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Demandas Do Sudoeste Paulista: Prospecção Para O Planejamento Regional
O estudo 'Pesquisa Prospectiva de Demanda Regional no Sudoeste Paulista' constitui-se numa avaliação inicial dos resultados de prospecção de
demandas, a partir da técnica Delphi (1), com vistas ao desenvolvimento
agropecuário e ambiental da região Sudoeste do Estado de São Paulo. A
investigação está voltada diretamente às necessidades regionais atreladas ao
mercado e, por isso, tornou-se essencial a participação da comunidade, inclusive
na proposta de ações.
Dos resultados dessa avaliação, foram destacadas como atividades agropecuárias de maior importância, entre as já existentes na região e/ou com potencial de desenvolvimento, os seguintes grupos: cereais - milho e feijão, aparecendo com menor expressão os cereais de inverno; hortícolas - batata e tomate, seguidos de pimentão e flores; frutíferas - pêssego, uvas (fina e comum) e citros, além de maracujá e ameixa com menor freqüência; florestais - destacadamente pinus e eucalipto; pecuária e pequenos animais - sobressaem os bovinos
especializados e mistos e, com menos ênfase, os suínos e aves.
Com relação ao diagnóstico dos fatores que favorecem a manutenção e/ou expansão das atividades, constatou-se como justificativas para os principais produtos o que se segue: milho - por apresentar variedades adaptadas à região/ boa produtividade/ plantio direto, baixo risco/ baixo custo/ preço e demanda/ ração animal; feijão - por apresentar duas safras anuais, topografia/ mecanização, tradição, clima, plantio direto e presença de agroindústria de beneficiamento; cereais de inverno: pelas condições edafoclimáticas, produção de massa verde/ plantio
direto; rotação de culturas, alimentação animal/ complementação e agroindústria.
Como principais restrições a essas atividades, destacaram-se: ausência de uma
política agrícola efetiva, comercialização inadequada/preços, desconhecimento do
cultivo de atividades de inverno e competitividade com outras regiões.
Na análise das frutíferas, foram considerados favoráveis os seguintes fatores para as respectivas frutas: pêssego: clima típico, produtividade/ variedade, tradição, demanda/ preço e agroindústria; uvas (fina e niagara): clima/ precocidade/ variedade, consumo/ mercado externo/ preço e cultura de pequeno produtor; citros (laranja e tangerina): menor incidência de pragas, clima/ variedades tardias/ temporãs e consumo; maracujá: agroindústria, consumo/ mesa/ indústria, cultivo simples e cultura de pequeno produtor; ameixa: clima e consumo. De modo geral, devem afetar negativamente a evolução dessas
atividades: falta de tecnologia regional/ divulgação, alto investimento,
concorrência e doenças/ agrotóxicos.
A avaliação das atividades no grupo das hortícolas permitiu destacar como pontos positivos para sua expansão: batata: clima, tecnologia, proximidade do centro consumidor, baixa perecibilidade/ qualidade e disponibilidade de água; tomate e pimentão: clima, pequenas áreas/ cultivo intensivo, proximidade do centro consumidor, qualidade, plasticultura e produtividade; flores: crescimento/
proximidade de consumo e disponibilidade de água. Como fatores restritivos ao
crescimento da produção, predominaram opiniões como: falta de pesquisa regional,
alto custo, preço, excesso de agrotóxicos, treinamento do produtor, divulgação e
fomento - no caso das flores.
Para o grupo das atividades florestais, foram enfatizados como quesitos para estímulo: eucalipto: exploração em pequenas áreas, facilidade de obtenção de mudas e mercado/ demanda/ preço; pinus (para madeira e resina): mercado/ demanda/ preço, solo não agricultável, industrialização e tradição/ pré-existência de florestas; com menor destaque apareceram as matas nativas: preservação meio ambiente/ legislação/ fiscalização. Como pontos negativos
foram listados principalmente: inexistência de incentivo fiscal, falta de
indústria local e competição com outros produtos locais.
Na exploração animal, houve maior distribuição de opiniões quanto à potencialidade das atividades, envolvendo tanto os animais de grande porte como pequenos animais. Como fatores que podem favorecer essas atividades, nos próximos 10 anos, destacam-se :para bovino de corte: preços/ exportação e melhoramento de pastos/ manejo; para bovino misto: consumo; para suíno: pequena área/ atividade familiar, instalação de indústrias; e para piscicultura: projeto regional/
aumento de área e número elevado de reservas/ incentivo. A opinião mais
contundente quanto à restrição ao desempenho desse grupo de atividades foi:
relação custo/benefício desfavorável e persistência de enfermidades/ controle
sanitário.
Sobre as melhores perspectivas de mercado e quais as atividades mais promissoras no atual contexto da globalização e de acirramento da competitividade, para exportação predominaram as frutíferas, com grande ênfase em: uva fina, caqui, banana e maracujá, vindo em segundo lugar o grupo da pecuária, especificamente bovino de corte e avicultura. Nas atividades florestais, também foi citado, com grande potencial para o mercado externo, o reflorestamento para exploração de resina.
Em todas as atividades apontadas até aqui como de grande potencial de produção
para a região Sudoeste, predominou, na opinião dos especialistas, a importância
do mercado estadual, seguido do regional e, por último, o abastecimento dos
outros estados da Federação.
Além das culturas listadas no questionário, abriu-se a possibilidade de indicar outras e/ou novas atividades de forte apelo regional, quanto à absorção de mão-de-obra, características edafoclimáticas favoráveis, novos nichos de mercado, incremento de renda, dentre outras. Aparecem com destaque, em cereais - triticale e aveia; nas frutíferas: atemóia, nêspera, nectarina, lichia e banana orgânica; nas hortaliças: pepino, abóbora, alcachofra e cultivo orgânico; no grupo dos animais: ranicultura e dos florestais: pupunha e palmito.
Ainda quanto à contribuição das atividades para a elevação do emprego e da renda regional, na próxima década, predominou a opinião favorável ao grupo das frutíferas, com destaque para uva fina e pêssego. Nos demais grupos, citaram-se tomate e batata para as hortícolas; milho e feijão para cereais; bovinocultura e piscicultura na pecuária/pequenos animais e reflorestamento com pinus e eucalipto no grupo de florestais, além das atividades de turismo.
Nos tópicos relativos à sustentabilidade ambiental, foram encontradas, com
grande freqüência, críticas relativas à: exaustão/
empobrecimento/desestruturação dos solos; desmatamento/ assoreamento dos
recursos hídricos; uso inadequado de agrotóxicos/dejetos residenciais e
industriais/poluição dos rios.
No tocante à sanidade vegetal, destacaram-se as dificuldades na conservação de produtos pós-colheita e armazenamento e uso inadequado/falta de informação sobre defensivos para controle de pragas. Para os animais, enfatizaram-se: manejos nutricional/
zootécnico inadequados e não utilização de calendário de práticas de manejo
sanitário.
Os resultados sobre quais das atividades agropecuárias teriam maior
potencialidade de contribuir para a sustentabilidade ambiental, econômica e
social da região, houve uma distribuição homogênea de opiniões com relação aos
cinco grupos, com ênfase para os produtos com características de alta qualidade,
livre de agrotóxicos e até com preços elevados para fazer frente à competição
globalizada, onde a diferenciação é a tônica principal.
Um dos pontos destacados como de estrangulamento para o desenvolvimento regional
foi a ausência de organização dos produtores, aliado à grande deficiência em
infra-estrutura: estradas, armazéns e silos e agroindústrias incipientes na
região.
Das questões propostas sobre as dimensões tecnológicas, econômicas, ecológicas e sociais da
sustentabilidade regional, foi possível agregar os seguintes problemas:
inadequação/ falta de pesquisa tecnológica agropecuária regional; falta de
acesso à tecnologia/ conhecimento/ capacitação nos aspectos econômicos e
ambientais; falta de competitividade regional/ altos custos/ preços/
produtividade; cultivo tradicional/ resistência a tecnologias alternativas;
falta de fiscalização/ rigor nas leis ambientais. Para tanto, foram enumeradas
possíveis soluções: pesquisa tecnológica regionalizada/ menos defensivos/
material genético regional/ qualidade/ plantio direto/ manejo integrado/
validação regional/ pesquisa local de impacto ambiental; extensão
rural/treinamento; política agrícola/ financiamento; planejamento/ monitoramento
da agropecuária regional.
Quanto à questão da eqüidade social, os principais problemas apontados foram
relativos a: má distribuição de renda/ baixos salários/ latifúndios; falta de
assistência ao pequeno produtor/ baixa escolaridade/ treinamento; desemprego/
sazonalidade da mão-de-obra e êxodo rural. Como soluções sugeridas para esses
entraves, apareceram: melhor distribuição de terras/ reforma agrária; maior
assistência médica/ hospitalar; assistência técnica/equipes multidisciplinares/
treinamento; políticas econômicas e sociais/ fixação do homem no campo e
organização dos produtores.
De todos os tópicos avaliados também mereceu destaque, a importância de
agroindústria para a integração vertical da produção agropecuária, assistência
técnica e extensão rural e os aspectos relacionados a crédito e comercialização
regionais.
O exame dos resultados mostrou uma predominância de opinião quanto à necessidade de pesquisas tecnológicas adaptadas e/ou específicas para a região, além de demandas de outra natureza. Percebe-se também que grande parte dos problemas levantados é passível de solução. A necessidade de consenso para muitas das questões abordadas, o esclarecimento de pontos obscuros e o refinamento de análises exigem a continuidade do processo de avaliação, que se constituirá na 2a. rodada da técnica Delphi, para a priorização
das pesquisas com vistas ao desenvolvimento regional do Sudoeste.
Data de Publicação: 09/03/2001
Autor(es):
Elizabeth Alves e Nogueira (enogueira@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nilda Tereza Cardoso De Mello (nilmello@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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