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Mandioca: instabilidade de preços prejudica a competitividade
A produção nacional de mandioca, na safra 2002/03, é de 22,4 milhões de toneladas, 3% inferior ao resultado obtido na safra anterior, conforme estimativa da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)1. Todavia, nos estados onde a atividade é
predominantemente voltada para o comércio e onde estão concentradas as
indústrias, a queda de produção foi expressiva. Figura 1 - Produção e preços corrigidos1 de mandioca industrial, Estado de São Paulo,
1994-2003
No Paraná, que é o principal produtor, a retração foi de 28%, passando de 3,4
milhões de toneladas em 2001/02 para 2,5 milhões de toneladas na atual safra.
Outros estados importantes na formação dos preços de mandioca e derivados, como
Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, também experimentaram quedas
significativas, de 38% e 7% , respectivamente.
Em São Paulo, o levantamento de previsão de safra de junho, do Instituto de
Economia Agrícola (IEA) e da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral
(CATI), estima a produção de mandioca industrial da atual safra em 668,2 mil
toneladas, 16 % menor do que a da safra anterior. A queda da produção é reflexo
do longo período de preços aviltados que vigorou entre 2000 e 2002.
Essa redução na oferta fez com que os preços de comercialização da safra 2002/03
chegassem aos níveis mais elevados dos últimos dez anos (figura 1). O preço
médio mensal da raiz em agosto foi de R$ 146,85 por tonelada e a tendência é de
que se eleve ainda mais. Na segunda semana de setembro, o levantamento de preços
diários do IEA já registrava preços entre R$160,00 e R$ 220,00 por tonelada,
conforme a região do Estado.
Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA).
Nos
outros níveis de comercialização, os preços também subiram bastante. No atacado
da cidade de São Paulo, o preço médio de agosto último foi de R$ 53,67 por 50
kg, 164% superior ao de agosto de 2002, para uma inflação de 22%, medida pelo
Índice Geral de Preços (IGP-DI) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). No varejo, no
mesmo período, o preço da farinha de mandioca subiu 113%. Já o preço da fécula
de mandioca subiu 212% no atacado, conforme dados da Secretaria da Agricultura e
do Abastecimento do Paraná,.
A indústria de farinha de mandioca, principal setor demandante de raiz, possui
um grande número de unidades processadoras. Por ser produto básico na
alimentação popular, exerce forte pressão sobre o preço da matéria-prima. A
indústria de fécula vem em seguida, em termos de quantidade de matéria-prima
demandada. Porém, a fécula, em sua maior parte, é um insumo, principalmente para
as indústrias de papel e alimentícia. O substituto é o amido de milho, que
exerce influência na formação do seu preço.
Além disso, o comportamento dos preços do milho apresenta maior regularidade do
que o dos preços da mandioca. Os preços do milho apresentaram, naturalmente,
níveis mais elevados na entressafra, mas o preço médio de agosto último, de
R$15,45 por saca de.60kg, não variou em comparação com o observado no mesmo mês
do ano anterior.
Os atuais níveis de preço da mandioca estão fazendo com que as fecularias
trabalhem com margem apertada. No Vale do Paranapanema, estão operando com baixa
capacidade devido à escassez de matéria-prima. Assim, a comercialização dos
estoques tem se constituído em recurso importante para garantir o atendimento do
mercado.
Nessa conjuntura, a expansão do mercado de fécula, ocorrida nos últimos anos em função da produção de fécula modificada e também do crescimento das exportações, fica ameaçada por essas variações muito acentuadas nos preços. Com o objetivo de romper esse comportamento cíclico dos preços e buscar maior regularidade na oferta de matéria-prima, a Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (ABAM) 2 está promovendo, para a safra
2003/04, uma campanha de preços mínimos de garantia para o agricultor de
R$100,00 por tonelada, através de contratos de fornecimento para as indústrias.
O plantio da safra 2003/04 está sendo efetuado em São Paulo. As perspectivas são
de expansão da área cultivada, mas não o suficiente para recuperar a da safra
anterior, pois os preços da raiz estavam muito baixos na época em que deveria
ter sido feito o preparo das ramas, o corte e o armazenamento, restringindo sua
disponibilidade.
Após a colheita do milho safrinha, é mais provável que os agricultores de maior
porte e bem equipados destinem a maior parte da área à cultura da soja.
Portanto, os preços da raiz em 2004, ainda que certamente menores que os
patamares atuais, deverão ser remuneradores para os agricultores. A normalização
do setor, com preços mais competitivos, entre R$80,00 e R$ 100,00, para a cadeia
produtiva como um todo provavelmente só ocorrerá em 2005.
1 IBGE: www.ibge.gov.br
2 ABAM: www.abam.com.br
Data de Publicação: 23/09/2003
Autor(es):
José Roberto Da Silva (josersilva@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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