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Café: alta volatilidade e pequena retomada nas cotações médias
Setembro de 2003 iniciou-se com expectativa de fortes altas nos diferentes
mercados do café, decorrente da intensa especulação sobre as possibilidades de
ocorrência de geadas tardias e manutenção da estiagem que já afetava alguns
cinturões cafeeiros. Essa atitude vigorou durante a primeira quinzena do mês,
retomando-se a normalidade do mercado a partir do início da segunda semana. Num
balanço final, verificou-se leve recuperação nas cotações do produto. Portanto,
em setembro, manteve-se a tendência de recuperação nos preços médios no mercado
de café, como já vinha sendo observando entre julho e agosto de 2003. Gráfico 1 - Cotações diárias em Setembro na Bolsa de Nova
Iorque, para café arábica, Contrato C, Dezembro de 2003
A tendência de alta nos preços do café no mercado internacional continuou
influenciada por expectativas (como o ritmo de oferta das distintas origens,
principalmente dos produtores Centro-Americanos), comportando-se com elevadas
flutuações. A oscilação foi tão intensa que em 11/09/03 atingiu US$ 95,31 por
saca de 60 kg, voltando a cair fortemente até alcançar na segunda metade do mês
os mesmos níveis de seu início (gráfico 1).
Fonte: Gazeta Mercantil
Essa retomada não foi acentuada em razão da ausência dos distúrbios climáticos previstos para o Brasil. Ademais, os organismos internacionais indicam que os estoques nos países importadores estão mais elevados do que em igual mês do ano anterior (+16%). No mercado de Nova Iorque, o café arábica (Contrato C, segunda posição de dezembro) teve alta de 2,43%. No mercado de robusta da Bolsa de Londres, a elevação do preço foi de 2,73%, enquanto na BM&F o arábica atingiu 2,62%. Já o preço composto diário da OIC aumentou em 3,58%, em função das elevações mais expressivas nas cotações dos suaves colombianos e outros suaves (gráfico 2).
Gráfico 2 - Cotações médias mensais do café em diferentes mercados de futuros, 2001 a 2003.
Fonte: Gazeta Mercantil
Os grandes estoques dos países importadores e o fluxo da oferta dos países Centro-Americanos permanecem como as principais variáveis na formação do preço do café no mercado internacional, fazendo com que mesmo os menores volumes colhidos e exportados pelo Brasil não consigam uma reversão expressiva na tendência do mercado.
Repercussões no mercado interno
O cafeicultor contou neste mês com o início da operacionalização do EGF-sov/café, tendo ainda que tomar a decisão de realizar, ou não, os contratos de opção que venceram em 30/09/03. Esses fatos, associados ao encerramento da colheita e à redução do fluxo de comercialização do produto, conduziram à pequena alta (de 1,65%) do preço médio recebido pelos cafeicultores no mês. (gráfico 3).
Gráfico 3 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de Café no Estado de São Paulo, período de 2000 a 2003
Fonte: Instituto de Economia Agrícola.
Mesmo
considerando as instabilidades das cotações de café nos mercados de futuros nos
últimos 12 meses, verifica-se alta acumulada de 24,52% e de 11,39% nas cotações
médias mensais para o café arábica, respectivamente, na BM&F e na Bolsa de
Nova Iorque. O aumento para o robusta atingiu 21,10% na Bolsa de Londres.
A trajetória dos preços recebidos pelos produtores, em reais, nos últimos 12
meses, aponta para um crescimento de 29,24%. Pela análise, percebe-se que em
setembro os preços de café alcançaram os patamares observados em novembro de
2002.
As incertas apostas do governo e dos cafeicultores
Ao
lançar os contratos de opção, fixando preços de R$ 190,00 para o exercício de
setembro, o governo atuou de modo equilibrado (algo nem ousado nem conservador).
Esse acerto da estratégia foi capaz de confundir inclusive os maiores
beneficiários da política, uma vez que, próximo do encerramento dos prazos para
o exercício dos contratos e depósito do produto nos armazéns habilitados, cerca
de 46% dos possuidores de contratos não exerceram suas opções de venda,
apostando na proximidade de substanciais aumentos nas cotações do café. Seria
essa uma postura inteligente?
Certamente, existe margem para o incremento das cotações internacionais e as
análises gráficas vem apontando nesse sentido. Entretanto, há que se considerar
que tanto os estoques nas mãos dos importadores quanto as dificuldades de se
mensurar o volume de café efetivamente colhido e em armazéns privados no Brasil,
aumentam acentuadamente o risco de apostas de altas expressivas nas cotações.
Para o último trimestre do ano, cremos que o patamar de R$ 200,00/saca não será
ultrapassado. Essa previsão permite inferir que o volume de entregas de
contratos de opção, com exercício em novembro, deverá ser bem maior do que
aquele observado em setembro.
Exportações em baixa
As exportações brasileiras de café mantiveram tendência de declínio nos volumes, com incremento da receita que já vinha sendo observada em meses anteriores. A mais expressiva queda ocorreu nas exportações de robusta, com 22,1% no período. A diminuição decorre dos baixos preços praticados no mercado internacional para o produto e da forte demanda da torrefação nacional para compor blends com o arábica e baixar o custo do produto final (tabela 1).
Tabela 1 – Volume e valor das exportações de café, Jan.-Set. 2002 e 2003
Período | | | | | | |
| | |||||
Jan.set/2003 | 2.232.893 | 14.277.931 | 16.601.824 | 2.045.485 | 18.647.309 | 1.072.077 |
Jan.set/2002 | 2.982.022 | 14.469.710 | 17.451.732 | 1.805.095 | 19.256.827 | 9.12059 |
Var. sacas | -658.129 | -191.779 | -849.908 | 240.390 | -609.518 | 160.018 |
Var % | -22,1 | -1,3 | -4,9 | 13,3 | -3,2 | 17,5 |
No
caso do arábica, os volumes exportados ainda não esboçam a esperada redução,
refletindo a menor colheita de 2003. Esse dado sustenta a tese de que os
estoques privados no País são bastante elevados e que para breve não devemos
esperar quedas acentuadas nos negócios com arábica.
As vendas de café solúvel encontram-se em retomada sustentada. Os 13,3% de
expansão das exportações representam marca importante no esforço dos atores
desse agronegócio em agregar valor ao produto, assim como as exportações de
cerca de 51 mil sacas de café torrado e moído (equivalente a US$ 4,8 milhões em
receita cambial) finalmente começam a ganhar maior importância nas transações.
Associado às habilidades comerciais com a entrada de novos operadores/empresas,
esse item terá um crescente destaque na pauta do agronegócio.
Data de Publicação: 16/10/2003
Autor(es):
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor