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Um Novo Ciclo Da Borracha Natural?
Após o
produtor amargar alguns anos de dificuldades, inclusive sobrevivendo graças ao
apoio da prática de uma política de subsídio, a recente evolução de preços da
borracha natural no mercado internacional trouxe um novo alento ao setor,
promovendo o ressurgir de programas de fomento e de implantação à heveicultura
nacional. Tabela 1 – Receita líquida e custo de produção de borracha
natural, segundo sistema de sangria, Estado de São Paulo, abril de 2002
Outro fator impulsionador, que já vinha sendo estudado, refere-se ao emergente
mercado de seqüestro de carbono, responsável, por exemplo, pelo despertar do
interesse em transformar o Estado do Rio de Janeiro em pólo produtor. Nesse
sentido, a Embrapa Solos, com sede no Rio de Janeiro, propôs a coordenação de um
estudo da viabilidade edafoclimática e fitotécnica, cujo projeto está em
julgamento na Fundação Carlos Chagas de Amparo à Pesquisa, daquele Estado
(Jornal do Comércio, 12/05/2002).
Surge também a possibilidade de uso, em marcenaria fina, da madeira de
seringueiras descartadas ao término do ciclo produtivo (após 30 a 35 anos).
Aprovada nos testes de qualidade levados a efeito pelo Instituto de Pesquisas
Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), a madeira de seringueira apresenta-se
como uma alternativa interessante, tanto por já possuir o chamado 'selo verde',
de ambientalmente produzida dentro dos padrões de sustentabilidade, como por sua
proximidade à indústria paulista de móveis, que enfrenta dificuldades de
obtenção de matéria-prima.
No cenário nacional de produção de borracha natural, o Estado de São Paulo ocupa
a posição destacada de maior produtor, em parte como resultado dos trabalhos
realizados pelo Serviço de Expansão da Seringueira, iniciado em 1956, e pelo
Programa Paulista de Seringueira, implantado em 1976. O total estadual de
plantas acha-se estabilizado desde 1996, existindo entre 19 milhões e 20 milhões
de árvores. O percentual de pés novos vem caindo desde 1996, passando de 50%
para pouco mais de 20% em 2001, segundo estatísticas do IEA/CATI. A produção
estadual de borracha natural, segundo dados da Associação Paulista de Produtores
e de Beneficiadores de Borracha (APABOR), gira ao redor de 40 mil toneladas de
borracha seca.
Do lado da demanda, a estimativa de consumo anual de borracha natural é de cerca
de 220 mil toneladas, demonstrando que há um enorme espaço para ser ocupado pelo
produto nacional. Nesse sentido, o setor produtivo, liderado pela APABOR, tem
mobilizado a Câmara Setorial de Borracha Natural para promover um programa de
estímulo ao plantio. Entretanto, o preço da borracha natural não vinha sendo
estimulante e, caso não existisse o subsídio, durante certo período teria sido
difícil a continuidade da sangria, mesmos nos seringais adultos.
Vejamos então que perspectivas podem ser projetadas, realizando alguma
especulação sobre as variáveis do novo patamar de preço internacional da
borracha e de novas oportunidades de mercado para subprodutos da heveicultura.
Uma atualização do custo de implantação e exploração de um hectare de
seringueiras, no Estado de São Paulo, baseado em dados de Toledo & Ghilardi
(2000)1, indica os valores de R$1,71, R$1,31,
R$1,35 e R$1,58 para o custo médio por quilograma de borracha seca produzido,
respectivamente, para os sistemas D3, D4, D5 e D7 de sangria (tabela 1).
Observa-se portanto que ao preço vigente dois meses atrás, praticando-se o
sistema mais adotado de sangria (S/2 e D3), a atividade somente era
economicamente viável devido ao subsídio, o qual remetia o preço recebido pelo
produtor em maio de 2002 para um valor perto de R$1,90 por kg produzido,
garantindo, assim, uma atratividade mínima para a manutenção da sangria.
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Uma
análise sobre as perspectivas do mercado internacional de borracha natural,
apresentada por Burger & Smit (2002)2 no International Rubber Forum, em Glasgow em fevereiro de
2002, indica para os próximos anos uma forte tendência de aquecimento no
mercado, com o preço atingindo, em 2005, o patamar de US$1,50 por quilo de
borracha seca. Nestes dois últimos meses (maio e junho de 2002), a cotação
passou do patamar de US$0,65 para o de US$0,85, elevando o preço de referência
do Governo Federal (para fins de cálculo do subsídio) de R$1,95 para R$2,95 por
quilo de borracha seca. Este fato decretou o fim do subsídio, caso os preços se
mantenham nesse novo patamar, pois supera o teto estabelecido em 1997, de R$2,58
por quilo de borracha seca.
Com esse novo valor de referência, a rentabilidade da heveicultura torna-se
bastante atraente. Uma análise de um fluxo de caixa de uma simulação de um
projeto para 30 anos apresenta como resultado uma taxa interna de retorno de
12,14%, com custo total médio de R$1,31 por quilo de borracha seca produzida
durante os 30 anos de projeto. Assim, o custo total passou a representar pouco
menos que a metade do valor de mercado e, com isso, é possível ao produtor ter
uma receita anual líquida por hectare entre R$1.000,00 e R$1.500,00, dependendo
do desempenho administrativo (produtividade, custos e outros fatores inerentes).
Porém, o que surge como alternativa é a possibilidade da venda de créditos por seqüestro de carbono. Recentemente, a empresa EcoSecurities negociou um contrato de seqüestro de carbono no valor de US$1,9 milhão, referente à captura que ocorrerá em projeto de exploração de Pinus sp. em
2.000 hectares, com 60 anos de duração (3 cortes a cada 20 anos), a ser
implantado no Rio Grande do Sul. Caso o setor consiga organizar um
empreendimento semelhante, pode ser que consiga algo em torno de US$500,00 por
hectare, admitindo-se os atuais preços por tonelada de carbono seqüestrado e uma
estimativa de captura de 3t/ha/ano. Esse valor serviria para amortizar parte das
despesas ocorridas no ano de plantio, diminuindo o peso do custo total de
formação (6 anos) de um hectare de seringal.
A possibilidade do uso de madeira de seringal a ser reformado traz uma
perspectiva de receita na hora de derrubada das árvores e preparo do terreno
para novo investimento, via de regra uma decisão difícil para o produtor pelo
custo significativo. Um teste levado a efeito com seringais em fim de ciclo no
município de Colina (SP), segundo informes do responsável, indica possibilidade
de retorno líquido entre R$3.000,00 e R$4.000,00 por hectare, altamente
promissor.
Desta forma, o novo patamar de preços internacionais, aliado às novas
possibilidades de receitas adicionais, poderá alavancar um novo ciclo da
borracha, notadamente no centro-oeste e sudeste brasileiros, onde se encontram
as regiões com melhor aptidão edafoclimática para a heveicultura.
1 TOLEDO, Paulo. E. N. de , GHILARDI, Arthur A. Custo de Produção e Rentabilidade da Seringueira no Estado de São Paulo. Informações Econômicas, SP, v.30, n.5, maio 2000.
2 BURGER, Kees & SMIT, Hidde .P. The Outloook for Natural Rubber Prices in the Coming Years. International Rubber Forum. Glasgow, Scotland. Fevereiro de 20002. 24p. |
Data de Publicação: 01/08/2002
Autor(es): Paulo Edgard Nascimento De Toledo (ptoledo@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor