Plano De Safra 2002/03

            O plano de safra para o período 2002/03 foi anunciado pelo Ministério da Agricultura no início de julho. Mantém o mesmo modelo implementado nos últimos anos, adotando medidas que visam ao aumento da produção e da exportação de setores estratégicos, à redução dos custos financeiros da produção agropecuária e ao apoio a programas específicos, regionais e setoriais.
            Os destaques desse plano são: a ampliação de recursos; o estímulo ao setor pecuário, com introdução de novos programas de investimento; apoio à produção de milho, para evitar uma crise de abastecimento no mercado interno; apoio à comercialização e estocagem de produtos; e a preocupação em ampliar as possibilidades de acesso a financiamento pelas agroindústrias.

1. Recursos

            Deverão ser destinados à agricultura e pecuária R$ 21,7 bilhões no ano-safra 2002/03, considerado o fluxo de aplicações – empréstimos, retornos e reempréstimos – ao longo do ano agrícola, correspondente a uma disponibilidade total (estoque de recursos) de R$ 18,9 bilhões. Neste caso, o setor estaria recebendo 26,0% de recursos a mais do que na safra passada, quando foram efetivamente concedidos R$ 17,2 bilhões no período de julho/2001 a junho/2002. Os valores anunciados pelo governo não incluem os recursos que serão destinados à agricultura familiar via PRONAF (Tabela 1).
            Se considerarmos o que ocorreu na safra 2001/02, quando a utilização dos recursos 'a outros juros fixos' e 'a juros livres' ficou abaixo do disponível, é possível sugerir que as autoridades governamentais reconhecem a importância do setor para a economia nacional, incrementando os volumes de financiamento aos produtores, muito embora possa ocorrer superestimação desse montante. De qualquer forma, é positiva a elevação do volume de recursos a juros fixos de 8,75% ao ano, cujo fluxo deve atingir R$ 16,3 bilhões contra R$ 15,1 bilhões no ciclo anterior. Isto representa um incremento de 8,0% nominais, sem esquecer que seu impacto se torna reduzido pela valorização do dólar no primeiro semestre de 2002, pois implica em provável aumento dos custos de produção. É positiva, também, a disposição do governo em manter elevados os recursos disponíveis a juros fixos entre 6% e 11,95% do FUNCAFÉ, de Fundos constitucionais e do FINAME agrícola.

TABELA 1 – Oferta de recursos para crédito rural, 2001/02 e 2002/03, Brasil.

(milhões de reais)

Finalidade / Safra
2001/02
2002/03
Variação
Concedido
(a)
Disponível
Previsão de fluxo
(b)
%
(b/a)
Juros fixos de 8,75% aa  15.065,1 13.550,0 16.270,0 8,0
Custeio/Comercialização 12.461,7 10.620,0 13.340,0 7,0
Investimento 2.603,4 2.930,0 2.930,0 12,5
Outros juros fixos 1.351,7 2.400,00 2.400,0 77,6
Funcafé (9,5% aa) 141,9 700,0 700,0 393,3
Fundos Constit. (6 a 10,75% aa) 1.090,4 1.200,0 1.200,0 10,1
FINAME Agrícola (11,95% a.a.) 119,4 500,0 500,0 318,8
Total de crédito a juros fixos 16.416,8 15.950,0 18.670,0 13,7
Crédito a juros livres 788,3 3.00,0 3.000,0 280,6
TOTAL 17.205,1 18.950,0 21.670,0 26,0
Fonte: Ministério da Agricultura

            Merecem destaque as alterações no Programa de Geração de Emprego e Renda (Proger Rural), que financia operações de custeio e investimento aos produtores que se encontram entre a agricultura familiar e a agricultura comercial. De acordo com os novas regras, terão acesso os produtores com áreas de até 15 módulos fiscais e renda bruta anual de até R$ 60 mil, incluindo uma faixa de produtores até agora sem programas específicos de financiamento, pois os limites anteriores eram de 6 módulos fiscais e renda bruta anual de até R$ 48 mil.

2. Limites de financiamento

            Os limites de financiamento para custeio e comercialização (EGF) da maioria das culturas não sofreram alterações com relação à safra passada. A exceção é o café cujo teto por tomador passou a ser de R$ 100 mil contra R$ 60 mil no ciclo 2001/02. Em atendimento às solicitações do setor que está em crise, principalmente devido aos baixos preços do produto, os produtores poderão contar com recursos das exigibilidades, além dos recursos do FUNCAFÉ.
            Pode-se contratar financiamento para mais de um produto ou finalidade, considerado o limite de crédito para o produto que representa o maior apoio financeiro ao produtor. Essa regra só não se aplica ao milho, cujo limite de financiamento fica mantido independentemente do apoio financeiro concedido a quaisquer outros produtos. É uma clara demonstração de apoio à produção deste grão, que se mantém desde a safra passada.

3. Preços mínimos

            Os preços mínimos de garantia divulgados revelam alterações positivas para a maioria dos produtos, com destaque para o milho, maior beneficiado, com aumentos que variaram de 17,89% a 27,86%.O algodão em pluma e em caroço, o arroz longo fino em casca e a soja foram contemplados com reajustes menores (TABELA 2).

TABELA 2 – Preços mínimos de garantia, produtos selecionados, safras 2001/02 e 2002/03.

Produto
Abrangência
Unidade
Safra 2001/2002
R$/Unid.
Safra 2002/2003
R$/Unid.
Variação
%
Algodão

em caroço

Brasil
(15kg) 9,00 10,08
12,00
Algodão

em pluma

Brasil
(15 kg) 30,32 33,09
11,81
Arroz longo

fino em casca.

Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste (exceto MT)
(50 kg) 12,38 14,00
13,08
Norte e MT
(60 kg) 13,39 14,48
8,14
Milho 
Sul, Sudeste, TO, BA-Sul, 

Sul-MA e PI

(60 kg) 7,43 9,50
27,86
GO, MS, DF
(60 kg) 7,21 8,50
17,89
MT, AC, RO
(60 kg) 6,27 7,50
19,62
Norte/Nordeste (exceto os acima mencionados)
(60 kg) 8,70 10,50
20,69
Soja 
Sul, Sudeste, Centro-Oeste e RO
(60 kg) 10,18 11,00
8,06
Norte (exceto RO), Nordeste
(60 kg) 9,66 10,40
7,66
Fonte: Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)

4. Programas de investimento

            A seletividade na aplicação dos recursos vem marcando a atuação do governo na execução das medidas de política, e os programas específicos, regionais e setoriais são parte deste modelo de gestão. Para a nova safra, foram lançadas cinco novas linhas de financiamento: agricultura irrigada, plantio comercial de florestas, desenvolvimento de cooperativas, recuperação de lavoura de cacau e erradicação da brucelose e da tuberculose animal (TABELA 3).

TABELA 3 – Novos programas de investimento específicos regionais, abrangência, volume de recursos, limites e prazos de financiamento, safra 2002/03.

Novos Programa
Abrangência
Recursos
R$ mil
Limites por Benef. / Ano
R$ mil
Prazo do Financiamento
Cacauicultura
Brasil
230.000
200
até 8 anos com 3 de carência
Agricultura Irrigada
Brasil
200.000
250
até 8 anos com 3 de carência
Erradicação da brucelose e tuberculose
Brasil
30.000
a definir
até 8 anos com 3 de carência
Prodecoop
Brasil
250.000
20.000
até 12 anos com até 3 de carência
Plantio de florestas
Brasil
60.000
150
até 12 anos;

carência: 1o corte + 6 meses

Total  . 770.000  .  . 
Fonte: Ministério da Agricultura

            Outros cinco programas de investimento já em operação sofreram ajustes seja na abrangência, no limite de financiamento por beneficiário ou no prazo de financiamento:

  • Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Aqüicultura – o crédito foi ampliado, passando de R$  80 mil para R$ 150 mil o limite por beneficiário/ano;
  • Programa de Armazenagem na Propriedade Rural - aumento no limite de crédito de R$ 100 mil para R$ 300 mil por produtor;
  • Programa de Incentivo à Modernização, ao Resfriamento e ao Transporte Graneleiro de Leite (ProLeite) – poderá financiar também a construção de instalações para silagem, com crédito de R$ 60 mil por produtor/ano;
  • Programa Nacional de Recuperação de Pastagens Degradadas – passa a contemplar entre os itens financiáveis as operações de destoca, energizadores de cercas e construção de saleiros;
  • Programa de Sistematização de Várzeas – passa a ter abrangência nacional.

            Os outros nove programas permanecem sem alterações. Vale destacar, no entanto, a ampliação de recursos para o MODERFROTA, programa de maior sucesso entre os implementados, que deverá receber R$ 2 bilhões no ano-safra 2002/2003, dos quais R$ 1 bilhão ainda neste ano.

5. Comercialização

            A partir do atual ano-safra, foram ampliadas as possibilidades de uso das Notas Promissórias Rurais – NPR e Duplicatas Rurais – DR. No caso de suínos, foi autorizada a utilização dos recursos obrigatórios (taxa de 8,75% ao ano) para desconto desses títulos. Para frutas e camarão, essas operações passam a ser autorizadas ao longo de todo o ano. Para leite e derivados, a utilização desses títulos passa a ser um benefício permanente, incluindo o financiamento da Cédula de Produto Rural - CPR.

6. Financiamento às agroindústrias

            Parte dos recursos da caderneta de poupança rural (40%) poderá ser captada pelas agroindústrias a taxas de juros livremente pactuadas entre as partes, quando destinados ao financiamento da comercialização, do beneficiamento ou da industrialização de produtos de origem agropecuária ou de insumos utilizados na atividade.

7. Considerações

            O plano de safra 2002/2003 foi bem recebido pelo setor, se considerarmos as opiniões divulgadas pela imprensa, principalmente no que concerne à ampliação dos recursos, mesmo que a Confederação Nacional da Agricultura estivesse esperando R$ 25 bilhões e que a desvalorização cambial dos últimos meses tenha implicado numa redução do volume em dólares. No entanto, o maior problema está no acesso a esses recursos pelos agricultores que se deparam com exigências cada vez maiores por parte das instituições financeiras, as quais exigem garantias elevadas e um baixo risco cliente, além da exigência de reciprocidades, submetendo a distribuição dos recursos principalmente aos seus interesses privados.
            Por outro lado, grande parcela dos financiamentos para a atividade passou a ser suprida por elos da cadeia produtiva, a partir da captação via tradings e agroindústrias com acesso ao mercado externo, fato certamente positivo. No entanto, são repassados aos agricultores a um custo elevado. Novamente, o risco cliente e o próprio risco enfrentado por essas empresas, ao desempenhar um papel para o qual não têm a estrutura e o expertise necessários, são os fatores de dificuldade de acesso. Títulos como a CPR, que vêm crescendo no mercado, também são caros para o produtor, entre outros fatores, porque há um grande risco envolvido.
            Desta forma, o fluxo de recursos para a agropecuária vem sendo prejudicado por medidas que envolvem riscos de vários tipos. Recentemente, ocorreu em São Paulo o Primeiro Congresso de Agribusiness, em que foram sugeridas algumas medidas que poderiam reduzir o risco da atividade e que devem ser consideradas na formulação dos próximos planos:

  • seguro agrícola eficiente e com prêmio subsidiado;
  • incentivo às operações de hedge em bolsa;
  • criação de um Certificado do Desempenho do Produtor – amplamente divulgado e que possibilitasse a avaliação do financiador sobre as condições técnicas, comerciais e financeiras do candidato ao crédito.

Para obter maiores detalhes do Plano de Safra 2002/2003 acessar:
http://www.agricultura.gov.br/html/planosafra.htm - http://www.agricultura.gov.br/html/plan

Data de Publicação: 31/07/2002

Autor(es): Terezinha Joyce Fernandes Franca (terezinha.franca@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor