Defensivos agrícolas: mercado em baixa

            Entre janeiro e setembro de 1999, as vendas totais de defensivos agrícolas no Brasil somaram US$1,44 bilhão contra US$1,72 bilhão no mesmo período do ano anterior, representando decréscimo de 16% no faturamento do setor, de acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Defensivos Agrícolas (SINDAG) (Tabela 1). Esse resultado decorre de diversos fatores, tais como: a) substancial aumento nos preços pagos pelos agricultores por esses insumos, diante da desvalorização cambial, dada a forte dependência do setor de importação dos ingredientes ativos; b) declínio dos preços das principais commodities; c) dificuldade das indústrias em relação à oferta de crédito e d) os produtores adiaram as compras desse insumo para mais perto do plantio das culturas de verão.
 

Tabela 1 - Vendas de Defensivos Agrícolas, em Valor, por Classe, Brasil,
Janeiro a Setembro de 1998 e Janeiro a Setembro de 1999
(em US$1.000)

Classe
Jan.-set./98
(a)
Jan.-set./99
(b)
Variação (%)
(b)/(a)
Herbicidas
913.579
696.563
-23,8
Fungicidas
307.445
284.355
-7,5
Inseticidas
374.008
366.080
-2,1
Acaricidas
73.876
55.952
-24,3
Outros1
48.797
39.669
-18,7
Total
1.717.705
1.442.619
-16,0

1Englobam antibrotantes, reguladores de crescimento, óleo mineral e espalhantes adesivos.
Fonte: Sindicato Nacional da Indústria de Defensivos Agrícolas (SINDAG).

            Todos os segmentos que compõem o setor obtiveram resultados econômicos abaixo do observado no mesmo período em 1998, como, por exemplo, os herbicidas que responderam por 48,3% das vendas totais (decrescendo 24% no referido período), totalizando US$697 milhões até setembro de 1999, com vendas concentradas principalmente para soja, cana-de-açúcar e milho.
            As vendas de fungicidas apresentaram declínio de 7,5%, diminuindo de US$307 milhões para US$284 milhões. As principais culturas que demandaram esse produto foram: café, batata, tomate, hortifruti e cereais de inverno.
            Os negócios com inseticidas, que representaram 25,4% das vendas totais, acusaram menor retração, apenas 2,1% (US$374 milhões para US$366 milhões). No segmento 'outros' (antibrotantes, reguladores de crescimento, espalhantes adesivos e óleo mineral), as vendas registraram decréscimo de 19% .
            A maior queda nas transações ocorreu no segmento dos acaricidas (24,3%), que movimentou US$55,9 milhões até setembro de 1999. A concentração das vendas desse produto para a citricultura (em 1998 representou 90,0% e faturamento de US$95 milhões) é a causa dessa redução, uma vez que as cotações internacionais do suco de laranja e da fruta in natura são as mais baixas da década.
            O desempenho comercial da indústria brasileira de defensivos tem alta correlação com pequeno número de culturas sendo que, em 1998, cerca de 64% das vendas do setor concentraram-se em apenas cinco culturas: soja (35%), cana-de-açúcar (8,2%), café (7,4%), milho (7,2%) e citrus (6,4%). Considerando-se as vendas para o tratamento de sementes de soja e milho, a participação desse conjunto de culturas passa para 66% do total dos defensivos comercializados.
            Entre agosto de 1998 e agosto de 1999, os preços médios de vinte defensivos agrícolas pagos pelos agricultores na cidade de São Paulo, levantados pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), sofreram aumentos nominais de 44% em média, representando incremento de 28% em termos reais (corrigidos).
            Em anos anteriores as aquisições de defensivos pelos produtores eram financiadas, em parte pela indústria através de contratos indexados à variação cambial com vencimento por ocasião da colheita. Essa modalidade de crédito somou em 1998 empréstimos da ordem de US$1,7 bilhão. Devido a problemas de solvência dos produtores, cerca de 20% a 25% dos empréstimos não foram ainda quitados motivando as indústrias a serem mais seletivas na concessão de novos financiamentos, implementando política de redução da oferta de recursos, encurtamento dos prazos e exigência de maiores garantias. Outros mecanismos de financiamento alternativos estão sendo empregados, como trocas de produto e a venda vinculada ao firmamento de posição nas bolsas de futuros.
            A previsão de vendas do setor de defensivos agrícolas para 1999 é de diminuição do faturamento do setor entre 8% e 10% frente a 1998 quando atingiu US$2,6 bilhões, sendo essa queda inferior àquela inicialmente estimada em 15%. Essa revisão para cima é reflexo da sinalização de recuperação de preços no mercado de soja. Previsão de safra realizada pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) aponta incremento de 1,7% na área de soja na safra 1999/2000, como ainda há expectativa de que os preços de milho permaneçam elevados. No mercado de herbicidas é esperada maior retração do consumo do que aquela assinalada em função da estratégia dos produtores de substituí-lo pela mecanização agrícola e pelo uso intensivo do trabalho manual (a não ser em casos em que o mercado de trabalho rural estiver sem disponibilidade). Finalmente, na cultura do algodão existe previsão de aumento nas vendas de defensivos agrícolas para a próxima safra, pois a estimativa da CONAB prevê crescimento da área plantada entre 8% e 14%.

Data de Publicação: 12/11/1999

Autor(es): Célia Regina Roncato Penteado Tavares Ferreira Consulte outros textos deste autor