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Commodities: cotações com forte influência do clima
O comportamento dos mercados das commodities esteve sob intensa influência do
clima em julho, tanto no caso dos grãos e fibras, em função das condições
climáticas e do ritmo de plantio no Hemisfério Norte, quanto no caso do café,
sob riscos de geadas no Brasil. Assim, as oscilações climáticas, ao favorecer
alta volatilidade, estimularam os movimentos dos fundos de investimentos e
especuladores. Tabela 1 – Variação dos preços das commodities nos
diferentes mercados futuros, segunda posição, julho de 2005 e o acumulado em 12
meses
A atuação do chamado mercado de clima nos Estados Unidos, em função da estiagem
ocorrida nas áreas de plantio de grãos e fibras, provocou fortes flutuações nas
cotações da soja. Mesmo com variação da cotação média de -0,59% em relação ao
mês anterior, a soja apresentou níveis elevados nas suas cotações em vários
períodos do mês, o que estimulou as vendas de parte da safra brasileira que não
tinha sido comercializada, de tal forma que as cotações em julho de 2005 se
encontrassem no mesmo nível de 2004 (vide gráfico abaixo). Assim, as menores
cotações recebidas pelos agricultores brasileiros são fruto da valorização do
real.
Dessa forma, das nove commodities internacionais analisadas neste artigo, cinco
apresentaram alta de preço no mercado de futuros enquanto as outras quatro
registraram variações negativas. Isto indica que houve relativa recuperação das
cotações dos grãos e fibras, forte queda dos cafés e alta expressiva do açúcar e
da borracha natural.
O boi gordo, quando cotado em dólar por arroba, apresentou queda na Bolsa de
Mercadorias e Futuros (BM&F) devido à maior oferta e ao consumo estagnado.
Mesmo com a manutenção do crescimento das exportações, quando se considera a
cotação em reais, observa-se queda mais intensa.
Porém, no acumulado de 12 meses, apenas a soja apresentou queda nas cotações,
enquanto as demais commodities tiveram crescimento. Assim, a alta nas cotações
de grãos e fibras em julho, com exceção da soja, fez com que as cotações
atingissem níveis próximos aos observados no mesmo mês de 2004.
A tabela 1 apresenta os resultados da análise das cotações externas das
principais commodities agrícolas, com base nas cotações médias mensais dos
contratos futuros de segunda posição de entrega, realizados em julho e
negociados nas bolsas de Chicago (trigo, soja e milho) e de Nova York (açúcar,
café, algodão e suco de laranja), além da borracha na Malásia, do café robusta
em Londres e do boi na BM&F.
(em percentagem)
Fonte: Elaborado pelo IEA a
partir dos dados das Bolsas Internacionais e da BM&F Commodities
2005
12
meses Açúcar Algodão Café arábica Café robusta Suco Laranja CC Soja grão Milho Trigo Borracha SM20 Boi Boi – em reais
No milho, o comportamento em Chicago foi mais ou menos o mesmo da soja, mas com
alta de 6,41% em relação a junho. A cotação do trigo, apesar da variação
positiva de 2,74% em relação à média de junho, foi mais influenciada pelas
projeções de queda da produtividade do cereal nos Estados Unidos. Já as cotações
do algodão, no mercado de Nova York, foram fortemente influenciadas pelas
projeções de oferta e demanda mundial e pela expectativa da safra
norte-americana, apresentando um crescimento de 2,54% em julho. No ano, as
cotações do algodão registraram elevação de 20,30%, com as condições climáticas
favoráveis à cultura (tabela 1).
Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:
Ainda no caso das commodities negociadas na bolsa de Nova York, têm-se o café
arábica e o suco de laranja. No caso do suco de laranja, as expectativas de
danos à citricultura da Flórida, por tempestades e furações tropicais, geraram
maior instabilidade de preço, resultando em crescimento de 4,29% na cotação
média de julho, em relação à média de junho, com alta acumulada de 51,18% em 12
meses.
O café arábica entrou no ciclo sazonal de baixa devido à intensificação da
colheita brasileira e à chegada do verão no Hemisfério Norte que apresenta
níveis menores de consumo. Isto além da especulação gerada por riscos de geadas
no Brasil, o que não ocorreu como se esperava. Com isso, houve um recuo de 9,39%
na cotação média para o mês em relação a junho, intensificando a queda que vem
ocorrendo desde março.
Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:
Para o açúcar, o quadro de déficit mundial atuou no sentido de alta e com forte
influência dos fundos em julho. Isto fez com que a cotação média do produto no
mês tivesse uma alta expressiva de 6,88% em relação a junho.
O café robusta na Bolsa de Londres, que vinha mantendo forte tendência de alta
desde novembro de 2004, também foi afetado pelo aumento nos estoques nos países
importadores e pela menor demanda por parte dos países do Hemisfério Norte
devido ao verão. E ainda foi influenciado pela forte queda na cotação dos
arábicas, resultando em baixa de 4,85% no mês, em relação à média de junho. Mas
foi a commodity que apresentou o maior crescimento em 2005 (+53,09%) e no
acumulado de doze meses (+67,12%) (tabela 1).
As cotações da borracha natural apresentaram alta espetacular de 10,51% em julho em relação à média de junho, devido ao crescimento da demanda internacional e ao fato de que a alta de petróleo elevou o preço da borracha sintética a níveis superiores aos da natural. Essa alta da cotação vai contribuir para o aumento do preço recebido pelos heveicultores paulistas no mês de agosto, uma vez que a cotação da borracha importada participa na formação dos preços recebidos pelos produtores de borracha natural no Estado de São Paulo.
O mercado de futuros do boi gordo na BM&F foi de baixa em julho, devido à
maior oferta de animais decorrente dos riscos de geadas, fazendo com que os
produtores procurassem negociar seus animais prontos para abate. A maior oferta
encontrou um mercado interno de consumo estagnado e um mercado internacional
mais competitivo e com preços em queda.
Assim, verificou-se queda de 1,24% na cotação média em julho, da segunda
posição, em dólar, em relação à média de junho. Mas, quando a cotação média em
maio é em reais, de acordo com a BM&F, a queda foi ainda maior (de 2,90%).
No acumulado de 12 meses, observam-se alta de 8,91% nas cotações em dólar e
queda de 14,90% em reais, mostrando o efeito da desvalorização da taxa de câmbio
brasileira na cotação do boi gordo.
O comportamento das cotações médias do boi gordo em reais e em dólar pode ser
observado nos seguintes gráficos:
Pelas análises efetuadas, verifica-se que a recuperação das cotações
internacionais tornou dinâmicos os setores do agronegócio brasileiro, com
aumento de investimentos e expansão das exportações, casos de açúcar e álcool,
café, suco de laranja e carnes (bovina, de aves e suína). Neste caso, esses
setores estão conseguindo manter a competitividade, mesmo com a queda de 21% na
taxa de câmbio nos últimos doze meses, em virtude da recuperação dos seus preços
nos últimos 18 meses e devido a uma demanda internacional crescente.
Ao mesmo tempo, o agronegócio apresenta um segmento, formado basicamente pela
produção de grãos e fibras, que foi atingido por fatores como perdas pela
estiagem, que ocorreu nas principais regiões do Brasil; aumento nos preços dos
insumos; queda nas cotações internacionais; e redução na taxa de câmbio. Além
disso, esses produtos enfrentaram custos crescentes e perda de receita derivada
dos menores preços recebidos e da queda na produtividade.
Observa-se uma indecisão dos produtores sobre o que e quanto produzir, no
momento em que se planeja a safra de grãos e fibras para o ano agrícola 2005/06,
cujo plantio deverá iniciar-se nos próximos 45 dias, uma vez que eles não têm
adquirido insumos, como sementes, fertilizantes e pesticidas, e a maioria deles
ainda não equacionou as dívidas não pagas da safra passada. Isto tem gerado
especulações sobre a redução da área de plantio para a próxima safra, da ordem
de 5% a 10%, principalmente nas áreas arrendadas e/ou transferidas das áreas de
pastagens, que tendem a retornar para a atividade pecuária.
A situação é complexa. Por um lado, as ações do governo federal, via Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)1, não têm viabilizado, na velocidade desejada, o
equacionamento das dívidas de custeio da safra passada, que ficaram pendentes.
Por outro, as baixas cotações, que estão ocorrendo para o arroz e o algodão,
geram mais indecisões dos produtores quanto à safra futura.
Portanto, as expectativas são de que nos próximos 45 dias se terá uma definição
sobre o futuro da safra de grãos e fibras para o ano agrícola 2005/06, bem como
quanto ao volume de produção esperado. No momento atual, as cotações
internacionais dos grãos e fibras aproximam-se dos mesmos níveis observados para
julho no ano anterior.
Mas a grande questão é o comportamento dos preços dos insumos, que teimam em se manter a níveis próximos aos da safra passada, e de um câmbio que continua sua caminhada de queda desde meados de 2003. Para as commodities internacionais e para os países exportadores, a taxa de câmbio é o preço mais relevante e ela está atuando na contramão da expansão das exportações brasileiras do agronegócio.2
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1 MAPA: www.agricultura.gov.br
2 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-69
/2005
Data de Publicação: 08/08/2005
Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor