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Avanços e Entraves na Logística de Exportação do Álcool
Uma
nova época surgiu, nos anos 90s, para o setor sucroalcooleiro no Brasil, depois
do fim da tutela do Estado, quando este vivenciou um processo de
desregulamentação. Em conseqüência, o governo deixou de definir o preço da
cana-de-açúcar, do açúcar e do álcool e, com isso, ocorreu o desmonte do
Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA). Atualmente, o cenário é outro. A produção
de álcool tem tido vários incrementos e grande possibilidade de se manter forte
e dinâmica por vários anos. Gráfico 1. Evolução das exportações de álcool no Brasil
Há vários fatores que influenciam este dinamismo do setor sucroalcooleiro, tais
como o avanço na profissionalização dos dirigentes, negociações de contratos de
longo prazo, a demanda crescente interna (automóveis bicombustíveis) e externa
(Protocolo de Quioto e preço do petróleo) e uma aceitação internacional por
combustíveis renováveis. Os números mostram este dinamismo do setor, com
produção em 2004 de 378,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, de 26,2
milhões de toneladas de açúcar e de 14,9 bilhões de litros de álcool, dos quais
2,4 bilhões de litros foram para as exportações de álcool na safra 04/05 e
renderam US$ 497,7 milhões, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio (MDIC)1 .
Com isso, monta-se um cenário promissor para a expansão do álcool como
combustível, visto que países como Japão, China, Índia e Coréia entre outros
sinalizam para a utilização do álcool na mistura com a gasolina. Neste contexto,
o Brasil desponta como o principal produtor de álcool a partir da
cana-de-açúcar, pois tem grande vantagem competitiva na produção do combustível
renovável.
O álcool já aparece como grande item relevante na pauta de exportações
brasileira, com os dados mostrando uma recuperação das vendas externas de álcool
carburante. Assim, observa-se um salto no volume exportado, de 226 milhões de
litros para 2,39 bilhões de litros de 2000 para 2004 (gráfico 1):
Fonte: Elaboração do autor com base nos dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX/MDIC)
Há um
certo e necessário consenso entre os empresários do setor canavieiro quanto à
manutenção dos mercados conquistados e ao cumprimento dos acordos estabelecidos,
para que a credibilidade internacional e o processo de exportação do álcool se
perdurem. A padronização do combustível álcool é um fator importante na questão
das exportações, pois dá garantias técnicas ao produto e segurança na manutenção
dos mercados conquistados.
O grande termômetro da relevância e da credibilidade do setor sucroalcooleiro, especialmente o álcool, é o interesse de grandes empresas importadoras-exportadoras2 na produção e
exportação do produto. Isto é demonstrado com aquisições de usinas por grupos
nacionais e internacionais (concentração) – utilização de joint-venture e fusões
de empresas do setor. Estes tipos de operações podem refletir em algumas
vantagens como economia de escala, poder de mercado, maior eficiência
administrativa, diversificação do risco e redução de custos.
É esta boa perspectiva de crescimento, devido aos fatores já citados, que tem
atraído investimentos para o setor. E a Petrobrás tem a intenção de funcionar
como intermediadora na compra e na venda de álcool para exportação, atendendo
assim a questões de garantias e tradição no mercado externo.
Tudo aponta para um crescente e consistente aumento da demanda por combustíveis
renováveis. Mas, para isso, o Brasil, que nesta área tem competência, capacidade
de expansão e competitividade, busca construir maior credibilidade, elemento
importante para se garantir estabilidade no abastecimento do produto nos
mercados interno e externo.
Tudo isto forma um arcabouço de intenções voltado à continuidade das exportações
de álcool, embora não haja garantia absoluta neste fornecimento. O que há é a
necessidade e/ou obrigação de assegurar retorno aos investimentos presentes e
futuros, o que pode ser considerado garantia de curto e médio prazos no
fornecimento externo do produto.
Porém, o foco aqui é buscar soluções para o problema de como escoar a produção
sem muitas perdas econômicas. A infra-estrutura e a logística afetam, de
diferentes formas, as funções econômicas básicas de produção, comercialização e
consumo. A capacidade de escoamento da produção brasileira não acompanha o seu
crescimento, o que pode resultar em perda da competitividade em vários setores
produtivos do agronegócio brasileiro.
As boas perspectivas de demanda por álcool nos mercados interno e externo trazem um alerta para a questão da logística, ou seja, de como escoar a produção sem que isto acarrete perdas e resulte em custo mais elevado. É o que mostram os números de maio de 2005 relativos ao crescimento da indústria brasileira, de 1,3% em relação ao mês anterior. Quando se verificam os setores semi e não-duráveis, o aumento é de 7,5% em relação a maio de 2004 – no caso de carburantes, álcool e gasolina, atingiu 34,4%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)3 .
Nesta primeira fase - de novos investimentos implantados com predominância da
mecanização e com término em média de 2 anos - os estudos indicam que a
ampliação da produção estará concentrada, principalmente, em São Paulo e depois
no Paraná, Mato Grosso Sul e Minas Gerais. Esta informação é relevante para
entender como se comportarão as usinas frente à exportação do álcool. Para os
próximos anos, a expectativa é de que o Brasil amplie substancialmente do
combustível, cujo acesso aos portos se dá via sistemas rodo e ferroviário e em
menor proporção através de dutos.
Uma alternativa a ser melhor explorada é a possibilidade de aumentar a
utilização do transporte por 'alcooldutos', especialmente nas áreas mais
congestionadas de tráfego rodo e ferroviário, ou seja, nas regiões que mais
produzem álcool, até os terminais portuários. Convém observar que estes trechos,
além de congestionados, não oferecem a possibilidade de um compatível frete de
retorno.
A capacidade do sistema de transporte brasileiro tem entrado em colapso por
vários motivos: falta de conservação, falta de expansão, pouco investimento e
problemas técnicos, entre outros.
O grande problema que se vislumbra, tanto a curto quanto a longo prazo, é a possibilidade de perdas de competitividade das usinas produtoras de álcool, seja por gargalos no escoamento da produção seja por dificuldade de acesso aos portos, que resultam em fretes altos, custos adicionais e, consequentemente, perdas que afetam a competitividade na atividade. Estes problemas, possivelmente, acentuam-se quando se pensa nas novas usinas que estão sendo instaladas na região Centro-Sul4 do
Brasil, com a implantação de 39 novos projetos, dos quais 29 só no Estado de São
Paulo, entre novas construções e expansão com capacidade de moer de 700 mil a
1,5 milhão de toneladas de cana-de-açúcar cada.
É maior do que a média das usinas hoje em funcionamento. Uma grande parte destas
usinas fica a cerca de 1.000 km dos portos, o que significa mais que dobrar a
distância das regiões com tradição sucroalcooleira.
O Estado de São Paulo produz por ano cerca de 9 bilhões de litros de álcool, dos
quais 1,4 bilhão de litros destinado à exportação é transportado por vias
rodoviária, ferroviária e em menor proporção por dutos. Assim, não é difícil
imaginar o tamanho do problema em termos de logística, caso não haja qualquer
intervenção para diminuir o entrave, considerando que a produção de álcool nesta
região nova do Estado possa chegar a 1,3 bilhão de litros, ou seja, um aumento
de 14% no volume atual.
Neste cenário de gargalos logísticos e dificuldades no escoamento da produção do álcool, especialmente para o mercado externo, é que se verifica o grande interesse da Transpetro5 - subsidiária da
Petrobrás - em investir em dutos exclusivamente para o transporte do álcool.
Haja vista a exigência por parte do Japão para que o álcool a ser embarcado seja
livre de contaminação por hidrocarbonetos.
A Petrobrás, por intermédio das subsidiárias Transpetro e BR Distribuidora, já
tem investimentos programados, da ordem de US$ 330 milhões, até 2010 para a
construção de alcooldutos, que deverão ligar Conchas à Refinaria do Planalto
(Replan), em Paulínia; a região de Sertãozinho, maior produtora de álcool,
também à Replan; Paulínia a Taubaté, no Vale do Paraíba; e Guararema ao Porto de
São Sebastião. Segundo a Transpetro, o álcool poderá ser exportado também pelo
terminal de Ilha D'Água, no Rio de Janeiro, que já está ligado a São Paulo.
A capacidade atual de escoamento de álcool da Transpetro é de cerca de 2 bilhões
de litros por ano. Com os novos investimentos, deverá aumentar para 9,4 bilhões
de litros nos próximos cinco anos.
A utilização de dutos para o transporte de álcool pode ser uma solução para
baixar o preço pago pelo frete, pois esta modalidade de transporte é mais barata
do que a dos demais modais.
Outra opção, que tem sido cogitada, é a utilização da hidrovia Tietê-Paraná para escoar a produção alcooleira do Oeste Paulista. Já há entendimentos entre a BR Distribuidora e o Governo de São Paulo com o intuito de estudar a viabilidade do aproveitamento da hidrovia Tietê-Paraná no transporte de álcool. A hidrovia tem 2,4 km de estirões navegáveis, liga Conchas a Piracicaba e poderá ser no futuro um corredor exportador de álcool.6
1 MDIC: www.desenvolvimento.gov.br
2 Também
chamadas de tradings, termo em inglês para designar empresas que intermedeiam
transações comerciais de produtos
3 IBGE: www.ibge.gov.br
4 Região identificada como
produtora de açúcar e álcool
5 Transpetro. www.transpetro.com.br
6 Artigo registrado no
CCTC-IEA sob número HP-60/2005
Data de Publicação: 22/07/2005
Autor(es): Sérgio Alves Torquato (storquato@apta.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor