Café: persiste tendência de alta, apesar de volatilidade

            O café manteve a tendência de alta nos diferentes mercados de cotações futuras mundiais, embora tenha sido observada forte volatilidade em novembro de 2005. Esta volatilidade ocorreu em virtude da perspectiva de o Brasil produzir acima de 45 milhões de sacas na próxima temporada (já em curso), ainda que os fundamentos do mercado indiquem déficit de oferta em nível internacional e baixa considerável dos estoques no ano-safra 2005/06.
            Neste contexto, os preços futuros apontam para leve crescimento, alta esta muito aquém do esperado pelos cafeicultores. Isto, mesmo com o crescimento da demanda das indústrias do Hemisfério Norte visando ao abastecimento no inverno, época que mais se consome a bebida.
            Na Bolsa de Nova Iorque, as cotações do arábica subiram apenas 1,17%, em relação à cotação média de outubro (Contrato C, segunda posição). Na Bolsa de Londres, o robusta registrou maior crescimento (de 8,06% para a segunda posição), devido à expectativa de quebra de produção no Vietnã, o maior produtor. No mercado de futuros da BM&F, o preço do arábica teve alta de 4,38% também para a segunda posição. O indicador OIC-Composto diário apresentou alta de 4,09% em relação à média do índice de outubro (gráfico 1).

Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes mercados de futuros (segunda posição) e do OIC-Composto diário, 2003 a 2005

                Fonte: Gazeta Mercantil

            O diferencial entre as cotações observadas na BM&F e em Nova Iorque continua em queda, atingindo US$ 6,22 a saca, cerca de 48,8% inferior à média do mês anterior. Mas mantém a tendência que se observa desde junho, devido ao menor nível das exportações brasileiras em novembro.
            Pode-se inferir também que tem havido progressivo reconhecimento da melhoria da qualidade do produto brasileiro, além da menor disponibilidade do produto tendo em vista a redução das exportações ocorridas nos últimos meses. Este fato tem contribuído para o contínuo estreitamento do diferencial praticado.
            As cotações do arábica, contrato C, segunda posição, na Bolsa de Nova Iorque, exibiram tendência de expressiva alta nos primeiros onze dias de novembro. A partir de então, a atuação dos fundos e a liquidação de posições, além da retração da demanda com o outono mais ameno no Hemisfério Norte, pressionaram de forma acentuada os preços para baixo (gráfico 2).

Gráfico 2 - Cotações diárias em novembro de 2005 na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, segunda posição

                      Fonte: Gazeta Mercantil

            Já o mercado de robusta na Bolsa de Londres teve expressiva alta em novembro, devido às estimativas iniciais da safra vietnamita, cuja queda superior a 10% reduziu a oferta do produto. O comportamento das cotações no mercado de Londres em outubro, segunda posição, pode ser verificado no gráfico 3.

Gráfico 3 - Cotações diárias para o café robusta, segunda posição, na Bolsa de Londres, no mês de novembro de 2005

                   Fonte: Gazeta Mercantil

            Na BM&F, a evolução dos preços do arábica, segunda posição, cotados em dólar por saca em outubro, indica variação positiva acumulada de 30,63% nos últimos doze meses e de 9,73% em 2005. No mercado de Nova Iorque, os preços do arábica, contrato C, segunda posição, cresceram 18,93% nos últimos doze meses e apenas 2,64% em 2005.
            Por fim, as cotações do robusta no mercado de Londres, segunda posição, tiveram variação acumulada de 58,36%, nos últimos doze meses, e de 33,61% em 2005. A estimativa do OIC-Composto apresentou crescimento acumulado de 27,14%, em doze meses, e de apenas 11,31% em 2005, fortemente influenciada pelos atuais preços praticados para o robusta.
            Na cafeicultura paulista, as cotações médias em novembro cresceram 1,79% em relação à média de outubro, em função da alta nas cotações internacionais. Mas a trajetória dos preços de café recebidos pelos produtores, em reais, nos últimos doze meses, aponta para alta acumulada de 11,39%. Em 2005, perdeu-se todo o ganho nos preços, que já apresentam redução de 3,39%, fruto da queda de 17% na taxa de câmbio no ano (gráfico 4).

Gráfico 4 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, 2002 a 2005

                  Fonte: Instituto de Economia Agrícola

            O efeito da valorização do real nos preços recebidos pelos produtores pode ser observado na variação acumulada nos últimos doze meses das cotações da segunda posição do arábica na BM&F. Em dólar, tal como é cotado na BM&F, a variação acumulada em outubro foi de 30,63%. Quando se transformam as cotações em reais, diariamente, nos últimos doze meses e se calcula a nova variação acumulada, obtém-se alta de apenas 3,69%. Isto indica que a diferença foi absorvida pelo câmbio, cuja forte valorização vem reduzindo a renda em real dos produtores brasileiros de café.

Nova queda nas exportações mundiais

            Em outubro de 2005, foram embarcadas aproximadamente 6,17 milhões de sacas de café, representando queda de 10,41% nas exportações mundiais frente ao mesmo mês do ano anterior, segundo relatório publicado pela Organização Internacional do Café (OIC)1. O declínio nas exportações do tipo arábica, em outubro, foi ainda mais expressivo, pois as 4,08 milhões de sacas transacionadas indicam redução de 14% frente a igual período do ano anterior.
            Considerando o período novembro a outubro, a exportação mundial mantém relativa estabilidade, uma vez que a queda observada foi de apenas 0,78% do volume embarcado de 88,45 milhões de sacas. Assim, a mobilização dos estoques existentes é alternativa imprescindível para regularizar o fluxo da demanda, especialmente em contexto de incremento discreto do consumo.

Política cafeeira

            Reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), em 24/11/2005, aprovou a disponibilização de R$ 400 milhões em apoio às operações de crédito de custeio (período 2005/06), cuja comercialização ocorrerá de julho de 2006 a junho de 2007. Os empréstimos podem ser contratados diretamente pelos cafeicultores ou por intermédio de suas cooperativas.
            O limite de crédito é de R$ 1.440,00 por hectare sem exceder R$ 140.000,00 por produtor. O pagamento deve ocorrer de uma só vez no prazo máximo de 45 dias após o encerramento da colheita. Os encargos do financiamento somam 9,5% ao ano mais spread do agente financeiro (limitados em até 4,5%). A contratação poderá ser realizada até 28/02/2006.

Rumo à excelência em café

            Com muito júbilo, foram lançados no varejo paulista a 3a Edição Especial dos Melhores Cafés de São Paulo. O local escolhido não poderia ser mais apropriado, pois na sede do Instituto Biológico de São Paulo há uma lavoura urbana de café com cerca de 2 hectares (talvez única no mundo).
            As oito torrefadoras que arremataram em leilão os lotes oferecidos, e que com esmero preparam seus produtos para lançamento, esperam retorno imediato. Como apontam alguns dados divulgados pela Companhia Brasileira de Distribuição (CBD), a procura por cafés especiais cresceu mais de 300% entre 2004 e 20052.
            Deve ainda ser comemorada a conquista do Prêmio ABIC para os cafés de preparo natural por parte de lote proveniente de Pedregulho/SP. Cada saca foi arrematada por R$ 8.000,00, valor acima daquele oferecido pelo seu rival obtido pelo método cereja descascado.

Contando os prejuízos

            Toda a vertente atlântica dos países centro-americanos e do México começa a avaliar as perdas de lavouras com a seqüência de furacões e tempestades que ocorreram nessa temporada. Estimativas preliminares indicam que somente no México cerca de 130 mil hectares deverão sofrer podas de recuperação. Em Nicarágua, Honduras e El Salvador, o quadro é bastante similar. A oferta desses países deve ficar comprometida pelos próximos dois anos.

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1 OIC: www.ico.org
2 www.pacafes.com.br
3 Artigo registrado na CCTC-IEA sob número HP-119/2005

Data de Publicação: 07/12/2005

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor