Safra 1999/2000: preços mínimos não refletem aumento nos custos *

            Os novos preços mínimos de garantia para a safra 1999/2000 são bastante tímidos, não refletindo a mudança no patamar dos preços relativos provocada pela desvalorização do real frente ao dólar. Na definição da nova política de preços mínimos, diante da crise fiscal, o governo não quis correr riscos porque um excesso de oferta de grãos na próxima safra implicaria em desembolso maior de recursos do Tesouro.
            Uma reflexão dos técnicos do IEA sobre o Plano Agrícola indica que a meta de 90 milhões de toneladas de grãos na próxima safra pode não ser atingida. A incorporação de novas áreas e o incremento na produtividade deverão ser limitados pelo aumento nos custos dos insumos (principalmente fertilizantes e corretivos) decorrentes da mudança cambial. Para agravar a situação, o setor agrícola já está sofrendo as consequências da indexação das tarifas públicas, como as de combustíveis, energia elétrica e telefonia, assim como os pedágios.
            A possibilidade, porém, de confirmação das previsões de supersafra passa a ser preocupante, uma vez que provavelmente não haveria demanda suficiente para absorver o volume produzido, o que poderia agravar as condições financeiras do setor agrícola. As commodities internacionais estão enfrentando grande ciclo de baixa, a exemplo da soja (os menores preços dos últimos 30 anos), e a estagnação de mercados importantes.
            Dessa maneira, a política de preços mínimos, ao nosso ver, deveria ser direcionada para estimular setores competitivos como o algodão, com vistas a substituir importações, e o milho, para a recomposição de estoques e o uso na alimentação animal, devido ao potencial do País na exportação de aves e suínos. No caso do feijão e do arroz, os preços mínimos deveriam sinalizar para uma produção que assegurasse o abastecimento interno.
            Nesse contexto, mesmo que o governo venha a liberar na prática em torno de R$ 9 bilhões, acreditamos que o montante de R$ 11 bilhões para custeio e comercialização, a juros de 8,75% ao ano, seria suficiente para as necessidades do setor. Em termos reais, a taxa de juros estará mais favorável com a inflação de até 8% (meta do Banco Central) do que quando era de 2% ao ano.
            Entre os pontos positivos do Plano Agrícola 1999/2000, destacamos o impulso que se pretende dar à agricultura familiar, tanto do ponto de vista econômico quanto do social. A fusão do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) com o Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária (Procera), com a destinação de R$ 3,46 bilhões, a juros anuais de 5,75% para esse segmento, foi considerada um avanço.
            Outras propostas que poderiam contribuir para o desenvolvimento da agricultura são: o aumento da capilaridade na distribuição dos recursos destinados ao setor, com a incorporação das cooperativas de crédito agrícola do Bancoob e Bansicred; e o pró-leite destinado a modernizar a pecuária leiteira. 
  

* Este texto é resultado de discussões que tiveram a participação dos pesquisadores Antonio Ambrosio Amaro, Alfredo Tsunechiro, Luiz Moricochi e Nelson Batista Martin.

Data de Publicação: 03/07/2000

Autor(es): Alceu De Arruda Veiga Filho Consulte outros textos deste autor