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Café: Volume De Oferta Do Produto E Perspectivas Para Os Preços
Mercado As
cotações do café, em dólares por saca de 60 quilos beneficiada, em diferentes
mercados como os de Nova Iorque, BM&F e Londres, para os cafés arábica e
robusta, e os preços recebidos pelo produtor paulista (apurados pelo IEA) nos 19
últimos meses evidenciam que se atingiu um patamar de resistência a novas
pressões baixistas, com ligeiras flutuações tanto nas cotações diárias quanto
nas médias mensais. Isso está ocorrendo mesmo após a confirmação por parte do
governo brasileiro da maior produção dos últimos 25 anos (gráfico 1). Caso esse
comportamento se mantenha nos próximos meses e os produtores brasileiros tenham
efetivamente acesso a recursos para estocarem cerca de 7 milhões de sacas,
vislumbra-se a manutenção dos preços médios a curto prazo, com boas perspectivas
de elevação no próximo ano, quando tanto a safra brasileira como a dos demais
concorrentes internacionais devem reduzir-se, em decorrência da crise que o
setor vem enfrentando nos últimos três anos.
Gráfico 1. Cotações médias mensais do café em diferentes
mercados,
Janeiro de 2001 a
Julho de 2002.
Fonte: Gazeta Mercantil e Instituto de Economia Agrícola
Gráfico 2. Cotações médias trimestrais do café em diferentes
mercados,
Janeiro de 2001 a
Julho de 2002.
Fonte: Gazeta Mercantil e Instituto de Economia Agrícola
Ao se comparar as médias trimestrais das diferentes cotações (gráfico 2), percebe-se que, tanto para o café arábica quanto para o robusta, há uma recuperação desde o quarto trimestre de 2001, mas o café robusta na bolsa de Londres apresentou, relativamente ao arábica, maior elevação. Esses dados indicam o início de uma estabilidade anualizada, a partir de agosto do ano passado. Todavia, os menores preços em dólares recebidos pelos produtores paulistas (PR-SP) refletem a incerteza sobre o câmbio brasileiro e as dificuldades de acesso aos créditos prometidos pelo FUNCAFÉ para a retenção de produto, elevando a oferta em plena colheita, o que explicaria as menores cotações dos últimos trimestres.
Comentários sobre a estimativa de safra
De
acordo com a última estimativa da safra brasileira de café para 2002, coordenada
pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a produção poderá alcançar
44,69 milhões de sacas, a qual, se confirmada, será a maior safra de toda a
nossa história. Por sua vez, o Departamento de Agricultura Estadunidense (USDA)
previu uma produção mundial acima das 122 milhões de sacas, diante de um consumo
estimado em 108 a 110 milhões de sacas.
Acredita-se que o mercado está no limiar de um novo ciclo de preços ascendentes,
que poderá ter início no princípio de 2003 (já se iniciou no caso do robusta),
levando-se em conta as expectativas de menor produção nos próximos anos no
Brasil (principal produtor mundial) e em alguns dos demais países produtores, em
decorrência dos baixos preços mundiais.
As expectativas são de que em 2003 a produção do País poderá reduzir-se
substancialmente, ficando no intervalo entre 25 e 30 milhões de sacas,
considerando o ciclo bienal da cafeicultura brasileira e, mais ainda, o fato de
que muitos produtores poderão abandonar a atividade em função dos preços atuais,
que apenas em casos isolados conseguem cobrir os custos diretos de produção.
Externamente, talvez um ou outro país poderá incrementar o volume colhido (por
exemplo, México, Uganda e Peru), mas no geral podem-se esperar quedas, em
proporções menores que a do Brasil, embora o suficiente para trazer o volume
mundial de produção significativamente abaixo da linha de consumo. O Vietnã, que
produziu mais de 15 milhões de sacas, está efetuando ajustes que deverão reduzir
a sua oferta para 10 a 11 milhões de sacas este ano.
A fase altista do ciclo de preços teve início em 1993, atingindo o pico de alta
em maio de 1997, quando então começou a queda que perdura até o momento. No
período 1993 até 1997 o déficit de produção mundial em relação ao consumo foi da
ordem de 6 a 7 milhões de sacas, resultante da queda da oferta em função da
erradicação (só no Brasil arrancaram-se mais de 1 bilhão de cafeeiros). Também,
contribuiu para a alta dos preços o abandono de lavouras em função dos baixos
preços ao princípio dos 90s. Embora a geada ocorrida em 1994 tenha agravado o
quadro da oferta (argumento muitas vezes sobrevalorizado por lideranças do
segmento), o mercado sinalizava preços ascendentes para o produto antes mesmo
desse fenômeno climático (um mês antes das geadas de 94 o café era cotado a US$
140/sc na Bolsa de Nova Iorque).
Quaisquer medidas de política que visem manter a competitiva da nossa
cafeicultura devem merecer a atenção da sociedade. Entre essas medidas, sem
dúvida alguma, está o programa de adesão voluntária ao armazenamento da safra
hora em curso. É preciso destacar que esse programa nada tem a ver com o
equivocado Plano de Retenção defendido dois anos atrás pelo Brasil, contra o
qual nos opusemos veementemente, pela falta de sustentabilidade tanto prática
quanto, principalmente, teórica. O atual programa implementado possui lógica
econômica, constituindo-se numa estratégia comercial clássica de reter o
produto, apostando que o mesmo valerá mais no curto a médio prazo, valorização
esta que com toda certeza deverá acontecer sem quaisquer medidas artificiais, ou
seja, por conta apenas das forças de mercado. Aliás, entre 1992 e 1993, também
pleiteávamos medidas semelhantes às atualmente implementadas, o que poderia ter
evitado o desmantelamento de boa parte do parque cafeeiro, ou seja, de lavouras
que apresentavam elevados índices de produtividade, cujos proprietários não
dispunham de condições econômicas de sobrevivência até a virada do mercado.
Assim, dentro desse escopo, todos esforços são válidos no sentido de viabilizar
operacionalmente os recursos necessários (já aprovados na esfera governamental)
para a implementação do programa de armazenamento voluntário do café. Este
beneficiará não só o produtor, mas sobretudo o País que preservará seu parque
produtivo de maneira a desfrutar das condições favoráveis de mercado já
desenhadas para os próximos anos. Da mesma forma que tínhamos certeza de que o
mercado passaria por essa fase desfavorável (e fomos até criticados por algumas
lideranças quando recomendávamos muita cautela nos momentos de euforia), estamos
também plenamente convictos de que não demorará muito para o início da reversão
de expectativas nesse mercado e, conseqüentemente, dos preços praticados.
Enquanto técnicos da esfera pública, praticamos sempre uma abordagem prospectiva
para a 'fase seguinte' e, nesse sentido, recomendamos muito profissionalismo ao
setor, para que o mesmo esteja constantemente preocupado não só com os aspectos
agronômicos de condução eficiente das lavoura, mas também com os aspectos da
comercialização do produto. È importante que se esteja munido de informações
corretas sobre as fases do ciclo de preços em que se encontra o mercado de café,
para que não seja surpreendido novamente no contra-pé, pois certamente, após a
euforia que acompanhará o novo ciclo de preços, ter-se-á a repetição da
tendência baixista prevalecente nos últimos anos.
illycaffè: um papel desempenhado no segmento que ultrapassa seu prêmio anual de qualidade
Nesse momento em que são abertas as inscrições para o décimo segundo prêmio da illycaffè, torna-se oportuno comentar a importância que
essa torrefadora teve e continua tendo no segmento de consumo de café,
especificamente do expresso, no Brasil. Em 1994, a torrefadora decidiu
introduzir, contando com o apoio de parceiros locais, seu selecionadíssimo blend
para expresso nos principais restaurantes e hotéis da Cidade de São Paulo. Os
empresários provavelmente não imaginaram os possíveis desdobramentos que essa
ação teria no sentido de construir um ícone sobre a qualidade do café expresso.
Os consumidores da bebida rapidamente passaram a consultar os estabelecimentos
freqüentados, procurando verificar se o fornecedor do café era a illycaffè, pois
já eram capazes de diferenciar um expresso dessa companhia do de todas as demais
disponíveis no mercado paulista.
Poucos anos após essa iniciativa, a torrefadora firmou aliança com uma rede de fast-food para a comercialização de kits de café expresso, em que, além de saches de café torrado e moído, eram agregados uma máquina doméstica para o preparo da bebida e um par de chávenas. Esse esforço de vulgarização do produto, associado ao ícone da mais alta qualidade para a bebida extraída no preparo do expresso, contribuiu decisivamente para que, transcorridos cerca de oito anos, alcançássemos o atual estágio em que todo o segmento paulista do café se mobiliza buscando oferecer o máximo em termos de excelência do café expresso. Então, foi a partir dos esforços quase que isolados da illycaffè que o mercado de consumo da bebida se
prepara para dar um salto de qualidade em termos de oferta de xícaras preparadas
dentro de rotinas orientadas no sentido da perfeição e da satisfação.
Portanto, os méritos da illycaffè vão bastante além
do já consagrado prêmio de qualidade distribuído para os 10 melhores cafés
inscritos e da compra garantida com ágio sobre os preços correntes dos 50
primeiros colocados. A criação de um símbolo de qualidade de preparo da bebida
facilitou em muito a consolidação definitiva de um parâmetro e de uma imagem
sobre uma excelente e prazerosa xícara de café expresso.
Data de Publicação: 18/07/2002
Autor(es):
Luiz Moricochi (moricochi@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor