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Curso Regional Em Agricultura Ecológica: Conceituação
1 - ELEMENTOS INTEGRANTES DA NATUREZA O
Planeta Terra existe há bilhões de anos e inicialmente era formado por rochas e
água. A vida surgiu há 2 bilhões de anos. O homem apareceu há 35.000 mil anos e
começou a fazer agricultura a cerca de 10.000 anos. Desde
que a vida apareceu no nosso planeta, um processo evolutivo muito lento levou ao
aparecimento de milhares de espécies de seres vivos, cada uma muito bem adaptada
às condições do seu ambiente, interligadas umas às outras, em perfeito
equilíbrio e harmonia. Os seres humanos também viveram em equilíbrio com a
natureza por milhares de anos. Nos últimos séculos, entretanto, com o
desenvolvimento da ciência e da tecnologia, passamos a nos sentir donos de tudo
que a natureza oferece. Sem nenhuma preocupação com o seu funcionamento passamos
a explorar seus recursos naturais, espalhando a destruição e a poluição por toda
parte. Hoje já sabemos que somos apenas um fio na teia da VIDA e que tudo está
interligado. Qualquer alteração que provocarmos se refletirá no funcionamento
geral da natureza, muitas vezes de formas imprevisíveis. 2 - ELEMENTOS ESSENCIAIS À VIDA Todos
os seres vivos nascem, crescem, reproduzem, envelhecem e morrem. A morte é a
coisa mais certa da vida. Tudo que nasce um dia vai morrer mas, a VIDA está
sempre se renovando. 3 - OS CICLOS DA NATUREZA E O FLUXO DE ENERGIA
Na
natureza tudo está em movimento, em constante transformação e tudo funciona em
ciclos. O sol é a fonte de energia que mantém em funcionamento tanto a vida como
os ciclos.
Atualmente encontramos os seguintes elementos compondo a natureza:
Para que a vida aconteça é necessário que existam: ar, água, alimento, luz e
calor. O sol nos fornece luz e calor gratuitamente. As plantas são as produtoras
de alimento e elas precisam do solo para se desenvolverem. Portanto, ar, água e
solo são os recursos naturais renováveis essenciais à VIDA e nós precisamos
recuperá-los e conservá-los. Nós, seres humanos, temos ainda a vida moral e
precisamos cuidar do desenvolvimento das virtudes, principalmente do amor, pois
nós cuidamos daquilo que amamos. Nós temos três aspectos: o pensamento, o
sentimento e a ação, ou seja, o que pensamos, precisa passar pela aprovação do
que sentimos antes de se transformar em ação.
O fluxo de energia nos seres vivos acontece assim: as plantas absorvem a luz do
sol e produzem alimento para seu próprio desenvolvimento e para os animais que
se alimentam delas – os consumidores primários. Estes usam uma parte da energia
do alimento para seu próprio desenvolvimento e transferem outra parte para os
consumidores secundários e assim por diante, formando um fluxo de energia dentro
da cadeia alimentar representada no esquema ao lado:
É interessante observar que o número de indivíduos de cada população diminui a medida que a espécie se distancia da base da pirâmide alimentar, pois ela depende do nível inferior para sobreviver.
Vejamos agora o funcionamento de alguns ciclos:
- Ciclo do oxigênio e do gás carbônico – todos os seres vivos respiram vinte e quatro horas por dia e, nesse processo, ocorre a absorção de oxigênio do ar e a devolução de gás carbônico. O oxigênio nunca acaba porque as plantas, além da respiração, fazem também a fotossíntese, que é absorção do gás carbônico e devolução do oxigênio para o ar. É através da fotossíntese que as plantas produzem matéria orgânica, usando a luz do sol para juntar o gás carbônico que retiram do ar com os minerais e a água que retiram do sol. A matéria orgânica constitui o alimento para as próprias plantas e para os animais – são as vitaminas, proteínas, óleos, carboidratos, etc. O oxigênio e o gás carbônico nunca acabam porque estão sendo constantemente renovados na atmosfera através da respiração e da fotossíntese.
- Ciclo da água – o sol aquece a superfície do planeta e promove a evaporação da água líquida presente nos solos, rios, lagos e mares. As plantas e os animais também perdem água através da transpiração. O vapor esfria à medida que sobe na atmosfera até que ocorre a condensação e a formação das nuvens, com gotículas de água. As gotículas se juntam e formam gotas pesadas que caem sob a forma de chuva. A água da chuva pode seguir dois caminhos: penetrar no solo, permitindo o desenvolvimento das plantas e alimentando o lençol freático que por sua vez alimenta as nascentes, ou escorrer por cima do solo provocando erosão, enchentes e assoreamento dos rios e represas.
- Ciclo da matéria orgânica – as plantas produzem matéria orgânica e são consumidas como alimento pelos consumidores primários. Estes são alimentos para os consumidores secundários, e assim por diante na cadeia alimentar. Todos os seres vivos produzem resíduos sólidos e/ou líquidos enquanto vivem. Os organismos decompositores aproveitam a energia desses resíduos e dos seres mortos através da sua decomposição, devolvendo para o ambiente os minerais, a água e o gás carbônico, que novas plantas irão utilizar para fabricar mais matéria orgânica.
4 - CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE
Diz-se
que um processo ou atividade é sustentável quando tem a capacidade de se manter
através do tempo. Este é o conceito de sustentabilidade adotado pela agricultura
ecológica.
Pelo que acabamos de verificar, a natureza funciona em ciclos que garantem a
sustentabilidade de todos os processos necessários à manutenção da VIDA.
Apenas nos últimos séculos, o Homem passou a provocar alterações nos equilíbrios
desenvolvidos durante toda a evolução do planeta, colocando em risco a
sobrevivência de muitas espécies, inclusive sobrevivência da espécie humana.
5 - DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA QUÍMICA
Na
antigüidade, a fome existia em virtude da escassez de alimentos. A primeira
'Revolução Agrícola' aconteceu ao redor de 1800 e associou a criação de animais
à agricultura, trazendo um grande aumento da produção devido ao uso dos
excrementos dos animais para adubação das lavouras e a rotação de plantas
forrageiras com os campos cultivados. A segunda 'Revolução Agrícola' se iniciou
com a descoberta dos adubos químicos, em fins do século passado. Trouxe a ilusão
de que o problema da nutrição das plantas estava resolvido. As práticas do uso
dos estercos animais, da rotação e do pousio foram abandonadas. O
desenvolvimento da motomecanização e o melhoramento genético das sementes
propiciou a instalação de grandes monoculturas. Estas colaboraram para o
esgotamento dos solos e para a migração dos trabalhadores rurais para as cidades
resultando em sérios problemas sociais: desemprego, habitação, educação, saúde;
e problemas ambientais: abastecimento de água, saneamento, geração de lixo, etc.
A adubação com os macronutrientes - N, P, K - sem preocupação com a reposição de
matéria orgânica, logo mostrou problemas de deficiências de micronutrientes ao
mesmo tempo em que as pragas e doenças se tornaram mais sérias. Surgiram então
os agrotóxicos para controlá-las, acarretando um desequilíbrio ainda maior no
funcionamento da natureza, além de intoxicar os trabalhadores e contaminar os
alimentos, o solo e a água.
A segunda 'Revolução Agrícola', foi efetivamente introduzida nos países
subdesenvolvidos através do pacote tecnológico conhecido como 'Revolução Verde'.
Ocorreu no Brasil, principalmente, nas décadas de 60 e 70. Caracteriza-se pelo
uso intensivo de insumos químicos: adubos solúveis e agrotóxicos, sementes
melhoradas para responderem a esses insumos e alto grau de mecanização, em todas
as etapas da produção. Ela requer alto investimento de capital e alto uso de
energia.
A Revolução Verde trouxe um aumento expressivo na produção agrícola, mas aos
poucos ficaram evidentes os problemas que ela também trouxe consigo: compactação
dos solos, erosão, perda da fertilidade dos solos, perda da biodiversidade,
contaminação dos alimentos, intoxicações crônicas e agudas dos trabalhadores
rurais, contaminação dos solos e das águas por nitratos e agrotóxicos,
aparecimento de pragas resistentes aos agrotóxicos, aparecimento de novas
pragas, alimentos sem sabor e sem durabilidade.
Coloca-se então a pergunta: A agricultura química é sustentável?
6 - MOVIMENTOS CONTRÁRIOS
Surgiram muitos movimentos contrários à agricultura química, assim que os primeiros problemas começaram a aparecer. Os principais são:
Agricultura orgânica – se desenvolveu através dos
trabalhos de compostagem e adubação orgânica realizados por Howard na Índia,
entre 1925 e 1930, e foram divulgados por Lady Balfour na Inglaterra e Rodale
nos Estados Unidos. No Brasil, a Associação de Agricultura Orgânica foi criada
em 1989.
Agricultura biodinâmica - surgiu na Europa através das orientações do filósofo austríaco
Rudolf Steiner, por volta de 1924.
Agricultura natural – surgiu no Japão, com as
orientações do mestre Mokiti Okada, motivada pelo princípio da purificação do
espírito pela arte e do corpo pelo alimento.
7 - CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO HUMANA
Há 8
mil anos atrás a população do planeta era cerca de 5 milhões de habitantes. Em
1850 chegou a 1 bilhão e, desde então, vem crescendo muito rapidamente: 2
bilhões em 1930, 3,5 bilhões em 1975 sendo que, atualmente, está ao redor de 5,5
bilhões de habitantes.
Os seres humanos não possuem predadores e com o controle das doenças as pessoas
estão vivendo mais tempo. A guerra, a violência gerada pelas desigualdades
sociais, os desastres naturais e os acidentes em geral são os fatores que
atualmente provocam a morte prematura, antes do envelhecimento natural.
O grande desafio da época atual é como promover o desenvolvimento sustentado
para uma população crescente, o que implica em aumento da produção de alimentos
sem destruir os recursos naturais que permitem a manutenção das condições de
VIDA no nosso Planeta Terra.
8 - ECOLOGIA E AGROECOLOGIA
Como
já foi visto, para cada condição de solo e clima se desenvolveu um grupo de
organismos vivos que estão harmoniosamente adaptados e interligados através de
vários processos – são os ecossistemas. Ecologia é a ciência que estuda o
funcionamento desses sistemas. São exemplos de ecossistemas naturais
brasileiros: a Mata Atlântica, a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga.
Agroecologia nada mais é do que o estudo dos sistemas de produção de alimentos,
buscando inserir no processo produtivo os processos que ocorrem naturalmente nos
ecossistemas locais. É como remar a favor da correnteza, deixando a natureza
agir e trabalhar para nós. Para isso, precisamos entender os processos que
acontecem nos ecossistemas.
9 - AMBIENTES NATURAIS OU EM POUSIO
Quando
uma terra está esgotada, cansada, nem responde mais à adubação, nós podemos
deixá-la em pousio para que a natureza promova sua recuperação.
Vamos verificar o que acontece. Inicialmente se instalam as plantas
colonizadoras que estabelecem uma cobertura viva sobre o solo. São muitas
espécies diferentes. Cada uma com um tipo de sistema radicular que lhes permite
explorar os nutrientes do solo de formas diferentes. A cobertura do solo oferece
proteção para o impacto das gotas de chuva que poderiam provocar a desagregação
e o conseqüente arrastamento das partículas do solo pelas enxurradas. Ela evita,
portanto, a erosão e o assoreamento dos rios e represas. Aos poucos o solo vai
ficando recoberto com matéria orgânica morta, vão aparecendo arbustos e árvores
pioneiras com sistemas radiculares mais profundos que bombeiam os nutrientes
lixiviados novamente para a superfície. O solo protegido dos raios diretos do
sol mantém a temperatura mais constante e conserva a umidade. Estas condições
são favoráveis ao desenvolvimento de intensa atividade biológica que resulta na
liberação de macro e micronutrientes, na formação de húmus e na estruturação do
solo. Ao atingir este estágio o solo terá novamente recuperado a fertilidade
através dos processos naturais que foram restabelecidos.
10 - O SOLO COMO UM SISTEMA VIVO
É
importante entender o solo em seus três aspectos: físico, químico e biológico,
para que possamos manejá-lo de forma que ele possa oferecer tudo que as plantas
necessitam para um bom desenvolvimento: ar, água, nutrientes, nas quantidades e
nas épocas certas.
Os solos se formaram a partir de rochas que sofreram a ação da temperatura, da
chuva, dos ventos, e se dividiram em partes menores. O desenvolvimento de
microorganismos e plantas inferiores – bactérias, fungos, algas, liquens, musgos
e samambaias, promoveram outros desdobramentos, tanto em relação ao tamanho como
em relação à composição química. As plantas superiores começaram a se instalar
assim que se formou uma fina camada de solo – inicialmente as ervas, depois os
arbustos, as arvoretas, até as árvores de grande porte. Esse processo levou
milhares de anos e as transformações continuam acontecendo.
Nas condições tropicais e subtropicais, dependendo também do relevo, as
transformações da rocha mãe ocorreram até a profundidade superiores a um metro,
resultando em solos profundos.
Estudando um solo já formado nós encontramos quatro componentes: água, ar,
minerais e matéria orgânica, em diferentes proporções.
A parte mineral do solo pode ser de três tipos: areia – partículas mais
grosseiras; silte – partículas intermediárias; e argila – partículas mais finas,
com carga elétrica negativa, que atraem os nutrientes com carga elétrica
positiva como o cálcio, potássio, sódio, etc. Os espaços entre as partículas
minerais podem ser ocupados por ar ou água. Um solo com menos de 20% de argila é
considerado arenoso; entre 20% e 40% é areno-argiloso e com mais de 40% de
argila é argiloso. Estes são os tipos de textura do solo que nós não podemos
modificar.
A textura de um solo nos
revela muitas coisas sobre suas propriedades físicas e químicas.
- As propriedades físicas dizem respeito à capacidade de absorver e reter água, de circular o ar e à facilidade que oferece para a penetração das raízes das plantas.
- As propriedades químicas dizem respeito à capacidade de reter e fornecer nutrientes para as raízes e possibilitar reações químicas entre os seus componentes.
Vejamos como funcionam os dois tipos extremos de textura:
- solos arenosos – são leves, soltos. A água, o ar e as raízes penetram com facilidade, porém, a água se movimenta muito rapidamente, tanto para as camadas mais profundas, até atingir o lençol freático, como para cima, evaporando para o ar. Como a areia não tem a capacidade da argila de segurar os nutrientes, estes são levados para as camadas mais profundas, resultando em solos pobres em nutrientes nas camadas superiores.
- solos argilosos – são mais pesados. A água e o ar circulam com dificuldade e oferecem maior resistência para a penetração das raízes. Como a argila é capaz de armazenar nutrientes, são solos mais ricos nas camadas superiores.
Vale
aqui uma observação: o tipo de argila que se forma nas condições de clima
tropical e subtropical tem uma capacidade bem menor de reter nutrientes quando
comparada com a argila que se forma em clima temperado. Isto quer dizer que os
nossos solos são mais pobres que os solos das regiões temperadas mas, em
compensação, são mais profundos e oferecem um volume muito maior para as raízes
explorarem, desde que não haja nenhum impedimento para seu desenvolvimento. Este
impedimento ocorre quando há formação de camadas adensadas, freqüentes em solos
altamente mecanizados, o famoso 'pé-de-arado'.
Como já foi visto, não podemos modificar a textura de um solo. Existe,
entretanto, um outro fator muito mais importante para a fertilidade que é a
estrutura do solo, e esta nós podemos construir, manter ou destruir.
Um solo é estruturado quando as partículas de areia, silte e argila se ligam
formando blocos maiores, os grumos ou agregados. Estes deixam entre si espaços
maiores, os macroporos, que são de imensa importância para a circulação do ar e
da água.
Os grumos se formam pela ação cimentante de várias substâncias entre as quais
destacamos o húmus que é um dos produtos da decomposição da matéria orgânica.
A matéria orgânica presente nos solos é formada por restos de animais e vegetais
em diferentes fases de decomposição. Esta é realizada pelos organismos
decompositores: micro e mesovida do solo. São fungos, bactérias, minhocas,
cupins, etc. A matéria orgânica morta é, portanto, o alimento da vida do solo.
Como ela está em constante decomposição nós precisamos também repô-la com
freqüência.
Durante a decomposição são liberados nutrientes, água e gás carbônico e são
formadas outras substâncias orgânicas entre as quais o húmus, que além de
funcionar como cimento na formação dos agregados de areia – silte – argila, tem
também a mesma capacidade da argila de atrair e reter nutrientes, só que em grau
muito mais elevado.
Percebemos assim que o húmus melhora não apenas as propriedades físicas do solo
através da sua estruturação, mas também as suas propriedades químicas, tanto nos
solos arenosos como nos argilosos. Nas condições de clima tropical e
subtropical, entretanto, o húmus não é estável. Ele não se acumula, como nos
solos de clima temperado mas, pelo contrário, continua sendo decomposto em
nutrientes: água e gás carbônico, através da atividade das bactérias do solo, o
que leva à perda da estrutura dos agregados e ao comprometimento da fertilidade,
diretamente ligada à essa estrutura.
As plantas cultivadas em solos adubados com matéria orgânica são mais
resistentes às pragas e às doenças por dois motivos principais:
- estão nutricionalmente equilibradas porque recebem todos os nutrientes que necessitam na medida certa;
- a atividade biológica produz diversas outras substâncias, inclusive antibióticos, que protegem as plantas dos microorganismos que causam doenças.
Por
tudo que acabamos de ver, podemos concluir que a baixa fertilidade dos solos
tropicais é compensada pela sua maior profundidade e que eles podem sustentar
boas colheitas desde que a estrutura grumosa seja mantida. Para que isso
aconteça, é essencial a reposição constante de matéria orgânica morta para
alimentar a atividade biológica que produz húmus, o que pode ser feito de várias
formas entre as quais, adubação verde e adição de composto.
A agricultura em clima tropical é muito diferente da agricultura em clima
temperado e, portanto, não podemos simplesmente importar as tecnologias usadas
nesses climas, sem nenhuma adaptação.
Precisamos adequar e desenvolver tecnologias para as nossas condições, que não
acelerem ainda mais a decomposição da matéria orgânica dos nossos solos, nem
eliminem a proteção que a cobertura vegetal fornece a eles contra os raios
quentes do sol e o impacto das chuvas.
11 - BIODIVERSIDADE - PRAGAS E DOENÇAS
Biodiversidade nada mais é do que a manifestação da vida sob diferentes formas.
Ao estudarmos a maioria dos ecossistemas naturais brasileiros, nós podemos
observar a grande quantidade de espécies vegetais e animais que os integram, o
que significa uma alta biodiversidade nesses sistemas.
Um dos princípios da Ecologia é que a estabilidade de um sistema, isto é, a sua
capacidade de recuperação quando exposto à alguma alteração, está diretamente
ligada à biodiversidade. Isto porque muitos seres executam as mesmas funções e
substituem uns aos outros no funcionamento geral do sistema. As populações das
diversas espécies controlam umas às outras, sem que nenhuma delas possa se
desenvolver demasiadamente.
No momento em que introduzimos uma monocultura em larga escala, nós oferecemos
uma grande quantidade de alimento para uma determinada espécie cuja população
aumenta rapidamente, e ela se transforma em praga. Seus inimigos naturais
demorarão um pouco mais para aumentarem sua população e poderem controlá-la.
Nesse meio tempo entram os agrotóxicos causando um desequilíbrio ainda maior e
provocando o aparecimento de indivíduos resistentes ao agrotóxico usado. Está
armada a confusão. A adubação com N-P-K solúveis provoca desequilíbrios no solo
e deficiências de micronutrientes, as plantas com nutrição desequilibrada são
mais sensíveis às pragas e às doenças e o uso de agrotóxicos se torna cada vez
mais intenso, com aplicações mais constantes e venenos mais potentes. O cultivo
da gleba com a mesma cultura por anos seguidos só agravará a situação.
Para reverter esse quadro é imprescindível montar sistemas de produção que
promovam a biodiversidade tanto das plantas como dos animais, tanto acima como
abaixo do solo.
Isso pode ser conseguido através de programas de rotação de cultura, de cultivos
consorciados, de cultivo em faixas, em aleias, incluindo espécies de
leguminosas, como adubo verde ou não, pois elas são capazes de fixar o
nitrogênio da atmosfera e prover as necessidades desse nutriente nas quantidades
adequadas.
Estamos buscando alcançar uma situação de equilíbrio, onde as pragas e doenças
não serão exterminadas e sim mantidas em níveis que causem danos econômicos
aceitáveis. Isto é obtido com a ajuda dos defensivos alternativos, que serão
estudados em um dos módulos seguintes.
12 - TRABALHO – CAPITAL E ENERGIA
A
instalação das grandes monoculturas mecanizadas envolve o uso intensivo de
capital e energia, sob a forma de máquinas, sementes melhoradas, adubos químicos
e agrotóxicos, ao mesmo tempo em que diminuem drasticamente a necessidade de
mão-de-obra e a biodiversidade.
Os pequenos e médios produtores que desejem produzir de acordo com as leis da
natureza irão usar muito mais mão-de-obra e muito menos capital e energia.
Para que alcancem resultados financeiros positivos com a produção agrícola, é de
suma importância que estes produtores se organizem e busquem assessoria para
produção, certificação, processamento e comercialização.
Data de Publicação: 16/11/1999
Autor(es): Escolástica Ramos de Freitas Consulte outros textos deste autor