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Brasil: novo player no mercado internacional de milho
No
início de 1999, o Governo brasileiro modificou a política cambial, para um
regime flutuante, o que causou impactos positivos nas exportações, com melhoria
das condições de competitividade dos produtos e serviços nacionais e, em
particular, daqueles de origem agrícola. Em 2001, por uma conjunção favorável de
taxa de câmbio, safra recorde e preços internos baixos, ocorreu uma excepcional
exportação de milho em grãos, da ordem de 5,6 milhões de toneladas.
Outro fator que beneficiou o comércio externo do cereal brasileiro foi o fato de
o produto não ser transgênico, atraindo interesse de muitos países que faziam (e
fazem) restrição a esse tipo de produto. Como se sabe, o Brasil é um dos poucos
países grandes produtores que ainda não planta milho geneticamente modificado.
Tanto os Estados Unidos quanto a Argentina, os maiores exportadores mundiais,
produzem o milho Bt, resistente ao ataque de lagartas.
Com o ingresso do Brasil no clube dos países maiores exportadores de milho, a partir de 2001, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)1 passou a destacar, no seu relatório sobre Estimativas de Oferta e Demanda Agrícola Mundial (WASDE), desde a edição de maio de 2002, as previsões sobre produção, consumo e exportação do país. Contudo, o Brasil ainda figura na lista dos países maiores importadores, apesar de se constituir, na média dos últimos quatro anos, no quarto maior exportador, com 6% de market share, atrás apenas de Estados Unidos
(59%), Argentina (15%) e China (13%).
Por outro lado, a África do Sul, embora com participação de apenas 1% na
exportação total mundial, figura no relatório citado como um dos três países
maiores exportadores (após Estados Unidos e Argentina).
Principais países exportadores de milho
(Em 1.000 t)
País | | |||
2000/01 | 2001/02 | 2002/03 | 2003/04 | |
Estados Unidos | 49.160 | 48.380 | 40.640 | 45.720 |
Argentina | 9.680 | 10.800 | 12.000 | 12.000 |
China | 7.280 | 8.610 | 14.500 | 8.500 |
Brasil | 6.320 | 2.050 | 6.000 | 3.000 |
Hungria | 700 | 2.800 | 1.500 | 700 |
África do Sul | 1.500 | 1.070 | 1.000 | 1.000 |
Mundo | 77.400 | 75.990 | 78.980 | 74.140 |
Fonte: Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
As estimativas do USDA para as exportações brasileiras de milho do ano-safra 2002/03 (01 de outubro de 2002 a 30 de setembro de 2003) são de 6 milhões de toneladas, enquanto a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)2 prevê 4,2 milhões de tonelada (para o período de 01
de fevereiro de 2003 a 31 de janeiro de 2004). Para o exercício seguinte (safra
2003/04) as previsões se invertem: enquanto o USDA estima uma exportação
brasileira de 3 milhões de toneladas, a CONAB prevê, no seu primeiro
levantamento de previsão da safra 2003/04, uma exportação de 5 milhões de
toneladas.
Cabe ressaltar que, além da contribuição para a receita de divisas e para a melhoria da posição do Brasil no ranking mundial dos
países exportadores de produtos agropecuários, a inserção do milho nesse mercado
implica em maior sustentação econômica do produtor, tal como ocorre com a soja,
que desfruta de ampla liquidez e previsibilidade, devido à competitividade
internacional.
As sinalizações do mercado internacional do milho, através de cotações da Bolsa
de Chicago, e as oscilações da taxa de câmbio, bem como o balanço de oferta e
demanda internas, serão as variáveis que determinarão as flutuações dos preços
do milho no mercado interno, com o limite inferior sendo ditado pelo preço de
paridade na exportação e o superior, pelo preço de paridade na importação. Esta
conjuntura se constata em regiões mais próximas de portos de embarque do produto
para o exterior, enquanto em regiões mais distantes prevalecem as forças do
mercado local ou regional.
Há, entretanto, gargalos a serem superados para o aumento da competitividade do
milho brasileiro. Dado o seu baixo valor especifico, o grão sofre impacto
negativo maior que outros produtos em relação às crônicas mazelas nacionais de
infra-estrutura (transporte e armazenagem). Melhorias desses serviços poderão
contribuir positivamente para a transmissão mais eficaz dos sinais de mercado
entre os elos da cadeia produtiva do grão.
Esse novo paradigma para o milho, como produto de exportação, cria cenários mais
amplos e complexos para o agronegócio do cereal. Por um lado, com a exportação
abre-se mais um canal de escoamento para o produto, antes restrito basicamente à
indústria de alimentação animal, com o conseqüente aumento da sua liquidez. Por
outro, esta nova situação representa um fator de maior segurança para os agentes
de mercado, porquanto o atrelamento dos preços internos às cotações
internacionais poderá favorecer a expansão dos negócios no mercado futuro do
milho no Brasil.
1USDA: www.usda.gov
2CONAB: www.conab.gov.br
Data de Publicação: 03/11/2003
Autor(es): Alfredo Tsunechiro (tsunechiro@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor