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Café: transações no mercado futuro perdem posição relativa
Dentro do conjunto das commodities transacionadas na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F)1 no período de janeiro a setembro de
2005, os contratos de café arábica representaram 47,6%, perdendo a posição
relativa que se mantinha na média de 65% nos últimos quatro anos, mesmo com o
crescimento de 2,92% nos nove meses de 2005 (tabela 1). Tabela 1 – Número de contratos de café arábica e total, 2000
a 2005 Essa
ainda majoritária participação do arábica no número de contratos, no conjunto
dos celebrados nas transações realizadas, indica a importância do produto nos
investimentos do setor no mercado da BM&F (em futuros e em opções). A
atuação da cadeia produtiva do café no mercado de títulos financeiros,
notadamente em futuros, representa aspecto relevante, pois permite aos
cafeicultores e demais agentes da cadeia protegerem seu patrimônio,
compartilhando parte dos riscos intrínsecos à atividade. Gráfico 1 – Evolução das cotações médias mensais para a
segunda posição, café arábica na BM&F, setembro 2004 a setembro 2005
(1) Referente a janeiro-setembro de 2005 e Ano
(%)
(%) 2000 2001 2002 2003 2004 2005(1)
(2) Em relação a janeiro-setembro de 2004
Fonte: http://www.bmf.com.br/2004/pages/imprensa1/relatorios/RelMensal/RelatorioMensal_Setembro2005.pdf
No período de janeiro a setembro de 2005, o mercado de café viveu dois momentos.
O primeiro trimestre, com expressiva alta, foi seguido de perda a partir de
abril do ano. Na BM&F, a cotação da segunda posição para o café arábica caiu
4,14% no ano de 2005, o que pode explicar a redução de 23,18% no número de
contratos em relação ao mesmo período de 2004.
Em outubro de 2005, as cotações do café passaram a exibir ligeira recuperação,
em consonância com a conhecida curva de sazonalidade de preços para o produto.
Os cafeicultores e outros interessados podem a partir desse mês estabelecer
estratégia comercial que garanta fixação de posição com margem satisfatória. As
cotações do café arábica, segunda posição, na BM&F (até setembro), ainda não
indicam esse comportamento (gráfico1), que porém pode ser constatado pelos
preços diários disponíveis na mídia.
Fonte: Dados elaborados pelo IEA a partir de cotações diárias da BM&F
Os
contratos, enquanto cambiais, possuem um valor de face que pode igualmente ser
acumulado ao longo do ano. Em 2004, por exemplo, o valor dos contratos de café
arábica totalizou US$ 5,50 bilhões, ou seja, mais de três vezes o saldo dos
embarques de café verde rumo ao exterior (tabela 2). A dimensão desse montante
transacionado na BM&F revela o interesse por esses (e a liquidez desses)
papéis.
Caso todos os títulos fossem exercidos no mercado físico, seria preciso acumular
o volume colhido em duas safras para saldar os compromissos acertados em 2004,
quando cerca de 67,4 milhões de sacas foram negociadas. No período de janeiro a
setembro de 2005, em relação ao mesmo período do ano anterior, o volume
negociado caiu 23,18%, o que deve estar associado a uma safra brasileira 15%
menor que a de 2004. Já o valor cresceu 31,33%, devido à favorável recuperação
de preços do produto.
Tabela 2 – Volume e valor dos contratos de café arábica, 2000 até primeiro semestre de 2005
Ano | | |
2000 | | |
2001 | | |
2002 | | |
2003 | | |
2004 | | |
2005(1) | | |
Fonte: http://www.bmf.com.br/2004/pages/imprensa1/relatorios/RelMensal/RelatorioMensal_Setembro2005.pdf
Ao analisar o número de contratos negociados mensalmente, nos últimos três anos, verifica-se que, em 2005, há um crescimento expressivo dos negócios realizados em agosto, embora seguido de igual queda em setembro, o que aponta a manutenção de contexto volátil para a realização das transações (gráfico 2).
Gráfico 2 - Número mensal de contratos de café arábica negociado na BM&F, 2002-05
Fonte: http://www.bmf.com.br/2004/pages/imprensa1/relatorios/RelMensal/RelatorioMensal_Setembro2005.pdf
O
perfil dos participantes do mercado de contratos de café arábica é formado por
pessoas físicas e jurídicas, tanto nacionais como residentes no exterior. Cerca
de 30% dos comprados em setembro de 2005 pertenciam à categoria de investidor
não-residente-agro, reduzindo pela metade a sua participação nos últimos dois
meses. As pessoas jurídicas não-financeiras, que representavam dois terços até
dezembro de 2004, voltaram a recuperar sua posição relativa a partir de agosto
(tabela 3).
No caso dos vendidos, as pessoas jurídicas não-financeiras, que concentravam
mais de 50% dos negócios até dezembro de 2004, também voltaram a recuperar sua
participação relativa a partir de agosto, atingindo em setembro 49,69%. Já os
investidores não-residentes-agro voltaram a reduzir sua participação nos últimos
dois meses. Ainda neste grupo de vendidos, aparecem os investidores
institucionais nacionais, cuja participação em 2005 tem se mantido em torno de
30% e, nos últimos dois meses, em 25%. Esses investidores, normalmente, recorrem
aos títulos financeiros como forma de se proteger contra riscos em relação a
oscilações de preço em Nova Iorque.
Tanto para compra quanto para venda, os investidores de perfil pessoa física
apresentam baixa participação no contexto das transações. Já os investidores
residentes no exterior praticamente não aparecem como compradores e mantêm-se
abaixo de 1% do total para o caso de vendedores (tabela 3).
Essas informações indicam, no caso dos comprados, a grande importância dos
investidores pessoas jurídicas não-financeiras. Eles constituem as torrefadoras
de café torrado e moído e a indústria de solúvel, cujo objetivo é garantir um
determinado preço para a sua matéria-prima, o café verde.
Nos últimos 12 meses, é crescente a participação dessa categoria, embora ela venha perdendo importância (68,40%) desde setembro de 2004, em relação aos investidores não-residentes-agro. Estes últimos apresentam participação crescente, que atingiu 45,94% em março de 2005 e voltou a crescer desde então para atingir 62,66% em junho, mas se reduziu para 29,30% em setembro deste ano.
Quanto à posição vendida, as pessoas jurídicas não-financeiras são os
investidores mais expressivos, que respondiam, em setembro de 2005, por 49,69%
do total de investidores. Estes representam as cooperativas cujo objetivo é
garantir um determinado preço na venda de seu café verde. Logo em seguida,
aparecem os investidores institucionais nacionais, com 24,83% no mesmo mês, que
representam fundos que atuam no mercado com o objetivo de obter ganhos para os
seus clientes.
Da parte governamental, a possibilidade de oferta de contratos de opções pode
continuar tendo importante efeito na atração de industriais da torrefação e da
solubilização, que, inclusive, perderam participação no último semestre.
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1 São elas: açúcar, álcool anidro, algodão, bezerro,
boi gordo, café arábica, café conillon, milho e soja
2 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-95 /2005
Data de Publicação: 21/10/2005
Autor(es):
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor