Café: Enfim, O Que Temos A Comemorar?

            Os analistas do mercado de café têm enfatizado o monumental desempenho exportador do Brasil, que isoladamente foi responsável por cerca de 1/3 da demanda mundial pelo produto e pela recuperação de importantes clientes como os EUA. Embora as exportações tenham aumentado em 7,04%, o acentuado declínio nas cotações do arábica (média de US$ 61,50 por saca em 2001, para US$ 49,50/sc em 2002 para o grão verde) resultou em queda de 11,70% no valor recebido, índice esse totalmente desprezado pela maior parte dos analistas desse mercado (tabela 1).

Tabela 1 – Volume e valor das exportações brasileiras de café arábica, 2001 e 2002

Ano
Volume (sc 60kg)
Variação (%)
Valor (em US$ 1.000)
Variação (%)
2001
19.715.912
-
1.185.302
-
2002
21.103.744
7,04
1.046.674
-11,70
Fonte: Elaborada a partir de dados básicos da CECAFE1, 2003

            Esse desempenho reflete a desmedida desvalorização cambial do real. Esse fenômeno macroeconômico pode, surpreendentemente, imprimir efeitos negativos ao comércio, uma vez que os exportadores, no esforço de ampliar seu market share, adotam a estratégia de oferecer descontos em dólares, baixando seus preços para os importadores. Isso explica o progressivo afastamento das cotações do arábica brasileiro daquelas registradas para o Contrato C, superando os US$ 20 cents/lbp quando, historicamente, esse diferencial oscilava em torno dos US$ 10 cents/lbp.
            Outro efeito bastante negativo consiste na transferência de renda do conjunto da sociedade para o segmento exportador, sem que se gerem efeitos positivos sobre o sistema econômico. Ao oferecer descontos aos importadores e paralelamente manter suas margens, os exportadores pressionam ainda mais as já baixas cotações, transferindo a conta para o ramo produtor.
            O segmento, com o apoio de outras entidades e do governo, precisa intensificar as campanhas de promoção e de valorização do café brasileiro, criando uma percepção favorável ao produto para evitar que a lógica do aumento da receita, através da diminuição dos preços, predomine nos negócios internacionais. Tanto que, ao se efetuar as mesmas contas para o café torrado e moído (T&M), se constata que, ao contrário do grão verde, cresceram tanto os volumes quanto as receitas (tabela 2), demonstrando que o trabalho em termos de marcas e de qualidade do produto propicia vantagens econômicas para todo o segmento.

Tabela 2 – Volume e valor das exportações brasileiras de café torrado e moído, 2001 e 2002

Ano
Volume (sc 60kg)
Variação (%)
Valor (em US$ 1.000)
Variação (%)
2001
40.854
-
1.923,97
-
2002
69.050
69,16
3.926,06
104,06
Fonte: Elaborada a partir de dados básicos da CECAFE, 2003.


1
www.cecafe.com.br

Data de Publicação: 13/02/2003

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor