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Safra 1999/2000: preços mínimos não refletem aumento nos custos *
Os
novos preços mínimos de garantia para a safra 1999/2000 são bastante tímidos,
não refletindo a mudança no patamar dos preços relativos provocada pela
desvalorização do real frente ao dólar. Na definição da nova política de preços
mínimos, diante da crise fiscal, o governo não quis correr riscos porque um
excesso de oferta de grãos na próxima safra implicaria em desembolso maior de
recursos do Tesouro. * Este texto é resultado de
discussões que tiveram a participação dos pesquisadores Antonio Ambrosio Amaro,
Alfredo Tsunechiro, Luiz Moricochi e Nelson Batista Martin.
Uma reflexão dos técnicos do IEA sobre o Plano Agrícola indica que a meta de 90
milhões de toneladas de grãos na próxima safra pode não ser atingida. A
incorporação de novas áreas e o incremento na produtividade deverão ser
limitados pelo aumento nos custos dos insumos (principalmente fertilizantes e
corretivos) decorrentes da mudança cambial. Para agravar a situação, o setor
agrícola já está sofrendo as consequências da indexação das tarifas públicas,
como as de combustíveis, energia elétrica e telefonia, assim como os pedágios.
A possibilidade, porém, de confirmação das previsões de supersafra passa a ser
preocupante, uma vez que provavelmente não haveria demanda suficiente para
absorver o volume produzido, o que poderia agravar as condições financeiras do
setor agrícola. As commodities internacionais estão enfrentando grande ciclo de
baixa, a exemplo da soja (os menores preços dos últimos 30 anos), e a estagnação
de mercados importantes.
Dessa maneira, a política de preços mínimos, ao nosso ver, deveria ser
direcionada para estimular setores competitivos como o algodão, com vistas a
substituir importações, e o milho, para a recomposição de estoques e o uso na
alimentação animal, devido ao potencial do País na exportação de aves e suínos.
No caso do feijão e do arroz, os preços mínimos deveriam sinalizar para uma
produção que assegurasse o abastecimento interno.
Nesse contexto, mesmo que o governo venha a liberar na prática em torno de R$ 9
bilhões, acreditamos que o montante de R$ 11 bilhões para custeio e
comercialização, a juros de 8,75% ao ano, seria suficiente para as necessidades
do setor. Em termos reais, a taxa de juros estará mais favorável com a inflação
de até 8% (meta do Banco Central) do que quando era de 2% ao ano.
Entre os pontos positivos do Plano Agrícola 1999/2000, destacamos o impulso que
se pretende dar à agricultura familiar, tanto do ponto de vista econômico quanto
do social. A fusão do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar (Pronaf) com o Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária
(Procera), com a destinação de R$ 3,46 bilhões, a juros anuais de 5,75% para
esse segmento, foi considerada um avanço.
Outras propostas que poderiam contribuir para o desenvolvimento da agricultura
são: o aumento da capilaridade na distribuição dos recursos destinados ao setor,
com a incorporação das cooperativas de crédito agrícola do Bancoob e Bansicred;
e o pró-leite destinado a modernizar a pecuária leiteira.
Data de Publicação: 03/07/2000
Autor(es): Alceu De Arruda Veiga Filho Consulte outros textos deste autor