Situação E Perspectivas Das Exportações Brasileiras Do Complexo Soja

            Desde meados da década de 90, a composição das exportações brasileiras do complexo soja (grão, farelo e óleo) vem apresentando alterações no sentido de aumento do grão em detrimento do farelo. A soja em grão, que em 1995 respondia por 20,2%, passou a representar 52,3% do valor total das exportações desse complexo em 2000. No mesmo período, a participação do farelo decresceu de 52,3% para 39,4%, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX).
            A demanda por óleo de soja é caracterizada pelo suprimento do mercado interno, ao contrário do farelo que tem nas exportações o principal destino. Ainda assim, a parcela do óleo na pauta de exportações desses produtos foi reduzida de 27,6% para 8,3% no mesmo período. Esse fato está relacionado com a atual estrutura tributária brasileira, pautada na isenção de Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) à exportação simultaneamente à incidência de imposto na movimentação interna da safra, o que cria vantagem adicional para a exportação do grão, em detrimento dos derivados.
            Além disso, há as elevadas barreiras tarifárias incidentes sobre processados impostas pelos principais países importadores mundiais, como é o caso da China – maior importador isolado de soja em grão – cuja alíquota de importação é de 5,0% para farelo de soja e de 122,0% para o óleo, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (ABIOVE). Entre 1996 e 2000, as exportações brasileiras de óleo de soja bruto e refinado para a China declinaram de 779,7 mil toneladas para apenas 63,0 mil toneladas, uma diminuição, portanto, de 91,9%. Já as exportações de grão para aquele país passaram de 14,9 mil toneladas para 1,78 milhão de toneladas, conforme a SECEX. O óleo de soja é o derivado mais taxado também na União Européia (5,4%) e no Japão (em torno de 25,0%). Para 2001/02, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) prevê que o Brasil deva exportar 1,31 milhão de toneladas, volume 8,0% superior ao da temporada passada.
            Do lado dos principais ofertantes mundiais de derivados de soja, destaca-se o incentivo à exportação de processados como o reintegro para o farelo de soja da Argentina. Atualmente, esse país é o maior exportador desse produto. Tanto que, na temporada 2001/02, as vendas argentinas no mercado internacional devem alcançar 14,58 milhões de toneladas, o que representa um acréscimo de 45,4% em comparação com as registradas em 1997/98. As exportações brasileiras de farelo de soja, por sua vez, devem ser de 10,40 milhões de toneladas, 5,0% superiores às passadas e 8,5% maiores do que as verificadas há quatro anos, conforme o USDA.
            O fortalecimento da soja em grão no comércio exterior brasileiro também pode ser observado através do ritmo dos embarques, em especial no decorrer de 2000 e 2001. De janeiro a julho de 2001, já foram embarcadas 10,43 milhões de toneladas dessa matéria-prima, 36,0% a mais do que no mesmo período do ano passado (Figura 1). O principal comprador da soja brasileira foi a China, destino de 20,5% do total, seguida de Holanda, Alemanha, Espanha e Portugal, perfazendo 65,7% da quantidade embarcada (Figura 2).
            Os embarques de farelo de soja totalizaram 6,23 milhões de toneladas, das quais 80,2% seguiram para o continente europeu, sendo Holanda, França e Alemanha os maiores importadores (Figura 3). O óleo foi o derivado que apresentou maior crescimento, de 61,5% em relação ao mesmo período do ano passado. As 825,4 mil toneladas embarcadas neste ano foram destinadas, em sua quase totalidade, a países asiáticos e do Oriente Médio. A Índia importou a maior quantidade (27,0%), seguida de Irã (19,3%) e Bangladesh (14,3%) (Figura 4).
            Os principais portos de embarque para as exportações do complexo soja são os de Paranaguá, Rio Grande e Santos. Em 2000, o Porto de Paranaguá respondeu por 39,0% das exportações de soja em grão, por 41,0% das de farelo e por 65% das de óleo de soja (Figuras 5, 6 e 7). No entanto, merece destaque a crescente utilização de portos nas regiões Norte e Nordeste do país para a exportação da soja em grão. Tratam-se dos portos de Itacoatiara (Hidrovia Madeira-Amazonas) e de São Luís, os quais até recentemente (1996) não constavam das estatísticas de embarques do complexo soja. Em 2000, foram embarcadas 905,1 mil toneladas de soja em grão pelo Porto de Itacoatiara e 559,5 mil toneladas pelo de São Luís, quantidades 141,8% e 87,2% maiores, respectivamente, que as registradas em 1997. Inclusive, esses portos, juntos, responderam por 12,7% do total de soja em grão exportado no ano de 2000.
            No âmbito mundial, a produção de soja em grão na temporada 2001/02 deve alcançar 175,44 milhões de toneladas, com aumento de 2,0% em comparação com a passada. A produção brasileira, de 39,00 milhões de toneladas, deve ser 4,0% maior. As exportações mundiais estão previstas em 55,54 milhões de toneladas (3,4%), para as quais o Brasil, segundo maior exportador, deve contribuir com 15,75 milhões de toneladas, ou 9,0% a mais do que na safra passada. Por outro lado, as importações mundiais deverão ser ampliadas em 4,5%, totalizando 55,78 milhões de toneladas, em função do crescimento de 4,8% e de 6,1%, respectivamente, nas aquisições da União Européia e da China. Tanto esse bloco econômico quanto esse país deverão importar os maiores volumes das últimas quatro temporadas, em virtude da tendência de intensificação do uso de rações elaboradas a partir de produtos de origem vegetal no mercado europeu e da expectativa de redução na produção chinesa.
            O cultivo da soja no Brasil já apresentava tendência de expansão para a safra 2001/02, em virtude da desvalorização do real em relação ao dólar, conferindo a essa oleaginosa melhor rentabilidade em comparação com as culturas concorrentes. Diante da intensificação da variação cambial a partir de setembro deste ano, essa perspectiva foi reforçada do mesmo modo que o aumento nas exportações dessa matéria-prima.

Gráfico Figura 1 -  Exportações Brasileiras  do Complexo Soja, Janeiro a Julho de 2000 e 2001 

Figura 2
 

Figura 3

Figura 4 
 

 

 

Figura 5

Figura 6

Figura 7

 

 

Data de Publicação: 30/10/2001

Autor(es): Marisa Zeferino (marisa.zeferino@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Roberto de Assumpçao (rassumpçao@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor