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Convergência Vai Acelerar Acesso À Internet No Campo
Uma das principais
características da nova ordem competitiva é a convergência, quando na era
industrial era a especialização. Assim, o sucesso das empresas vai depender da
sua capacidade de juntar tecnologia e pessoas, clientes e empresa, marketing e
produção, capital financeiro e capital intelectual, pensar e fazer, intelecto e
intuição, racional e emocional (Souza, 2000). É o que já vem ocorrendo com os
portais de comércio eletrônico B2B, que, por questão de sobrevivência, vêm
buscando convergência, por exemplo, com grupos financeiros, industriais e de
logística, para garantia de investimentos, efetivação dos negócios por meio da
rede e retorno ao capital. O fenômeno da convergência
atinge também a área tecnológica. Depois de começar nos anos 1980 com a fusão do
computador e das telecomunicações, já associa som, vídeo de alta definição,
Internet, telefone celular e satélite. Muito breve, nos próximos meses, alguns
desses produtos estarão nos lares de milhões de pessoas e farão parte da vida
cotidiana. Computadores, Internet e modernas telecomunicações tomados juntos
também mudam dramaticamente os métodos de trabalho (Siqueira, 2001). É essa nova ordem competitiva,
a vigorar entre a velha e a nova economia, que vai permitir à Internet
deslanchar no Brasil. Previsões mais otimistas, como a do Ibope e-Ratings.com,
estimam em 14 milhões o número de usuários da rede este ano. Já institutos de
pesquisa mais conservadores, como a Jupiter Communications, preferem falar em
8,5 milhões de internautas. O presidente do Ibope e-Ratings.com na América
Latina, Tolis Vossos, é um entusiasta do potencial brasileiro na rede mundial.
'O Brasil é, provavelmente, o país com maior potencial para o crescimento da
Internet no mundo.' Mas apesar do fracasso verificado, até agora, na receita com
propaganda pela Internet, Vossos acredita que ela será o sustentáculo da rede
até a consolidação do e-commerce. 'O comércio eletrônico, no Brasil, não deve
decolar em menos de dois ou três anos. O principal motor da Internet, até lá,
ainda deverá ser a publicidade on-line' (Jimenez, 2001). Os valores são divergentes,
mas indicam tendência e dimensão dos negócios. Pesquisa recente do instituto
Yankee Group sugere que o comércio eletrônico B2B (pela Internet) no Brasil vai
atingir US$ 5,4 bilhões, em 2001, exatamente a metade dos US$ 10,8 bilhões
previstos para a América Latina. Em 2005, esse mercado pularia para US$ 32,5
bilhões e US$ 63,7 bilhões, respectivamente. A previsão do Yankee Group é que, a
partir de 2003, entre 70% e 80% do comércio entre empresas será baseado na
Internet (Sposito, 2000). A perspectiva de convergência
na área tecnológica deverá contribuir para o avanço da Internet no agronegócio.
A televisão, por exemplo, tende a ser transportada para a tela do computador,
cujo acesso deve tornar-se extremamente fácil. Pesquisa da Associação Brasileira
de Marketing Rural sobre o perfil do consumidor de insumos agropecuários (safra
1998/99) mostra que 95% assistem televisão durante a entressafra e 87% durante a
safra. Como diz o executivo André Sales do Portal do Campo, a Internet traz uma
série de vantagens que a televisão não é capaz de ter, como por exemplo o acesso
interativo. 'No futuro, não tenho a menor dúvida de que a televisão vai ser o
veículo de acesso à Internet. A mídia televisão e a mídia Internet vão ser
simplesmente um único canal.' Na mesma linha, Luiz Alberto
Garcia, presidente do grupo Algar – que opera nas divisões telecom,
agroalimentar, de serviços, lazer e entretenimento – diz que encontra em estudo
um sistema que utiliza tecnologias celular (CSD ou CDPD) e de satélite, para
atender Internet em alta velocidade (400 kb) e assim melhorar a transmissão da
Internet no campo. Portais independentes rendem-se à realidade - Com a
maior fragmentação na sua cadeia de negócios, setores como os de construção, de
alimentos/bebidas e agrícola acumulam maior ineficiência, tornando-se solo
fértil para a proliferação de empresas ponto.com independentes, observa Franz
Bedacht, da consultoria McKinsey. Ou seja, empreendedores independentes que
querem romper a fidelidade entre os parceiros de compra e venda. Mas esse
cenário costuma não ser exatamente o que parece. O Agro1, por exemplo, foi
surpreendido com a relação direta entre as empresas de fertilizantes e o
agricultor que a Internet ainda não dá conta de resolver, como admite o
executivo John Freshel. 'Achamos que o setor de fertilizantes e defensivos
agrícolas, por ter uma distribuição dispersa entre vários intermediários, seria
mais atraente para um portal independente' (Rebouças, 2001). O fato é que os portais
independentes B2B (business to business) que atuam no agronegócio resolveram
buscar aliados entre fundos de investimento, bancos de varejo, indústrias e
empresas de logística. O MegaAgro (investimento previsto de US$ 20 milhões em
2000/0l) tem como sócios os norte-americanos Bunge (guarda-chuva das empresas
Ceval Alimentos, Seara Alimentos, Moinho Santista, Serrana e Manah) e Latin
American Internet Development Group (LID) e os grupos argentinos Pescarmona e
GoAgro. Já o Agrosite (investimento de US$ 28 milhões) foi adquirido no ano
passado pelo holandês Rabobank, maior instituição financeira do mundo no setor
de agribusiness, em parceria com os norte-americanos Morgan Stanley Dean Witter
e SLI Investments e o suíço CSFB Private Equity. O Campo 21 tem como único
investidor o Banco Santander Central Hispano (BSCH), com US$ 11 milhões. O grupo
Bradesco resolveu apostar no Portal do Campo (investimento de US$ 5 milhões). E
o grupo Graber (setores de agropecuária, segurança, saúde e autopeças) e a
empresa de tecnologia da informação ITG ganharam a parceria do grupo Martins
(atacadista distribuidor) no Agro1 (investimentos de US$ 3 milhões). O Banco do
Brasil não ficou para trás e está investindo US$ 45,8 milhões (incluindo
publicidade) no Agronegócio-e. Os investidores acreditam que o mercado on-line
no Brasil vai alcançar o ponto de equilíbrio entre receita e despesa em 18 a 24
meses, quando 10% dos negócios deverão ser feitos on-line (Pinto, 2000). A presença de banco de varejo
em alguns desses portais pode indicar outra tendência: a de exercer o papel de
avalista dos negócios na rede principalmente de produtos agrícolas. Para Hermes
da Costa Barbosa F., da corretora Coinvalores, a maior dificuldade de fechar
negócios com produtos agrícolas na Internet é a falta de um 'juiz da operação'.
Os negócios com ações, por exemplo, têm liquidação tranquila. A liquidação
financeira não envolve nenhum risco. Mas a venda de um produto agrícola só seria
efetivada se houvesse a garantia de que o produto esteja de acordo com as
especificações informadas ou não esteja estragado. Os portais do agronegócio
encontram nos bancos não apenas fonte de recursos para investimentos mas também
fortes aliados. A instituição financeira passa a fornecer aval bancário ou carta
de fiança para viabilizar o comércio eletrônico de produtos e de insumos
agrícolas, envolvendo usuários do portal que não por acaso também passam a ser
clientes do banco, ou vice-versa. Embora não relacionado com o
agronegócio, o mesmo acontece com a Bolsa Eletrônica de Compras (BEC), o chamado
leilão reverso que está sendo implantado pelo Governo do Estado de São Paulo.
Uma das metas para 2001 é adquirir, via bolsa eletrônica, material de consumo no
montante de cerca de R$ 100 milhões, de um total de R$ 900 milhões a um bilhão
de reais de compras do Estado. O detalhe é que, para atuar na bolsa, os milhares
de fornecedores de material de consumo, insumos e serviços terão que ser
clientes da Nossa Caixa Nosso Banco. Bibliografia 1. SOUZA, César. A Era da
Convergência. Exame, 29 de novembro de 2000. 2. SIQUEIRA, Ethevaldo. Vamos
para o futuro. Aqui, agora. O Estado de S. Paulo, 14 de janeiro de 2001. 3. JIMENEZ, Carla. Mitos da
Internet foram à lona no ano 2000. O Estado de S. Paulo, 3 de janeiro de 2001.
4. SPOSITO, Rosa. A velha
economia cai na rede. Valor Especial, 30 de novembro de 2000. 5. REBOUÇAS, Lidia. Baila
comigo. Exame Negócios, janeiro de 2001. 6. PINTO, Telma. Investidores
globais fortalecem agribusiness. Gazeta Mercantil, 7 de dezembro de 2000.
Data de Publicação: 24/01/2001
Autor(es): José Venâncio De Resende Consulte outros textos deste autor