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Panorama Das Exportações De Açúcar Brasileiro
A
partir do final da década de 1980, a indústria sucroalcooleira nacional viu-se
diante de um desafio imenso representado pela necessidade de realizar grandes
ajustes para adequar-se à nova realidade das políticas públicas. O governo
sinalizava o fim do protecionismo, com a extinção do Instituto do Açúcar e do
Álcool (IAA), e promulgava, ao longo dos anos seguintes, uma série de medidas
direcionada para a formação de um mercado interno de cana-de-açúcar, de açúcar,
de álcool e de outros subprodutos, sem a intervenção direta que caracterizou
esse setor desde a República Nova, de 1930 em diante.
Por causa disso, procederam-se profundas mudanças na estrutura do setor, pois
havia que se transformar para estar apto a sobreviver sem a interferência direta
do governo na formação das quotas de produção e de exportação e na formação de
preços dos produtos dessa agroindústria.
Uma dessas transformações diz respeito à adoção de inovações tecnológicas no
processo de produção da matéria-prima no campo. Nesse caso, sobressai a
intensificação da mecanização em todas as etapas desse processo, especialmente
no centro-sul do País. A prática comum é que parte do plantio é mecanizada,
enquanto o carregamento e o transporte já podem ser considerados completamente
mecanizados e a colheita passa por um ritmo acelerado de substituição do modo
manual para o sistema mecanizado.
Por sua vez, no segmento industrial percebem-se sinais de transformação
organizacional, estrutural e de adoção de inovações tecnológicas, verificados
pela constatação de fusões e incorporações de usinas/destilarias, pelo
investimento de capital estrangeiro, e mesmo nacional, na aquisição e instalação
de unidades industriais no centro-sul do País e pela diversificação da produção
e lançamento de novos produtos.
Além disso, constatam-se a formação de estratégias conjuntas de sobrevivência e
a criação de oportunidades visando aumentar a competitividade setorial, através
de iniciativas para formar parcerias, tanto no próprio setor privado quanto com
o governo. No primeiro caso, pode-se citar como exemplo o sistema de remuneração
da matéria-prima, chamado de sistema CONSECANA, estabelecido entre fornecedores
e compradores de cana de São Paulo. Um exemplo da interação entre setor privado
e governo é o acordo, assinado em setembro de 1999 entre o governo do estado de
São Paulo, a UNICA e outras entidades, chamado de Pacto pelo Emprego no
Agronegócio Sucroalcooleiro, cujo objetivo explícito era o de elaborar ações
para garantir sua sustentabilidade econômica, social e ambiental.
Todas essas transformações ocorridas no âmbito do mercado interno, adicionadas
às mudanças estruturais do mercado externo – especialmente o fim do acordo
Cuba-URSS e a continuidade do embargo dos EUA a esse país, os quais precipitaram
um importante processo de desarranjo na economia cubana --, criaram condições
para o Brasil ocupar parcela desse mercado de açúcar, antes ocupado por Cuba, e
ainda aumentar a sua participação no mercado como um todo.
O resultado dessa participação pode ser verificado pela expansão havida desde a
safra 1990/91, quando o Brasil exportou 1,3 milhão de toneladas (4% do comércio
mundial). As vendas externas cresceram para um patamar médio de 5 a 7 milhões de
toneladas no período mais recente (algo em torno de 20%), o que significa ser o
País o maior exportador mundial na década de 1990, conforme dados do USDA.
Tabela 1. Participação do valor das exportações de açúcar no total das exportações brasileiras, U$ 1.000.000
Ano | Açúcar | total | % s/
total |
1992 | 601 | 35.793 | 2 |
1993 | 791 | 38.555 | 2 |
1994 | 996 | 43.545 | 2 |
1995 | 1.926 | 46.506 | 4 |
1996 | 1.620 | 47.747 | 3 |
1997 | 1.784 | 52.990 | 3 |
1998 |
1.956 |
510140 |
4 |
1999 |
1.925 |
48.011 |
4 |
2000 |
1.203 |
55.086 |
2 |
Fonte: SECEX
Veja-se que o valor das exportações de açúcar passou de U$ 600 milhões, em 1992,
para U$ 1,92 bilhão, em 1999, chegando a gerar 4% das receitas cambiais do País,
o que significou dobrar e manter o esforço de exportação durante todo o período
(tabela 1).
O tamanho do Brasil no mercado externo aumentou o peso do País na definição de
preços. A perspectiva de maior oferta do açúcar brasileiro nesse mercado,
concretizada no extraordinário volume exportado de 12 milhões de toneladas de
açúcar em 1999, devido ao excesso de álcool verificado no mercado interno no
período 1997-99, ajudou a pressionar a tendência baixista. Os preços recebidos
continuaram a sofrer queda, acentuada em 1998 e 1999, com registro de
decréscimos de 32% entre esses dois anos (tabela 2).
Mesmo com a redução no volume de exportação em 2000 (como veremos adiante), os
preços não voltaram aos patamares anteriores. Embora tenham sido reajustados em
17% em relação ao ano anterior, ainda representam 74% dos preços de 1992 e
apenas 60% dos preços de 1995, ano em que alcançaram os maiores valores de todo
o período (tabela 2).
Tabela 2. Preços Médios Recebidos pelo Exportador de Açúcar Brasileiro
Ano |
U$/t |
U$ cents/lb
(¹) |
Evolução
% |
Indice
simples |
1992 |
249,6 |
0,1132 |
- |
100 |
1993 |
257,7 |
0,1169 |
+3 |
103 |
1994 |
289,1 |
0,1311 |
+12 |
116 |
1995 |
307,9 |
0,1397 |
+7 |
123 |
1996 |
298,8 |
0,1355 |
-3 |
120 |
1997 |
278,0 |
0,1261 |
-7 |
111 |
1998 |
232,0 |
0,1052 |
-17 |
93 |
1999 |
157,5 |
0,0714 |
-32 |
63 |
2000 |
184,3 |
0,0836 |
+17 |
74 |
(¹)Preço em tonelada/ 2.204,6 libras
Fonte: SECEX
A alta volatilidade dos preços externos do açúcar, atribuída (a) ao fato de ser uma commodity, (b) ao pequeno tamanho do mercado internacional (entre 15% e 20% da disponibilidade total) e (c) à extrema proteção existente nos principais mercados importadores, passa a contar também com a influência das mudanças estruturais e conjunturais do mercado brasileiro de açúcar e de álcool, subjacentes a elas as políticas públicas e as políticas setoriais privadas.
Tabela 3. Composição das Exportações Brasileiras de Açúcar, em U$1.000
Ano |
Bruto |
% |
Refinado |
% |
Outros |
% |
Total |
% |
1992 |
329.817 |
54,9 |
269.018 |
44,8 |
2.026 |
0,3 |
600.861 |
100 |
1993 |
550.059 |
69,5 |
236.308 |
29,9 |
4.665 |
0,6 |
791.032 |
100 |
1994 |
787.859 |
79,1 |
203.729 |
20,5 |
4.049 |
0,4 |
995.637 |
100 |
1995 |
1.450.654 |
75,3 |
467.628 |
24,3 |
7.176 |
0,4 |
1.925.458 |
100 |
1996 |
1.190.736 |
73,6 |
418.011 |
25,8 |
9.954 |
0,6 |
1.618.701 |
100 |
1997 |
1.045.396 |
58,6 |
727.060 |
40,8 |
10.954 |
0,6 |
1.783.410 |
100 |
1998 |
1.096.114 |
56,1 |
847.319 |
43,3 |
11.915 |
0,6 |
1.955.348 |
100 |
1999 |
1.162.305 |
60,4 |
748.388 |
38,9 |
13.775 |
0,7 |
1.924.468 |
100 |
2000 |
761.491 |
63,3 |
437.620 |
36,4 |
4.160 |
0,3 |
1.203.271 |
100 |
Fonte: SECEX
Um fato relevante para o
estabelecimento de ações incentivadoras ou reguladoras das exportações é que
prevalecem no comércio do açúcar os tipos definidos como bruto (cristal,
demerara, mascavo) e refinado (açucares submetidos ao processo de refino), com
uma participação de mais de 98%, enquanto os demais, enquadráveis em outros
tipos (melaço, glicoses, outros açúcares), têm uma participação residual de
menos de 1%. Além disso, a predominância é do açúcar não-refinado, quase sempre
com participação acima de 60% (tabela 3).
Assim, vale a pena conhecer a distribuição das exportações de açúcar por países
e regiões, como forma de ter uma base de informações que permita um exame mais
detalhado.
Tabela 4. Exportações de Açúcar Brasileiro, Bruto e Refinado, por Países e Regiões de Destino
Países | Região Geo-Política |
U$
FOB |
% |
Quantidade |
% |
Rússia, Fed. | Eur. Orient./ex-URSS |
308.799.128 |
25,75 |
1.859.715 |
25,58 |
Nigéria | África/Oeste/OPEP |
112.066358 |
9,35 |
560.900 |
8,62 |
Emir. Árabes Unidos | Ásia/O. Médio/OPEP |
106.131.495 |
8,85 |
577.023 |
8,87 |
Estados Unidos | América do Norte |
70.738.370 |
5,90 |
199.745 |
307 |
Irã, Rep. Isl. | Ásia/O. Médio/OPEP |
58.708.246 |
4,90 |
357.732 |
550 |
Egito | África/Norte |
56.280.666 |
4,69 |
284.072 |
437 |
Marrocos | África/Norte |
52.789.304 |
4,40 |
300.083 |
461 |
Iemem | Ásia/Oriente Médio |
50.480.396 |
4,21 |
244.400 |
376 |
Arábia Saudita | Ásia/O. Médio/OPEP |
49.444.285 |
4,12 |
314.190 |
483 |
Romênia | Europa Oriental |
44.659.853 |
3,72 |
279.194 |
429 |
Canadá | América do Norte |
37.530.267 |
3,13 |
207.655 |
319 |
Paquistão | Ásia |
26.301.550 |
2,19 |
131.672 |
202 |
Argélia | África/Norte/OPEP |
23.882.154 |
1,99 |
143.796 |
221 |
Somália | África/Leste |
18.316.394 |
1,53 |
86.342 |
133 |
Malásia | Ásia |
17.063.299 |
1,42 |
99.303 |
153 |
Uruguai | Am. Do Sul |
13.488.844 |
1,12 |
79.056 |
122 |
Bangladesh | Ásia |
12.558.893 |
1,05 |
58.750 |
090 |
Gana | África/Oeste |
11.808.950 |
0,98 |
63.500 |
098 |
Bulgária | Europa Oriental |
11.560.187 |
0,96 |
72.272 |
111 |
Angola | África/Sul |
10.908.261 |
0,91 |
45.666 |
070 |
Cingapura | Ásia |
10.712.996 |
0,89 |
71.516 |
110 |
Gâmbia | África/Oeste |
10.163.455 |
0,85 |
43.000 |
066 |
Tunísia | África/Norte |
8.156.649 |
0,68 |
39.421 |
061 |
Sri Lanka | Ásia |
7.904.525 |
0,66 |
45.000 |
069 |
Chile | Am. Do Sul |
7.212.211 |
0,60 |
38.066 |
059 |
Rep. Dominicana | Am. Central e Caribe |
6.578.925 |
0,55 |
29.400 |
045 |
Ucrânia | Eur. Orient./ex-URSS |
5.999.499 |
0,50 |
37.996 |
058 |
Reino Unido | Eur. Ocidental/UE |
4.806.831 |
0,40 |
24.302 |
037 |
Indonésia | Ásia |
4.469.220 |
0,37 |
21.000 |
032 |
Índia | Ásia |
4.386.260 |
0,37 |
28.000 |
043 |
Iraque | Ásia/O. Médio/OPEP |
4.347.750 |
0,36 |
26.250 |
040 |
Belarus | Eur. Orient./ex-URSS |
4.036.562 |
0,34 |
26.500 |
041 |
Portugal | Eur. Ocidental/UE |
3.420.000 |
0,29 |
12.000 |
018 |
Etiópia | África/Leste |
3.071.640 |
0,26 |
13.200 |
020 |
Suíça | Europa Ocidental |
2.667.924 |
0,22 |
7.419 |
011 |
Paraguai | Am. Do Sul/Mercosul |
2.130.435 |
0,18 |
10.445 |
016 |
Peru | Am. Do Sul |
2.051.109 |
0,17 |
9.317 |
014 |
Costa do Marfim | África/Oeste |
1.848.000 |
0,15 |
7.000 |
011 |
Mali | Äfrica/Oeste |
1.748.700 |
0,15 |
6.700 |
010 |
Bolívia | Am. Do Sul |
1.695.787 |
0,14 |
7.162 |
011 |
Quênia | África/Leste |
1.673.000 |
0,14 |
7.001 |
011 |
Djbuti | África/Leste |
973.104 |
0,08 |
6.258 |
010 |
Madagascar | África/Leste |
866.000 |
0,07 |
4.000 |
006 |
Espanha | Eur. Ocidental/UE |
790.538 |
0,07 |
2.996 |
005 |
Venezuela | Am. Do Sul |
763.351 |
0,06 |
3.405 |
005 |
Serra Leoa | África/Oeste |
440.000 |
0,04 |
2.500 |
004 |
Argentina | Am. Do Sul/Mercosul |
366.050 |
0,03 |
1.652 |
003 |
Grécia | Eur. Orient./UE |
260.911 |
0,02 |
1.021 |
002 |
Itália | Eur. Ocidental/UE |
259.276 |
0,02 |
983 |
002 |
Libéria | África/Oeste |
258.000 |
0,02 |
1.500 |
002 |
Haiti | Am. Central e Caribe |
249.554 |
0,02 |
1.000 |
002 |
Moçambique | África/Sul |
218.677 |
0,02 |
929 |
001 |
México | América do Norte |
193.492 |
0,02 |
1.184 |
002 |
Namíbia | África/Sul | <DIV align=ri |
Data de Publicação: 21/02/2001
Autor(es): Alceu De Arruda Veiga Filho Consulte outros textos deste autor