As Pombas Podem Trazer Prejuízos Ao Agronegócio?

            Nos anos 1970, a paisagem do Médio Vale do Paranapanema mudou em virtude da introdução das culturas de soja e trigo em grande escala na região . Na década seguinte, época marcada pelos incentivos ao PROÁLCOOL, a área dedicada à cultura da cana-de-açúcar também aumentou sensivelmente.
            Estas profundas alterações no agro-ecossistema da região favoreceram o aumento explosivo na população de Zenaida auriculata, uma ave localmente conhecida como pomba amargosa ou simplesmente amargosinha. A maior quantidade destas aves redundou na presença de enormes bandos, que se alimentam de culturas, como soja, milho, arroz e trigo, que são, do ponto de vista econômico, as mais importantes da região. As queixas dos agricultores abrangeram ainda as culturas de sorgo e de girassol.
            É difícil estimar de forma confiável as perdas nas colheitas diretamente causadas pela pomba. Medidas pontuais indicam que estes danos podem atingir até mais de 30% das plântulas de soja, um prejuízo comparável ao causado por outras pragas de importância econômica combatidas com aspersão de venenos.
            É evidente que, nos primeiros momentos, cresceu o sentimento de revolta com a ave, na medida em que os agricultores e os técnicos observavam o ataque das pombas, que se alimentavam vorazmente das plântulas de soja, e anteviam os prejuízos econômicos. Daí surgiram várias idéias, tais como iscas envenenadas, envenenamento geral e aplicação de inseticidas. Até a caça com arma de fogo foi cogitada.
            A caça com uso da arma de fogo é proibida por lei federal, medida esta que é reforçada pela Constituição do Estado de São Paulo. As várias formas de envenenamento poluem a água dos rios, córregos e dos lençóis freáticos, nos quais os animais bebem, e, portanto, há o risco de danos aos elos da cadeia alimentar dos animais silvestres e domésticos, com gravíssimos prejuízos ao meio ambiente e à população urbana.
            Os produtores rurais clamavam, porém, uma solução rápida para os prejuízos econômicos. Por outro lado, havia a necessidade premente de conscientização a fim de que não se comprometesse o meio ambiente e a população com a adoção de medidas precipitadas.
            Assim, os produtores rurais e as entidades ligadas ao setor, como a Coopermota e o CDVale, começaram a estudar as várias formas de afugentamento. A primeira, que surgiu entre os produtores, consistia de pessoas andarem batendo latas vazias de 20 litros, de maneira a fazer barulho o mais próximo possível dos bandos das pombas, a fim de reduzir os danos causados por elas. Posteriormente, surgiram as idéias de soltar rojões e de andar de motocicleta, aumentando ainda mais o barulho com retirada do silenciador, para provocar maior susto nas aves. Finalmente, surgiu a idéia da utilização de vôos com aeromodelos, método que demonstrou ser bastante promissor.

Tabela. 1 - Tipo de Afugentamento, Área e Custos.

Tipo de afugentamento
Área(ha)
Custo total(R$)
Custo/ha(R$)
De moto/rojão/lata
16,34
462,20
27,67
De moto/rojão/lata
72,60
534,57
7,36
De aeromodelo
19,60
1260,20
64,20
De aeromodelo
78,50
1260,20
16,05

                   Fonte: Dados da pesquisa.

            Para avaliar os custos de afugentamento, foram montados experimentos que podem ser visualizados na tabela 1. Pode-se verificar a tendência de barateamento dos custos de afugentamento, em função do aumento da área.
            O custo mais baixo situou-se em R$ 7,36 por hectare, para o tipo de afugentamento de moto, rojão e bateção de lata, e o mais alto em R$ 64,20 por hectare para aquele que usa aeromodelo.
            No primeiro método, que utiliza motos, rojão e bateção de latas, o produtor deve ter um planejamento tal que, no dia ou no instante do ataque, já estejam mobilizados os afugentadores para executar a tarefa. No método de aeromodelo, essa mobilização é menos trabalhosa, na medida em que necessita de apenas duas pessoas treinadas com aeromodelos para iniciar o afugentamento.
            Em contrapartida, sem afugentar as pombas – processo efetuado apenas uma vez no ciclo da cultura - os prejuízos podem variar de 0 a 24% de queda na produção, no caso da soja, segundo estimativas do CDVale. Se for considerado o nível máximo de 24%, a perda pode chegar a 1,7 milhão de sacos de soja, o equivalente a R$ 22 milhões em prejuízo para a região.

Data de Publicação: 09/03/2001

Autor(es): Hiroshige Okawa (okawa@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor