Café: Situação Do Mercado, Desafios Da Atividade Para A Próxima Década E Produção E Consumo(1)

            O mercado internacional de café manteve a tendência de queda de preços. Na Bolsa de Nova York, o Contrato C, segunda posição, caiu 9,57% no período de 27/10 a 27/11/2000. No mesmo período o café robusta na Bolsa de Londres, segunda posição, apresentou uma queda mais acentuada, cerca de 13,15%. Assim, os cafeicultores, que esperavam uma reação dos preços internacionais, neste período do ano, em que o Brasil é o principal fornecedor do mercado, têm frustrado suas expectativas, uma vez que a melhoria do clima, com efeitos na safra futura, a crescente oferta de café do País, cujas exportações cresceram em outubro 17,25% em relação ao mês anterior, e o aumento da oferta de robusta têm deprimido o mercado internacional.

Figura 1 – Cotação do Contrato C de Café, Segunda Posição, Bolsa de Nova York Arábica
e Bolsa de Londres - Robusta, 27/10 a 27/11/2000

                           Fonte: Elaborada a partir de dados básicos da Gazeta Mercantil, nov.2000.

            A evolução dos preços recebidos pelos cafeicultores no mercado interno mostra um primeiro período em que tiveram pequenas oscilações para os tipos de qualidade superior (finos e duros) e fortes quedas para os de qualidade inferior (riados e rio). Tomando-se como referência os tipos finos e duros bem-preparados, constata-se que houve elevações de 3,5% e 2,8% entre 27/10 e 10/11, respectivamente. Tal alta pode ser creditada à diminuição dos estoques certificados nos EUA e a impressões genéricas sobre o potencial da colheita brasileira da safra de 2000/01, sensivelmente prejudicada pelos distúrbios climáticos ocorridos nas principais zonas produtoras. Em um segundo momento, a ocorrência de fortes precipitações nas zonas produtoras, com efeitos diretos no mercado internacional, motivou pressão baixista em todo o mercado, com quedas no mercado interno de 4,2% e 2,1% para finos e duros, respectivamente, comparando-se essa posição com a verificada em 24 de novembro. Até 10 de novembro, mantinham-se estáveis os preços dos tipos riados e rio, perdendo sustentação a partir dos fenômenos comentados acima terminando o período com quedas de 4,5% e 5,5%, respectivamente (Figura 2).

Figura 2 – Cotações Médias Semanais por Saca de Café Verde, Tipo 6 para Melhor,
Safra 2000/01, FOB Armazém, 27/10/2000 a 24/11/2000.

              Fonte: Elaborada a partir de dados básicos de ESCRITÓRIO CARVALHAES, out./nov. 2000.
 
 

Desafio para a Próxima Década: ampliar o valor agregado das exportações de café

            O Brasil mantém-se como maior produtor mundial de café e ocupa a vice-liderança no consumo da bebida. Contudo, a exportação do País concentra-se no grão verde não- transformado recebendo por esse produto valor muito inferior àqueles praticados para os produtos com algum grau de transformação como o café torrado, o torrado e moído e o solúvel. Ainda que o Brasil seja o maior exportador de café solúvel, as exportações de café torrado são absolutamente residuais no volume total de exportações, mesmo que tenha ocorrido aumento de mais de 270% entre 1999 e 2000 nesse item (Tabela 1).

TABELA 1 – Exportações Brasileiras por Tipo de Café, 1997/1999 e jan./maio de 2000
(em mil sacas de 60kg de café beneficiado)

Item
1997
1998
1999
20001
Torrado
1,27
2,42
2,87 
7,81
Solúvel
2.333,87
1.661,84
1.960,69 
1.433,13
Subtotal
2.335,14
1.664,26
1.963,56
1.440,94
Arábica + robusta
14.435,85
16.563,52
21.060,85
11.253,61

                        1 Dados até setembro de 2000.
                         Fonte: Elaborada a partir de dados básicos de Coffee Business, 2000.

            Em 1999, a média de preços recebidos pelo Brasil para as exportações de café foi de US$156,09/sc. e US$115,32/sc. para o torrado e solúvel, respectivamente, enquanto que o café verde obteve apenas US$108,67/sc. e US$82,58/sc. para arábica e para robusta. Assim, caso o País apresentasse exportações mais expressivas de café torrado, as receitas do agregado café teriam forte crescimento.
            O grande porte empresarial das firmas produtoras de café solúvel respondia, em parte, por sua capacidade não apenas de realizar importantes contratos de exportação como também por abrir novos mercados para o produto, como foram os casos da Rússia e do Japão. No segmento de torrefação prevalecem pequenas e médias empresas com forte grau de atomização do processamento e regionalização da distribuição, com inúmeras marcas sendo comercializadas apenas localmente.
            O mercado internacional de reexportações de café verde e processado atinge em média o volume de 15,5 milhões de sacas ao ano, sendo que apenas a Alemanha consegue colocar em terceiros mercados mais de 4 milhões de sacas ao ano (Tabela 2). Essa oportunidade de negócios poderia ser aproveitada pelo Brasil, incrementando as receitas cambiais obtidas pelo agronegócio café. Apenas o mercado de importação de café torrado alcança de 4 a 5 milhões de sacas ao ano, sendo que somente a França importa um milhão de sacas anualmente, adquiridas da Itália e da Alemanha.

TABELA 2 - Reexportação de Café por Países Importadores, 1997-99
(em mil sacas de 60kg de café beneficiado)

País
1997
1998
1999
EUA
2.477
2.519
2.363
Alemanha
4.081
4.157
4.002
Bélgica/Luxemburgo
1.665
2.296
2.258
França
1.228
1.291
1.273
Itália
879
968
1.039
Cingapura
1.662
1.268
1.130
Outros
3.300 
3.484 
3.809 
Total
15.292 
15.983 
15.874 

                      Fonte: Elaborada a partir de dados básicos de Coffee Business, 2000.

            O Brasil pode se credenciar como forte concorrente no mercado de café torrado. Nos últimos anos tem-se intensificado as aquisições de indústrias de torrefação lideradas por grandes empresas transnacionais. A Sara Lee, após comprar o Café do Ponto e o Café Seleto, adquiriu a Companhia União, detentora das marcas União, Pilão e Caboclo. Juntas as marcas da empresa respondem por cerca de 22% do mercado brasileiro de café torrado e moído, pretendendo alcançar pelo menos 30% de participação no mercado, o que implicaria outras novas aquisições. Recentemente, a Café Três Corações foi adquirida por congênere israelense, dando a impressão de que outras firmas internacionais aportarão no País buscando também fatia nesse mercado. A concentração e internacionalização do capital na torrefação permitirá que o Brasil comece a se apresentar como fornecedor competitivo (em preço e qualidade) de café torrado, transformando o País numa plataforma exportadora também desse tipo de produto.
 
 
 

Números do Café: qual é a produção mundial ?

            Segundo relatório da Organização Internacional do Café (OIC), publicado em junho, a produção mundial de café referente ao ano safra 2000/01 seria da ordem de 108 milhões de sacas. Segundo nossa avaliação, entretanto, essa produção deve ser bem maior. Se não vejamos: nesses 108 milhões de sacas considera-se que o Vietnã deverá produzir 8 milhões de sacas; México, 5,3 milhões; Brasil, 28,1 milhões e Colômbia, 12 milhões de sacas. Entretanto, as informações mais recentes indicam que três desses países terão a seguinte produção: Vietnã, 10 milhões de sacas; México, 6,2 milhões e Brasil 30 milhões de sacas (número admitido inclusive pelo Conselho Nacional do Café, embora tenhamos um número oficial para o Brasil, que deverá ser divulgado em dezembro). No caso da Colômbia, poderá haver uma redução de 12 para 11,5 milhões de sacas (segundo a Federação dos Cafeicultores esse número seria menor). Se admitirmos que na média a produção dos demais países não se altera em relação ao ano anterior (hipótese conservadora, tendo em vista que todos os países produtores fizeram investimentos em novos plantios em anos recentes), teremos portanto que acrescentar pelo menos 4,8 milhões aos 108 milhões de sacas divulgados pela OIC, perfazendo portanto o total de 112,3 milhões de sacas. É uma grande diferença! Daí a importância que assume o levantamento que está sendo realizado no momento pelo Consórcio de Pesquisas coordenado pela EMBRAPA. Esse levantamento deverá dar a palavra final e oficial sobre a produção de 2000. O setor aguarda com muita ansiedade o resultado desse levantamento, esperando-se, entretanto, que dessa vez os resultados sejam divulgados, independentemente das pressões que eventualmente venham exercer alguns setores envolvidos com o agronegócio café. É importante chamar atenção para esse aspecto, para que haja mais transparência no setor (os números especulados pelo mercado têm variado de 27 a 33 milhões de sacas) e resguarde de cair em descrédito a instituição pública responsável pelo levantamento em nível de Brasil.
 
 
 

Consumo Mundial de Café

            Segundo a OIC, o consumo mundial de café poderá aumentar em dez milhões de sacas nos próximos cinco anos. Desse volume total de aumento, metade, ou seja, cinco milhões, deverá ocorrer nos próprios países produtores e a outra metade por conta da promoção dos cafés especiais ao redor do mundo. Caso essas previsões se confirmem teremos um recorde na taxa de crescimento de consumo mundial, da ordem de 1,95% ao ano, quando, em média, esse crescimento foi de 1,34% nos últimos 30 anos (Tabela 3), sendo que nos últimos 10 anos foi ainda menor, ou seja, 1,18%, devido aos problemas econômicos observados entre os países importadores que respondem por mais de 60% do consumo mundial. Na análise do mercado de café no mundo chama-nos atenção dois pontos: primeiro é o contraste nas tendências de consumos entre tradicionais países consumidores e países produtores, pois, enquanto nos primeiros países, o crescimento cai de 1,46% na década de 80 para 0,09% na década de 90, entre os produtores essa taxa de consumo aumenta de 0,26% para 2,9% nesses mesmos períodos; o segundo ponto refere-se ao crescimento do consumo entre os países não membros da OIC, que tem crescido a taxas superiores a 3% na última década.
Estima-se que existe no momento um excedente da ordem de 9 milhões de sacas de café no mundo. Para muitos analistas, entretanto, inclusive da OIC, o que existe é um subconsumo e não um excedente, o que justificaria quaisquer campanhas ou promoções visando o aumento de demanda desse produto, utilizando-se, para a consecução desse objetivo, das mais diferentes estratégias em função dos diferentes mercados.

TABELA 3 – Taxa Anual de Crescimento do Consumo
Mundial de Café, 1970-1999 e Subperíodos
(em %)
Período
Total
Países membros da OIC
Países não membros
Importadores
Exportadores
1970-1999
1,34
1,03
1,18
3,17
1970-79
0,54
0,35
0,11
2,59
1980-89
1,39
1,46
0,26
2,94
1990-99
1,18
0,09
2,90
3,24

                     Fonte: Elaborada a partir de dados básicos da OIC, set.2000. 

Data de Publicação: 11/01/2001

Autor(es): Luiz Moricochi (moricochi@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor