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Café: Cepticismo No Mercado E Insatisfação Entre Produtores(1)
O mercado de café arábica passou por fortes oscilações no mês de janeiro,
influenciado pela discussão sobre o programa de retenção que está sendo
implementado pela Associação dos Países Produtores de Café (APPC). Considerando
a menor cotação (segunda posição – maio) observada no dia quatro de janeiro, o
preço cresceu 12%, quando comparado com a cotação do dia 22. Mas, ao fechar o
mês, o preço voltou para o mesmo patamar verificado no seu início (gráfico 1).
Cabe destacar que no dia nove de janeiro a cotação para março atingiu o seu
nível mais baixo em sete anos e meio, quando chegou a 62 centavos de dólar por
libra peso. Assim, com a melhoria do clima nas áreas cafeeiras do Brasil, não se
observa nenhuma mudança neste cenário nos próximos meses.
Segunda Posição, Janeiro de 2001
Fonte: Elaborado a partir de dados básicos de Gazeta
Mercantil, jan. 2001.
No fechamento do mês de janeiro o preço médio de 15 dias da Organização
Internacional do Café (OIC) atingiu 49,77 centavos de dólar por libra peso.
Significa que foi 47,61% menor que o nível de preço de manutenção da retenção
definido pela APPC, que foi de 95 centavos de dólar por libra peso, indicando o
enorme esforço a se fazer para enxugar o excedente de oferta de maneira a
atingir o nível de preço desejado pelos países produtores.
Mercado interno
Os preços no mercado interno tiveram dois tipos de comportamento ao longo do mês. Na primeira quinzena, observou-se relativa estabilidade com mercado calmo e baixos volumes comercializados tanto no físico como no futuro. Nessa primeira quinzena, os tipos finos estiveram cotados entre 124,00 a saca e R$ 127,00/sc, enquanto os duros bem preparados oscilaram entre R$ 121,00/sc e R$ 125,00/sc. No início da segunda quinzena, observou-se reação nos preços com forte recuperação, principalmente para os tipos finos que chegaram a ser cotados a R$ 140,00/sc, os quais se mantém declinando ao longo da última semana de janeiro quando fecharam a R$ 131,00/sc. Sequer a reunião da APPC em 24 de janeiro em Londres conseguiu alterar a tendência baixista para os preços do café no mercado interno. Condições climáticas excelentes nas diversas regiões produtoras e oferta mundial acima da demanda são, em parte, responsáveis por essa situação (gráfico 2).
Safra 2000/01, FOB Armazém, 29/12/2000 a 30/01/2001
Fonte: Elaborado a partir de dados básicos de ESCRITÓRIO
CARVALHAES, jan.2001.
Preços de café em queda: até quando?
Antecipar preços futuros tem sido a grande preocupação dos diversos segmentos do
agronegócio, principalmente para o setor da produção o mais afetado, tanto
positiva quanto negativamente, quando se alteram os fundamentos do mercado.
Havendo escassez do produto, os preços tendem a se elevar mais no âmbito dos
produtores. Por outro lado, numa conjuntura desfavorável, como a atual, são eles
os que mais sofrem com os preços em queda. Em geral, pode-se dizer que, dentro
de certos limites, os preços sobem mais que proporcionalmente quando há escassez
do produto e caem também mais que proporcionalmente quando há excesso.
Caso os produtores de café (principalmente as lideranças) estivessem sempre
atentos a essa 'lei da economia cafeeira' o setor talvez não sofresse tanto,
pois essas oscilações certamente seriam de menor amplitude. Isto porque eles não
teriam o seu comportamento marcado por tanta afoiteza para realização de novos
plantios, quando os preços estivessem bastante elevados (exemplo: 1985/86 e
1997), e nem se retrairiam tanto quando os mesmos estivessem deprimidos demais,
como em 1992 e 1993, levando à erradicação de mais de um bilhão de cafeeiros só
no Brasil.
Em 1997, já alertávamos sobre o que viria a acontecer com o café no futuro,
antecipado também por estudos de especialistas internacionais que mostravam
claramente a tendência declinante dos preços. Nessa época, poucos davam atenção
para trabalhos técnicos dessa natureza, pois o mundo cafeeiro vivia
euforicamente a fase de preços altos (diferente da desanimadora conjuntura
atual). Infelizmente, somos obrigados a alertar que o pior ainda está por vir.
Ou seja, caso não haja problemas climáticos que possam afetar as regiões
produtoras no mundo (secas e geadas intensas), a produção mundial de café poderá
ultrapassar 120 milhões de sacas no próximo ano, frente a um consumo mundial que
tem variado de 104 a 106 milhões de sacas de acordo com as estimativas de
diferentes fontes. Tudo leva a crer que o 'fundo do poço' da cafeicultura
mundial deverá ocorrer no ano 2002, quando o setor será forçado a tomar decisões
no âmbito da produção visando ajustar a oferta às condições da demanda. Lavouras
serão abandonadas ou erradicadas e os tratos culturais serão reduzidos ao mínimo
possível, repetindo-se a história ocorrida em 1992 e parte de 1993.
Podemos até ser criticados por externar essa opinião em um momento já bastante
conturbado no setor. O que não se pode, entretanto, é deixar de apresentar essa
visão prospectiva para o segmento produtivo, o que raramente é feita pelas
lideranças do setor, na maioria das vezes pelo próprio desconhecimento desse
processo. Outro motivo que nos leva a fazer essa exposição é para alertar os
produtores quanto a necessidade de se cercar do máximo cuidado no aspecto
gerencial de seus negócios com café, tanto dentro quanto fora da porteira.
Internamente, o produtor deve conscientizar-se da necessidade de se fazer uma
sintonia fina e bem articulada de todas ações e processos ligados à produção,
como os cuidados com máquinas e equipamentos, evitando o desperdício de insumos,
a ociosidade da mão-de-obra, etc. Externamente, não deve esquecer de se informar
sobre formas e custos de financiamento (inclusive vendas futuras), aquisição de
insumos, momentos de venda do produto, etc.
Enfim, o produtor tem que planejar para ser o menos afetado possível (ou passar
incólume) durante esse período desfavorável e assim estar estruturado para o
novo ciclo de preços altos que com toda certeza deverá ocorrer quando a produção
situar-se abaixo da demanda. O que queremos reforçar é aquilo que todos
produtores profissionais já sabem e fazem: em quaisquer das fases (boas ou más)
em que se encontrar o mercado, há necessidade de ser competitivo em custo e
qualidade.
Quotas de exportação para café
A Colômbia propôs recentemente a reintrodução do sistema de quotas para comércio mundial do café. A proposta aparentemente foi apresentada como um balão de ensaio para verificar a reação do mercado. Seria reeditado todo o sistema de comercialização extinta em 1989. Acreditamos que essa proposta tenha um endereço certo: visa atingir diretamente a cafeicultura do Brasil, cuja expansão nos últimos anos tem preocupado muito nossos concorrentes produtores de café arábica, sobretudo a Colômbia. Com a liberação do comércio do café ( a suspensão das Cláusulas Econômicas do Acordo Internacional do Café e a extinção do Instituto Brasileiro do Café), o setor produtivo ganhou novo impulso com a entrada de empresários com novas mentalidades. É o caso, por exemplo, dos cultivos no triângulo mineiro, oeste baiano e em Goiás. Isso ocorreu pela introdução da mais moderna tecnologia de manejo, como de pós-colheita, contribuindo para acentuada melhoria na qualidade da bebida. Evidentemente, todo esse potencial da cafeicultura brasileira preocupa nossos concorrentes. O estabelecimento de quotas seria, assim, uma forma de cercear sua expansão.
Piora no desempenho das exportações de café
O café, depois do açúcar, foi o produto do agronegócio que teve maior queda na receita de exportação, justificada por uma redução de 21,24% no volume exportado que, somada a diminuição no preço, explica o declínio de 28% nas receitas cambiais do produto nas exportações brasileiras.
TABELA 1 - Exportações Brasileiras de Café em 1999 e 2000
Tipo | | | | |||
| | | | | | |
Em grão | 2.230.111 | 21.057.985 | 1.559.125 | 16.111.685 | | |
Solúvel | 211.109 | 1.889.048 | 201.504 | 1.960.691 | | |
Total | 2.441.220 | 22.947.033 | 1.760.629 | 18.072.376 | | |
Fonte: Elaborado a partir de dados básicos da SECEX, 2001.
As
receitas cambiais do café solúvel apresentaram redução de 5%, enquanto as do
café verde em grão caíram 30%. No agregado, o Brasil deixou de faturar cerca de
US$ 680 milhões com as vendas externas, deixando assim de contribuir com os
esforços de exportações do País, que ainda assim cresceram 16% no total.
As exportações em 2001 poderão ter alguma melhora no segmento de solúvel, pois
recentemente a União Européia ampliou substancialmente a cota brasileira naquele
mercado, que passou para 9 mil toneladas. O segmento deve agora mostrar sua
capacidade em fechar pedidos visando ao menos cumprir a cota designada.
1 Convênio DESR/ESALQ/USP-IEA/APTA-SAA |
Data de Publicação: 12/02/2001
Autor(es):
Luiz Moricochi (moricochi@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor