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Feijão: Muita Incerteza E Insatisfação
Os
preços médios diários recebidos pelos produtores paulistas, em novembro,
apresentaram-se decrescentes, iniciando-se com R$40,00 a saca de 60kg (em
01/11/00) e terminando em R$38,00 (em 30/11/00). Entre os dias 21 e 27 o preço
recebido subiu para R$42,00 a saca no Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR)
de Avaré. Os preços modais de feijão carioquinha Tipo 1 no atacado da cidade de
São Paulo variaram de R$43,00 a R$48,00 a saca de 60kg, apresentando a margem de
comercialização em relação aos preços recebidos pelos produtores de R$4,00 a
R$10,00 por saca (Figura 1).
Fonte: Instituto de Economia Agrícola.
Em maio deste ano, o preço médio ultrapassou a barreira de R$40,00 a saca, atingindo o pico de R$53,59 em agosto, em parte devido às geadas ocorridas em julho e agosto. O pico foi seguido pelo movimento descendente nos preços recebidos pelos produtores, com pequenas oscilações diárias. Pode-se dizer que a crise do mercado de feijão em 2000 só é comparável à de 1997, com a diferença de que naquele ano ela foi pior no segundo semestre e neste ano, foi pior no primeiro (Figura 2).
Figura 2 - Preços1 Médios Mensais Recebidos pelos Produtores de Feijão no Estado de São Paulo, 1996-2000.
1Em R$ de out./2000.
Fonte: Instituto de Economia Agrícola.
Ao
analisar a produção e consumo dos últimos sete anos, constata-se que o ano
agrícola 1996/97 foi o último em que houve consumo acima de 3 milhões de
toneladas e 1994/95 foi o último ano em que houve produção nacional acima de 3
milhões de toneladas, até repetir o fato em 1999/00. O mercado de feijão no
Brasil, tudo indica, não comporta mais produção anual acima de 3 milhões de
toneladas, pois o consumo está abaixo desse patamar. Com o estoque regulador
anual variando de 100 a 350 mil toneladas e a importação anual variando de 90 a
190 mil toneladas nos últimos anos, qualquer grão produzido acima dos 3 milhões
de toneladas anuais é 'a gota que transborda'.
A elasticidade-renda do consumo de feijão, medida tanto em termos de despesas
com o produto como em termos de consumo físico, estimada para metrópoles
brasileiras apresenta sinal negativo, isto é, para um determinado aumento de
renda ocorre diminuição no consumo de feijão, em ambas as formas consideradas,
quando não se leva em conta os estratos de renda familiar. Por sua vez, um grupo
intermediário, nem muito pobre nem muito rico, apresentou elasticidade-renda
positiva para o consumo de feijão, ou seja, verifica-se aumento do consumo de
feijão concomitantemente ao aumento da renda. Mas no cômputo geral os
brasileiros diminuem o consumo de feijão quando aumenta a renda familiar.
Disso tudo, conclui-se que a produção total de feijão de 3,07 milhões de
toneladas, em 1999/2000, esteve acima da quantidade demandada pelos
consumidores, com reflexo nos preços de mercado. Neste ano, só a Bahia produziu
313 mil toneladas na primeira safra e 214 mil toneladas na segunda, totalizando
527 mil toneladas, ou seja, um quarto da produção anual nacional. Num mercado de
elasticidade-renda negativa, qualquer produção acima do nível de consumo, causa
queda nos preços.
A oferta de feijão por origem em novembro, na zona cerealista de São Paulo,
segundo Bolsinha Informs, restringiu-se a 80% oriundos de São Paulo e 20% do
Paraná, em 09/11/00, e de 85,2% originários de São Paulo e 14,8% do Paraná, em
31/11/00.
Em dezembro, aguarda-se mudança no comportamento do mercado de feijão, com a
entrada do produto novo, pois em agosto, setembro e parte de novembro, o consumo
de feijão baseou-se em grande parte na produção de feijão da seca (cerca de 1,4
milhão de toneladas).
Data de Publicação: 14/12/2000
Autor(es):
Ikuyo Kiyuna Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor