es):
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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