A produção paulista de lácteos na balança comercial do setor

            A produção paulista de leite caiu 6,7% no período de 1999 a 2003, enquanto a produção brasileira cresceu de 19,1 para 22,3 bilhões de litros por ano, de acordo com informações do levantamento de Pesquisa Pecuária Municipal da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PPM-IBGE)1. Contudo, esse comportamento não alterou a classificação do Estado (quinto lugar no ranking nacional), embora tenha reduzido sua participação no volume total produzido no país (tabela 1).

Tabela 1: Participação na produção brasileira de leite, regiões e principais Estados produtores, 1999-2003 (%)

Região/ Estado
1999
2000
2001
2002
2003
Brasil
100,0
100,0
100,0
100,0
100
Norte
5,0
5,3
6,0
7,2
6,7
Nordeste
10,7
10,9
11,0
10,9
11,3
Sudeste
44,8
43,4
41,8
40,4
40,1
Sul
24,2
24,8
25,3
25,4
26,0
Centro-Oeste
15,3
15,6
15,8
16,0
15,9
Minas Gerais
30,4
29,7
29,2
28,5
28,4
São Paulo
10,0
9,4
8,7
8,1
8,0
Paraná
9,0
9,1
9,2
9,2
9,6
Rio Grande do Sul
10,4
10,6
10,8
10,8
10,4
Goiás
10,8
11,1
11,3
11,5
11,3
Sub-total Estados
70,7
69,9
69,2
68,0
67,7
Fonte: Elaborada pelo Instituto de Economia Agrícola a partir da Pesquisa Pecuária Municipal do IBGE

            No panorama nacional, destacou-se ainda o comportamento positivo ocorrido na região Sul, cujo crescimento de 25,5% decorreu, principalmente, da expansão da produção no Paraná. Isto fez com que este Estado, inclusive, passasse a ocupar a quarta posição no ranking.
            Essa perda relativa de dinamismo na pecuária leiteira no Estado de São Paulo também se refletiu sobre o desempenho da participação paulista na balança comercial brasileira de produtos lácteos. Assim, ao comparar os resultados de 2003 e 2004, verifica-se que a participação paulista no valor exportado pela cadeia de lácteos do país foi reduzida de 47,4% para 36,0%, embora tenha havido crescimento de 49,3% no valor anual exportado pelo Estado (tabela 02).
            No entanto, São Paulo permaneceu como principal Estado exportador do país. Com relação ao ranking nacional, o Estado de Goiás poderá ocupar a segunda posição, deslocando Minas Gerais desse posto, se conseguir sustentar durante todo o decorrer de 2005 o desempenho exportador registrado no primeiro trimestre do ano. De janeiro a março de 2005, Goiás respondeu por 27,9% das exportações brasileiras de lácteos contra apenas 12,8% de Minas Gerais (tabela 2).
            Além disso, a redução da produção de leite em São Paulo também acarretou impacto sobre a performance das importações, que apresentaram crescimento de 36,4% para 43,3% no valor total importado pelo país. Tais importações tiveram aumento muito maior do que o registrado nas vendas externas, isto é, cresceram em 90% quando considerados os resultados finais de 2003 e 2004.
            Obviamente, há de se considerar, ainda, que esse resultado nas importações decorre também do fato de o Estado de São Paulo ser o maior centro consumidor de lácteos do país, considerados os consumos final e intermediário, ou seja, as vendas no varejo e a utilização do leite como matéria-prima para a agroindústria. Assim, a redução na produção paulista, associada ao crescimento das exportações, gerou redução da oferta interna de matéria-prima e, conseqüentemente, impulsionou as importações.
            Conjuntamente, os cinco estados maiores produtores de leite responderam por 97,9% das exportações brasileiras e 63,7% das importações do setor em 2004. E de 2003 para 2004, exceto São Paulo, houve crescimento na participação no valor total das exportações. Além disso, Minas Gerais e Rio Grande do Sul também tiveram redução na participação nas importações totais e Goiás caracteriza-se apenas como exportador.

Tabela 2: Participação nas exportações e importações totais de lácteos, em valor, do Brasil, principais estados produtores (%)

Estado
2003
2004
20051
Exportação
Importação
Exportação
Importação
Exportação
Importação
Minas Gerais
15,0
5,9
26,9
3,6
12,8
8,4
São Paulo
47,4
36,4
36,0
43,3
31,1
39,5
Paraná
6,8
9,2
9,4
9,2
13,3
8,1
Rio Grande do Sul
5,0
14,2
7,4
7,5
8,2
3,9
Goiás
12,4
0,1
18,2
0,0
27,9
0,0
Total
86,6
65,7
97,9
63,7
93,4
59,8
(1) Informações referentes ao período de janeiro a março de 2005.
Fonte: Elaborado pelo Instituto de Economia Agrícola com base nas informações disponíveis no Sistema Aliceweb do MDIC (http://mdic.gov.br)

            No curto prazo, o aumento nas transações internacionais pelos elos da cadeia de produção paulista, assim como de estados vizinhos que auxiliam no abastecimento de mercado interno do Estado de São Paulo (Paraná e Goiás, por exemplo), teve como reflexo reduzir a quantidade do volume de leite ofertado e, conseqüentemente, contribuir para o aumento da cotação de preço do litro de leite recebido pelos produtores rurais (figura 1).
            No primeiro trimestre de 2005, o desempenho favorável dos preços para o produtor em São Paulo também resultou da forte estiagem ocorrida nesse período que acarretou prejuízos à produção. E a elevação média de 1,6% dos preços de leite recebidos pelos produtores paulistas no mês de março confirma as perspectivas favoráveis previstas no início do ano e demonstra tendência de alta para os próximos meses.

Figura 1 – Estado São Paulo – Preço/litro/leite, janeiro a março, período 2002 a 2005, em R$ de março de 2005, deflacionados pelo IPC-FIPE

Fonte: Instituto de Economia Agrícola

            A desregulamentação do mercado e a facilidade de importação ocorridas nos anos 90s contribuíram para o comportamento desfavorável dos preços recebidos pelos produtores nesse período (Figura 2). Portanto, o processo de recuperação iniciado em meados de 2002 vem corrigir a defasagem criada entre o custo de produção e a renda dos produtores de leite.

Figura 2 – Estado de São Paulo – Média anual – Preço/ litro/leite, período 1995 a 2005

* Média relativa ao primeiro trimestre 2005
Fonte: Instituto de Economia Agrícola

            No médio e longo prazos, no entanto, o efeito do aumento das exportações deverá ser fundamentalmente o de auxiliar na estabilidade dos preços no mercado interno. Até porque o efeito deslocamento, ocorrido na produção paulista em resposta, entre outros fatores, ao ajuste que ocorreu no setor leiteiro nos anos 90s, já terá se esgotado, com a produção do Estado alcançando um novo ponto de equilíbrio.
            Além disso, os produtores de leite deverão beneficiar-se de um novo crescimento da renda, se eles se mantiverem atentos às novas exigências com relação à qualidade da matéria-prima industrial, considerando-se que o fluxo significativo no comércio internacional é de produtos lácteos processados. Nesse caso, não mais apenas vinculado aos desequilíbrios entre oferta e demanda, mas também aos novos contratos que deverão ser firmados em que os preços pagos serão diferenciados para estimular e remunerar a necessária qualidade do leite2, tanto para os critérios sanitários quanto para o rendimento industrial da matéria-prima.3

1 Acesso em http://www.sidra.ibge.gov.br
2 Com base, por exemplo, em pagamentos diferenciados por cota-consumo, cota-indústria e excesso; ou com sistema de preço base mais bonificação por volume entregue de leite; ou ainda, com sistema de preço base mais bonificação por qualidade do leite (como a maior quantidade de sólidos presentes no leite cru).
3 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-35/2005

Data de Publicação: 18/05/2005

Autor(es): Valquiria da Silva Consulte outros textos deste autor
Fernanda de Paiva Badiz Furlaneto (fernandafurlaneto@aptaregional.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor