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A Expansão do Circuito Produtivo Canavieiro no Oeste Paulista e Alguns Reflexos no Crescimento Econômico em Araçatuba (SP)
Toda
a dinamização pretendente para os fluxos do setor canavieiro, com o planejamento
da instalação de novos objetos geradores de fluidez na região de Araçatuba, tem
sido condicionada mediante o lobby dos usineiros atuantes na região. Organizados
em torno da União dos Produtores de Bionergia (UDOP), sob o vislumbre das
potencialidades do espaço geográfico regional na expansão do circuito espacial
da cana-de-açúcar, desde 2003 acontece em Araçatuba a Feira de Negócios da
Agroindústria Canavieira (Feicana)1. Com a presença de políticos
representantes do setor agropecuário (bancada ruralista), empresas expositoras,
bancos, usineiros, universidades, institutos de pesquisa, departamentos
governamentais e visitantes em geral, este evento - enquanto lócus de debates,
palestras, seminários, cursos e discussões sobre a cultura da cana-de-açúcar -,
tem batido recordes de negócios ano após ano2. Com isso,
descentraliza-se a gestão técnica do espaço geográfico de atuação do setor no
Centro-Sul – desconcentrando-o da região tradicional de Ribeirão Preto -,
redirecionando as localizações principalmente das empresas prestadoras de
serviços. Já em 2003, durante a 1ª Feicana (Feira de Negócios de Energia), O
"setor sucroalcooleiro trouxe oito empresas para Araçatuba (...). O
valor do investimento passa de R$2 milhões, com a geração de 82 empregos
diretos. As empresas atuam nas áreas de energia, automação industrial,
manutenção de equipamentos e venda de máquinas e implementos agrícolas"
(Folha da Região, 09/03/2004)3.
Com a
amplitude do crescimento do setor no oeste paulista, as empresas a montante,
diferente da década de 1980 (quando prestavam serviços a partir de suas
instalações externas à região de Araçatuba), passam a encontrar vantagens -
devido ao aumento da escala dos negócios, que possibilitam diminuir os custos do
processo - na instalação direta de suas atividades internamente à
região4. Atores regionais – também vislumbrando as oportunidades com
a expansão desse mercado – começam a se especializar nos serviços requisitados
do setor e avolumam suas áreas de atuação5.
Esses
eventos ligados ao circuito espacial de produção da cana-de-açúcar, através da
injeção de capitais diretos no setor, têm condicionado o crescimento indireto de
outras atividades econômicas. Liderando a geração de novos empregos na região –
onde muitos são preenchidos por migrantes -, as indústrias de açúcar e álcool
aumentam a demanda por mercadorias e serviços. Para equilibrar o mercado,
ofertando segundo as novas necessidades quantificadas, nos últimos anos a
abertura de empresas comerciais e industriais tem acompanhado a dinâmica
vigorosa da atividade canavieira6. Assim, segundo a Fundação Seade,
para o ano de 2005, a Região Administrativa de Araçatuba é a que mais cresce
percentualmente em investimentos no Estado de São
Paulo7.
O
município de Araçatuba, enquanto pólo regional que mais tem se beneficiado com
esse processo, atingindo maior capacidade de consumo ano após ano8,
vê surgir em sua delimitação geográfica novos objetos e ações caracterizadores
do crescimento econômico vivido9. Indústrias dos setores alimentício,
cosmético, têxtil, informática e outros, aproveitando esse crescimento regional,
instalaram suas atividades em Araçatuba. Financiamento e locação de imóveis em
alta têm valorizado o solo urbano e a construção civil, registrando aumento nas
contratações de mão-de-obra, apresenta inflacionamento em seu processo
produtivo. A rede de hotéis, deficitária no atendimento aos maiores eventos
regionais – como a Feicana/FeiBio – também passa por reestruturação, melhorando
seus serviços e aumentando sua capacidade instalada10. Novas
concessionárias de automóveis e motocicletas incrementam os fluxos nas ruas e
avenidas da cidade11, e novos bares, restaurantes, supermercados,
casas noturnas e lojas intensificam o surgimento de novas centralidades
comerciais no município.
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2 Em 2003, a feira fechou
negócios em torno de R$250 milhões, com 60 expositores e 11 mil visitantes. Em
2004 movimentou R$350 milhões, com 120 expositores e 15 mil visitantes. Em 2005
se avolumou fechando R$500 milhões em negócios, com 140 expositores e mais de 20
mil visitantes. Em 2006, atingiu R$750 milhões, com 250 expositores e 25
visitantes. No ano de 2007 movimentou R$1 bilhão, com 280 expositores e 28 mil
visitantes. Em 2008, novamente bateu recorde de negócios, ultrapassando pouco
mais de R$1,5 bilhão, com 300 expositores e 25 mil visitantes (TOLEDO, J. C.;
SALIBE, A. C. Perspectivas de crescimento do setor de bioenergia no oeste
paulista. Araçatuba: UDOP, 2007. Apresentação
PowerPoint).
3 Coopercitrus, de Bebedouro
(SP); Smar e Sertron, de Sertãozinho (SP); Elo Indústria, Serviços e Comércio de
Equipamentos, de Osasco (SP); Tecnocal Tecnologia em Vapor, de Ribeirão Preto
(SP); Siner, de São Paulo (SP); e, respectivamente, as multinacionais japonesa e
norte-americana Yokogawa e Dupont são as oito empresas retratadas na matéria
jornalística que instalaram atividades diretas de prestação de serviços ao setor
sucroalcooleiro na região de Araçatuba nesse início dos anos 2000 (USINAS já
atraem oito empresas. Folha da Região, Araçatuba (SP), 9 mar. 2004, p.
A5).
4 Todos os anos, durante a
Feicana/FeiBio, empresas ligadas ao setor sucroalcooleiro anunciam suas novas
instalações na região.
5 Por exemplo, a empresa Saltec
Soluções Industriais, inaugurada em 2005, com sede em Araçatuba, a cada Feicana
tem aumentado seu raio de atividade na prestação de serviços ao setor. Algumas
outras, também araçatubenses, no reflexo do bom momento econômico vigorante até
meados de 2008, com o retorno lucrativo adquirido realizaram investimentos
diretos em outros centros regionais do oeste paulista (como Presidente Prudente
e São José do Rio Preto), instalando lojas e fábricas.
6 Para a Junta Comercial do
Estado de São Paulo (JUCESP), com base em dados dos primeiros seis meses de
2007, de cada duas empresas fechadas em Araçatuba, nove abriam as
portas.
7 Com investimentos da ordem de
U$$725,95 milhões, em 2005 essa quantia representou uma porcentagem 185 % maior
do que a do ano anterior.
8 Segundo estudo da empresa
especializada em pesquisa de mercado Target Marketing, que anualmente apresenta
o ranking nacional do IPC Target (Índice de Potencial de Consumo) das
municipalidades brasileiras.
9 Indicativo desse maior
potencial de consumo regional, a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL)
registrou nos primeiros nove meses de 2007, em Araçatuba, no comparado com 2006,
um reajuste de quase 12% no consumo de energia pelo setor industrial (CONSUMO na
indústria cresce quase 12%. Folha da Região, Araçatuba (SP), 27 dez.
2007. p. A4. http://www.folhadaregiao.com.br/noticia?82210.
Acesso Disponível em: 2 out. 2008).
10 Em fevereiro de 2008, na mesma
semana da 8ª Feicana/FeiBio, foi inaugurado em Araçatuba um hotel da rede
européia Íbis. Com 108 apartamentos, este novo estabelecimento ajudou a
qualificar a oferta de estadia aos visitantes da feira.
11 Esse aumento na frota regional
tem atraído mais serviços de financiamento e seguro de veículos. Como exemplo, o
Itaucred, do Banco Itaú, inaugurou suas instalações em Araçatuba em abril de
2008.
Palavras-chave: circuito produtivo
canavieiro, crescimento econômico, região de Araçatuba.
1 Em 2006, com a intenção de
sedimentar o etanol como alternativa energética ambientalmente correta, a
Feicana passa a se denominar Feicana/FeiBio (Feira de Negócios do Setor de
Energia). O objetivo é principalmente direcionar as discussões e estratégias
para convencer o mercado da limpeza do processo produtivo do açúcar e álcool, do
potencial energético da palha da cana e dos condicionantes que possibilitam a
diminuição do uso dos combustíveis fósseis.
Data de Publicação: 13/02/2009
Autor(es): Danton Leonel de Camargo Bini (danton.camargo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor