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Caminhamos Para Uma Bioeconomia?
Rifkin considera, por um lado, que a atenção de pesquisadores, agricultores,
consumidores e a sociedade está voltada principalmente para a verdadeira
revolução que está ocorrendo na área de computadores e telecomunicações. Por
outro, destaca que há uma outra área do conhecimento científico na qual as
conseqüências para os seres humanos, em seu dia-a-dia, poderão ser muito mais
abrangentes e drásticas. É o campo da biotecnologia.
Da leitura do livro, pode destacar-se aspectos relativos à produção agrícola e
economia, ainda quase totalmente desconhecidos e provavelmente nunca pensados,
sequer como remota possibilidade, por pesquisadores, agricultores e
consumidores. O livro discute e traz exemplos concretos dos atuais avanços na
biotecnologia, especialmente na engenharia genética. Estes breves comentários
sobre esse livro pretendem apenas mostrar um pouco do que já está ocorrendo e
destacar algumas das perspectivas para a agricultura, conforme os cenários
descritos por esse autor.
O principal fato que é preciso ser internalizado e absorvido, intelectual e emocionalmente, é o de que, do ponto de vista científico, não há mais barreiras entre as espécies. A espécie humana conseguiu desenvolver uma ferramenta que lhe dá o poder de criar natureza. Rifkin (1998) diz que 'As novas ferramentas
constituem a derradeira expressão do controle humano, ajudando-nos a moldar e
definir o modo que gostaríamos de ser e como gostaríamos que o resto da natureza
fosse.' Por outro lado, o autor considera que as revoluções da informática e
genética estão saindo dos laboratórios para juntas constituir uma linha de
frente, científica, tecnológica e comercial, uma poderosa nova realidade que vai
ter profundo impacto nas nossas vidas pessoais e coletivas nas próximas décadas.
E, principalmente, que as rupturas científicas ocorridas na área da
biotecnologia estão saindo dos laboratórios e indo para o uso comercial,
trazendo incríveis benefícios mas também sérios riscos.
1 Comentários sobre o livro “O Século
biotécnico” de Jeremy Rifkin 2 Co-autor do livro Quem deve brincar de Deus ? A criação artificial da vida e o que isso significa para o futuro da raça humana (1977), previu que até o ano 2000 haveria fabricação espécies transgênicas, clonagem, bebês de proveta, fabricação de órgãos humanos, cirurgia genética em seres humanos etc.. Na oportunidade, foi criticado pela comunidade científica e meios de comunicação como sendo “alarmista” e que levaria pelo menos cem anos para que esses avanços ocorressem de fato. |
As conseqüências
previstas são de que, nas próximas décadas, o modo de vida vai mudar mais rápido
do que nos últimos mil anos.
Para objetivar esta resenha em torno do campo da agricultura/economia,
destacamos a afirmação do autor: 'A agricultura global poderá encontrar-se no
meio de uma grande transição na história do mundo, com um crescente volume de
alimentos e fibras sendo produzidas em ambientes fechados 'indoor agriculture'
através de cultura de tecidos em gigantescos recipientes de bactérias, a uma
fração do preço de produzi-las no campo. A mudança para a agricultura interior
poderia significar preços mais baixos e oferta mais abundante de alimentos,
milhões de fazendeiros tanto nos países desenvolvidos como nos subdesenvolvidos,
arrancados de suas terras, detonando uma das maiores catástrofes sociais na
historia mundial'. Relata um caso especifico e concreto da produção em
laboratório da baunilha, em escala comercial em barris, através do isolamento do
gene que codifica o itinerário metabólico que resulta no sabor baunilha,
produzindo-o em banho de bactéria – eliminando a fava, a planta, o solo, o
cultivo, a colheita e o agricultor. A aplicação da engenharia genética, e
clonagem em animais serviria para estabelecer-se 'animais fabricas', destinados
a secretar, em seu sangue e leite, produtos químicos e drogas a custo
baixíssimo, destinados ao uso humano.
Da união da utilização de computadores e biotecnologia identifica o autor a emergência de um novo campo de pesquisa – a bioinformática – e o surgimento da bioeconomia.
Rifkin considera, 'O casamento de computadores com genes altera para sempre
nossa realidade no nível mais profundo da experiência humana'. Uma nova e
poderosa realidade tecnológica está se formando pela fusão das tecnologias
computacionais e genéticas, aplicadas numa economia biotécnica. Isto
significaria que estamos passando de uma grande era econômica para outra, na
qual o gerenciamento econômico seria determinado pelo gerenciamento dos genes.
Considera que a era industrial está terminada, marcada também pelo encerramento
da idade do fogo. Destaca que foi com o fogo que a espécie humana pôde derreter,
fundir o mundo inanimado e formatá-lo sob a forma de utilidades. O fogo permitiu
que se aquecesse iluminasse e utilizasse a força dele derivada.
Uma novidade nessa nova era, que identifica e vislumbra, é a possibilidade do patenteamento da vida, seus componentes e processos, que até recentemente era inaceitável e inviável. E seria dentro dessa nova
perspectiva, e a partir das novas tecnologias, que a economia e a sociedade se
reorganizariam. E isso porque a economia e a sociedade constituiriam
historicamente apenas amplificações dos próprios princípios e práticas da
natureza.
Segundo Rifkin, depois de milhares de anos fundindo, derretendo, soldando, forjando e queimando matéria inanimada de modo a criar coisas úteis, o ser humano estaria agora juntando, recombinando, inserindo, transformando matéria viva em utilidades econômicas. Refere-se à observação do escritor científico inglês Lord
Ritchie-Calder, que afirma: '...assim como nos manipulamos metais e plásticos,
nós estamos agora manufaturando matéria viva'.
Observa ainda o autor que a velocidade com que estão sendo feitas as descobertas
científicas é muito rápida e que as possibilidades de aplicações comerciais
'...estão limitadas apenas pelo alcance da imaginação humana e pelas
idiossincrasias e caprichos do mercado'.
Ressalta uma diferença fundamental da biotecnologia em relação à genética
convencional, que é o fato de que ela não trabalha e manipula mais espécies, mas
sim genes. E conclui Rifkin: 'A nova tecnologia genética permite-nos combinar
material genético através dos limites naturais, reduzindo toda vida a materiais
químicos manipuláveis. Esta radical forma de manipulação biológica muda nosso
conceito de natureza e de relação com a mesma.' Neste sentido, a produção
agrícola, que tradicionalmente decorre de uma relação obrigatória com a
natureza, poderá se 'libertar' dessas condições naturais de produção. Superada
essa necessidade do trabalho de campo característico da produção agrícola
convencional, o trabalho necessário à nova produção agrícola passaria a ser o de
reprogramar o código genético das coisas vivas, de modo a que atendam às nossas
necessidades e desejos culturais e econômicos relacionados com os produtos
agrícolas.
Data de Publicação: 01/06/2000
Autor(es): Richard Domingues Dulley Consulte outros textos deste autor