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O Fortalecimento Do Processo Participativo Para O Desenvolvimento Local
O
grande desafio para administrações comprometidas com a melhoria das condições de
vida da população, com a democratização e levando em conta os movimentos
sociais, é o de garantir a construção de políticas de desenvolvimento que possam
articular projetos locais com o projeto global. Isto depende, entretanto, de um
conjunto complexo de fatores, que envolve variáveis macroeconômicas estruturais
e conjunturais. Referências Bibliográficas DESER. Plano municipal de governo para a agricultura familiar. Departamento Sindical de Estudos Rurais (DESER), Paraná: www.deser.org.br/publicacoes.htm NOGUEIRA, Elizabeth A. e. Desenvolvimento Regional, Ocupação do Espaço Rural e o Mercado de Trabalho no Sudoeste do Estado de São Paulo. São Paulo,
FFLCH/USP, (Tese de Doutorado). Maio,1999. 333p. -------------- Programa SEBRAE de Desenvolvimento Local: diagnóstico municipal de Dois Córregos. Documento SEBRAE. 2001.
73p. OLIVETTE, Mário P. de A.; NOGUEIRA, Elizabeth A. e; MELLO, Nilda T. C. de. Emprego e renda: o processo participativo como instrumento para o desenvolvimento regional. Informações Econômicas, SP, v.30, n. 10,
p: 25-31, out. 2000.
Tal situação exige do poder público ações indicativas e disciplinadoras e o
empenho em envolver as organizações representativas da sociedade nas propostas
de ações, para que o crescimento local/regional seja mais harmônico, tanto das
áreas congestionadas quanto das zonas mais periféricas, com a criação de emprego
e renda.
Os tradicionais mecanismos de ação do poder público, nos últimos tempos, não têm
sido suficientemente capazes de reduzir a queda generalizada e estrutural do
emprego e das ocupações econômicas, tanto na área urbana como rural, e tampouco
os desequilíbrios regionais existentes. Nesse sentido, a seleção de instrumentos
mais eficazes para implementar uma política de descentralização e de
reestruturação dos sistemas produtivo e financeiro, de políticas sociais e
econômicas de desenvolvimento, deve basear-se no conhecimento mais completo do
processo de decisão locacional dos investimentos públicos e privados.
Atualmente, a exigência cada vez maior de qualificação do trabalho, a partir de
novas técnicas de gerenciamento, reestruturação produtiva e inovações
tecnológicas nos vários ramos de produção, acarreta a redução de demanda por
mão-de-obra, levando ao fechamento de postos de trabalho, à diferenciação social
e à falta de perspectivas de ocupações em áreas rurais e urbanas. É preciso que
a política econômica nacional não se envolva apenas com temas como eficiência,
competitividade e globalização, deixando para trás os relacionados à eqüidade,
às disparidades e às políticas de desenvolvimento social e regional.
As estratégias de ação do planejamento econômico precisam contemplar a
dinamização, o fortalecimento e a integração do espaço e dos setores das
economias regionais, no sentido de reorientar o desenvolvimento urbano,
consolidar e conservar a infra-estrutura econômica, ampliar e melhorar a oferta
de serviços sociais, alterar as estruturas rurais, estimular o desenvolvimento
da ciência e tecnologia e democratizar e descentralizar o aparelho
político-institucional, atuando assim direta e indiretamente sobre o emprego e a
renda locais (NOGUEIRA, 1999).
Diante desse quadro, ainda que de forma lenta, têm ocorrido reações por parte de
organizações da sociedade no sentido de fortalecer o espaço local, sugerindo
políticas alternativas e novas opções de desenvolvimento e de participação.
Mudanças vêm ocorrendo no papel desempenhado pelos governos municipais e são
resultado de um longo processo de descentralização - que teve início na reforma
da política fiscal do Governo Federal, com a instituição do Fundo de
Participação dos Municípios (FMP) - tornando viável uma redefinição na
distribuição dos recursos públicos e a incorporação de importantes políticas
locais (DESER, 2000 a).
