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Produção E Consumo De Algodão No Mundo E Perspectivas Para O Brasil
A
cotonicultura está concentrada basicamente em sete países, por ordem de
importância: China, Estados Unidos, Índia, Paquistão, Usbequistão, Brasil e
Turquia, os quais responderam por 77%, em média, do volume mundial de 19,2
milhões de toneladas, no período de 1996/97 a 2000/01. O Brasil só recentemente
retornou ao rol dos maiores produtores, já que sua participação evoluiu de 1,4%
para 4,5% entre os extremos do período. Os quatro países maiores produtores
também foram os principais consumidores, ao responder por 59% das 19,4 milhões
de toneladas demandadas ao longo desse tempo, segundo dados do Departamento de
Agricultura dos Estados Unidos (USDA) .
A cultura do algodão registrou acentuado crescimento na produtividade média
mundial, nos últimos 30 anos, passando de 377kg de algodão em pluma por hectare,
em 1970/71, para 601kg/ha, em 2000/01, segundo o USDA. O cultivo dessa fibra
mostra-se bastante diversificado pelo mundo, o que pode ser verificado através
dos diferentes graus de evolução das produtividades médias obtidas nos
principais países produtores, ao longo das últimas décadas.
Na safra atual (2000/01), as produtividades médias obtidas nos maiores
produtores foram de 1.089kg/ha na China, 708kg/ha nos Estados Unidos, 304kg/ha
na Índia, 576kg/ha no Paquistão, 662kg/ha no Usbequistão e 1.137kg/ha na
Turquia. No Brasil, é de 918kg/ha, superior, portanto, à média mundial.
Destacam-se, também, a Austrália, com 1.481kg/ha, e Israel, que apesar de não
integrar o rol dos principais fornecedores obteve a maior produtividade do mundo
(1.633kg/ha).
Quanto ao comércio, só os Estados Unidos responderam por 24% das exportações
mundiais, de 5,7 milhões de toneladas, entre 1996/97 e 2000/01. Destacam-se,
também, Usbequistão, Austrália e países africanos (ex-colônias francesas),
responsáveis por 40% do total exportado. Apesar de ser o maior produtor, a China
não participa das exportações, uma vez que quase toda a sua produção é consumida
internamente. Os países do sudeste asiático constituem-se nos maiores
importadores (17,0%), seguidos pela União Européia (16,0%).
Do lado da demanda, com a introdução das fibras artificiais e sintéticas no parque industrial têxtil, o algodão vem há longo tempo perdendo sua participação relativa no consumo mundial1. Os dados disponíveis para o período mais recente, compreendido entre 1993 e 19982, de ABIT (2000), indicam que o consumo mundial de
fibras têxteis evoluiu de 39,2 milhões de toneladas para 45,4 milhões de
toneladas, enquanto que a participação do algodão passou de 47% para 42% e a de
fibras artificiais e sintéticas, juntas, de 48% para 55%. Os principais
concorrentes do algodão são as fibras sintéticas, cuja participação no total
demandado evoluiu de 42% para 50% entre os anos extremos desse período,
tornando-se a fibra mais consumida no mundo.
O mercado mundial de algodão vem apresentando evolução do consumo em níveis
inferiores aos da oferta. Entre 1995/96 e 2000/01, enquanto o consumo foi, em
média, de 19,4 milhões de toneladas, a oferta - estoque inicial e produção -
alcançou 27,9 milhões de toneladas, resultando em excedente de 8,5 milhões de
toneladas, o equivalente a 30,5% da quantidade ofertada no período, acarretando
com isto forte pressão sobre o nível de preços (Figura 1). Mesmo considerando
que as cotações se encontravam bastante elevadas no início do período analisado,
como reflexo da alta de preços atípica que marcou a temporada 1994/95 e a breve
recuperação no início da atual safra 2000/01, as cotações voltam a declinar,
atingindo em junho de 2001 o menor nível da série analisada (Figura 2).
Para a safra 2001/02, a ser iniciada em agosto próximo, o USDA prevê que a
produção mundial de algodão deva alcançar 20,4 milhões de toneladas, as quais,
acrescidas do estoque final da temporada atual (8,2 milhões de toneladas),
poderão resultar em 28,6 milhões de toneladas ofertadas, para um consumo
estimado de 20,3 milhões de toneladas.
Assim, o algodão, a exemplo de outras commodities
agrícolas, tem apresentado um cenário de superoferta, fato que tem agravado a
situação econômica de países com alta dependência do agronegócio nas suas pautas
de divisas. Nesse particular, o Brasil, que praticamente (re)conquista a
auto-suficiência da fibra de algodão para abastecimento de seu parque têxtil,
poderá, a não ser que haja uma reversão abrupta no cenário econômico interno,
sobretudo na contenção da desvalorização do real, apresentar na safra vindoura
redução de área plantada, em benefício da soja, cujo complexo (grão, farelo e
óleo) está fortemente vinculado ao mercado externo e se constitui em moeda forte
da agricultura.
No âmbito internacional, a crise, (hoje) globalizada, deverá provocar baixas acentuadas nas cotações de algodão. Prova disto é o aumento previsto nas exportações dos Estados Unidos, por conta da queda no consumo interno. As crises econômicas nos Estados Unidos, Japão e Alemanha são indicadores de menor procura por fibras têxteis, que, ao contrário de outras commodities agrícolas, não apresentam curta
durabilidade e necessidade de reposição imediata, como no caso de alimentos.
O panorama que se vislumbra para o algodão, no curto prazo, não é, portanto, dos
mais animadores e poderá acarretar sérias conseqüências no âmbito da cadeia
produtiva, agravadas, ainda, pela crise energética com reflexos no desempenho do
parque têxtil.
1 TOYAMA, Nelson K.; NOGUEIRA, JUNIOR, Sebastião. Demanda internacional do algodão.
SP, IEA, Relatório de Pesquisa, 01/82, 14p, 1982.
2 ABIT/SINDITÊXTIL.
Carta Abit. SP, 2000.
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Data de Publicação: 29/06/2001
Autor(es):
Marisa Zeferino (marisa.zeferino@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Sebastião Nogueira Junior (senior@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor