Relevância do Porto de Santos nas exportações brasileiras

            O processo de crescimento das exportações brasileiras tem gerado impactos positivos, ao mesmo tempo em que revela uma série de fragilidades logísticas do país.
            Dentre os aspectos positivos, podem se destacar o aumento da participação do Brasil nas exportações mundiais (que saltou de 0,86% em 1999 para 1,08% em 2004), o crescimento da participação das exportações no PIB nacional (passou de 8,9% em 1999 para 16,0% em 2004) e o aumento das reservas cambiais do país. 1
            As fragilidades, representadas pelas condições precárias das rodovias, pela baixa eficiência e falta de capacidade das ferrovias e pela desorganização e excesso de burocracia dos portos, tiveram como resultado o aumento das filas de caminhões nos principais portos, longas esperas de navios para a atracação e o não-cumprimento dos prazos de entrega ao exterior. Tudo isso resultou no aumento dos custos e na redução da competitividade dos produtos brasileiros no exterior. 2
            As exportações brasileiras em 2004 atingiram valor nunca antes alcançado de US$ 96,47 bilhões, segundo os dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Trata-se de um crescimento de 32% quando comparado com 2003. Já em 2005, no período de janeiro a agosto, o volume das exportações já totalizou US$ 76,08 bilhões.1
            As vendas para o mercado internacional em 2004 deram-se por três vias principais: marítima (US$ 78,08 bilhões), responsável por 80,9%; rodoviária (US$ 6,47 bilhões); e aérea (US$ 5,37 bilhões).

 

*até agosto/2005
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da SECEX/MDIC.

            O Porto de Santos (SP) foi o principal ponto de saída das mercadorias brasileiras. Em 2004, a sua participação no total de embarques foi de 27,9%, representando US$ 26,8 bilhões, um aumento de 33,0% em relação a 2003 (US$ 20,2 bilhões). Já em 2005, no período de janeiro a agosto, as vendas totalizaram US$ 21,3 bilhões.
            O segundo maior exportador de produtos brasileiros, no ano passado, foi o Porto de Vitória (ES), com vendas de US$ 8,7 bilhões (9,0% do total). Em 2003, o valor exportado por este porto era de US$ 6,9 bilhões. Em 2004, minérios de ferro (US$ 2,3 bilhões), celulose (US$ 1,1 bilhão) e farelo de soja (US$ 615 milhões) foram as principais mercadorias embarcadas.
            No Paraná, está o terceiro maior porto de escoamento de mercadorias brasileiras que vão para o exterior, o Porto de Paranaguá. As suas exportações alcançaram US$ 7,9 bilhões em 2004, o que o tornaram responsável por 8,2% de tudo que é embarcado no país. De acordo com os dados da SECEX, a soja (US$ 3,2 bilhões) é o principal produto exportado por este local, seguida do milho (US$ 439 milhões) e da carne de frango (US$ 375 milhões).

 

*até agosto/2005
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da SECEX/MDIC.

            O Porto de Santos também foi a principal via de recebimento de mercadorias vindas de outros países, cujo total foi de US$ 62,8 bilhões em 2004. Em seguida aparecem dois aeroportos: Viracopos em Campinas (SP) e o Internacional de Guarulhos (SP). O valor das importações que chegaram por estas vias ficou em US$ 16,0 bilhões (25,5% do total), US$ 6,2 bilhões (10,0%) e US$ 3,7 bilhões (5,9%), respectivamente.
            Entre as mercadorias movimentadas no porto, verifica-se grande participação dos produtos agrícolas e da agroindústria, que nos últimos anos vêm sendo responsável por mais de 30% do volume (tabela 1).

Tabela 1. Principais mercadorias movimentadas no Porto de Santos(mil ton)
 
 
 

Mercadoria
2000
2001
2002
2003
2004
Açúcar (E)
4.172
6.538
8.026
8.322
10.826
Soja grão (E) 
3.098
4.401
5.211
5.600
5.689
Farelos (E)
1.826
2.653
3.331
3.561
4.624
Fertilizante (I)
2.569
2.104
2.395
2.944
3.067
Óleo diesel (E)
1.265
978
988
1.601
1.430
Sucos cítricos(E)
1.062
1.131
1.193
1.324
1.322
Trigo (I)
2.091
1.818
1.869
1.878
1.083
Sal (cabotagem)
717
673
713
741
776
GLP (E e I)
433
591
377
570
334
Café (E)
348
322
414
323
197
Papel (E)
167
133
133
300
140
Carne (E)
153
193
187
215
133
Outros (E) + (I)
25.182
26.626
28.638
32.699
37.989
TOTAL (E) + (I)
43.084
48.162
53.474
60.077
67.610
Participação Agrícola
30%
35%
38%
35%
35%
Fonte: Porto de Santos3
E = Cargas de exportação
I = Cargas de importação

            A área de influência portuária de Santos destaca-se pela intermodalidade, com acessos ferroviários e rodoviários que captam carga dos estados tanto da região Sudeste quanto do Centro-oeste.
            Vale destacar a atuação da Brasil Ferrovias - holding controladora da Ferronorte, da Novoeste e da Ferroban - que possui malha ferroviária nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Atualmente, o principal produto transportado por esta ferrovia está ligado ao complexo soja, embora açúcar, álcool e combustíveis também sejam relevantes. Segundo dados da Brasil Ferrovias, em 2004 a participação do complexo soja na Ferronorte foi de 42% do total movimentado.4

Principais acessos ao Porto de Santos

Rodovias

  • Sistema Anchieta-Imigrantes (ECOVIAS)
  • Piaçaguera-Guarujá
  • BR-101 - Rio / Santos
  • SP-55 - Rodovia Padre Manoel da Nóbrega

Ferrovias
 

  • M.R.S. Logística S/A (MRS)
  • Ferrovias Bandeirantes S/A (FERROBAN)
  • Ferronorte S/A (FERRONORTE)
  • Ferrovia Centro Atlântica (FCA)
  • Ferrovia Novoeste SA (NOVOESTE)

Hidrovia
 

  • Tietê-Paraná


Aeroportos
 

  • Internacional de Guarulhos
  • Congonhas (São Paulo)
  • Viracopos (Campinas)

Fonte: Porto de Santos 3

            Destaque é a construção do Terminal de Granéis do Guarujá (TGG) na margem esquerda no Porto de Santos. Trata-se de empreendimento da Ferronorte, da Bunge Alimentos e do Grupo Maggi, cuja obra física já foi iniciada no Porto de Santos.

A construção demandará investimentos de R$ 270 milhões e faz parte do plano de investimentos da Brasil Ferrovias, administradora da Ferronorte. O terminal será construído em uma área de 337 mil metros quadrados e terá capacidade para armazenagem de 5,0 milhões de toneladas na primeira fase. O TGG será utilizado para a armazenagem de grãos de soja e farelo. 5

            Esta instalação portuária deve ser implementada não apenas como forma de expandir a capacidade do Porto, mas também como meio para disciplinar e descongestionar o uso da margem direita.
            Além do TGG, a Ferronorte também está investindo, em conjunto com a Bunge e a Fertimport, no Terminal Marítimo do Guarujá (Termag).

As obras foram iniciadas em maio deste ano, os investimentos totais serão de R$ 170 milhões nesse empreendimento, com capacidade instalada de 3 mil toneladas. O terminal armazenará fertilizantes e enxofre. TGG e Termag integram um complexo de armazenagem com área total de 499 mil metros quadrados. 5

            Em operação, a Ferronorte poderá desenvolver um sistema logístico integrado. O transporte de farelo e grãos de soja para o TGG seria destinado àexportação e, no caminho inverso, importação de fertilizantes e enxofre do Termag para o abastecimento interno, promovendo assim a redução dos custos logísticos.
            Vale ressaltar, também, o impasse decorrente do processo de modernização dos portos. Com a introdução de novas tecnologias no porto, a mão-de-obra exigida tende a ter um perfil mais qualificado. Conseqüentemente, reduzem-se os postos de trabalho. Mas, por outro lado, a competitividade portuária aumenta com a redução dos custos de operação.
            Com a Lei dos Portos6 e a criação do Órgão de Gestão da Mão de Obra (OGMO)7, o universo de escolha e as condições de contratação e remuneração estão sujeitos a algumas normas legais e negociais. Assim, os trabalhadores devem ser requisitados ao OGMO. Evidentemente que se têm restrições à liberdade de contratação. Dessa forma, o empresário fica tolhido de selecionar pessoal mais qualificado. 8
            Existe ainda a pressão dos sindicatos contra a modernização. No Porto de Santos, os sindicatos convencionaram um número mínimo de funcionários por turno de serviço, o que em muitos casos acarreta altos custos de operação. Exemplo é o caso do açúcar, no qual o terminal deve pagar pelo equivalente a 19 homens em média quando a operação demanda no máximo três homens.8, 9
 

________________

1 Informações com base nos dados da Secretária do Comércio Exterior (SECEX) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Disponível em: http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/.

2 FLEURY, P. F. A Infra-estrutura e os Desafios Logísticos das Exportações Brasileiras. 2005. Disponível em: http://www.cel.coppead.ufrj.br/fs-mba.htm

3 Informações com base nos dados das Estatísticas do Porto de Santos. Disponível em: http://www.portodesantos.com/authority/estatistica.html

4 Mais informações em http://www.brasilferrovias.com.br/bf/index.html

5 Fonte: Associação Nacional dos Transportes Ferroviários (ANTF). Disponível em: http://www.antf.org.br

6 Lei N0 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, que colocou os portos brasileiros, em especial o Porto de Santos, diante de grandes desafios. Dentre eles: reformular o sistema de gerenciamento das operações e da mão-de-obra; eliminar as interferências corporativas e burocráticas; e aproveitar, de forma racional, os espaços e as instalações.
Mais informações: http://www.portodesantos.com/imprensa/down.html

7 Criado em 1994, o Órgão de Gestão da Mão de Obra (OGMO), que atendeu a um inciso do artigo primeiro da Lei 8630/93, é uma entidade civil, sem fins lucrativos e significou uma das principais novidades da relação capital-trabalho nos portos brasileiros e, dada a dimensão local, no Porto de Santos.
Mais informações em: Porto de Santos: uma década de transformações 1990-1999 Disponível em: http://www.portodesantos.com/imprensa/down.html

8 Segundo Luciana Guerise do Núcleo de Estudos em Logística Internacional e Economia Marítima (NELIEMA) do Programa de Pós Graduação da Unisantos.

9 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-92/2005 

 
  
 

Data de Publicação: 11/10/2005

Autor(es): Andréa Leda Ramos De Oliveira (andrea@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor