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Diferenças Nas Produtividades Do Algodão Brasileiro
1BARBOSA, Marisa Z.; FERREIRA, Celia R.R.P.T.;
NOGUEIRA JUNIOR, Sebastião. Análise regional da produtividade na cotonicultura
brasileira. In III Congresso Brasileiro de Algodão. Campo Grande, 2001. Anais.
CD-ROM].
Essa fibra teve até meados da década de 70 significativa participação no mercado
internacional, mas ao longo do tempo, por uma série de razões, foi perdendo
espaço no cenário mundial. As políticas comerciais adotadas para o algodão no
Brasil nos últimos 30 anos visavam garantir abastecimento constante de
matéria-prima, primeiramente através do estabelecimento de barreiras à
exportação, até a plena abertura do mercado em 1990. A partir daí as importações
de algodão cresceram, em função, inclusive, das facilidades de financiamento
internacional, com vantagens para a indústria têxtil brasileira adquirir a fibra
no mercado externo, mesmo diante da elevação dos preços no mercado mundial. O
resultado desse conjunto de fatores provocou desestímulo à produção interna,
contribuindo para a ampliação da defasagem entre oferta e demanda. No caso do
setor industrial têxtil brasileiro, se por um lado a redução de alíquotas de
importação acirrou a concorrência com manufaturados em diversas etapas de
transformação, por outro, a sobrevalorização cambial favoreceu o crescimento de
investimentos para importações de equipamentos.
Mais recentemente, os grandes produtores do cerrado da região Centro-Oeste
iniciaram a busca por alternativas à cultura de soja que já apresentava baixa
rentabilidade pelo uso contínuo do solo. Assim, foram iniciados os trabalhos com
algodão, mediante convênio entre a Empresa Brasileira da Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA) e o Grupo Itamarati Norte. Os esforços subsequentes, apoiados pela
Fundação Mato Grosso, permitiram que a região, e em especial o Mato Grosso,
passasse a responder pela maior parcela da produção nacional de algodão, com
níveis de produtividade superiores aos dos grandes produtores mundiais.
A atual exploração algodoeira no Brasil desenvolve-se, principalmente, em duas
regiões - Meridional (São Paulo e Paraná) e Centro-Oeste (Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul e Goiás) - por força de fatores ambientais, econômicos e sociais.
Na região Nordeste, a lavoura quase desapareceu nos últimos anos devido à
inadequada estrutura de produção e infestação do bicudo. Só recentemente, a
atividade voltou a crescer com alguma ênfase na Bahia e há esforços
governamentais para que se desenvolva no Ceará, hoje importante pólo têxtil.
Um estudo recente1 analisou o desempenho da
produtividade da cultura do algodão nos principais estados produtores do Brasil,
para poder comparar e avaliar as taxas médias de crescimento estaduais,
calculadas através de regressão linear.
Os resultados indicaram, para o período completo (1980-2000), a existência de
diferenças significativas nas produtividades entre os estados. Goiás foi o que
apresentou produtividades mais elevadas, graças ao desempenho ocorrido na década
de 1980 e em meados de 1990. Os três estados detentores dos maiores índices de
produtividade, depois de Goiás, foram, em ordem decrescente, Paraná, São Paulo e
Mato Grosso do Sul, os quais não apresentaram diferenças significativas entre si
em termos de rendimento médio. Mato Grosso foi o que apresentou os menores
índices de produtividade, o que o levou a ocupar a última posição na ordenação
dos rendimentos. Também não foram constatadas diferenças significativas entre os
rendimentos médios do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul.
Entretanto, para um período menor e mais recente (1996-2000), os resultados,
além de continuarem a revelar a existência de diferenças significativas nas
produtividades nos estados, mostram, também, uma inversão na classificação de
Mato Grosso, que passou a ocupar a primeira posição, ficando Paraná e São Paulo
nas posições inferiores da ordenação dos rendimentos.
A produção de algodão cresceu acentuadamente, a partir do início da década de
1990, na região Centro-Oeste, cuja participação na produção brasileira passou de
9,0%, no triênio 1980-82, para 64,0%, em 1998-00. Os estados de São Paulo e
Paraná, que participavam, em conjunto, com 74,0% da produção nacional, caíram
para 20,0%. No último triênio analisado, somente o Estado do Mato Grosso
respondeu por 39,0% da produção brasileira de algodão, alcançando 48,0% no ano
de 2000.
A expansão recente da produção de algodão no Centro-Oeste brasileiro pode ser
considerada como integrante do processo de reformulação produtiva e gerencial,
com o objetivo de modernização da atividade e de aumento de competitividade,
imposto pela concorrência com a matéria-prima importada após a abertura
comercial no início dos anos 90s. Particularmente no Mato Grosso, a
cotonicultura é alicerçada no uso intensivo de tecnologia e de mecanização,
explorada em grandes módulos de produção. Além da atuação da pesquisa no
melhoramento de cultivares, a atividade conta com apoio de programas de
aperfeiçoamento da qualidade da fibra e de incentivo fiscal mediante a redução
do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Na região Meridional,
os sistemas de produção mantêm a tradição de exploração em áreas relativamente
pequenas, nem sempre aproveitando toda a tecnologia disponível.
Embora seja uma atividade de alto risco, a cotonicultura tem apresentado
excelentes taxas de retorno nos últimos anos, mas só com o elevado nível
tecnológico (independente da região) haverá possibilidade de aumentar sua
competitividade para concorrer nos mercados interno e, principalmente,
internacional.
Data de Publicação: 20/09/2001
Autor(es):
Sebastião Nogueira Junior (senior@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Célia Regina Roncato Penteado Tavares Ferreira Consulte outros textos deste autor
Marisa Zeferino (marisa.zeferino@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor