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Café: A Expansão Das Exportações Em 2002
Tendência do mercado
Considerem as cotações médias mensais do café arábica no Brasil (BM&F e
preço recebido pelo produtor-PRSP) e em Nova Iorque (2ª posição e OIC – café
brasileiro) e do café robusta em Londres. As cotações nos últimos 16 meses, até
abril (19/04/2002), têm apresentado fortes flutuações diárias dentro de cada
mês. As médias mensais, contudo, após atingir os mais baixos níveis no final de
2001, vêm se recuperando lentamente, de tal forma que as médias observadas em
abril se assemelham àquelas observadas entre junho e julho de 2001 (figura 1).
Esta situação indica que as cotações já chegaram a um patamar de queda máximo,
devendo entrar em recuperação desse momento em diante.
Essa tendência de recuperação das cotações nas Bolsas e dos preços, porém, ainda
não está definida, pois a colheita da safra brasileira que se inicia em maio
poderá limitá-la, dado que se deverá constituir na maior safra desde 1987.
Portanto, se os produtores contarem de fato com recursos para retenção de parte
da produção e, assim, regularem o fluxo de produto da nova safra para o mercado,
os impactos na comercialização poderão ser amenizados, o que permitirá uma
manutenção das cotações médias observadas nos últimos meses.
janeiro de 2001 a 19 de abril de 2002
Fonte: Gazeta Mercantil e Instituto de Economia Agrícola
As exportações no primeiro trimestre de 2002.
As
exportações brasileiras de café (verde em grão e equivalente a solúvel)
alcançaram, no primeiro trimestre de 2002, cerca de 5,19 milhões de sacas
(estimativa preliminar). Assim, após atingir o menor nível no trimestre dos
últimos anos em 2000, voltaram a se recuperar, sendo inferior apenas às de 1999
(figura 2). O volume exportado no trimestre apresenta crescimento de 18% em
relação ao mesmo período de 2001. Mas o faturamento com as exportações no
trimestre continua caindo desde 1999. Neste ano, foram cerca de 22% menores que
as de 2001, atingindo US$ 262,15 milhões. A queda na receita com as exportações
deve-se a maior oferta do produto, especialmente de café conillon, tanto pelo
Vietnã como também do Brasil .
As exportações no primeiro trimestre do ano indicam que o país deverá vender entre 23 e 25 milhões de sacas em 2002, mantendo assim uma parcela de 23% das exportações mundiais de café. Ademais, estima-se que o país possa ampliar sua participação no mercado estadunidense depois de quase dois anos de contínua perda de market share.
no primeiro trimestre dos anos de 1999 a 2002
.
* dados preliminares
Fonte: Cecafé
Agregando valor às exportações
Nos
últimos meses, alertamos sobre as oportunidades existentes no mercado
internacional para a exportação de café torrado e moído. Tal recomendação não se
amparava unicamente nos preços praticados no varejo dos principais países
importadores (no caso estadunidense, algo como quatro vezes mais que o praticado
pelo seu similar no Brasil), mas também na necessidade de modernizar a atuação
do tradicionalíssimo ramo industrial da torrefação de café.
Dessa forma, deve ser comemorado o recente acordo firmado entre a trading Coimex e o Wal Mart para o fornecimento de café torrado e moído às lojas dessa rede de supermercados situadas nos Estados Unidos. A transação alcançou 350 mil sacas de café torrado e moído (infelizmente não foi informado o prazo de vigência do contrato). Esse montante, isoladamente, melhora substancialmente o ranking do Brasil no comércio internacional desse
produto, liderado pela Alemanha. Em 2001, o Brasil exportou cerca de 19 mil
sacas de torrado e moído. Espera-se que outras iniciativas desse gênero melhorem
ainda mais o desempenho do país na exportação de café com maior valor
adicionado.
Essa negociação também é importante do ponto de vista do mito que se criou em
torno da validade ou não da venda de marcas próprias. Para alguns analistas de
comércio exterior, as marcas próprias pertencem ao mercado de commodities e
portanto pouco agrega valor às exportações. A negociação entre a trading e o
grupo varejista mostra que, ao contrário das análises correntes, processar para
a comercialização, através da marca própria, agrega valor, sim. Também é um
caminho que merece ser explorado, quer pela sua capacidade de gerar empregos,
renda e tributos no país, quer pelas vantagens econômicas importantes para o
fornecedor.
Cuidado com análises sobre o robusta
Em 18/04/2002, o site do Coffee Business disponibilizou
artigo assinado por Robin Stainer intitulado: 'Robustas ganham mercado europeu'.
Não deixa de ser interessante conhecer o pensamento de analistas do mercado de
café situados nos países importadores. Algumas de suas análises, porém,
causam-nos estranheza e, em decorrência disso, passamos a comentá-las. Se, por
um lado, as inovações tecnológicas na indústria de torrefação e moagem foram, em
parte, responsáveis pela ampliação da participação do robusta nas misturas, por
outro, a vertiginosa queda de preços dessa origem tornou-a mais competitiva.
Quanto a esses argumentos não há o que se questionar. Entretanto, a afirmação de
que, na Itália, as misturas com robusta são necessárias, em função do preparo
tipo expresso; de que na Alemanha o aumento do robusta no blend decorre da
re-exportação para os países do antigo leste-europeu; e de que, nos países do
sul da Europa, se prefere o robusta, devido ao passado colonial na África,
causou-nos enorme surpresa. É preciso que fique claro que a utilização do
robusta nas misturas tem por objetivo primordial a vantagem financeira que essa
prática significa, sendo todos os demais argumentos meros equívocos.
Outra pérola do autor foi afirmar, citando Mick Wheeler, que a Europa caminha
para uma espécie de homogeneização do blend (independente da empresa
torrefadora) em seu território. Será que alguém acredita que a população turca
residente na Alemanha ou os argelinos residentes na França não são mercado
importante para o café de tipo rio e riado?
A homogenização do mercado contraria inúmeras análises econômicas que assinalam
a contínua e cada vez mais intensa segmentação do mercado de café em âmbito
mundial. Portanto, ainda que o segmento da torrefação avance no sentido da
concentração industrial, não acreditamos que chegará o dia em que o café servido
nos diversos lugares desse mundo onde a bebida é consumida se assemelhe ao
fenômeno MacDonalds ou algo parecido, ainda que nos Estados Unidos a Starbucks
pretenda concentrar-se nessa estratégia.
Data de Publicação: 25/04/2002
Autor(es):
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Luiz Moricochi (moricochi@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor