Artigos
Feijão: Ano Difícil Para Os Produtores Em 2000 E Expectativa Das Safras Futuras
Os
produtores de feijão do Estado de São Paulo passaram por momentos difíceis em
2000, sobretudo no primeiro semestre. O atraso de dois meses no plantio de
feijão das águas, safra 1999/2000, devido à estiagem ocorrida em agosto,
setembro e primeira quinzena de outubro de 1999, atrasou a colheita para janeiro
a março, já que é normalmente realizada entre novembro e janeiro.
Historicamente, os preços médios recebidos pelos produtores paulistas em
janeiro, fevereiro e março giram em torno de R$48,00 por saca de 60 quilos (em
valores reais de novembro de 2000). Em 2000, os preços médios recebidos pelos
produtores, em valores correntes, despencaram para R$35,93 (janeiro), R$26,65
(fevereiro), R$28,12 (março) e R$30,16 (abril), acarretando desempenho econômico
desastroso para os produtores, quando comparados com o preço mínimo de garantia
governamental de R$28,00 a saca.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a produção nacional de
feijão em 1999/00 foi de 3,08 milhões de toneladas, contra 2,89 milhões de
toneladas em 1998/99, com aumento de 6,3%. A produção da safra das águas 1999/00
foi de 1,41 milhão de toneladas (com aumento de 13,3% em relação ao ano
anterior), seguida pela safra da seca de 1,43 milhão de toneladas (com aumento
de 6,0% em relação ao ano anterior), totalizando 2,85 milhões de toneladas nas
duas safras. Esse montante já é bem próximo do consumo nacional, de 2,95 milhões
de toneladas, estimado pela CONAB para 1999/00. Apesar da queda na produção de
feijão de inverno (terceira safra), em 1999/00, de 22% em relação ao ano
anterior, parte da produção de 230 mil toneladas excedeu à demanda nacional do
produto nesse ano agrícola.
Os preços reagiram a partir de maio, atingindo R$38,23 a saca em valores
correntes, ou R$40,76 a saca em valores reais de novembro de 2000. A geada
ocorrida em julho elevou ainda mais os preços recebidos pelos produtores, para
R$47,96 a saca em julho e R$54,21 em agosto; de setembro a novembro, os preços
pagos aos produtores paulistas decresceram para R$50,99, R$45,89 e R$39,10 a
saca, em valores reais de novembro de 2000, respectivamente. Em dezembro,
finalmente, o preço recebido pelos produtores reagiu para R$42,89 a saca (Figura
1).
O consumo nacional de feijão, estimado pela CONAB, aumentou de 2,50 milhões de
toneladas em 1997/98 para 2,95 milhões de toneladas em 1998/99. Desde então e
até 2000/01 o consumo está mantido nesse nível. Em 1996/97, o consumo foi de 3,2
milhões de toneladas, sendo a última vez a ultrapassar a barreira de 3 milhões.
A produção nacional estimada pela CONAB no período de 1997/98 a 2000/01 é
respectivamente de 2,20, 2,89, 3,08 e 2,85 milhões de toneladas. A produção de
3,08 milhões de toneladas em 1999/00 excedeu a demanda anual de 2,95 milhões de
toneladas.
A elasticidade-renda do consumo de feijão, medida tanto em termos de despesas
com o produto como em termos de consumo físico, estimada por Hoffmann para
grandes metrópoles brasileiras, apresenta sinal negativo, isto é, para um
determinado aumento percentual de renda ocorre diminuição percentual no consumo
de feijão, em ambas as medições consideradas, quando não se considera estrato de
renda familiar. Um grupo intermediário, nem de muito pobres nem de muito ricos,
apresentou elasticidade-renda de feijão positiva, ou seja, verifica-se aumento
do consumo de feijão concomitantemente ao aumento da renda. Mas, no cômputo
geral, há diminuição de consumo de feijão quando aumenta a renda familiar.
O fato a destacar-se é que a produção total de feijão de 3,08 milhões de
toneladas, em 1999/2000, esteve acima da quantidade demandada pelos
consumidores, com reflexos nos preços de mercado. Neste ano, só a Bahia produziu
313 mil toneladas na primeira safra e 214 mil toneladas na segunda, totalizando
527 mil toneladas, ou seja, 17% da produção anual nacional. Em produto com
elasticidade-renda negativa, qualquer produção acima do nível de consumo causa
queda nos preços.
Os consumidores paulistas consumiram o feijão produzido no próprio Estado e
também os produtos provenientes dos Estados do Paraná, Goiás, Minas Gerais,
Bahia, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Pernambuco, indicando um
leque de opções para complementar o consumo paulista de cerca de 600 mil
toneladas.
Os preços desfavoráveis de feijão neste último ano afetaram o ânimo dos
produtores na época de plantio da safra das águas 2000/01, de norte a sul do
País. A estimativa da CONAB é de quedas, tanto na área plantada (-20%) como de
produção (-6%). A produção paulista de feijão, estimada pela CONAB para 2000/01,
é de 84,0 mil toneladas, 3% menor que a da última safra de 86,6 mil toneladas.
Devido às mudanças imprevisíveis que sempre ocorrem, fazer prognóstico é sempre
um exercício sujeito a grande margem de erro. Mesmo assim, para as próximas
safras de 2000/01, pode-se esperar um mercado melhor que o do ano passado,
considerando a produção nacional estimada de 2,85 milhões de toneladas, abaixo
do nível fatídico de 3,0 milhões de toneladas. Os preços médios diários
recebidos pelos produtores de feijão nos Escritórios de Desenvolvimento Rural
(EDRs) de Avaré, Barretos, Itapeva e de Presidente Prudente, nos primeiros dias
de janeiro de 2001, foram de R$50,00 a saca de 60 quilos, indicando que o
produto está sendo valorizado.
Data de Publicação: 12/01/2001
Autor(es): Ikuyo Kiyuna Consulte outros textos deste autor