Commodities: cotações com forte influência do clima

            O comportamento dos mercados das commodities esteve sob intensa influência do clima em julho, tanto no caso dos grãos e fibras, em função das condições climáticas e do ritmo de plantio no Hemisfério Norte, quanto no caso do café, sob riscos de geadas no Brasil. Assim, as oscilações climáticas, ao favorecer alta volatilidade, estimularam os movimentos dos fundos de investimentos e especuladores.
            Dessa forma, das nove commodities internacionais analisadas neste artigo, cinco apresentaram alta de preço no mercado de futuros enquanto as outras quatro registraram variações negativas. Isto indica que houve relativa recuperação das cotações dos grãos e fibras, forte queda dos cafés e alta expressiva do açúcar e da borracha natural.
            O boi gordo, quando cotado em dólar por arroba, apresentou queda na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) devido à maior oferta e ao consumo estagnado. Mesmo com a manutenção do crescimento das exportações, quando se considera a cotação em reais, observa-se queda mais intensa.
            Porém, no acumulado de 12 meses, apenas a soja apresentou queda nas cotações, enquanto as demais commodities tiveram crescimento. Assim, a alta nas cotações de grãos e fibras em julho, com exceção da soja, fez com que as cotações atingissem níveis próximos aos observados no mesmo mês de 2004.
            A tabela 1 apresenta os resultados da análise das cotações externas das principais commodities agrícolas, com base nas cotações médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega, realizados em julho e negociados nas bolsas de Chicago (trigo, soja e milho) e de Nova York (açúcar, café, algodão e suco de laranja), além da borracha na Malásia, do café robusta em Londres e do boi na BM&F.

Tabela 1 – Variação dos preços das commodities nos diferentes mercados futuros, segunda posição, julho de 2005 e o acumulado em 12 meses
(em percentagem)

Commodities
Mercado
Julho de 2005
Acumulado 
2005
Acumulado 
12 meses
Açúcar
NY
6,88
7,25
12,39
Algodão
NY
2,54
20,30
10,76
Café arábica
NY
-9,39
3,27
48,14
Café robusta
Lo
-4,85
53,09
67,12
Suco Laranja CC
NY
4,29
20,42
51,18
Soja grão
CHT
-0,59
28,21
-0,79
Milho 
CHT
6,41
17,72
1,64
Trigo
CHT
2,74
12,61
1,41
Borracha SM20
Malásia
10,51
20,02
20,88
Boi
BM&F
-1,24
0,08
8,91
Boi – em reais
BM&F
-2,90
-12,76
-14,90
Fonte: Elaborado pelo IEA a partir dos dados das Bolsas Internacionais e da BM&F

            A atuação do chamado mercado de clima nos Estados Unidos, em função da estiagem ocorrida nas áreas de plantio de grãos e fibras, provocou fortes flutuações nas cotações da soja. Mesmo com variação da cotação média de -0,59% em relação ao mês anterior, a soja apresentou níveis elevados nas suas cotações em vários períodos do mês, o que estimulou as vendas de parte da safra brasileira que não tinha sido comercializada, de tal forma que as cotações em julho de 2005 se encontrassem no mesmo nível de 2004 (vide gráfico abaixo). Assim, as menores cotações recebidas pelos agricultores brasileiros são fruto da valorização do real.
            No milho, o comportamento em Chicago foi mais ou menos o mesmo da soja, mas com alta de 6,41% em relação a junho. A cotação do trigo, apesar da variação positiva de 2,74% em relação à média de junho, foi mais influenciada pelas projeções de queda da produtividade do cereal nos Estados Unidos. Já as cotações do algodão, no mercado de Nova York, foram fortemente influenciadas pelas projeções de oferta e demanda mundial e pela expectativa da safra norte-americana, apresentando um crescimento de 2,54% em julho. No ano, as cotações do algodão registraram elevação de 20,30%, com as condições climáticas favoráveis à cultura (tabela 1).
            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

 

            Ainda no caso das commodities negociadas na bolsa de Nova York, têm-se o café arábica e o suco de laranja. No caso do suco de laranja, as expectativas de danos à citricultura da Flórida, por tempestades e furações tropicais, geraram maior instabilidade de preço, resultando em crescimento de 4,29% na cotação média de julho, em relação à média de junho, com alta acumulada de 51,18% em 12 meses.
            O café arábica entrou no ciclo sazonal de baixa devido à intensificação da colheita brasileira e à chegada do verão no Hemisfério Norte que apresenta níveis menores de consumo. Isto além da especulação gerada por riscos de geadas no Brasil, o que não ocorreu como se esperava. Com isso, houve um recuo de 9,39% na cotação média para o mês em relação a junho, intensificando a queda que vem ocorrendo desde março.
            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

            Para o açúcar, o quadro de déficit mundial atuou no sentido de alta e com forte influência dos fundos em julho. Isto fez com que a cotação média do produto no mês tivesse uma alta expressiva de 6,88% em relação a junho.
            O café robusta na Bolsa de Londres, que vinha mantendo forte tendência de alta desde novembro de 2004, também foi afetado pelo aumento nos estoques nos países importadores e pela menor demanda por parte dos países do Hemisfério Norte devido ao verão. E ainda foi influenciado pela forte queda na cotação dos arábicas, resultando em baixa de 4,85% no mês, em relação à média de junho. Mas foi a commodity que apresentou o maior crescimento em 2005 (+53,09%) e no acumulado de doze meses (+67,12%) (tabela 1).

            As cotações da borracha natural apresentaram alta espetacular de 10,51% em julho em relação à média de junho, devido ao crescimento da demanda internacional e ao fato de que a alta de petróleo elevou o preço da borracha sintética a níveis superiores aos da natural. Essa alta da cotação vai contribuir para o aumento do preço recebido pelos heveicultores paulistas no mês de agosto, uma vez que a cotação da borracha importada participa na formação dos preços recebidos pelos produtores de borracha natural no Estado de São Paulo.

            O mercado de futuros do boi gordo na BM&F foi de baixa em julho, devido à maior oferta de animais decorrente dos riscos de geadas, fazendo com que os produtores procurassem negociar seus animais prontos para abate. A maior oferta encontrou um mercado interno de consumo estagnado e um mercado internacional mais competitivo e com preços em queda.
            Assim, verificou-se queda de 1,24% na cotação média em julho, da segunda posição, em dólar, em relação à média de junho. Mas, quando a cotação média em maio é em reais, de acordo com a BM&F, a queda foi ainda maior (de 2,90%). No acumulado de 12 meses, observam-se alta de 8,91% nas cotações em dólar e queda de 14,90% em reais, mostrando o efeito da desvalorização da taxa de câmbio brasileira na cotação do boi gordo.
            O comportamento das cotações médias do boi gordo em reais e em dólar pode ser observado nos seguintes gráficos:

            Pelas análises efetuadas, verifica-se que a recuperação das cotações internacionais tornou dinâmicos os setores do agronegócio brasileiro, com aumento de investimentos e expansão das exportações, casos de açúcar e álcool, café, suco de laranja e carnes (bovina, de aves e suína). Neste caso, esses setores estão conseguindo manter a competitividade, mesmo com a queda de 21% na taxa de câmbio nos últimos doze meses, em virtude da recuperação dos seus preços nos últimos 18 meses e devido a uma demanda internacional crescente.
            Ao mesmo tempo, o agronegócio apresenta um segmento, formado basicamente pela produção de grãos e fibras, que foi atingido por fatores como perdas pela estiagem, que ocorreu nas principais regiões do Brasil; aumento nos preços dos insumos; queda nas cotações internacionais; e redução na taxa de câmbio. Além disso, esses produtos enfrentaram custos crescentes e perda de receita derivada dos menores preços recebidos e da queda na produtividade.
            Observa-se uma indecisão dos produtores sobre o que e quanto produzir, no momento em que se planeja a safra de grãos e fibras para o ano agrícola 2005/06, cujo plantio deverá iniciar-se nos próximos 45 dias, uma vez que eles não têm adquirido insumos, como sementes, fertilizantes e pesticidas, e a maioria deles ainda não equacionou as dívidas não pagas da safra passada. Isto tem gerado especulações sobre a redução da área de plantio para a próxima safra, da ordem de 5% a 10%, principalmente nas áreas arrendadas e/ou transferidas das áreas de pastagens, que tendem a retornar para a atividade pecuária.
            A situação é complexa. Por um lado, as ações do governo federal, via Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)1, não têm viabilizado, na velocidade desejada, o equacionamento das dívidas de custeio da safra passada, que ficaram pendentes. Por outro, as baixas cotações, que estão ocorrendo para o arroz e o algodão, geram mais indecisões dos produtores quanto à safra futura.
            Portanto, as expectativas são de que nos próximos 45 dias se terá uma definição sobre o futuro da safra de grãos e fibras para o ano agrícola 2005/06, bem como quanto ao volume de produção esperado. No momento atual, as cotações internacionais dos grãos e fibras aproximam-se dos mesmos níveis observados para julho no ano anterior.
            Mas a grande questão é o comportamento dos preços dos insumos, que teimam em se manter a níveis próximos aos da safra passada, e de um câmbio que continua sua caminhada de queda desde meados de 2003. Para as commodities internacionais e para os países exportadores, a taxa de câmbio é o preço mais relevante e ela está atuando na contramão da expansão das exportações brasileiras do agronegócio.2

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1 MAPA: www.agricultura.gov.br
2 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-69 /2005

Data de Publicação: 08/08/2005

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor