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Pontos críticos da armazenagem de grãos no Brasil
Embora crescentes, nos últimos anos os investimentos em infraestrutura de
armazenagem no Brasil não tem acompanhado o dinamismo da agricultura, afetando o
sistema logístico para a movimentação das safras de grãos, provocando
congestionamento nas estradas, nos portos e, sobretudo, nos pátios das
instalações para recepção das mercadorias a serem guardadas.
Como e onde guardar as safras? Esta tem sido uma das questões importantes do
agronegócio brasileiro nos últimos anos e que deve merecer a atenção dos agentes
públicos e privados para permitir maior eficiência na comercialização das safras
tanto para garantia do abastecimento interno como assegurar a competitividade no
mercado externo.
Nas duas mais recentes safras, por sinal recordes, observa-se defasagem
acentuada entre produção de grãos e capacidade estática de armazenamento (Figura
1).
Figura 1 – Evolução da Produção
de Grãos e da Capacidade Estática de Armazenamento, Brasil,
2000-20111
12011:
previsão.
Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados da
CONAB.
Muitas são as ameaças encontradas na estrutura de armazenagem a meio
ambiente natural e que têm se tornado crônicas pelo ritmo de crescimento das
safras no Brasil:
- Descompasso entre oferta e demanda de grãos em anos de grandes safras, como as de 2002/03, 2003/2004, 2007/08, 2009/10 e 2010/2011. Em determinados anos há agravamento da situação acarretando problemas na logística de movimentação das safras de grãos e mesmo congestionamento nos portos em face do grande afluxo de mercadorias.
- Efeito direto e danoso das mazelas crônicas da inadequação do sistema de escoamento das safras (transporte e armazenagem): queda dos preços dos produtos em face da necessidade de pronta comercialização após a colheita. Por conta da grande oferta no mercado, os preços dos grãos caem e os produtores não aproveitam o melhor período para a realização de lucros.
- Crescimento da produção de mercadorias diferenciadas (transgênicos, orgânicos, novos grãos, como canola, milheto e triticale) que requer separação por células específicas. A cada safra há aumento na oferta de produtos não tradicionais e as sementes transgênicas, de modo geral, têm sido disseminadas em ritmo acentuado por todo o país. Cabe lembrar que o Brasil já ocupa o segundo lugar em área cultivada (25,4 milhões de hectares) com organismos geneticamente modificados, atrás apenas dos Estados Unidos da América (com 66,8 milhões de hectares), segundo o Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações Agrobiotecnológicas (ISAAA, na sigla em Inglês).
- Falta e inadequação de unidades armazenadoras, tanto nos aspectos de qualidade como de localização geográfica, configurando neste caso o vazio logístico. Devido à migração de lavouras, muitas regiões carecem de uma rede de armazenagem, enquanto outras até apresentam superávits. Isto pode ser observado no Estado de São Paulo, onde em razão do declínio da cafeicultura muitos armazéns e silos estão localizados em zonas que não produzem mais café. Os armazéns foram adaptados para a guarda de grãos, mas nem sempre apresentam condições adequadas. Além disso, o avanço da cana-de-açúcar também se deu em áreas tradicionais de grãos. Dada 'migração' de lavouras de grãos para a região Centro-Oeste do país, importantes áreas grandes produtoras de grãos não dispõem ainda de uma estrutura de armazenagem satisfatória, configurando o chamado vazio logístico.
- Cadastro elaborado pela CONAB aponta grande número de unidades armazenadoras com impedimento. Embora aparentemente não haja veto, a situação de funcionamento destas unidades não se apresenta em plena conformidade para a prestação de serviços e diminuição das perdas pós-colheita.
- Certificação de unidades armazenadoras: no curto prazo, algumas unidades serão vetadas para a prestação de serviços a terceiros. O Sistema Nacional de Certificação de Unidades Armazenadoras tem por objetivo estabelecer um padrão de qualidade na prestação se serviços de armazenagem em cumprimento das exigências cada vez mais rigorosas por parte dos consumidores. Mostra de que grande parte das unidades ora existentes não apresentam condições adequadas foi a determinação por parte da CONAB de rever os critérios, considerados muito rigorosos e de difícil atendimento por parte dos agentes envolvidos. Além disso, houve ainda a ampliação do prazo limite para vigorar a nova determinação, diante das dificuldades encontradas.
- Parte representativa dos agricultores continua com dívidas pendentes e a elevada soma de recursos exigida para a construção de silos dificulta a ampliação e a modernização do setor. Para os pequenos produtores a contratação dos financiamentos é difícil por exigir um volume de produção compensatório.
- Baixa capacidade de armazenamento nas propriedades rurais: não chega a 20%. Esta é uma situação desfavorável do Brasil frente aos grandes produtores mundiais de grãos, que tem no campo a maior parcela das unidades para guardar seus produtos. Esta condição força o produtor a comercializar prontamente suas safras, na época de preços baixos, além de causar problemas de logística, com congestionamentos nas redes de armazenagem intermediária e terminal.
- Grandes volumes de açúcar e de fertilizantes concorrem com o espaço armazenador de grãos. Por exemplo, no Estado de São Paulo o açúcar é a principal mercadoria guardada na CEAGESP, e há um volume considerável de fertilizantes utilizada nas lavouras brasileiras e que temporariamente é armazenada. Estes produtos não têm sido normalmente considerados nas estatísticas de demanda de estocagem, o que mascara as análises econômicas.
- Matriz de transporte centrada em caminhões provoca congestionamentos e demora na descarga nos armazéns/silos e nos portos, além de elevar os custos de movimentação. Dado o seu extenso território, o ideal para o Brasil seria a utilização dos modais ferroviário e hidroviário para a movimentação das safras, o que aumentaria em parte a competitividade dos produtos pós-colheita.
Em contrapartida, o setor apresenta oportunidades que devem merecer a
atenção dos agentes envolvidos no agronegócio:
- O Sistema de Certificação visa adequar as instalações e melhorar a gestão das unidades, com benefícios na melhoria da qualidade e na redução das perdas dos produtos armazenados. Deverá ocorrer benefícios para as cadeias de produção de grãos nos curto e médio prazos.
- Existem pelo menos dez linhas de crédito oficial para financiamento da armazenagem, das quais seis são destinadas a produtores rurais. O Governo Federal disponibilizou R$1 bilhão para a construção, adequação e manutenção de armazéns e silos. O propósito é ampliar a capacidade de armazenagem nas propriedades de 15% para 30% em cinco anos.
- O fato de o milho ser colhido em duas épocas diferentes e o aumento da exportação em parte atenua a amplitude de sazonalidade da demanda de armazenagem.
- O rápido embarque de soja com encurtamento do canal de comercialização reduz a pressão sobre a capacidade estática de armazenagem. Esta condição também vale para o açúcar, já que grande parte da produção é destinada ao mercado exterior.
- Uma solução alternativa para suprir a escassez de unidades armazenadoras pode ser o silo bolsa, equipamento de amplo uso na Argentina e de custo relativamente menor frente às construções fixas. No Brasil seu uso é limitado pelas exigências de termometria e aeração para a guarda de produtos agrícolas in natura.
- A tecnologia para diminuição de perdas, conservação e redução de custos de secagem e aeração dos grãos tem mostrado avanços significativos que podem ser prontamente adotados, oferecendo à sociedade produtos preservados saudáveis e seguros.
- Considerando o expressivo potencial de crescimento da produção de grãos com base nas condições ecológicas e tecnologia à disposição dos agricultores, e para a manutenção da competitividade no cenário internacional há necessidade da melhoria da logística, com contínuos investimentos em transportes, portos e armazenagem.
Palavras-chave: armazéns, capacidade estática, certificação, estocagem, silos.
Data de Publicação: 20/04/2011
Autor(es):
Sebastião Nogueira Junior (senior@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Alfredo Tsunechiro (tsunechiro@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor