A área cultivada com trigo no Brasil decresceu de 3,3 milhões de hectares, em 1990, para 2,1 milhões em 1991, como reflexo imediato da retirada de subsídios e da privatização da comercialização ocorridas nesse período, seguindo em declínio por toda a década de noventa. Em 1996, houve recuperação mas o resultado foi frustrante, em função da queda de preços durante os meses de safra do cereal, e a área voltou a declinar. Somente em 2002 atingiu novamente 2,1 milhões de hectares. Essa recuperação da área plantada com trigo vem se verificando em função, principalmente, da desvalorização do Real a partir do final de 1999, o que trouxe competitividade à produção nacional.
            No segundo semestre de 2002, os preços recebidos pelos produtores brasileiros atingiram os níveis mais elevados desde 1990, em plena época de safra, fato que se constitui no principal fator para que em 2003 a área cultivada continue a crescer (figura 1).

Figura 1 - Preços médios mensais corrigidos¹ do trigo recebidos pelos produtores no Paraná, 1990-2002

¹ Em reais de dezembro de 2002, corrigidos pelo IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

            Além disso, há preocupação de outros segmentos da cadeia produtiva, como os de moagem e de processamento de farinha, além do próprio Governo, com o abastecimento de matéria-prima. Cerca de 70% do trigo consumido anualmente é importado, principalmente da Argentina, que, além dos problemas econômicos que dificultaram suas exportações e fizeram com que os importadores brasileiros reabilitassem outras fontes de abastecimento, também vem reduzindo a produção de trigo. A área plantada com trigo na Argentina referente ao ano comercial 2001/02, de 7,1 milhões de hectares, caiu para 6,1 milhões em 2002/03.
            Em termos nacionais, a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)2 prevê, a partir de pesquisa de intenção de plantio, que a área plantada em 2003 apresente crescimento de 13%, situando-se em 2,3 milhões de hectares. A produção, que no ano passado foi de 2,9 milhões de toneladas, uma vez que houve perda de 1,1 milhão de toneladas em decorrência de adversidades climáticas, está estimada, em 2003, em 4,5 milhões de toneladas, com base em produtividade de 1942 kg/ha. A expansão da área cultivada está prevista em todas as regiões produtoras. No Paraná, principal Estado produtor, espera-se aumento de 14,5%, evoluindo para 1,2 milhão de hectares, que deverá resultar em 2,3 milhões de toneladas, um incremento de 53,6%, uma vez que se espera que a produtividade volte aos níveis normais.
            Em São Paulo, os triticultores estão estimulados. As reservas de sementes nas regiões produtoras já correspondem ao total disponibilizado pela Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA). De acordo com o Departamento de Sementes da SAA, a oferta de sementes de trigo evoluiu de 62.582 sacos de 40kg em 2002 para 77.404 sacos em 2003. No ano passado, a oferta de sementes da SAA foi suficiente para o plantio de 60% da área cultivada. O restante foi suprido por outras fontes, entre sementes próprias e importadas de outros Estados produtores, principalmente do Paraná.
            Mantida essa proporção, a área cultivada em São Paulo poderá crescer em torno de 20%, evoluindo de 35,3 mil hectares para perto de 45,0 mil hectares. Existem ainda, disponibilizados pela SAA, 12,1 mil sacos de sementes de triticale. O cereal é cultivado predominantemente nos limites da regional de Itapeva, onde os agricultores dão preferência para o seu cultivo, visto ser mais rústico que o trigo. Além disso, está com boa perspectiva de mercado, por substituir o milho na indústria de ração. Portanto, no total, a área cultivada com os principais cereais de inverno em São Paulo (trigo e triticale) pode superar os 50,0 mil hectares.

¹ www.pr.gov.br/seab/
²www.conab.gov.br