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Preços Agropecuários com queda de 3,80 % no encerramento de julho
O Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista
(IqPR)1,2 encerrou o mês de julho de 2011 com queda de 3,80%. O
IqPR-V (produtos de origem vegetal) registrou variação negativa de 6,75% e
IqPR-A (produtos de origem animal) subiu 4,11% (Tabela 1). Esse
comportamento consagra a tendência de preços agropecuários cadentes nas últimas
quadrissemanas, indicando contribuição desses preços para que ocorram menores
pressões inflacionárias.
Tabela 1 - Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista, Julho de 2011 e Acumulado nos Últimos 12 Meses
Índice Acumulado |
São Paulo |
São Paulo - sem cana | ||
Variação mensal Julho/11 |
Acumulada 12 meses |
Variação mensal Julho/11 |
Acumulada 12 meses | |
IqPR |
-3,80 % |
27,88 % |
- 3,76 % |
15,60 % |
IqPR-V |
|
31,54 % |
- 12,22 % |
12,60 % |
IqPR-A |
4,11 % |
16,28 % |
- |
- |
Quando a cana-de-açúcar é excluída do cálculo do índice (devido a sua
importância na ponderação dos produtos), os índices fecham o mês de julho com
variação negativa: o IqPR registra queda de 3,76% e o IqPR-V (cálculo somente
dos produtos vegetais) cai para 12,22% (Tabela 1).
Os produtos que registraram as maiores quedas neste mês foram todos eles
produtos de origem vegetal: tomate para mesa (42,55%), batata (25,24%), algodão
(21,52%), laranja para indústria (18,15%) e laranja para mesa (17,46%) (Tabela
2).
Os preços do tomate de mesa seguem tendência de expressiva queda a partir de
patamares que correspondem mais que o dobro do verificado na mesma época do ano
anterior (+117,98%). Como produto perecível e com produção muito dependente de
fatores climáticos, os desajustes conjunturais se revelam numa autêntica
gangorra de preços, face às questões climáticas que alteram a dinâmica da
produção gerando fases de escassez com preços altos seguidas de realidades
inversas. A concorrência no mercado de perecíveis revela-se muito dependente da
oferta que, se excedente leva os agentes a perderem poder de gestão dos preços;
se escassa leva à multiplicação de suas margens. Daí a verificação de amplitudes
elevadas no decorrer dos meses.
Na mesma perspectiva deve ser analisada a queda expressiva dos preços da batata,
solanácea perecível como o tomate que consumida como tubérculo não sofre a mesma
limitação temporal de 'vida de prateleira' do tomate. Contudo, mesmo assim se
submete às variações bruscas da conjuntura. Quando a entrada de produto reverte
a conjuntura de escassez que havia produzido pressões de alta, na alternância da
gangorra de preços, verifica-se como no caso a manifestação de reduções
expressivas em função das mudanças da oferta. Isso ocorre com os preços atuais
se configurando como inferiores aos do mesmo período de 2010 (-17,85%), uma vez
que no mercado de perecíveis todos os agentes econômicos são tomadores de
preços.
Tabela 2 - Variações dos Preços dos Produtos, Estado de São Paulo, Julho de 2011
Origem |
Produto |
Unidade |
Cotações (R$) |
Variação mensal (%) |
Variação Jul/11-Jul/10 (%) | |
Junho/11 |
Julho/11 | |||||
VEGETAL |
Algodão |
15 kg |
76,41 |
59,97 |
-21,52 |
6,33 |
Amendoim |
sc.25 kg |
30,21 |
29,53 |
-2,25 |
1,61 | |
Arroz |
sc.60 kg |
27,71 |
26,48 |
-4,44 |
-21,31 | |
Banana nanica |
cx.21 kg |
10,27 |
10,05 |
-2,19 |
-16,05 | |
Batata |
sc.60 kg |
35,54 |
26,57 |
-25,24 |
-17,85 | |
Café |
sc.60 kg |
477,28 |
450,26 |
-5,66 |
53,73 | |
Cana-de-açúcar |
kg de ATR |
0,5148 |
0,4952 |
-3,81 |
40,36 | |
Feijão |
sc.60 kg |
109,80 |
101,78 |
-7,30 |
-3,93 | |
Laranja p/ Indústria |
cx.40,8 kg |
13,59 |
11,12 |
-18,15 |
-23,54 | |
Laranja p/ Mesa |
cx.40,8 kg |
14,21 |
11,73 |
-17,46 |
-18,37 | |
Milho |
sc.60 kg |
25,86 |
25,54 |
-1,24 |
68,95 | |
Soja |
sc.60 kg |
42,10 |
40,98 |
-2,67 |
18,31 | |
Tomate p/ Mesa |
cx.22 kg |
43,82 |
25,18 |
-42,55 |
117,98 | |
Trigo |
sc.60 kg |
30,66 |
30,24 |
-1,35 |
31,49 | |
ANIMAL |
Carne Bovina |
15 kg |
95,37 |
96,29 |
0,97 |
17,76 |
Carne de Frango |
Kg |
1,61 |
1,75 |
8,84 |
11,97 | |
Carne Suína |
15 kg |
39,23 |
49,46 |
26,09 |
-1,45 | |
Leite B |
Litro |
0,89 |
0,94 |
4,77 |
13,01 | |
Leite C |
Litro |
0,78 |
0,83 |
6,17 |
6,63 | |
Ovos |
30 dz |
47,06 |
46,89 |
-0,35 |
19,11 |
No algodão, a queda significativa decorre do recuo dos preços internacionais com
a normalização da oferta pelas principais nações produtoras e pelo aumento das
importações chinesas de têxteis acabados, o que impacta para baixo os preços
internos da matéria prima. Após uma realidade de preços internacionais elevados
que estimulou a maior produção interna, os preços atuais da pluma estão em
patamares similares aos de 2010, uma vez que sendo 6,33% superiores, têm-se
patamares muito próximos quando descontada a inflação. Verifica-se nesse caso
uma estrutura de mercado e de formação de preços típica de commodities
agropecuárias em que a agroindústria têxtil de confecção e vestuário não enseja
mecanismos amplos de coordenação vertical à montante do fluxo
produção-consumo.
Nos mercados da laranja os impactos da ocorrência ou não dos mecanismos de
coordenação vertical se configura didática. Na laranja de mesa a redução
expressiva dos preços revela uma realidade distinta do ano anterior. Uma safra
dentro da normalidade, numa conjuntura de recuo dos preços internacionais levou
à tendência de redução dos preços internos. As poucas compras das agroindústrias
no mercado livre levaram ao pareamento dos preços da laranja para indústria e da
laranja para mesa. Em relação a 2010 se verifica preços inferiores tanto para a
laranja para indústria (-23,54%) como de mesa (-18,37%). Numa perspectiva de
continuidade dessa tendência de queda as frutas destinadas ao processamento
agroindustrial protegidas por contratos tendem a apresentar redução inferior à
do mercado livre (dito spot), podendo mesmo elevar-se dependendo das bases em
que forem firmados esses instrumentos de coordenação vertical.
Os produtos do IqPR que registraram as altas neste mês foram todos eles produtos
de origem animal: carne suína (26,09%), carne de frango (8,84%), leite C
(6,17%), leite B (4,77%), e carne bovina (0,97%). (Tabela 2).
A reversão de tendência para forte alta dos preços da carne suína decorre do
substancial incremento das exportações do produto no último mês e início do
corrente, com elevação também dos preços médios obtidos. A perspectiva derivada
do anuncio do embargo russo produziu a antecipação de compras por aquele país,
mas também evoluíram para as vendas para Argentina e Hong Kong. Esses fatores
impulsionaram os preços internos que, contudo, ainda se mostram inferiores aos
de 2010 (-1,45%), caracterizando realidade de recomposição dos preços e não de
aumento clássico.
Os preços internacionais da carne de frango atingiram patamares recordes
superando aqueles até então considerados inalcançáveis ocorridos em 2008. Com
isso os impactos nos preços internos se mostram de elevação substantiva com a
tendência de boas exportações. Verifique-se que os preços atuais dessa fonte de
proteína animal, quando descontada a inflação, ao serem 11,97% superiores a
igual período de 2010, mostram-se pressionando os preços gerais da economia para
cima, ou seja, configura-se uma realidade de preços elevados nessa cadeia de
produção que estruturou eficiente mecanismo de coordenação vertical pela
integração contratual.
A agroindústria de leite e laticínios configura-se pela estrutura de mercado e
de formação de preços onde a presença de mecanismos de coordenação vertical é
precária, resultando em oscilações de preços com elevada amplitude típicas de
perecíveis, em função do equilíbrio entre oferta e demanda. Tanto assim que na
conjuntura atual os preços dos leites (B e C) elevam-se face à redução da
quantidade e qualidade das pastagens que reflete na menor oferta dos produtos,
pressionando as cotações para cima, numa realidade de demanda aquecida. Os
preços do Leite B (com desconto da inflação) são maiores que os verificados em
igual período de 2010 (+13,01%). Já os preços do Leite C (+6,63%) (também com
desconto da inflação) se encontram no mesmo patamar do ano anterior.
Em resumo, no período correspondente a esta quadrissemana, 5 produtos
apresentaram alta de preços (todos eles de origem animal) e 15 apresentaram
queda (14 vegetal e 1 animal),.
Na análise da variação acumulada dos índices de preços agropecuários nos últimos
12 meses, os resultados registram variações positivas: 27,88% para o IqPR,
31,54% para o IqPR-V (vegetais) e 16,28% para o IqPR-A (animais). Esses
indicadores revelam que os preços agropecuários ainda se mostram superiores aos
que vigoraram no mesmo período de 2010 sempre com patamares superiores aos
índices de inflação.
A cana-de-açúcar apresenta valor do quilo de ATR da cana (valor referência de
cálculo) 40,36% superior ao do mesmo mês do ano passado (Tabela 2). Essa
matéria prima agroindustrial teve recente processo de reposicionamento dos
preços em função dos patamares vigentes para o produto final (açúcar e álcool).
Os preços do açúcar no mercado internacional ainda produzem preços internos com
variações superiores ao movimento do câmbio.
No álcool, a não realização de investimentos em incremento da capacidade
produtiva no último triênio associada a pressões de custos conduz ao prognóstico
de escassez desse combustível na safra em curso, ou seja, gera a perspectiva de
preços crescentes. Esses fatores acabam impactando os preços da matéria prima.
Isso porque a demanda pelos produtos finais e devido às taxas de crescimento
econômico eleva o consumo de açúcar e amplia a frota de veículos, o que para uma
oferta dada numa conjuntura ainda de perdas de produção de matéria prima permite
a gestão oligopólica das margens, ocorrência natural nesta estrutura de mercado
de formação de preços.
Esse impacto decisivo da cana de açúcar na definição dos índices de preços
agropecuários paulista fica demonstrado na evolução desses indicadores
considerando ou não o preço da matéria prima. Incorporando o reposicionamento
dos preços da cana-de-açúcar tem-se como impacto o expressivo aumento dos
índices de preços agropecuários na passagem de abril para maio de 2011 num salto
atípico logo na entrada da colheita da nova safra (Figura 1). As quedas
mensais refletem a administração da cotação do ATR que foi fixada mais elevada
no início da safra como compensação para estimular a entrega pelos produtores de
matéria-prima em período de menor concentração, o que antecipando cortes, reduz
seu valor no período de maior concentração para desestimular a entrega; volta-se
a elevar o valor do ATR de forma administrada no final de safra para compensar a
queda do teor de açúcar total recuperável.
