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Café: cotações instáveis em maio
Os
principais mercados futuros do café mostraram-se altamente instáveis em maio,
sem definição clara de tendência. A exceção foi o robusta que manteve trajetória
de expressiva alta no preço, refletindo em parte os recentes distúrbios
climáticos no Vietnã (acentuada estiagem) e a entrada em período de risco de
ocorrência de geada nos cafezais brasileiros. Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes
mercados de futuros (segunda posição) e do OIC-Composto diário, 2003 a 2005
As cotações do café arábica apresentaram fortes flutuações, com ligeira
tendência de baixa na Bolsa de Nova Iorque. A cotação média do arábica (Contrato
C, segunda posição) caiu 1,23% em relação à média de abril. Na Bolsa de Londres,
o robusta registrou aumento de 10,45% para a segunda posição, mantendo a
trajetória de alta devido às fortes estiagens sobre as lavouras do Vietnã e ao
atraso no início da colheita brasileira no Espírito Santo. No mercado de futuros
da BM&F, também para a segunda posição, o preço do arábica caiu 1,99%. O
indicador OIC-Composto diário apresentou leve alta de 1,61% em relação à média
do índice de abril, devido à elevação nas cotações do robusta. Nos últimos 29
meses, constata-se o comportamento francamente altista das cotações (gráfico 1).
Fonte: Gazeta Mercantil
A volatilidade no mercado internacional de café e a persistente valorização do real em maio aumentaram a oferta do produtobrasileiro, pressionando as cotações na BM&F. Isso elevou o diferencial em relação às cotações da Bolsa de Nova Iorque para US$ 14,04 a saca (60 kg), cerca de 7,50% superior ao observado no mês de abril.
As cotações do arábica, contrato C, segunda posição, na Bolsa de Nova Iorque, exibiram alta instabilidade ao longo do mês, com média 1,23% menor do que a mesma cotação observada em abril. Porém, tiveram grandes oscilações, com forte queda na primeira quinzena e
recuperação na quinzena seguinte, mas não sustentaram a mesma média do mês
anterior (gráfico 2).
Gráfico 2 - Cotações diárias em maio de 2005 na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, segunda posição
Fonte: Gazeta Mercantil
O contrário ocorreu no mercado de café robusta na Bolsa de Londres, cujo preço vem apresentando acentuada recuperação desde outubro de 2004, em função da diminuição da oferta nos países da Ásia, o que elevou as cotações aos níveis observados em 2000, derradeiro ano do último ciclo de alta do produto. O comportamento dos preços no mercado de Londres, segunda posição, pode ser verificado no gráfico 3.
Gráfico 3 - Cotações mensais para o café robusta, segunda posição, na Bolsa de Londres, no período de junho de 2004 a maio de 2005
Fonte: Gazeta Mercantil.
Na
BM&F, a evolução dos preços do arábica, segunda posição, cotados em dólar
por saca em maio de 2005, indica variação de 82,99% nos últimos doze meses.
Somente em 2005 atingiu uma variação positiva de 23,44%. No mercado de Nova
Iorque, os preços do arábica, contrato C, segunda posição, cresceram 65,96% nos
últimos doze meses e 20,62% apenas em 2005.
Por fim, as cotações do robusta no mercado de Londres, segunda posição, tiveram
variação acumulada de 56,07%, nos últimos doze meses, e de 44,19% em 2005. A
estimativa do OIC-Composto apresentou crescimento acumulado de 66,79%, em doze
meses, e de 29,14% no ano de 2005, fortemente influenciado pelos atuais preços
praticados para o arábica.
No nível do cafeicultor paulista, as cotações médias em maio recuaram 6,10% em
relação à média de abril, em função da queda nas cotações internacionais e da
redução de 5,04% na taxa de câmbio no mês. Mas a trajetória dos preços de café
recebidos pelos produtores, em reais, nos últimos 12 meses, aponta para alta
acumulada de 48,03%, em doze meses, e de 20,51% somente em 2005 (gráfico 4).
Gráfico 4 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, 2002/05
Fonte: Instituto de Economia Agrícola
Exportações em baixa
Segundo a OIC1, em abril de 2005, as exportações
mundiais de café atingiram 7,45 milhões de sacas, ou seja, 2,65% a menos do que
o volume exportado no mesmo mês de 2004. No acumulado dos 12 meses, em abril de
2005, as exportações mundiais atingiram 90,09 milhões de sacas, com crescimento
de 4,63% em relação ao mesmo período anterior, derivadas basicamente do
crescimento dos embarques de café arábica.
Para o Brasil, segundo a CECAFÉ2, as exportações
brasileiras de café atingiram 10,90 milhões de sacas no período de janeiro a
maio de 2005, crescendo 12% em relação ao mesmo período de 2004.
Esse incremento de oferta nas origens para o café arábica, devido à recuperação
da cotação do produto, está atuando no sentido de amenizar a alta das cotações
nos mercado internacional, que, no caso brasileiro, se acrescenta um componente
adicional que é a valorização da moeda.
Desmantelando o mito
Após muitos debates no âmbito de segmentos do agronegócio, o Governo Federal passou a analisar a possibilidade de regulamentar/destravar as operações de importação de café sob regime de draw-back. Isto vale, notadamente, para aquela que tem o objetivo de suprir a carência de matéria-prima vivenciada pela indústria de solubilização que vem nitidamente perdendo competitividade e market-share no mercado mundial de café solúvel. Para
se ter uma idéia, entre 1995 e 2004, a participação brasileira no comércio
internacional de café solúvel caiu de 29% para 15%, evidenciando que alguma
coisa está errada nesse ramo de negócios.
A simples menção à idéia de importar café causa calafrios nos cafeicultores e
suas representações. Essa postura atrasada impinge ao País a perda de relevantes
oportunidades de negócios, que ao fim e ao cabo confeririam mais musculatura ao
agronegócio café com vantagens para todos osque dele participam.
Os solubilizadores não acompanham o ritmo de crescimento que esse mercado exibe
nos últimos anos (estimado em 170% entre 1995 e 2002 nos EUA e na União
Européia). E os torrefadores ficam impedidos de compor blends com as origens que
os clientes internacionais (varejo) exigem para efeito de se tornarem
fornecedores de café torrado e moído.
Com o anúncio de que, até 2010, o Brasil, se tornará o maior país consumidor de
café do mundo, a falta de regras para importar o produto é ainda mais
anacrônica, pois o maior mercado deveria ser aquele em que a regulamentação
estivesse mais adiantada e capaz de dar suporte às múltiplas estratégias dos
empresários do setor. Por outro lado, a manutenção de tarifas sobre o solúvel
brasileiro na União Européia configura-se como um gravame ao produto brasileiro
contra o qual o setor e a diplomacia deverão manter permanente denúncia.
Será o fim da CPR?
A cafeicultura é um dos segmentos do agronegócio brasileiro que mais realiza Cédula do Produto Rural (CPR). Até maio de 2005, as CPRs financeira e física registradas no Banco do Brasil somavam 1.189.056 sacas contratadas. A cada nova safra, cresce o interesse dos cafeicultores por esse tipo de título financeiro capaz de ordenar/financiar a futura comercialização da colheita com a preservação do patrimônio amealhado pelo produtor. O instrumento funciona como um hedge, pois permite a fixação de preços de
compartilhamento dos riscos da atividade econômica. Por isso, é moderno e
alinhado com a tendência de profissionalização da produção agropecuária.
Todavia, transita na Câmara dos Deputados3 Projeto de Lei no
5.124/2005, de autoria do Deputado Federal Devanir Ribeiro (PT/SP), que propõe a
alteração do da Lei 8.929, de 22 agosto de 1994, que institui a Cédula do
Produto Rural. A proposta acresce o seguinte artigo:
Na justificativa do projeto de lei, o nobre deputado argumenta que ocorreu um desvirtuamento do instrumento de crédito, com a apropriação de benefícios econômicos por parte das agroindústrias, em detrimento dos produtores rurais. Esta seria a razão para o
avolumado número de CPRs de gaveta não cumpridas, notadamente nos contratos de
soja após as cotações terem batido seu recorde histórico (segundo semestre de
2004).
Em primeiro lugar, caso essa proposta seja vitoriosa no parlamento, as CPRs,
tanto de 'gaveta' quanto registradas em agente financeiro autorizado, deixarão
de representar sua condição de título financeiro. Isto obrigará os produtores
rurais a captarem recursos em outras fontes a taxas muito mais elevadas do que
as atualmente praticadas, especialmente nas CPRs de 'gaveta'.
O projeto de lei representa, na verdade, uma restrição de liquidez para o
financiamento da safra e faz retroceder em mais de 10 anos os avanços
conquistados em termos de necessidade de crédito para financiar as atividades
agrícolas.
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1OIC: www.ico.org
2 CECAFÉ: www.cecafe.com.br
3 Câmara dos Deputados: www.camara.gov.br
4Artigo registrado na CCTC-IEA sob número HP-50/2005
Data de Publicação: 14/06/2005
Autor(es):
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor