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Chá preto: estabilidade no mercado
Quase
a totalidade das exportações brasileiras de chá é originária do Estado de São
Paulo. Um lento decréscimo dos volumes exportados é observado de 1996 a 1999,
seguido de recuperação nos três últimos anos (tabela 1). Considerando-se a
desvalorização cambial e o salto das exportações brasileiras no período, a
expansão do comércio de chá mostrou-se tímida. Os preços recebidos pelo nosso
produto mostraram-se crescentes, de 1996 a 1998 (período em que a moeda nacional
esteve valorizada), e decrescentes de 1999 a 2002. Tabela 1 - Exportações brasileiras de chá preto, 1996 a
2002
Maiores compradores do chá brasileiro, os EUA não aumentaram suas importações
apesar da desvalorização do real. A evolução das transações Brasil-Reino Unido
foi muito mais significativa, saltando de 373 toneladas em 1996 para 1.021
toneladas em 2002 (273,7%) (tabela 2). Em compensação, os negócios com o Chile
caíram de 1.291 toneladas em 1996 para 654 toneladas em 2002 (menos 50,6%). Tabela 2 - Exportações brasileiras de chá preto, por
países, 1996-2002 Os
países asiáticos predominam no comércio mundial de chá, liderados por Sri Lanka
e China que, em conjunto, foram responsáveis por 37% das transações
internacionais em 2001. Outra região produtora/exportadora é constituída por
Quênia, Tanzânia, Malavi, Uganda e Ruanda, países africanos influenciados pelas
rotas comerciais do Oceano Índico. Fora deste contexto aparecem Argentina e
Alemanha, esta última tradicional reexportadora de produtos gerados em países em
desenvolvimento (tabela 3). Com apenas 0,25% das exportações mundiais de chá, a
participação brasileira é extremamente discreta. Tabela 3 - Exportações mundiais de chá (preto e verde),
2001 Nos
últimos 20 anos, a produção paulista de chá apresenta dois patamares distintos:
em média, no período 1983-94, a área colhida foi de 5.376 hectares e a produção
foi de 46.694 toneladas; e, no período 1995/02, a área colhida caiu para 3.701
hectares (menos 31%) e a produção, para 32.014 toneladas (menos 32%), segundo
dados dos levantamentos CATI/IEA. Quase a totalidade (estima-se em 95%) desta
produção é destinada ao exigente mercado externo. 1 Vegro, C.L.; Bemelmans, P. Proposta de plano de recuperação da teicultura do Vale do Ribeira. Informações Econômicas, SP, v.26, n.6, jun. 1996.
No âmbito brasileiro, a cultura do chá da índia concentra-se na região do Vale do Ribeira paulista, sobretudo nos municípios de Registro e Pariquera-Açú. Cerca de 95% da produção paulista de chá preto é destinada aos mercados externos, sendo o produto utilizado na composição de ligas de grandes firmas como a Lipton/Pepsi-Cola e a Nestlé/Coca-Cola 1.
Fonte: SECEX 2 Ano . 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
A Índia, um dos maiores produtores e exportadores mundiais, passou a comprar
mais de 200 toneladas por ano de nosso chá para, provavelmente e a exemplo de
outros países, misturá-lo ao seu produto e reexportá-lo. As exportações para
Argentina, Uruguai e Alemanha mostraram-se relativamente irregulares, sem
definir claramente nenhuma tendência.
Fonte: SECEX Ano 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Fonte: FAO 3 Países Sri Lanka China Quênia Índia Indonésia Malavi Vietnã Argentina Reino Unido Tanzânia Uganda Ruanda Alemanha Outros Total mundial
Gradativamente , os produtos de menor qualidade vêm perdendo mercado e levando ao abandono os chazais onde eram colhidos. O presidente da Associação Paulista do Chá Preto e proprietário da Chá Ribeira, Roberto Okamoto, salientou a necessidade de o teicultor se adequar ao mercado, investindo na qualidade do chá. 'Aquele que não se profissionalizar, não se atualizar e reduzir custos, não conseguirá sobreviver no mercado; se o chasal não é produtivo, não sobrevive', frisou. 'Não adianta querer produzir chá como se produzia há cinco, dez anos atrás' 4.
Um sistema de classificação da matéria-prima recebida pelas indústrias, que
tenha mais precisão que o atual, poderia recompensar melhor os produtores que
investiram na qualidade. A classificação manual tem gerado polêmica e não é
considerada estimulante pelos produtores do Vale do Ribeira.
2 SECEX: www.mdic.gov.br
3 FAO: www.fao.org
4 www.regionalonline.com.br/agricola/agricola12.html
Data de Publicação: 22/07/2003
Autor(es):
Luis Henrique Perez Consulte outros textos deste autor
Benedito Barbosa de Freitas (bfreitas@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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