Figura 1 - Evolução do Índice Acumulado
Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista Com
Cana-de-açúcar, Julho de 2010 a Julho de
2011.
Julho/2010 = base
100.
Fonte: Instituto
de Economia Agrícola (IEA).
Esse incremento nos preços da matéria prima não teve impacto inflacionário para
o consumidor que já vinha pagando valores finais mais altos pelo álcool e pelo
açúcar. Apenas indica que as perspectivas de preços cadentes para esse produto
dificilmente se manifestará. Ao contrário, possivelmente ocorrerá a presença de
expectativas de alta, como o reajuste do preço do álcool combustível em plena
safra. O calculo capitalista dos agentes econômicos com poder de fazer preços
leva necessariamente a essa administração objetiva da realidade de desequilíbrio
entre oferta e demanda.
Desconsiderando a cana-de-açúcar no cálculo acumulado dos índices, o IqPR tem
variações ascendentes menores, atingindo 15,60%; o IqPR-V sem cana fecha
anualizado com uma ascensão de 12,60% (Tabela 1). Nos últimos meses a
tendência dos preços agropecuários exclusive cana se mostra descendente, sendo
que apenas neste último fechamento mensal (desde março) têm-se alta dos preços
dos produtos de origem animal (IqPR-A) (Figura 2).
Figura 2 - Evolução do Índice
Acumulado Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista Sem
Cana-de-açúcar, Julho de 2010 a Julho de 2011.
Julho/2010 = base
100.
Fonte: Instituto
de Economia Agrícola (IEA).
Na comparação dos últimos 12 meses, oito produtos apresentaram queda menor que a
inflação acumulada IPCA = 6,71% (Laranja p/ Indústria -23,54%; Arroz -21,31%;
Laranja p/ Mesa -18,37%, Batata -17,85%; Banana nanica -16,05%; Feijão -3,93%;
Carne Suína -1,45%; Amendoim +1,61%) o que consubstancia preços menos
remuneradores. Dois produtos tiveram variações em patamar próximo da inflação
oficial (Algodão +6,33% e Leite C +6,63%) e dez produtos tiveram reajustes
superiores aos índices inflacionários (Tomate p/ Mesa +117,98%; Milho +68,95%;
Café +53,73%); Cana-de-açúcar +40,36%; Trigo +31,49%; Soja +18,31%; Ovos
+19,11%; Carne Bovina +17,76%, Leite B +13,01%; Carne de Frango +11,97%)
(Tabela 2). Noutras palavras, metade dos produtos agropecuários ainda
apresenta preços mais remuneradores que do ano anterior, com destaque para as
commodities agropecuárias (milho, café, trigo e soja), cujos preços
internacionais mais elevados vêm balizando os preços internos.
__________________________
1A fórmula de cálculo do índice (IqPR) é a de Laspeyres modificada, ponderada pelo valor da produção agropecuária paulista. As cotações diárias de preços são levantadas pelo IEA e divulgadas no Boletim Diário de Preço. As variações são obtidas comparando-se os preços médios das quatro últimas semanas (referência) com os preços médios das quatro primeiras semanas (base), sendo a referência = 01/07/2011 a 31/07/2011 e base = 01/06/2011 a 30/06/2011.
2 Artigo completo com a metodologia: Pinatti, E.; Sachs, R.C.C.; Angelo, J.A.; Gonçalves, J.S. Índice quadrissemanal de preços recebidos pela agropecuária Paulista (IqPR) e seu comportamento em 2007. Informações Econômicas, São Paulo, v.38, n.9, p.22-34, set.2008. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=9573.
Data de Publicação: 05/08/2011
Autor(es):
Luis Henrique Perez Consulte outros textos deste autor
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