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Café: Indefinição No Mercado E Aumento Da Produção Vietnamita
- Situação dos Mercados
Os preços do café no mercado futuro de Nova York, Contrato C e Segunda Posição, caíram 36,94% desde o dia primeiro de janeiro de 2000, com redução no mês de setembro de 0,69% (Figura 1). As perspectivas de preço não são de todo ruins, menos pela retenção e mais pelas condições de mercado. Com a menor venda de café brasileiro, as torrefadoras na Europa e Estados Unidos se abasteceram de café robusta, que tem apresentado oferta abundante no mercado. Agora, elas precisam de café arábica brasileiro para fazer o blend. Com
isso, a demanda por café do Brasil poderá aumentar. Mas, caso persista o
ceticismo do mercado quanto à retenção, que deverá contar com a sua efetivação
nos países do sudeste asiático e da América do Sul e Colômbia, a tendência será
de manter as cotações nos patamares atuais.
Figura 1 - Cotação do Contrato C de Café, Segunda Posição,
Bolsa de Nova York,
Médias
Mensais de 1998 a Setembro de 2000.
Fonte: Coffe, Sugar, Cocoa Exchange – Bolsa de Nova York.
No
mercado interno, as vendas estão muito lentas, pois os produtores só vendem
maiores volumes a preços acima de R$150,00 por saca o que somente tem sido
alcançado pelos tipos mais finos. Além desse fato, existe uma crise de liquidez
para exportação. Os exportadores reclamam que a velocidade de liberação dos
recursos para financiar a retenção está lenta frente ao ritmo das exportações.
Dessa forma, os exportadores estão ficando sem capital de giro, que está se
transformando em produto retido.
Os preços médios recebidos pelos cafeicultores no mês de setembro apresentaram
evolução de apenas 1,30%, sendo que, no acumulado de 2000, caíram 38,18%, com
comportamento próximo ao observado em 1999 (Figura 2). Espera-se que, com as
recentes decisões referentes a novos empréstimos para o ano agrícola que está se
iniciando, os produtores administrem o fluxo de venda, estimulando uma reação
positiva nos preços recebidos.
Figura 2 - Preços Recebidos Pelos Produtores de Café,
Estado de São Paulo, 1998
a
Setembro de 2000.
Fonte: Instituto de Economia Agrícola.
- CDPC Aprova Liberação de Recursos do FUNCAFÉ
Em
reunião realizada no dia 19 de setembro de 2000, o Conselho Deliberativo de
Política Cafeeira (CDPC) aprovou minuta de voto ao Conselho Monetário Nacional
(CMN) para aplicação de R$200 milhões do Funcafé para custeio da safra 2000/01.
Aprovou-se, também, a transformação do financiamento de colheita da safra
1999/00, que venceria em outubro, em financiamento de pré-comercialização cujo
vencimento poderá ser estendido para abril, maio e junho de 2001. Só a
reconversão desses recursos, da ordem de R$150 milhões, permitiria a estocagem
de aproximadamente 1,5 milhão de sacas de café. Outros R$125 milhões, liberados
para colheita da presente safra, com vencimento previsto para novembro, deverão
também ser prorrogados e transformados em financiamento de pré-comercialização.
Foram também propostas ao CMN as inclusões do Banco Cooperativo do Brasil S.A.
(Bancob) e do Banco Cooperativo Sicredi S.A. (Bansicred) como agentes do
Funcafé, função exercida até então somente pelo Banco do Brasil.
Espera-se que esse conjunto de medidas possa melhorar o mercado do produto,
deprimido em grande parte pela escassez de recursos aos produtores com
dificuldades em honrar compromissos de curto prazo, assumidos para realização da
colheita de café.
- Retenção de Café e a APPC
A
Associação dos Países Produtores de Café (APPC) reuniu-se em Londres no dia 29
de setembro de 2000 para uma avaliação do andamento do processo de retenção de
café iniciado em junho. Até o momento apenas o Brasil e a Colômbia têm tomado
iniciativas concretas visando a retenção. Os demais países membros da APPC
reafirmaram a intenção de levar adiante o plano, compatibilizando, entretanto, o
seu início com o respectivo início de suas safras. De acordo com vários
analistas, somente em dezembro e janeiro é que se poderá saber se esses países
estariam de fato com intenções de cumprir os compromissos assumidos
anteriormente.
De modo geral, permanece um certo clima de desconfiança e ceticismo no mercado
devido à postura contraditória desses países desde o início. Ou seja, enquanto o
Brasil, mesmo antes da oficialização do plano em maio deste ano, na prática, já
começava reter o café, na medida em que muitos produtores recusavam-se a vender
o produto aos preços da época (final de 1999 e começo de 2000), em função da
expectativa criada em torno da retenção. Muitos dos países que defendiam a
retenção batiam recordes de exportação, ocupando inclusive os espaços de mercado
deixados pelo Brasil. Estima-se que as receitas cambiais do Brasil tenham
sofrido perdas de mais de 300 milhões de dólares nesse processo de negociação da
retenção.
- Cafeicultura Mundial: o caso do Vietnã
Estima-se a produção mundial de café em 108-110 milhões de sacas em 2000, das
quais cerca de 34% são de café robusta e 66% de arábica. O Vietnã ocupa o
terceiro lugar na produção mundial, sendo o principal produtor e exportador
mundial de robusta. Devido a sua importância no cenário mundial, torna-se
relevante fazer alguns comentários sobre sua cafeicultura, cuja expansão afeta
diretamente o mercado global de café.
Nesse país o café é o terceiro produto em receitas de exportação, sendo superado
somente pelo arroz e pelo marisco. Mais surpreendente é que até 15 anos atrás a
participação do Vietnã no mercado de café era insignificante, com volume de
produção que mal alcançava 500 mil sacas. Em uma área pouco maior que 420 mil
hectares (incluindo áreas com cafezais novos), ele produz atualmente mais de 10
milhões de sacas, basicamente de café robusta, pois desse volume total apenas
cerca de 120 mil sacas são de café arábica.
Para se ter uma idéia da produtividade da cafeicultura do Vietnã basta comparar
sua produção com a da Indonésia, que produz 7 milhões de sacas em uma área que
corresponde a mais de duas vezes a área vietnamita. Embora parte dessa elevada
produtividade do Vietnã seja explicada pela espécie (que é maior no robusta
quando comparada com a do arábica), o que mais favorece esse desempenho são o
clima e os solos bastante apropriados ao cultivo de café. Outro fator é a grande
disponibilidade de mão-de-obra qualificada (alfabetizada) e barata, remunerada
em pouco mais de 30 dólares mensais.
Entretanto, apesar dessa grande produtividade, o produto vietnamita deixa muito
a desejar quanto a sua qualidade. Essa baixa qualidade pode ser explicada pelos
poucos cuidados dispensados nas operações pós-colheita, sobretudo na secagem do
café, razão pela qual sofre grande deságio na sua comercialização, atingindo
mais de 100 dólares por tonelada no mercado internacional. Para compensar a
baixa qualidade de seu produto, o país é extremamente agressivo em suas vendas
no mercado externo, tendo dobrado sua participação em alguns mercados (por
exemplo, na Espanha e Alemanha) e exportado mais de 10 milhões de sacas no
período de outubro de 1999 a setembro de 2000.
Outra grande preocupação no mercado é quanto ao incentivo para o plantio de café
arábica, cuja meta é de se chegar a 100 mil hectares. Parte desse plano vem
sendo executado com recursos do exterior e tudo leva a crer que esse país poderá
vir a ser também um competidor no mercado de café arábica (principalmente no
mercado asiático, como Japão, Coréia e China), não se devendo ignorar que o
primeiro café que entrou no Vietnã foi o arábica em 1888, o que explica o
sentimento quase que atávico que se tem por essa variedade.
É possível que o Vietnã não venha apresentar no futuro o mesmo desempenho
verificado até recentemente no crescimento de sua produção cafeeira. Três
fatores poderiam contribuir para isso: o primeiro seria a própria situação de
mercado de café não favorável no momento (em grande parte devido ao excedente de
mais de 7 milhões de sacas de robusta no mundo) e que pode se estender por pelo
menos 2 a 3 anos; segundo, a pressão interna que o setor vem sofrendo por parte
dos ambientalistas, preocupados com a derrubada indiscriminada de florestas
naturais para a implantação de lavouras; e, finalmente, a consciência interna
que aos poucos vem se ampliando no sentido de que mais importante do que o
aspecto quantitativo é a preocupação do país com a qualidade do café. Apesar de
todos esses argumentos não está afastada, entretanto, a possibilidade de que
esse país possa vir a deslocar a Colômbia de sua posição de segundo produtor
mundial de café. Acredita-se mesmo que possa ser antecipada a produção,
preconizada por alguns analistas, segundo os quais dentro de cinco anos o Vietnã
estará produzindo cerca de 13 milhões de sacas.
Data de Publicação: 01/10/2000
Autor(es):
Luiz Moricochi (moricochi@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor