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Brasil Torna-se Exportador De Mel Em Apenas Dois Anos
O
Brasil exportou 11,24 milhões de quilos de mel natural em 2002 (até novembro),
no valor total de US$ 19,94 milhões, o que significa acréscimo de mais de 4.000
pontos percentuais em relação aos 268,9 mil quilos (US$ 331,06 mil) embarcados
no ano 2000. A maior presença brasileira no mercado internacional já fora
verificada em 2001, com exportações de 2,49 milhões de quilos, o equivalente a
US$ 2,81 milhões (tabelas 1 e 2). Tabela 1 - Exportações brasileiras de mel natural, por
estado, de 2000 a 2002 Tabela 2: Exportações brasileiras de mel natural, por país,
de 2000 a novembro de 2002 Os
Estados Unidos são o principal destino do mel brasileiro, tendo importado 5,28
milhões de quilos (US$ 10,37 milhões) no ano passado. As exportações brasileiras
para o mercado norte-americano praticamente inexistiam nos anos anteriores. Tabela 3 - Principais países produtores, exportadores e
importadores de mel, 2001 A
produção mundial alcançou 1,26 milhão de toneladas em 2001, das quais 254,76 mil
toneladas produzidas pela China, 100,24 mil toneladas pelos Estados Unidos e 90
mil toneladas pela Argentina. O Brasil produziu naquele ano cerca de 20 mil
toneladas.
Estado/período SAO PAULO SANTA CATARINA CEARA . MINAS GERAIS PARANA PIAUI . . Outros Total
Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior País/período Kg US$ US$/kg Kg US$ US$/kg Kg US$ US$/kg ESTADOS UNIDOS ALEMANHA REINO UNIDO . . BELGICA . . ESPANHA . Outros Total
SECEX - Secretaria de Comércio Exterior1
Alguns países europeus aparecem em seguida, liderados pela Alemanha com
importação de 4,88 milhões de quilos (US$ 7,94 milhões). As exportações para o
mercado alemão já haviam dado um salto em 2001, quando somaram 2,10 milhões de
quilos (US$ 2,34 milhões).
Em menor escala, aparecem Reino Unido, com 702,80 mil quilos (US$ 1,05 milhão),
Bélgica, com 223,90 mil quilos (US$ 375,98 mil) e Espanha, com 82,30 mil quilos
(US$ 90,89 mil). Esses países praticamente não importavam mel do Brasil nos anos
anteriores, embora a Espanha já desse sinal de interesse pelo produto brasileiro
em 2001.Assim, em 2002 o Brasil, com quase US$ 20 milhões, já figurava entre os
principais exportadores.
As exportações mundiais de mel somaram US$ 440,14 milhões, de acordo com dados
de 2001. A China aparecia na liderança com US$ 98,82 milhões, seguida da
Argentina com US$ 71,51 milhões (tabela 3).
Fonte: FAO - Food and Organization of The United Nations
Importações Produção toneladas Total mundial Total mundial Total mundial China Alemanha China Argentina Estados Unidos Estados Unidos Alemanha Japão Argentina México Reino Unido Turquia Canada Arábia Saudita Ucrânia Hungria França México Espanha Itália Federação Russa Austrália Espanha Índia Bélgica Bélgica Espanha Uruguai Suiça Canadá Vietnam Holanda Etiópia Romênia Dinamarca Irã Nova Zelândia Áustria Tanzânia Itália Canadá Quênia França Emirados Árabes Angola Outros Outros Austrália . . . . Brasil . . . . Coréia do Sul . . . . Outros
Uma das explicações para o Brasil ter abocanhado maior fatia do mercado é a
queda das exportações argentinas, de mais de 24 mil toneladas entre 1999 e 2001,
segundo a FAO (Food and Organization of The United Nations)2. No mesmo período a produção da Argentina diminuiu
18 mil toneladas. Já as exportações brasileiras ultrapassaram 50% da safra em
2002, provocando o desabastecimento do mercado interno.
A queda da produção argentina teria sido decorrente da ocorrência da cria
pútrida, doença que ataca as abelhas e não tem cura, de acordo com o presidente
da Associação Paulista de Apicultores Criadores de Abelhas Melíficas Européias
(Apacame)3, Constantino Zara Filho.
Porém, a redução das exportações daquele país teria uma outra causa, segundo
Constantino. O mel argentino, produzido a partir do trigo branco e da alfafa
usados na alimentação do gado, chega no mercado internacional ao preço
competitivo de US$ 1.100 a US$ 1.200 a tonelada e, em alguns momentos, a US$
800/t. Este mel é utilizado em vários países, principalmente europeus, para
blend (mistura com mel de girassol, de colza, etc.). Ocorre que, por pressão dos
apicultores norte-americanos, os Estados Unidos sobretaxaram o mel argentino em
60%, dois anos atrás.
Em novembro de 2001, a Comunidade Européia detectou a presença de clorofenicol
no mel importado da China. Imediatamente, os europeus suspenderam as importações
chinesas, conforme Constantino. Com isso, começaram a aparecer no Brasil
importadores norte-americanos e europeus à procura de mel, segundo revela o
presidente da Apacame.
Além desses fatos, o fim do câmbio fixo em 1999, com a desvalorização do real em
relação ao dólar ao longo dos últimos anos, contribuiu para deslanchar as
exportações brasileiras. O Brasil tornou-se competitivo no mercado de mel, cujo
preço varia entre US$ 1.200 e US$ 1.700 a tonelada.
O nível de preços mais remuneradores no mercado internacional contribuiu, assim,
para a mudança no patamar dos preços de equilíbrio no mercado interno, segundo
Constantino. 'O nosso preço histórico é de R$ 60, R$ 65, R$ 70 a lata (de 25
quilos) para o alto atacado, para grandes quantidades... Ou seja, comprava-se
uma lata por R$ 80, R$ 85; por 20, 30 latas, pagava-se em torno de R$ 60, R$ 70;
na compra de 500 a 1.000 latas, o preço caía para R$ 55, R$ 60. Pois, em
novembro do ano passado, teve gente cobrando R$ 250 a lata. E vendeu por R$
250.'
Constantino estima que, atualmente, o mel está sendo vendido por volta de R$ 130
a R$ 140 a lata. 'Esse preço não vai voltar mais aos R$ 55, mas nós achamos que
deverá recuar para o patamar de R$ 80 a R$ 90, o que já está de bom tamanho para
todo mundo: apicultor, consumidor...'
Nesse contexto, o presidente da Apacame iniciou uma campanha para dobrar, no
máximo em dois anos, a produção brasileira de mel, que o setor calcula entre 30
e 34 mil toneladas, acima portanto da previsão oficial. Nesse esforço, ele
inclui a iniciativa do Banco do Nordeste, que nos últimos dois anos teria
investido R$ 90 milhões no financiamento de novos projetos de produção de mel na
região.
Na apicultura, cerca de 80% são produtores hobbistas, com até 400 colméias, que
produzem mel silvestre. A partir desse nível, o produtor já é considerado
semiprofissional e produz mel de flor de laranjeira e de flor de eucalipto, além
de floradas como cajueiro, marmeleiro, angico, cipó-uva e carqueja, estas mais
presentes no nordeste. A Apacame promove seis a oito cursos anuais e reuniões
plenárias mensais, de maneira a fomentar a atividade e profissionalizar os
pequenos produtores com maior embasamento técnico.
No entanto, Constantino não considera que a mão-de-obra especializada seja o
maior entrave ao desenvolvimento do setor. As restrições estão nas técnicas de
manejo e no acesso ao pasto apícola por parte dos apicultores profissionais, que
se deslocam com suas colméias. Faltam, na sua opinião, um programa de manejo
para aumentar a produtividade das colméias e uma política que leve à abertura de
novos pastos apícolas.
Uma medida seria mapear o potencial de pasto apícola disponível em hortos e
reflorestamentos oficiais, como aqueles pertencentes à Secretaria de Agricultura
e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA), e avaliar uma forma de abrir essas
áreas aos apicultores. A outra seria buscar a adesão do setor agrícola, por meio
da articulação no âmbito da Câmara Setorial de Apicultura da SAA, da qual
Constantino é o presidente, e também com as demais câmaras setoriais,
especialmente de citricultura e de produtos florestais.
A apicultura está sustentada no tripé abelha, técnica e meio ambiente (pasto
apícola). Resolvidas as questões do manejo e do acesso aos pastos apícolas,
Constantino acredita que é o Brasil tem potencial para atingir a produção de 200
mil toneladas de mel por ano, podendo igualar-se à China.
O Brasil tem a oportunidade de manter, e até ampliar, o mercado externo
conquistado nos dois últimos anos. Para isso, terá de trabalhar em várias
frentes. Entre as possibilidades, o presidente da Apacame aponta o potencial de
exportação de mel orgânico (de apiário inspecionado por uma certificadora) e de
produtos de marca com valor agregado, inclusive o própolis cujo mercado ainda
está por ser conquistado.
1.http://www.mdic.gov.br
2.http://www.fao.org
3.http://apacame.org.br
Data de Publicação: 31/01/2003
Autor(es):
Luis Henrique Perez Consulte outros textos deste autor
José Venâncio De Resende Consulte outros textos deste autor
Benedito Barbosa de Freitas (bfreitas@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor