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Fertilizantes: antecipação de compras em 2011 após aumento das vendas em 2010
No
Brasil, as entregas de fertilizantes ao consumidor final, no período de janeiro
a julho de 2011, apresentaram aumento de 27,8% quando comparadas com as do mesmo
período de 2010, totalizando 13,936 milhões de toneladas de produtos. Em termos
de nutrientes, foram entregues 5,718 milhões de toneladas, cuja formulação média
(N:P2O5:K2O) foi 11,3:13,8:15,9, mostrando,
portanto, a predominância dos potássicos, seguidos dos fosfatados e dos
nitrogenados.
Vários fatores podem explicar esse comportamento bastante favorável das vendas
nos primeiros sete meses de 2011, tais como: a) antecipação de compras de
fertilizantes para a safra agrícola 2011/12, para garantir uma boa relação de
troca, pois, com a antecipação das aquisições, o agricultor consegue preços
melhores, tendo em vista que normalmente eles ficam mais caros no segundo
semestre, quando a procura é maior; b) o aumento na área e na produtividade na
safra 2010/2011, que teve uma produção de grãos recorde (162,96 milhões de
toneladas), aliado aos bons preços recebidos pelos agricultores, resultou em
2011 (dados de junho) um valor bruto da produção (20 principais produtos
agrícolas) recorde de R$199,1 milhões1; c) os produtores mais
capitalizados investem mais em tecnologia para ampliar a produtividade nas
lavouras; d) aumento da área plantada do milho safrinha; e e) perspectiva de
manutenção de cotações remuneradoras ao longo da próxima safra.
Para
todas as regiões brasileiras ocorreu melhor performance nas vendas, com destaque
para o Sudeste, cujas entregas de fertilizantes, no período de janeiro a julho
de 2011, em relação ao mesmo período de 2010, cresceram 31,7%, seguida da Sul,
28,2%, Centro-Oeste, 26,0% e Norte/Nordeste, 24,3%; de acordo com o critério de
regionalização para o Brasil do Sindicato das Indústrias de Adubo do Estado de
São Paulo (SIACESP) (Tabela 1).
Tabela 1 - Entregas de Fertilizantes ao
Consumidor Final, por Região e Estado, Brasil, 2009-2010, e Janeiro a Julho de
2010 e de 2011 O
Estado do Mato Grosso, maior produtor nacional de soja e algodão, no período de
janeiro a julho de 2011, liderou o ranking nas entregas (2,744 milhões de
toneladas de produtos), sendo responsável por 19,7% do total nacional. As vendas
no Estado contabilizaram aumento de 21,2% quando comparadas com igual período do
ano precedente. Observou-se que a maioria dos Estados apresentou incremento nas
entregas, no mencionado período, como Goiás (48,3%), onde o grande avanço do
cultivo da cana-de-açúcar tem sido um dos responsáveis pelo aumento na demanda
de fertilizantes. Destacam-se, também, os Estados de Minas Gerais (46,2%),
Paraná (33,2%), Bahia (26,3%), São Paulo (24,4%) e Rio Grande do Sul
(23,4%).
No
período de janeiro a julho de 2011, aumentou em 4,9% a produção da indústria
nacional de produtos intermediários para fertilizantes frente ao registrado no
mesmo período do ano anterior, totalizando 5.428 mil toneladas de produtos. Por
sua vez, as importações brasileiras de fertilizantes, no referido período,
apresentaram um crescimento bem superior (51,5%), perfazendo 10.925 mil
toneladas de produtos2, tendo em vista a antecipação nas importações
principalmente de fosfatados e potássicos. O principal porto de desembarque de
fertilizantes foi Paranaguá (PR), seguido de Santos (SP), Rio Grande (RS) e
Vitória (ES).
Em
2010, as vendas de fertilizantes no Brasil cresceram 9,4% em relação ao ano
anterior, perfazendo o total de 24,516 milhões de toneladas de produtos. Essa
quantidade é similar a observada em 2007 (24,609 milhões de toneladas), que se
constituiu em recorde histórico3.
A
soja, principal cultura que emprega fertilizantes no Brasil, segundo estimativas
da Associação Nacional Para Difusão de Adubos (ANDA), em 2010, apresentou
acréscimo nas entregas de 8,2% em relação ao ano anterior, perfazendo 8,507
milhões de toneladas de produtos (34,7% do total nacional). Constatou-se, no
referido período, incremento nas entregas para maioria das culturas, com
destaque maior para as entregas destinadas para o algodão herbáceo (68,1%),
tendo em vista a alta dos preços desse produto provocada pela forte redução dos
estoques mundiais. Houve aumento também para importantes culturas, como:
cana-de-açúcar (16,3%), reflorestamento (12,6%), laranja (12,1%), batata (8,2%),
banana (7,4%), feijão (4,7%), milho (3,0%) e café (2,7%). Poucas culturas
registraram retração nas entregas como trigo (-8,4%) e sorgo
(-4,8%)4.
Em
2010, a maior comercialização de fertilizantes ocorreu na maioria dos Estados,
com apenas algumas exceções, como em Santa Catarina e Paraná, da região Sul, que
apresentaram queda nas entregas de, respectivamente, 11,4% e 3,4%. O Estado do
Mato Grosso respondeu pela maior quantidade das entregas de fertilizantes em
2010, com 4,032 milhões de toneladas de produtos (aumento de 14,6% em relação ao
ano anterior). O Estado representou 16,4% das entregas totais, seguido de São
Paulo (14,2%), Minas Gerais (12,8%), Rio Grande do Sul (12,6%), Paraná (12,4%),
Goiás (8,4%) e Bahia (6,8%).
A
comercialização de fertilizantes em 2010 seguiu o padrão sazonal convencional de
concentração das vendas no segundo semestre, simultaneamente ao plantio das
culturas de verão. Constatou-se que 64,8% das entregas (15,890 milhões de
toneladas de produtos) ocorreram no segundo semestre, com pico das vendas em
outubro (13,9% do total das entregas) (Figura 1).
Figura 1 - Fertilizantes Entregues ao
Consumidor Final, Brasil, Janeiro de 2009 a Julho de
2011. Na
análise das relações de troca entre fertilizantes e os principais produtos
agrícolas na região centro-sul, constatou-se que em 2010 as culturas do algodão,
café, cana-de-açúcar e laranja de mesa apresentaram relações de troca mais
favoráveis, quando comparadas com as de 2009, ou seja, ganho do poder aquisitivo
dos produtores para compra de fertilizantes agrícolas. Contribuíram em grande
parte o aumento dos preços recebidos pelos agricultores, em especial para o
algodão. Em contrapartida, algumas culturas como o arroz, batata inglesa,
feijão, milho e trigo apresentaram relações de troca mais desfavoráveis para os
agricultores no referido período5.
A
produção da indústria nacional de produtos intermediários para fertilizantes em
2010 foi de 9,340 milhões de toneladas de produtos, quantidade 11,6% superior ao
registrado no ano anterior (Tabela 2). Verificou-se, assim, acréscimo nas
quantidades produzidas, em termos de nutrientes, tanto dos fertilizantes
nitrogenados (2,6%) como dos fosfatados (10,5%), enquanto registrou-se queda na
produção dos potássicos (7,3%) na jazida de Taquari, município de Vassouras,
Estado de Sergipe. No caso das matérias-primas utilizadas para a fabricação de
fertilizantes, constatou-se maior produção de rocha fosfática industrial, ácido
fosfórico, enquanto houve queda na produção de amônia e ácido
sulfúrico6.
Tabela 2 - Balanço de
Fertilizantes, Brasil, 2007-2010
Também aumentaram, em 2010, as importações brasileiras de fertilizantes (38,7%),
as quais totalizaram 15,282 milhões de toneladas de produtos. O cloreto de
potássio continuou sendo o principal produto importado, respondendo por 40,1% do
total, seguido de ureia (16,4%) e sulfato de amônio (10,1%). No caso das
matérias-primas para produção de fertilizantes, o incremento foi de 39,6% no
referido período.
O
dispêndio de divisas com importações de matérias-primas e produtos
intermediários para fertilizantes, em 2010, foi estimado em US$5,58 bilhões
(FOB), com aumento de 27,9% em relação ao ano anterior, em função do incremento
da quantidade importada.
As
cotações dos principais fertilizantes no mercado internacional, que haviam
aumentado consideravelmente em 2008, apresentaram retração em 2009 e em 2010. Os
preços médios FOB dos fertilizantes importados, que atingiram US$589,14/t em
2008, passaram para US$320,42/t em 2010 (queda de
45,6%)7.
Entretanto, no mercado internacional, no final de 2010, os preços dos
fertilizantes e suas matérias-primas começaram a reagir, impulsionados em grande
parte pela forte demanda mundial. Persistindo essa tendência de aumento nos sete
primeiros meses de 2011, com o preço médio dos fertilizantes importados situando
em US$410,71/t FOB, ou seja, 26,2% acima do observado no mesmo período do ano
anterior. As cotações dos fertilizantes nitrogenados e fosfatados foram as que
mais subiram. Por exemplo, o preço médio do sulfato de amônio importado, que se
situou em US$143,07/t FOB no período de janeiro a julho de 2010, subiu para
US$210,91/t FOB em janeiro a julho de 2011 (acréscimo de 47,4%).
Ressalte-se que os preços dos fertilizantes importados são amenizados pela
variação cambial (R$/US$) vigentes no País. Em 2010, a taxa média cambial
mostrou decréscimo de 11,7% em relação a 2009, ficando em 1,7593; e, nos sete
primeiros meses de 2011 decresceu cerca de 10,0% quando comparada com o mesmo
período de 20108.
O
setor brasileiro de fertilizantes, visando reduzir a forte dependência externa,
já acumula projetos estimados em US$13 bilhões, entre expansões e a instalações
de novas unidades de produção distribuídas ao longo dos próximos cinco anos. De
acordo com a ANDA, esse valor representa 15% do total dos investimentos em
fertilizantes em todo o mundo, que até 2016 planeja aplicar US$88 bilhões na
implantação de 250 projetos que irão propiciar uma capacidade adicional global
de produção de 183 milhões de toneladas de matérias-primas e de produtos
intermediários9.
A
indústria nacional de fertilizantes iniciou 2010 com estoque de 3.470 mil
toneladas de produtos e finalizou com quantidade praticamente igual (3.453 mil
toneladas de produtos) (Tabela 2). Em 30 de junho de 2011, os estoques de
produtos intermediários para fertilizantes e formulações NPK ficaram em 5.671
mil toneladas de produtos, quantidade superior 16,8% ao observado no mesmo
período do precedente10.
A
tendência de alta das commodities agrícolas deve continuar durante algum
tempo, apesar da vigência de nova crise financeira. Os fundamentos que elevaram
suas cotações nos últimos anos permanecem os mesmos com demanda mundial por
alimentos aquecida (comandada pela China e Índia), e manutenção da trajetória de
aumento da renda per capita das populações nos países emergentes. Além
disso, a recomposição dos estoques não deve ocorrer no curto prazo em razão das
minguadas safras mundiais11. Excetuando-se a fibra de algodão, mais
vulnerável por não ser um alimento, seus preços podem sofrer impacto da retração
da economia mundial.
As
previsões para o mercado de fertilizantes para 2011 são otimistas. Para a
próxima safra 2011/12, prevê-se um novo crescimento de área plantada e produção
de grãos no Brasil, talvez não na mesma magnitude da safra 2010/2011, mas, ainda
assim, significativo12. Em relação à soja, segundo a consultoria
Safras & Mercados, a área a ser plantada deverá crescer 1,8% no Brasil,
passando de 24,2 milhões de hectares para 24,638 milhões de hectares, cuja
estimativa, se confirmada, determinará o quinto ano consecutivo de ganhos de
área da oleaginosa no País. Para a cultura do milho estima-se uma expansão de
plantio de 5% na safra de verão13. Existem também expectativas de
aumento de demanda de fertilizantes em outras culturas como cana-de-açúcar e
café. Nesse último, por exemplo, são observadas cotações que não se registravam
desde a grande geada de 1974. Tal conjuntura estimula o uso intensivo de
tecnologia, uma vez que a expectativa de ganhos reais é bastante
palpável.
De
acordo com a ANDA, a partir de projeções realizadas pela RC Consultores,
estima-se que as entregas de fertilizantes ao consumidor final no Brasil devem
fechar 2011 com a comercialização em torno de 26,5 milhões de toneladas, 8,1%
acima da quantidade atingida em 2010, que foi de 24,5 milhões de toneladas. A
demanda mundial, o preço remunerador das commodities agrícolas, a relação
estoque/consumo das commodities agrícolas à evolução, taxa de câmbio,
relação de trocas favorável ao produtor rural, dentre outras, são variáveis que
contribuem para esse desempenho do mercado de fertilizantes.
______________ 2ASSOCIAÇÃO NACIONAL PARA DIFUSÃO
DE ADUBOS – ANDA. Principais indicadores do setor de fertilizantes. São
Paulo: ANDA, 2011. Disponível em:
<http://www.anda.org.br/estatisticas.aspx>. Acesso em: set.
2011.
3______. Anuário estatístico
do setor de fertilizantes 2009-2010. São Paulo: ANDA, 2010 e
2011.
4Op. cit. nota 3.
5Op. cit. nota 3.
6Op. cit. nota 3.
7Op. cit. nota 3.
8BANCO CENTRAL DO BRASIL.
Indicadores econômicos: taxa de câmbio. Disponível em: <http://www.
9INDÚSTRIA mundial de
fertilizantes investirá US$88 bi até 2016. Disponível em: <http://www.
10Op. cit. nota 2.
11COSTA, L. Tendência de
alta nas commodities deve continuar. Disponível em: <http://blogs.
12Op cit. nota 1.
13MOLINARI prevê boas
perspectivas para as lavouras de soja e milho. Notícia da edição impressa de 15
ago. 2011. Disponível em: <http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=70187>.
Acesso em: set. 2011.
(em t de
produtos)
Fonte: AMA-BRASIL, ANDA, SIACESP, SIARGS e
SIACAN.
(em 1.000 t de produtos)
Fonte: Anuário (2010 e 2011)
Item
1
- Estoque inicial (indústria)
2
- Produção nacional
3
- Importação
4
- Oferta (2+3)
5
- Exportação
6
- Micronutrientes/aditivos
7
– Quebras/ajustes
8
– Disponibilidade (1+4+5+6+7)
9
- Estoque final (indústria)
10 - Entregas consumidor (8-9)
1HOMEM DE MELO, F. Quase final da safra
de grãos 2010/2011. E a Crise? Informações FIPE, agosto de 2011. Disponível
em: <http://www.fipe.org.br/publicacoes/downloads/bif/2011/8_9-11-fern.pdf>.
Acesso em: set. 2011.
bcb.gov.br/pec/
indeco/Port/ie5-28.xls>. Acesso em: mar. 2011.
portaldoagronegocio.com.br/conteudo.php?id=61712>.
Acesso em: set. 2011.
estadao.com.br/agricola/2011/08/11/tendencia-de-alta-nas-commodities-deve-continuar/>.Acesso
em: set. 2011.
Palavras-chave: mercado de fertilizantes,
indústria de fertilizantes.
Data de Publicação: 20/09/2011
Autor(es):
Célia Regina Roncato Penteado Tavares Ferreira Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor