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Preços De Algodão: Situação Atual E Perspectivas
A
entrada da safra de algodão 2000/01, colhida entre março e maio, contribui para
pressionar as cotações de algodão em pluma no mercado interno. Considerando-se,
ainda, a disponibilidade de produto nas indústrias, composto inclusive por
algodão importado, as cotações de algodão em pluma no disponível, tipo 6, na
Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), em termos reais, nos dois
primeiros meses deste ano, situaram-se 11,1% abaixo do mesmo período de 2000 e
25,6% inferior aos níveis médios registrados em 1999 (Figura 1).
O
crescimento das importações para complementação da oferta interna, em face da
redução da produção, caracterizou o quadro do suprimento brasileiro de algodão
na década de noventa. Embora as dificuldades na comercialização e suas
implicações sobre o cultivo viessem ocorrendo desde o final dos anos oitenta, a
abertura do mercado em 1990, justificada pela insuficiência da produção,
contribuiu para o crescimento dessa defasagem. Neste contexto, o produto
nacional passou a enfrentar a concorrência com o importado sem contar com as
mesmas condições de financiamento (prazos superiores a 360 dias e juros de 6% a
7% ao ano). As aquisições externas para a composição da oferta interna foram de
tal importância que chegaram a superar a própria produção e representar 55% do
valor total da pauta de importações de produtos têxteis em 1993, levando a
drásticas reduções no cultivo dessa fibra.
Atualmente, a tendência é de redução nas internalizações de algodão, não apenas
em decorrência da desvalorização cambial, mas sobretudo em virtude do aumento da
produção nacional baseado na reconversão da atividade para extensas áreas com
elevado grau de mecanização, principalmente na região Centro-Oeste. Em 2001, as
importações brasileiras de algodão poderão chegar a 190 mil toneladas, volume
36,7% inferior ao do ano passado e 56,7% menor que o de 1997, o que evidencia a
menor dependência das aquisições externas, conforme dados da Companhia Nacional
de Abastecimento (CONAB).
Após uma década de reestruturação produtiva, o que coloca o Brasil a um passo da
auto-suficiência, e com uma demanda crescente, a situação atual do mercado
interno de algodão lembra, curiosamente, aquela vigente no início dos anos 90,
quando as importações evitavam oscilações e/ou elevações mais significativas nos
preços. A hipótese agora é a de que a própria produção esteja exercendo forte
influência sobre as cotações.
Ao se analisar o padrão estacional de preços de algodão em pluma da zona
meridional do Brasil, nos períodos 1985-90 e 1994-98, verificam-se alterações
das épocas de pico (preços mais altos) e de vales (preços mais baixos). No
primeiro período, a fase de alta ocorria entre setembro e janeiro, com pico em
setembro, e o vale, em março, guardando correspondência com as colheitas nos
estados de São Paulo e Paraná, então maiores produtores. No segundo período, os
índices sazonais apresentaram ponto máximo em janeiro e mínimo em julho,
demonstrando um deslocamento da ocorrência de preços mais baixos para a época da
colheita da safra da região Centro-Oeste. Outro tipo de modificação do padrão de
variação estacional de preços de algodão, entre esses dois períodos, foi a
diminuição da amplitude entre os índices máximo e mínimo, graças às
internalizações de algodão importado e ao prolongamento da época de colheita no
Centro-Sul (Tabela 1).
Tabela 1 – Coeficiente de Amplitude da Variação dos Índices Sazonais Médios das Cotações de Algodão em Pluma, Zona Meridional, Brasil, 1985-90 e 1994-98
Período | Índice máximo | . | Índice mínimo | Coeficiente
de | ||
. | Mês | Valor | . | Mês | Valor | Amplitude
(%) |
1985-90 | Set. | 112,6 | . | Mar. | 85,9 | 26,8 |
1994-98 | Jan. | 105,4 | . | Jul. | 95,0 | 10,4 |
Fonte: BARBOSA; FERREIRA; TSUNECHIRO (1999) .
Assim,
verifica-se uma alteração no calendário agrícola do produto no âmbito nacional,
com maior oferta durante o ano, o que justifica a relativa estabilidade dos
preços ao longo do segundo semestre dos dois últimos anos (Figura 1).
A produção brasileira de algodão em pluma a ser colhida nos próximos meses,
segundo a CONAB, está prevista em 848,4 mil toneladas (21,1% superior à da safra
passada), das quais 53% provenientes do Mato Grosso, o que poderá exercer
pressão ainda maior sobre o nível de preços, o qual já se encontra no menor
patamar dos últimos dois anos.
Caso persista este quadro, certamente ocorrerá diminuição na área a ser
cultivada, provocando de novo uma situação de desequilíbrio na cadeia produtiva
do algodão, configurada pela retomada de importações.
Data de Publicação: 20/03/2001
Autor(es):
Marisa Zeferino (marisa.zeferino@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Sebastião Nogueira Junior (senior@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Benedito Barbosa de Freitas (bfreitas@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor