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Café: retomada da tendência de alta dos preços
Em
agosto, manteve-se a tendência de recuperação de preços no mercado de café já
destacada em análises anteriores. Tal retomada só não foi acentuada porque os
distúrbios climáticos previstos para o Brasil simplesmente não ocorreram e o
mercado internacional se mostrou plenamente abastecido. No mercado de Nova
Iorque, o café arábica (Contrato C, segunda posição) teve alta de 3,44% na
posição de dezembro. Na Bolsa de Londres, a elevação nos preços do café robusta
foi de 4,59%. Para o café arábica, BM&F, a alta atingiu 3,00%, enquanto o
preço composto diário da OIC apresentou alta de 3,01% (gráfico 1). Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes
mercados de futuros, 2001 a 2003
Fonte: Gazeta Mercantil
Por outro lado, o mercado internacional de café continuou fortemente influenciado pelas expectativas (geada no Brasil, oferta de origem principalmente dos produtores centro-americanos), comportando-se com elevadas flutuações (gráfico 2), a ponto de afetar as expectativas sobre o comportamento dos fundamentos do mercado, induzindo queda nas posições dos preços, que se mantiveram até o final do mês.
Gráfico 2 - Cotações diárias em agosto na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, Dezembro de 2003
Fonte: Gazeta Mercantil
O
cafeicultor brasileiro contou neste mês com as definições das regras do EGF
(Empréstimo do Governo Federal) para o produto e com uma taxa de câmbio mais
estável, em torno de R$ 3,00. Ademais, com a colheita da safra praticamente
concluída e a comercialização do produto brasileiro reduzida, observou-se
expressivo aumento de 13,42% no preço médio recebido pelos cafeicultores, no
Estado de São Paulo (gráfico 3).
Mesmo considerando as instabilidades das cotações de café nos mercados de
futuros nos últimos 12 meses, verifica-se alta acumulada de 41,96% nas cotações
médias mensais para o café arábica na BM&F, de 25,16% para o arábica na
bolsa de Nova Iorque e de 40,60% para o robusta na Bolsa de Londres.
Gráfico 3 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café no Estado de São Paulo, período de 2000 a 2003
Fonte: Instituto de Economia Agrícola.
De igual maneira, quando se avalia a trajetória dos preços recebidos pelos produtores de café, em reais, nos últimos 12 meses, verifica-se que cresceram 65,56%, chegando ao nível observado em outubro de 2002 somente neste mês.
Desempenho das exportações
O levantamento sobre as exportações de café, para o período de janeiro a agosto de 2003, revela ligeiro aumento nas vendas externas frente a igual período do ano anterior, ou seja, 16,4 milhões e 15,9 milhões de sacas, respectivamente. Decompondo essa informação, percebe-se que o aumento mais importante ocorreu nas exportações de café conillon, com incremento de quase 500 mil sacas em exportações (tabela 1).
TABELA 1 – Volume e receita das exportações brasileiras de café, todos os tipos, janeiro a agosto de 2002 e 2003
Item | | | | | | |
Volume (milhões sc) | ||||||
jan.ago/2002 | 2.098.818 | 12.196.372 | 44.078 | 14.339.268 | 1.600.228 | 15.939.496 |
jan.ago/2003 | 2.536.890 | 12.217.204 | 51.113 | 14.805.207 | 1.587.715 | 16.392.922 |
Receita (US$ 1.000) | ||||||
jan.ago/2002 | 68.883 | 594.701 | 2.581 | 666.165 | 112.748 | 778.913 |
jan.ago/2003 | 86.810 | 690.574 | 4.182 | 781.566 | 120.798 | 902.364 |
Reflexo da elevação das cotações internacionais, o resultado obtido com as
receitas cambiais advindas das exportações dos diversos produtos foi
sensivelmente melhorado. Somente com as vendas de arábica, o incremento quase
atingiu os US$ 100 milhões. Para o café torrado e moído, o aumento das receitas
foi de 62%. No balanço geral, as receitas estão 16% maiores entre janeiro e
agosto de 2003 em relação a igual período de 2002.
Caso as cotações mantenham tendência de alta ao longo do quarto e último
trimestre, pode-se esperar importante aumento no montante de receitas cambiais
obtidas pelo agronegócio café. Estima-se algo próximo a US$ 1,50 bilhão, quando
em 2002 a receita foi de US$ 1,357 bilhão.
Exercer ou não exercer as opções: eis a questão
Nessa
data, a rigor, o Governo Federal deveria estar recebendo os primeiros lotes de
café leiloados nas vendas de contratos de opção para vencimento em 09/09/2003.
Os órgãos envolvidos com o assunto (Ministério da Agricultura e CONAB) ainda não
disponibilizaram qualquer informação sobre os recebimentos, sendo difícil
predizer qual será o comportamento dos cafeicultores detentores de contratos de
opções.
Entretanto, como previsto na regulamentação do edital, os cafeicultores podem já
optar pelo exercício da opção de venda e ainda assim aguardar até 30 dias para
efetuar o depósito do produto em um armazém certificado, sem qualquer ônus
adicional, permitindo-se inclusive que venha a desistir do exercício da opção.
Assim, diante dos sinais de aumento nas cotações e, adotando-se uma postura
estratégica para a comercialização do produto, parece-nos recomendável que os
cafeicultores exerçam suas opções e segurem o produto por mais algumas semanas,
aguardando a confirmação ou não dessa recente tendência altista nas cotações.
Caso mantenha-se o novo patamar de flutuação dos preços (próximo dos R$ 190,00 a
saca para bebida fina), será mais vantajoso para o cafeicultor desistir da
entrega do produto e dirigir seu café para o mercado físico.
Essa expectativa é igualmente interessante para o governo, pois uma questão que
permaneceu sem esclarecimento foi o destino que seria dado para esse café a ser
recebido. Sem uma política consistente para desmobilização dos estoques,
corre-se o risco de a sociedade brasileira ter de arcar com o ônus da política
dos contratos de opção. A programação dos leilões públicos é a outra face da
política das aquisições e seu planejamento uma decisão puramente técnica (risco
de contaminação dos índices de inflação, desabastecimento momentâneo,
substituição de estoques velhos com risco de perda de qualidade, etc...).
Data de Publicação: 16/09/2003
Autor(es):
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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