O mercado de commodities ensaiou recuperação em setembro

            Setembro foi o mês em que ocorreram fortes especulações com o preço do petróleo, que atingiu cotação próxima dos US$ 70 o barril. Isto influenciou fortemente as ações dos fundos de investimentos, com efeitos nos mercados das commodities agropecuárias.
            Dessa forma, das nove commodities internacionais analisadas neste artigo, seis tiveram alta de preço nos mercados de futuros, mas três com expressiva importância nos volumes negociados nas bolsas apresentaram expressivas quedas (casos do café, da soja e do milho). A borracha natural foi altamente beneficiada pela alta do petróleo e seus preços cresceram 10,20% no mês.
            O boi gordo, que apresentava queda nas cotações desde o início do ano, reverteu a tendência, tanto em dólar quanto em real por arroba, apresentando alta na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). A sinalização de que ocorrerá redução na oferta no final da entressafra do produto deverá dar sustentação à alta nos próximos meses.
            Já no acumulado de 2005, a evolução das cotações das commodities indica alta, com exceção do café arábica e do boi, em real, que apresentam queda. Porém, no acumulado de 12 meses, apenas o milho e o boi gordo cotado em real apresentaram queda nas cotações, enquanto as demais commodities tiveram crescimento.
            A tabela 1 apresenta os resultados da análise das cotações das principais commodities agrícolas. Tem como base as cotações médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega, realizados em setembro e negociados nas bolsas de Chicago (trigo, soja e milho) e de Nova York (açúcar, café, algodão e suco de laranja), além da borracha na Malásia, do café robusta em Londres e do boi na BM&F.

Tabela 1 – Variação dos preços médios mensais das commodities nos diferentes mercados futuros, segunda posição, setembro de 2005 e acumulado em 12 meses (em percentagem)
 

Commodities
Mercado
Setembro de 2005
Acumulado 2005
Acumulado 12 meses
Açúcar
NY
6,82
20,08
24,63
Algodão
NY
3,43
18,53
3,33
Café arábica
NY
-8,71
-6,40
21,43
Café robusta
Lo
-13,90
19,29
37,33
Suco Laranja CC
NY
3,17
14,79
19,45
Soja grão
CHT
-7,49
8,61
3,42
Milho 
CHT
-5,00
3,84
-3,11
Trigo
CHT
0,26
9,42
0,79
Borracha SM20
Malásia
10,20
33,15
35,18
Boi
BM&F
4,88
2,35
9,76
Boi – em reais
BM&F
0,13
-13,73
-12,99
Fonte: Elaborado pelo IEA a partir dos dados das Bolsas Internacionais e da BM&F

            O avanço na colheita norte-americana de grãos e os bons rendimentos médios que vem sendo obtidos têm influenciado e reforçado a tendência de queda nas cotações da soja e do milho no mercado de Chicago no mês de setembro, como já havia acontecido em agosto.
            O preço médio da soja, no mercado de Chicago, caiu 7,49% em relação à média de agosto. Com o bom rendimento que se vem obtendo no início da colheita e indicação de produção acima do previsto inicialmente pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)1, as expectativas são de continuação da tendência de baixa neste início da comercialização da nova safra.
            No caso do milho, o comportamento em Chicago foi semelhante ao da soja, mas com queda de 5% em relação à média de agosto. Já a cotação média do trigo se mostrou estável, com leve alta de 0,26%, devido à menor concorrência do trigo canadense que apresenta baixa qualidade neste início de colheita.
            Para o algodão, as expressivas exportações norte-americanas sustentaram a alta das cotações que cresceram 3,43% em relação à média de agosto (tabela 1).
            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

 


            Ainda quanto às commodities negociadas na Bolsa de Nova York, têm-se o café arábica, o suco de laranja e o açúcar. No caso do suco de laranja, a expectativa de recuperação da produção na nova safra citrícola da Flórida é pessimista em função do fraco desenvolvimento dos pomares e dos ataques de doenças, como o cancro cítrico, o que elevou a cotação média do produto em 3,17%, em relação à média de agosto. A alta acumulada foi de 19,45% em 12 meses.
            Para o café arábica, a redução foi de 8,71% em relação à média de agosto. As cotações apresentaram forte tendência de queda, devido ao efeito da especulação por parte dos fundos com os investimentos em petróleo, saindo das posições investidas em café e da boa florada nos cafezais brasileiros, indicando maior oferta na safra futura.
            A queda nas cotações médias do produto, a partir de abril, praticamente levou os preços médios mensais de setembro aos níveis observados em dezembro de 2004. Assim, apresentaram uma variação acumulada negativa de 6,40%, em 2005, e positiva de 21,43% no acumulado de 12 meses.
            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

            O açúcar foi uma das commodities com maior alta em setembro, tal como havia ocorrido em agosto, de 6,82% em relação ao valor médio do mês anterior. A pressão da demanda por álcool no mercado norte-americano e sobretudo a redução das vendas de açúcar pelos países produtores, devido à chantagem da União Européia em colocar seus excedentes no mercado, têm dado sustentação às cotações do produto. Assim, com a alta de setembro, o preço médio do açúcar teve crescimento de 20,08% no ano e de 24,63% nos últimos 12 meses.
            O café robusta na Bolsa de Londres foi o produto com maior queda na cotação em setembro (13,90%), em função de maior oferta deste tipo de por parte dos países asiáticos. Mas o crescimento observado nas cotações médias do produto, de novembro de 2004 a junho de 2005, resultou na elevação de 37,33% nos últimos 12 meses e de 19,29% no ano de 2005 (tabela 1).
            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

            A cotação média da borracha natural apresentou a maior alta de todas as commodities analisadas. Cresceu 10,20% em relação à média de agosto, fortemente influenciada pela alta na cotação do petróleo. Essa alta vai contribuir para o maior aumento no preço recebido pelos heveicultores paulistas no mês de novembro, mesmo com a redução de 5,99% ocorrida na taxa de câmbio no mês.
            A cotação da borracha natural nos últimos 12 meses no mercado da Malásia pode ser observada no gráfico:

            O mercado de futuros do boi gordo na BM&F apresentou-se em alta em setembro, devido a indicações de oferta menor no final da entressafra do boi. Assim, a alta na cotação média foi de 4,88%, segunda posição, em dólar, em relação à média de agosto. Mas em reais a alta na cotação média em setembro, de acordo com a BM&F, foi menor (0,13%). No acumulado de 12 meses, houve alta de 2,45% nas cotações em dólar e queda de 13,73% em reais, mostrando o efeito da desvalorização da taxa de câmbio brasileira na cotação do boi gordo.
            O comportamento das cotações médias do boi gordo em reais e em dólar pode ser observado nos seguintes gráficos:


            Pelas informações anteriores, verifica-se melhora nas condições de mercado para a maioria das commodities agrícolas no mês de setembro, com exceção do café, da soja e do trigo. Isto ocorre no momento em que os agricultores de grãos e fibras estão em plena colheita (caso do trigo) ou em pleno plantio (casos do milho, da soja e do algodão).
            Das crises que hoje atingem o agronegócio, constituídas por aumento dos custos, redução de receita, elevada taxa de juros e câmbio valorizado, a pior é o efeito do câmbio. O câmbio valorizado come a receita dos agricultores, o que reduz a competitividade e aumenta o endividamento.
            Uma indicação do efeito do câmbio na competitividade dos produtos agrícolas de exportação pode ser dada pela análise do caso de um produtor de soja que planta em Sorriso (MT). Em setembro de 2004, quando ele planejava o plantio para o ano agrícola 2004/05, o mercado de Chicago, segunda posição, indicava cotação média de US$ 5,67 o bushel. Isto equivalia a US$ 208,34 por tonelada FOB Paranaguá (PR).
            Considerando o frete até o porto de R$ 180,00/tonelada, ou US$ 62,34/tonelada ao dólar médio da época de R$ 2,89, tem-se uma renda bruta de US$ 146,00/tonelada no seu município, o que equivale a R$ 25,29/saca. Considerando o custo de R$ 1.200,00/ha, há que se ter um rendimento de 47,44 sacas para cobrir seus custos.
            Veja agora a situação deste produtor em setembro de 2005. A cotação média da soja em Chicago, para a segunda posição, era de US$ 5,87/bushel ou US$ 215,69/tonelada, correspondendo ao valor FOB Paranaguá (PR).
            Dado o custo de transporte até o porto de R$ 200,00/tonelada ou US$ 88,90/tonelada ao dólar de R$ 2,25, tem-se uma renda bruta de US$ 126,79/tonelada no seu município, o equivalente a R$ 17,12/saca. Considerando o custo de R$ 1.000,00/hectare para a safra de 2005/06, o produtor vai ter de produzir com um rendimento de 58,41 sacas somente para cobrir seus custos. Verifica-se, assim, que o produtor vai ter de produzir mais 11 sacas por hectare para manter a competitividade, devido a perdas cambiais.
            Esse exemplo indica como o câmbio come a receita do produtor, afeta seu fluxo de caixa e deve elevar seu endividamento. O resultado é uma crise setorial no setor de grãos e fibras, com efeitos nos próximos anos e limitação da capacidade produtiva dos agronegócios brasileiros.
            Nos últimos anos, o agronegócio foi um dos motores do crescimento da economia brasileira. A crise que o setor está enfrentando começa a ratear este motor e, assim, o setor não deve crescer mais no curto prazo, pois está reduzindo fortemente seus investimentos, especialmente no Centro-Oeste. Isto, além de afetar os níveis de exportação no futuro, também deverá aumentar os custos de alimentação, devido à estimativa de menor oferta de produtos na próxima para os mercados externo e interno.
            Tudo indica que o ciclo de expansão do setor deverá manter-se num patamar de estagnação, necessitando de novas políticas públicas e de medidas de política econômica para que o setor retome sua expansão futura.
 

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1 USDA: www.usda.gov

2 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-90/2005

Data de Publicação: 13/10/2005

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor