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Análise de resíduos, rastreabilidade e certificação de frutas e legumes
Rastreabilidade, certificação e selo de qualidade dos produtos agrícolas são
palavras cada vez mais presentes no nosso cotidiano. Os mercados importadores,
principalmente de hortigranjeiros e de carnes, preocupam-se com a identificação
de origem e o processo de produção como forma de garantir a qualidade ao
consumidor. No nível do mercado doméstico, as exigências por qualidade,
principalmente por parte dos consumidores de maior poder aquisitivo, são também
crescentes. Resultados Cerca
de metade das centenas de amostras de morango, coletadas na Ceagesp e analisadas
no Laboratório, apresenta resíduos de agrotóxicos, principalmente de produtos
não-permitidos mas também de quantidades exageradas de pesticidas permitidos. 'O
morango é o carro-chefe, o líder. O morango sempre foi o destaque como o vilão
das frutas no que diz respeito a resíduos de pesticidas', diz Gebara. Setor privado O
trabalho do IB já é reconhecido por empresas do setor privado, como a cadeia de
supermercados Carrefour. Amostras de fornecedores de produtos perecíveis
(abacaxi, tomate, laranja, limão, mamão, alface, cenoura, etc.) são enviadas
regularmente ao Laboratório de Análise de Resíduos para controle, de maneira a
atender às exigências de qualidade do selo de garantia de origem que vale para
as lojas da rede em todo o mundo. Assim, 'eles têm um produto de qualidade, um
produto diferenciado e, mais do que isso, com esse selo de garantia, eles têm
facilidade de exportação', destaca Gebara. Difusão Os
resultados gerados pelo Laboratório são normalmente divulgamos no meio
científico e na própria mídia (emissoras de televisão, jornal e rádio) sempre
que algum jornalista procura o IB. 'Eu diria que isso (divulgação na mídia) é
pouco representativo em função da importância do trabalho. E a Ceagesp divulga
praticamente entre eles mesmos, se tanto', diz Gebara. Orientação O
pesquisador do IB defende uma ação integrada mais efetiva do poder público, por
intermédio dos técnicos e das instituições estaduais e federais, e da sociedade
organizada, não só no sentido de orientação intensiva ao agricultor como também
de facilitar o registro de produtos pesticidas. 1 Instituto Biológico: www.biologico.sp.gov.br
Nesse contexto, é importante destacar o papel do Laboratório de Análise de Resíduos de Pesticidas do Instituto Biológico (IB)1, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do
Estado de São Paulo (SAA), que há 25 anos analisa, semanalmente, oito a doze
amostras de frutas e legumes, coletadas de maneira aleatória pela Ceagesp, para
fornecer resultados sobre a presença de agrotóxicos, com base na legislação
vigente.
O convênio entre o Instituto Biológico, por intermédio da SAA, e a Ceagesp (na
época, empresa estadual), firmado em 1978, abrangia também a Coordenadoria de
Assistência Técnica Integral (CATI). Os extensionistas da Cati, com base nos
resultados das análises, orientavam os agricultores tanto no sentido de evitar
produtos não-permitidos quanto de usar de maneira correta (quantidade certa no
tempo certo) pesticidas cuja presença de resíduos estava acima do limite máximo
estabelecido por lei.
Atualmente, as partes envolvidas no acordo estão livres para fazer uso dos
resultados das análises da forma que acharem mais conveniente, quer através de
divulgação científica quer por meio de divulgação na mídia.
Segundo o pesquisador Amir Bertoni Gebara, diretor do Centro de Pesquisa e
Desenvolvimento de Proteção Ambiental do IB, no começo do convênio, eram
analisados todos os tipos de produtos (frutas e legumes), inclusive frutas
exóticas ou não muito comerciais. Com base nos resultados obtidos, começou-se a
priorizar aqueles que apresentavam maior incidência de resíduos. Entre as
frutas, destacam-se morango, goiaba, pêssego, figo, uva e maçã. Já entre os
legumes, foram priorizados tomate, pimentão, alface, cenoura, vagem e brócolis.
Quanto a outras frutas (goiaba, pêssego, figo, uva, maçã, etc.), o problema mais
freqüente é o uso acima da quantidade necessária de pesticidas cuja aplicação é
permitida, embora seja constatada também a presença de pesticidas
não-registrados para aquela cultura.
No caso do morango, o principal motivo talvez seja o fato de os agricultores não
encontrarem pesticidas específicos, que possam combater pestes e pragas
inerentes à cultura, segundo o pesquisador do IB. Ao mesmo tempo, os produtores
têm acesso fácil, a baixo custo, a outros agrotóxicos. Assim, eles compram
pesticida disponível no mercado, quer por razões culturais (de pai para filho)
ou porque o vendedor os induz a usar aquele produto não-registrado para o
morango.
'Não quer dizer, necessariamente, que o consumidor vai comer o produto
intoxicado, vai se envenenar', observa Gebara. 'De acordo com os conhecimentos
atuais, não há informação quanto à toxicidade daquele produto em relação à
ingestão de morango. Não foi feito nenhum estudo em largo espectro de um
determinado pesticida, aplicado no morango e ingerido com tal freqüência, por
uma pessoa de peso tal, de tamanho tal, ou uma criança, durante muito tempo e o
que pode ocorrer.'
Entre os legumes, o tomate ocupa a liderança, com pelo menos 50% das amostras
registrando a presença de resíduos de pesticidas, entre não-permitidos e
permitidos (acima do limite). 'De maneira geral, o tomate estaria para os
legumes como o morango para as frutas', compara o pesquisador do IB. Com
percentuais menores, aparecem produtos como pimentão, alface, vagem, cenoura e
brócolis.
As empresas fabricantes de pesticidas para tomate já estão registrando um grande
número de produtos específicos para a cultura, segundo Gebara. 'Mesmo assim,
ainda se encontra uma grande quantidade de resíduos.'
A vantagem dessa parceria é que ajuda a abrir fronteiras e romper obstáculos ao
produto brasileiro, principalmente na forma de barreiras sanitárias. 'Se o
Carrefour, por exemplo, quiser exportar uma manga produzida no Brasil, que tem o
selo, para a França, ou para um outro país que tenha a cadeia da rede Carrefour,
o importador não vai colocar obstáculo, porque ele sabe que aquilo vale para o
mundo inteiro.'
Além do Carrefour, empresas como Corn Products (antiga Refinações de Milho
Brasil), Camil e Josapar, que atuam na área de alimentos, assim como outros
produtores e exportadores em menor escala, utilizam regularmente o serviço do
laboratório.
Também os governos de outros Estados, por meio dos secretários de Agricultura,
procuram o Laboratório do IB em busca de orientação e apoio para fazer convênios
semelhantes. 'Só que por falta de recursos, por falta de infra-estrutura, de uma
maneira geral, eles não conseguem levar isso para frente', conta Gebara.
A divulgação é um elemento essencial, talvez o 'único mecanismo', nesse processo
na visão do pesquisador do IB. 'Nós analisamos isso e divulgamos quando alguém
da mídia nos procura. Nós não procuramos a mídia. Como cientistas, nós
divulgamos resultados no meio científico.'
Amir Gebara acredita que a Secretaria de Agricultura e Abastecimento deveria
explorar mais o potencial desse trabalho, divulgando intensivamente as
informações por meio da mídia da capital e do interior e fazendo apresentações
dos resultados. 'Eu acho que seria, senão uma grande bandeira de marketing do
trabalho feito pelos cientistas e políticos do Estado de São Paulo, (pelo menos)
um divulgador importante, um panorama, uma vitrine do que a sociedade paulista,
paulistana consome.'
Gebara lembra que o custo do registro no Ministério da Agricultura, além do
atendimento às exigências do Ministério da Saúde e mesmo do Ibama, é alto, sem
falar do tempo despendido, da perda de competição e da cobrança da matriz (a
maioria são empresas multinacionais). Assim, focalizam-se 'sobretudo as culturas
de grande impacto econômico, como soja, café, algodão, cacau, citros,
cana-de-açúcar e assim por diante, enquanto as culturas menos importantes
economicamente ficam descobertas'.
'Eu sugeriria que houvesse uma interação entre os órgãos que regularizam isso,
que autorizam, que estudam os registros específicos, junto com o encaminhamento
dos estudos feito pelas indústrias, representante do consumidor, representante
de produtor (como cooperativa), os institutos (de pesquisa) da Secretaria da
Agricultura do Estado de São Paulo... E se procurasse facilitar, talvez
agilizar, no caso dessas culturas pouco representativas economicamente, para
encontrar produtos que sejam eficientes para combater o alvo: o inimigo, o
ácaro, o fungo ou o inseto qualquer ou uma erva daninha, de maneira que o
agricultor tivesse rápido acesso e pouco custo...'
No âmbito da SAA, uma idéia seria reativar a comissão que, alguns anos atrás,
cuidava das pequenas culturas, buscando, por exemplo, apresentar produtos
similares. Um produto registrado para ameixa poderia servir para nectarina,
pêssego e frutas semelhantes de caroço. O mesmo poderia valer para outras frutas
menores como framboesa e cereja. Ou no caso dos legumes folhosos o produto
registrado para alface poderia ser o mesmo para escarola e couve. 'Agora, é
muito importante que seja feito um acompanhamento rotineiro, constante, por meio
de monitoramento. E, infelizmente, o único laboratório que ainda faz isso de
forma perene é o nosso', diz Gebara.
Para a população em geral, o pesquisador recomenda
basicamente comprar produtos de época; lavar sempre com escova, sabão,
detergente, água corrente, sempre que for possível, independente de qualquer
suspeita; passar água de qualquer forma, quando não houver outra alternativa;
descascar algumas frutas ou alguns legumes (uma boa parte dos resíduos de
pesticida fica na casca); e diversificar - não comer sempre a mesma fruta todos
os dias, para evitar o acúmulo no organismo de eventuais resíduos. E, em caso de
qualquer suspeita, o consumidor 'deve voltar ao vendedor e dizer que aquilo não
está atendendo às qualidades para consumo'.
Uma das preocupações de Gebara é com a descontinuidade do trabalho, que 'passou
por alguns percalços (nesses 25 anos). Nós tivemos alguns obstáculos a
ultrapassar, sempre de ordem burocrático-administrativa: motivos de renovação de
convênio, falta de recursos, falta de pessoal... Na verdade, o laboratório
propriamente sempre teve interesse em dar continuidade a isso. Nesse momento,
por exemplo, nós estamos parados... É uma questão administrativa. A Ceagesp
mudou de presidência e está reavaliando o convênio, que eu espero seja retomado
em breve. Então, fica esse período descoberto, quer dizer, fase de renovação de
convênio, fase de autorização...'
Data de Publicação: 25/04/2003
Autor(es):
José Venâncio De Resende Consulte outros textos deste autor
Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros Consulte outros textos deste autor