Educação Ambiental Na Agricultura

            O II Encontro Estadual sobre Educação Ambiental na Agricultura destacou-se pela importância conferida aos trabalhos na oficina, com o intuito de fortalecer a integração entre os participantes mediante proposta de cinco temas, cuja diretriz foi dada por meio de perguntas orientadoras.
            O evento, ocorrido nos dias 13 e 14 de setembro na sede do Instituto Agronômico em Campinas, priorizou a apresentação de diversas experiências por meio de informes em duas mesas redondas, além de duas palestras sobre projetos desenvolvidos no âmbito do Centro Nacional de Pesquisa em Meio Ambiente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (CNPMA/EMBRAPA). Cerca de 50 trabalhos foram apresentados na forma de painéis.
            O Encontro foi organizado pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios-APTA, em particular por meio do IAC, em parceria com a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral-CATI, a Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade de Campinas (FEAGRI/UNICAMP) e o CNPMA/EMBRAPA.
            O Instituto de Economia Agrícola-IEA participou com a apresentação da retrospectiva do I Encontro de Educação Ambiental na Agricultura, no auxílio à estruturação das oficinas e na moderação do grupo 2 denominado 'O espaço eco-social como locus multidisciplinar para promover a cidadania e o desenvolvimento sustentado no meio rural'.
            Com o objetivo de dar continuidade ao processo de discussão, iniciado no grupo, o texto está sendo disponibilizado para todos os que queiram fazer comentários e dar prosseguimento ao debate, ainda que virtual, por meio do e-mail colocado à disposição no final do texto.

1. Síntese das discussões do grupo 2

Tema: O espaço eco-social como locus multidisciplinar para promover a cidadania e o desenvolvimento sustentado no meio rural.

Pergunta orientadora: Como promover o processo participativo, o fortalecimento da cidadania e o desenvolvimento rural sustentável, em uma comunidade?

            A diversidade do grupo contemplava pesquisadores experientes nas áreas de solos, sócio-economia e mecanização; extensionistas que atuam na rede municipal de educação ambiental e em ONG; o PROTER; a coordenação do programa ambiental nas escolas do CEETEPS; economista da área de sócio-economia no INCRA, que realiza projeto de educação ambiental na propriedade; estudantes de graduação e pós-graduação em áreas correlatas.
            Procurou-se, a partir dos relatos das experiências profissionais dos participantes, identificar os principais entraves para realizar a proposição da pergunta. São eles:

  • Falta de políticas públicas locais;
  • Diversidade dos ecossistemas e das características culturais da população;
  • Especialização do conhecimento e das instituições atuantes determinando referenciais departamentalizados;
  • Falta de disponibilização de conhecimento técnico no nível local, em particular do zoneamento agro-ecológico-ambiental;
  • Desconhecimento e inexistência de canais de difusão de metodologias integrativas;
  • Falta de conhecimento da realidade das comunidades;
  • Necessidade de conceituar e caracterizar o referencial de valores da comunidade contrapondo-o a dos agentes externos.
            Com base neste diagnóstico, identificou-se a necessidade de realizar três eventos que pudessem ter o efeito catalisador de iniciar a integração de pessoas que possam vir a contribuir para o desenvolvimento de trabalhos em três áreas complementares. Na primeira, o trabalho técnico, em particular o de 'ordenamento territorial'; na segunda, o envolvimento direto com a comunidade; e na terceira, o trabalho voltado a se pensar como realizar e dinamizar a interface entre estes dois focos de atuação.
            Observou-se que o setor público vem definindo uma política de canalização de recursos para projetos de interesse ambiental e de inserção local. Foram citados como exemplo: a linha de políticas públicas da FAPESP, alguns programas do SEBRAE, a política de recursos hídricos e o FEHIDRO. Dessa forma, considerou-se que a limitação principal para se ter informações de aptidão agrícola e de condições sócio-econômicas, particularmente de mercado local/regional, é a falta de articulação entre especialistas para realizar o esforço de construir um projeto em parceria que disponibilize informações em todo o Estado, necessárias para o trabalho técnico no nível da propriedade.

Evento 1: Realizar um encontro com pesquisadores, extensionistas e outros técnicos interessados em formular projeto de zoneamento agro-ecológico-ambiental, para o Estado de São Paulo. Considerou-se a necessidade de incluir especialistas edafoclimáticos e em sócio-economia. Enfatizou-se a preocupação em mapear o mercado consumidor e as restrições de uso, tendo como base a legislação ambiental.
            A geração do conhecimento muitas vezes não está disponível onde e como é necessária. Está disponível, porém, de forma segmentada, em linguagem não apropriada e fora do alcance dos que dela necessitam. Por outro lado, nas comunidades muitos são os problemas para os quais se carece de orientação técnica. As mudanças profundas da forma de organização da economia mundial estão tornando imprescindível novas capacitações profissionais e a necessidade de buscar novos meios de difusão e de disponibilização do conhecimento. Considerou-se necessário reconhecer que as questões colocadas na educação formal e na não-formal são distintas e devem ser, inicialmente, pensadas de forma separada.

Evento 2: Realizar um encontro de profissionais das mais diversas formações, estudantes e a população em geral, interessada em atuar no processo participativo, no fortalecimento da cidadania e no desenvolvimento rural sustentável para discutir estratégias a serem perseguidas na educação formal e não-formal.
            O modelo da economia atual é o de redução do aparelho de Estado, em particular da extensão rural. Por outro lado, as questões ambientais exigem uma capilaridade maior do que a que já existiu. O enxugamento do Estado e a necessidade de emergência de um terceiro setor forte criam um período de transição penoso, não só para os beneficiários mas também para os prestadores de serviços. A articulação do processo de transição, com o fortalecimento do terceiro setor integrado ao setor público, parece ser o 'sonho coletivo' .

Evento 3: Realizar um encontro que reúna extensão, pesquisa, ensino e comunidades para discutir o modelo e as estratégias de extensão para as comunidades.
            Salientou-se que os três eventos deveriam ser organizados de forma totalmente participativa, interativa e integradora.

2. Comentários finais

            Durante os debates do grupo, ficou evidente a necessidade de se aprofundar o diálogo com o PROTER e instituições semelhantes. Foi impossível, no curto espaço de tempo disponível, compreender a divergência de ótica, para que as considerações do grupo de fato refletissem as necessidades vividas e sentidas pelo PROTER, no desenvolvimento dos seus trabalhos. Não se conseguiu identificar se o problema tem a ver com a difícil articulação entre Estado e Organizações não Governamentais, que trabalham com comunidades, ou se tem mais a ver com especificidades regionais (Vale do Ribeira, por exemplo), refletidas na experiência da técnica presente. Todos estão convidados a enviar as suas contribuições.
 


 

 

Data de Publicação: 01/10/2001

Autor(es): Yara Maria Chagas de Carvalho Consulte outros textos deste autor