Alguns governos municipais vêm aproveitando essa 'autonomia' e se tornando,
efetivamente, importantes agentes de promoção do desenvolvimento local ou
microrregional. Participam da elaboração de projetos com uma nova concepção de
desenvolvimento econômico e social, que inclui criação de emprego, distribuição
de renda, apoio às populações mais carentes e com a priorização de ações via
participação popular, exemplos que acabam por influenciar os processos de
municipalização e as políticas de outros municípios do território nacional.
Mesmo considerando um ambiente que pode não ser propício ao emprego, há que se
assumir que a ação integrada de diversos agentes econômicos, locais e de outras
instâncias de poder, pode contribuir positivamente para a geração do emprego
(SEBRAE, 2001).
Embora fragmentadas e pontuais, as experiências de participação popular e a
organização de conselhos municipais são fatos reais de mudança de postura e de
aprendizado da sociedade e dos governos.
O desenvolvimento local passa, portanto, pela dinamização dos diversos setores
econômicos dos municípios, levando ao fortalecimento da economia. A redução da
estagnação ou a ampliação da dinamicidade dos municípios dependem de esforços no
sentido de se detectar potencialidades que possam dar novos estímulos aos
setores primário e industrial e, por sua vez ao comércio e serviços, visando à
circulação da moeda e de bens.
Nesse circuito microrregional ou regional, os fluxos de compra e de renda se
distribuem no mercado regional e fora dele, tendendo a ampliar a renda das
famílias que vivem na região, pois ao produzirem para o mercado, em geral,
realizam suas compras no mercado regional potencializando os efeitos
multiplicadores (NOGUEIRA, 1999).
O processo participativo na gestão pública garante a democratização do poder
público e acaba por dar sustentação política às ações governamentais. É
fundamental considerar e reconhecer o conhecimento local de seus habitantes e
buscar com eles as melhores soluções de seus problemas prioritários, sem
descuidar dos outros.
A gestão participativa vai além dos limites geográficos municipais, quando se
incorporam as variáveis de meio ambiente ao desenvolvimento. Nesse caso, a união
dos municípios, visando à solução de problemas e defesa de interesses comuns,
tende a aumentar a probabilidade de sucesso no atendimento de reivindicações
populares junto às instâncias superiores (OLIVETTE et al, 2000).
O desenvolvimento local deve ocorrer, então, como resultado de ações articuladas
pelo conjunto de agentes econômicos, sociais e culturais, tanto públicos como
privados, existentes no município e região, envolvidos com a construção de um
projeto de longo prazo combinado com estratégias de implementação de ações de
curto e médio prazos. Deve englobar nas políticas públicas uma nova cultura
voltada à construção e viabilização de um objetivo comum.
Os governos municipais empenhados, aliados aos atores sociais envolvidos e
interessados em dinamizar seus municípios, têm conseguido resultados positivos
na utilização adequada dos recursos disponíveis e do reinvestimento das riquezas
geradas no próprio local. O desenvolvimento local tem sido mais um processo
endógeno das transformações (DESER, 2000a).
Nessa mudança de visão sobre o desenvolvimento, o importante é garantir a
participação efetiva do poder local na priorização da alocação de recursos
orçamentários para todos os segmentos dos setores urbanos e rurais e na
elaboração e definição de políticas específicas de cada setor para o
desenvolvimento local. O processo participativo da sociedade e suas organizações
no planejamento local/regional, desde o levantamento de suas demandas até a
parceria efetiva para eleição das prioridades estabelecidas, possibilita
transformar em fatos políticos suas necessidades, para que todos os setores da
sociedade atinjam um patamar mínimo de qualidade de vida, de emprego e de renda.
A falta de experiência de participação e de discussão sobre políticas de âmbito
local ainda é um dos grandes limites à adoção de um processo realmente
participativo de construção do desenvolvimento. É preciso que a população
acredite que pode ajudar a construir políticas públicas a partir das
instituições e organizações sociais fortalecidas, com atuação qualificada no
poder legislativo via projetos de lei, emendas populares, etc, com participação
nos conselhos municipais e com avaliação periódica das ações planejadas (DESER,
2000b) .
O fundamental no desenvolvimento local é a mudança na qualidade de vida de sua
população, via manutenção, recuperação e criação do emprego e redistribuição de
renda.
2000a.
2000b.
Data de Publicação: 11/12/2001
Autor(es): Elizabeth Alves e Nogueira (enogueira@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor