Artigos
Valor das exportações de mel aumenta sete vezes no primeiro trimestre de 2003
O volume das exportações brasileiras de mel natural continuou aumentando em 2003. A quantidade vendida no mercado externo cresceu 288,79% no primeiro trimestre do ano, de 1,160 milhão de quilos para 4,513 milhões de quilos, em relação ao mesmo período de 2002. Em termos monetários, as exportações expandiram sete vezes, de US$ 1,488 milhão para US$ 10,542 milhões. O principal importador foi a Alemanha, que comprou 491,03% a mais, ou 2,872 milhões de quilos (equivalente a US$ 6,732 milhões) (tabela 1). Em 2002, os Estados Unidos eram o principal destino do mel brasileiro 1. Tabela 1 - Exportações brasileiras de mel natural, por país, janeiro a março de 2002 e de 2003 Entre os Estados, a grande novidade foi o Piauí, que não tinha tradição em mercado externo e exportou 923,5 mil quilos (US$ 2,218 milhões). O Rio Grande do Sul, maior produtor nacional e que nada exportou em 2002, também encontra o caminho do mercado externo em 2003 (tabela 2). Tabela 2 - Exportações brasileiras de mel natural, por estado, janeiro a março de 2002 e de 2003 O grande teste para o desempenho das exportações brasileiras será o retorno ao mercado internacional da China, cuja produção é estimada em 200 mil toneladas por ano. Em novembro de 2001, a União Européia suspendeu as importações chinesas por detectar a presença de clorofenicol no mel. Além disso, a produção argentina (90 mil toneladas em 2001), basicamente destinada ao mercado externo, caiu em decorrência da cria pútrida, doença que ataca as abelhas e não tem cura. Estes foram os dois principais fatores que abriram caminho para as exportações brasileiras, segundo Constantino Zara Filho, presidente da Associação Paulista de Apicultores Criadores de Abelhas Melíficas Européias (Apacame)3. Produção O Brasil produziu 22,219 milhões de quilos de mel em 2001, em comparação com 21,173 milhões de quilos em 1996. O destaque foi a região Nordeste, cuja produção aumentou 38,2% no mesmo período, de 2,748 milhões de quilos para 3,799 milhões de quilos em 2001 (tabela 3). Tabela 3 – Produção brasileira de mel de abelha, por região, em 2001, por quilo Por Estado, o grande avanço ocorreu no Piauí, com a produção crescendo 53,2%, de 1,137 milhão de quilos em 1996 para 1,741 milhão de quilos seis anos depois. Por sua vez, a produção cearense caiu 51,2%, de 1,016 milhão de quilos para 671,873 mil quilos no mesmo período (tabela 4). Tabela 4 – Produção brasileira de mel de abelha, por estado da federação, em 2001, por quilo Com o aumento das exportações, resta saber como o Brasil pode ampliar a produção tanto para atender o mercado externo quanto para recuperar o atendimento da demanda doméstica desabastecida pelo inesperado salto nas remessas ao exterior. Manejo O Brasil dispõe de tecnologia suficiente para o aumento da produção de mel no curto prazo, segundo os pesquisadores aposentados do Instituto de Zootecnia (IZ) Ronaldo M. Barbosa da Silva e Etelvina Conceição Almeida da Silva. 'E a prova está na rapidez com que o setor reagiu ao aumento do preço internacional.' Desafio A China começou a voltar de forma gradativa ao mercado internacional de mel. Recentemente, o país exportou cerca de quatro mil toneladas para os Estados Unidos e em torno de 400 toneladas para a Alemanha, segundo informações obtidas por Constantino Zara Filho. O mel chinês, cujo preço é estimado em US$ 1000 a tonelada, entrou no mercado norte-americano pela cotação de US$ 1400 a US$ 1500 a tonelada (abaixo do valor histórico de US$ 1800/t), devido à incidência de taxa de 40%. 1Brasil torna-se exportador de mel em apenas dois anos, http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=634 3 Brasil torna-se exportador de mel em apenas dois anos, http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=634
Fonte: SECEX - Secretaria de Comércio Exterior/Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior 2 Variação Quantidade (A)
KgValor
US$Preço
US$/kgQuantidade (B)
KgValor
US$Preço
US$/kg ALEMANHA ESTADOS UNIDOS REINO UNIDO BELGICA ESPANHA Outros Total
Fonte: SECEX – Secretaria de Comércio Exterior/Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
Kg
US$
Kg
US$
US$/kg SANTA CATARINA SAO PAULO PIAUI PARANA CEARA MINAS GERAIS RIO GRANDE DO SUL CONSUMO DE BORDO Total
Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal 4 Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal Brasil Rondônia Acre Amazonas Roraima Pará Amapá Tocantins Maranhão Piauí Ceará Rio Grande do Norte Paraíba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia Minas Gerais Espírito Santo Rio de Janeiro São Paulo Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiás Distrito Federal
Porém, a geração de novos conhecimentos é necessária, na opinião desses especialistas, 'pois o progresso é um processo alimentado pela pesquisa. Antes mesmo de esgotado o estoque atual já é necessário criar-se novas tecnologias.' Eles incluem entre as principais linhas de pesquisa: manejo adequado às distintas regiões; seleção de abelhas por região; estudos dos recursos néctar-poliníferos das distintas regiões, com ênfase na tecnologia das espécies e na caracterização dos pastos (ecossistemas); e equipamentos de campo e de processamento do mel (as mesas desoperculadoras e centrífugas pouco evoluíram nos últimos 60 anos).
De acordo com os pesquisadores, a avançada apicultura do Sul-Sudeste demanda, porém, investimentos em tecnologia, equipamentos e organização dos apicultores para o crescimento da produção. Existe tecnologia em equipamentos de campo e de processamento, que não é empregada provavelmente por limitações financeiras e de visão dos empreendedores apícolas. Empresários apicultores, entrepostos e indústrias de equipamentos apícolas, com raras exceções, têm mostrado bastante conservadores e receosos de inovar, observam.
No Nordeste, a apicultura extensiva, suportada pela riquíssima flora apícola da Caatinga e do Cerrado, é a de maior expressão econômica, apesar da antiguidade da atividade apícola, de tradicionais apicultores e instituições (universidades e escolas técnicas) que ensinam a apicultura. 'Não há limites perceptíveis para seu crescimento; da natureza (vegetação nativa) provém não somente a colheita, mas também as próprias abelhas. Com as exceções de praxe, tanto o ambiente de trabalho como os métodos são rústicos: equipamentos, instalações, colméias são em geral artesanais e precários', relatam os técnicos.
Entretanto, não há grande demanda por uma elevação do nível tecnológico, pois a produtividade é alta, 'sendo comum produções próximas ou superiores a 100 kg de mel/colméia/ano'. Assim, não há necessidade de investir, se o objetivo de aumentar a produção 'pode ser atingido facilmente, simplesmente aumentando o número de colméias'. Ronaldo e Etelvina concluem: 'não se percebem gargalos imediatos e a probabilidade é de que a atividade se expanda movida simplesmente por estes dois estímulos: mercado consumidor com preço atraente e financiamento da expansão dos apiários'.
Com a percepção desse surto de crescimento, órgãos oficiais de fomento, como o Banco do Nordeste, vêm financiando apiários, cooperativas e associações de apicultores em vários Estados nordestinos.
Os dois pesquisadores apontam, ainda, outro fenômeno da apicultura nordestina: 'graças à natureza das pastagens apícolas (flora nativa), a região está se tornando o paraíso do mel orgânico. Até evidência em contrário, a região é vista como o maior potencial mundial para a produção deste tipo (orgânica), atualmente destinada totalmente à exportação'.
O Brasil tem fechado negócios na faixa de US$ 2300 a US$ 2400 a tonelada, mas o presidente da Apacame acredita que, ao câmbio atual (em torno de R$ 3,00 por dólar), o país é competitivo ao preço de US$ 1700 a US$ 1800. Para Constantino, o País não deve perder, na sua totalidade, o mercado conquistado por causa da qualidade do mel brasileiro.
Data de Publicação: 28/04/2003
Autor(es):
Luis Henrique Perez Consulte outros textos deste autor
José Venâncio De Resende Consulte outros textos deste autor
Benedito Barbosa de Freitas (bfreitas@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor